27. O ultimo bater de asas
&. Escutar a música e ler a letra para melhor experiência.&
Sentada na cama do quarto limpando meu ferimento no braço. Zack andando de um lado para o outro inquieto, gesticulando com as mãos e as asas, vejo a boca dele mexendo, porém parei de escutar ele a um tempo. Minha mente está em silêncio, não sei se está se recuperando do que passei a algumas horas, ou se privando para o que está por vir.
— Está me escutando?
Minha mente volta. Zack abaixado na minha frente, paro de esfregar meu ferimento.
— Eu...
Zack levanta e vai atá a varanda, fechando a porta de vidro atrás dele.
Ele grita algo para o céu, puxa o ar fundo, e se apoia no parapeito.
Olho para o chão, com meus sentimentos anestesiados, não sinto frio, não sinto dor, acho que meu corpo já me abandonou.
Levanto e vou até o Zack.
— Está tudo bem?
Pergunto a ele encostando em suas costas.
— Claro que não.
Respiro fundo, não sei o que está passando pela cabeça dele, ainda sim não culpo ele de responder frio assim.
Zack respira fundo novamente, e olha para o céu da noite, que está mais estrelado que o normal.
— Me desculpa... Estou sucumbindo a loucura.
Ele diz em um tom sarcástico, tentando melhorar o clima.
— Acho que eu já sucumbi...
Minha mente continua vazia. Porém acho ela melhor vazia, do que estar em crise.
Ele se vira para mim, segurando gentilmente meu braço ferido.
— O loirinho está mais louco que nós.
Ele aperta o tecido que está estancando o sangue.
— Por que não se curou ainda?
Olho para minhas mãos e então lembro que já poderia ter usado meu dom a horas, ainda sim não fiz isso e sei o porquê.
— Quero sentir algo.
Olho para ele sem expressão. O que me faz lembrar do Zack quando nos conhecemos, será que ele se sentia assim também naquela época?
— Não sinto dor, nem tristeza, nem felicidade, nem medo...
Então sou interrompida com um beijo. Todos os sentidos e sentimentos voltam ao mesmo tempo. Sinto o vento frio e meu corpo se arrepia, sinto a dor no meu braço, sinto o beijo quente, sinto a dor no peito de todos os sentimentos juntos. Sinto meus olhos molharem meu rosto.
— Tem tantas coisas que eu queria ter vivido com você.
Digo olhando para os olhos de Zack, que devido aos sentimentos apurados que ele está agora, estão azuis quase cintilantes.
— Você vai viver...
Ele me responde desviando o olhar.
— Eu pelo menos morreria namorando alguém, mas você não quis.
Desvencilho-me de seus braços e volto a me debruçar olhando as estrelas.
— Eu sei... Entretanto não quero que seja desse jeito, tudo rápido e desesperado.
Sinto meu corpo aquecer, minha cabeça que antes estava silenciosa, agora está caótica.
Tem tanta coisa que queria ter com ele, tantas experiências que ou nunca tive, ou não me lembro...
Meus braços se movem sem eu pensar.
Não posso morrer sem experienciar isso... E só terei hoje.
Enquanto colocava minha mão no rosto de Zack, minha cabeça me dizia coisas.
" Você vai morrer e ele vai seguir sem você".
O puxo para um beijo.
" Ele já vai lhe esquecer garota"
Zack retribui o beijo segurando minha nuca.
" Vai morrer, os vermes lhe devoraram e ele não lembrara de você"
Passo a mão por baixo de sua camiseta sentindo suas costas.
" Você foi, e será passageira na vida dele"
Puxo a blusa dele passando pelas asas, a retirando.
" Você foi apenas um passatempo, um brinquedo, um consolo para os momentos ruins"
Ele aperta a minha cintura. No entanto não sinto nada, minha cabeça está me matando, estou enlouquecendo.
" Ele vai limpar seus restos da arena, e joga-los ao mar"
Seguro o botão de sua calça.
" Isso, seja apenas um brinquedo, pelo menos ele lembrara de você"
Lagrimas escorrem do meu rosto.
— Vai lembrar de mim...
Ele para segurando meu rosto. Minha cabeça fica em silêncio.
— Eu sabia... Você não está nada bem.
Zack diz enxugando minhas lagrimas.
— Por isso não te pedi em namoro ainda, nem tivemos esse tipo de experiência que você tentou.
Ele diz calmamente enquanto coloca sua blusa.
— Você está se forçando por medo de morrer.
Então coloco minha cabeça no lugar, meus pensamentos normais voltam, o que está acontecendo comigo?
— Eu...
Tento dizer, porém sou interrompida.
— Não vou te esquecer, e você não vai morrer. E vamos ter todas essas experiências boas... Porém só quando estivermos bem.
Continuo inerte as coisas ao meu redor. Minha cabeça volta a ficar em completo silêncio novamente.
— Vamos dormir.
Ele diz para mim, porém sua voz está baixa como um sussurro, sinto meu cabelo mexer com o vento, ainda sim não sinto o vento. Minha mente vai me abandonar.
Então me sinto sendo levantada do chão, Zack segura embaixo de minhas pernas e costas. Pelo menos sinto ele.
Enquanto ele me leva para o quarto, olho uma última vez para o lado de fora. Vejo o balançar de uma árvore logo abaixo da varanda, um cabelo loiro e asas brancas somem em meio as folhas.
Ele me deixa na cama gentilmente e me cobre.
— Minha cabeça... Ela está em silêncio.
Digo a Zack enquanto ele deita ao meu lado. Me puxando para o seu abraço.
— Por favor tenta descansar. Vai precisar de toda sua energia amanha.
Amanha... Havia por um momento esquecido que amanha talvez seja meu último dia.
— Eu te amo.
Escuto ele falar baixo, antes de seus olhos se fecharem. Zack está tão exausto. Ele perdeu peso, seu rosto está mais magro, olheiras escuras seguram seus olhos. Meu pobre amor está se destruindo por mim.
— Também te amo...
Respondo, e fico olhando para seu rosto até pegar no sono.
O sol esquenta meu rosto pela manhã, me mexo na cama me esticando.
Escuto o barulho da água da banheira caindo.
Sento na cama. Memórias do dia anterior voltam a minha mente e me lembro que dia é hoje...
— Meu último dia...
Falo baixo e escuto a porta do banheiro abrir.
Meus sentimentos... Continuo inerte as coisas ao meu redor, tento forçar um sorriso com os dedos, porém nada acontece.
— Bom dia, dormiu muito tempo, espero que esteja descansada.
Escuto o Zack falar ao meu lado enquanto seca o cabelo, entretanto é como se fosse uma voz no fundo da minha mente.
Ele abaixa na minha frente me dando um beijo, e um sorriso. Zack parece animado hoje, ou quer tentar ser.
— Dormiu bem?
Ele me pergunta.
Vejo as mesmas olheiras de ontem, ele está cada dia pior. Um casal se ruindo.
Deito na cama e me cubro novamente.
— Me deixa aqui, pelo menos morrer na cama é mais confortável.
Fecho meus olhos embaixo da coberta torcendo para tudo acabar logo. Entretanto sinto o cheiro familiar de queimado, abro uma abertura para ver o que está acontecendo e observo uma fina fumaça preta pairando no quarto. No entanto apenas volto a ficar embaixo da coberta.
— É bom você reagir ou te forçarei a isso.
Sua voz rouca da manhã e baixa da para ser escutada, porém apenas como um sussurro em minha mente escura e fria. É como se estivesse em um quarto escuro, sem portar e janelas. Não consigo respirar nesse quarto.
— Ok então, você quis assim.
Sinto algo segurar os meus pés e me puxar com força, a coberta vem junto tampando minha visão, Zack segura firme meu corpo e me levanta. Tento tirar a coberta, no entanto ele está rápido e me segurando firmemente, não sei para onde ele está me levando.
Sinto então uma brisa tocar meu braço, que esta pendurado para fora da coberta.
Ele da um impulso do chão subindo em algo.
— Se você quer tanto morrer, vou facilitar isso para você então.
Sua voz que antes estava no fundo de minha mente, agora era bem audível, ele estava com raiva.
Um vento forte bate em nós, levando a coberta pelo céu. Estávamos no parapeito da sacada, que ficava a beirada da ilha, dava para ver o mar lá embaixo.
O Zack ficou louco?
Vejo seus olhos vermelhos, estão marejados, seu rosto está fechado. Ainda não sinto, por que não sinto nada mesmo vendo ele sofrer?!
Tento encostar em seu rosto, no entanto sinto seus braços sumirem de baixo de mim.
O sol da manhã está tão lindo, sinto o vento passar rapidamente pelo meu corpo enquanto caio de costas, vendo o Zack ficar cada vez menor lá encima.
Passo pelo domo que protegia a ilha, ele era quente, passo pelas nuvens. Viro-me para baixo, para ver meu destino de frente.
Vejo o mar se aproximar. Pensei que apenas aceitaria minha morte, além do mais morrer pela pessoa que mais amei, não me parecia tão ruim. Então sinto meu coração se acelerar. O frio correr pela minha espinha, o medo veio a tona.
Então grito o mais forte que meus pulmões conseguem, e perto do meu fim, abro minhas asas.
Elas me salvariam da minha morte, a morte que antes pensei que Zack havia me jogado. Porém eu mesma havia me abandonado a um bom tempo.
Minhas asas fizeram minha queda ser um pouco mais lenta, porém não o suficiente.
— Quero viver!
Meu último grito antes de bater na água. Eu finalmente tinha certeza que queria viver.
Um choque contra meu corpo consegui sentir. No relance rápido vejo as asas escuras tentando me segurar, nos jogando de lado na água. Ele me ajudou a não bater direto no mar, no entanto não conseguiu me segurar e fui jogada para longe caindo na água salgada.
Sinto-me afundar, só vejo bolhas, penas e meu cabelo tampando minha visão.
Achei que meu corpo me abandonaria. Entretanto sinto minhas veias queimarem, a adrenalina correr, meu corpo quer viver, eu quero viver!
Bato meus braços o máximo que posso, porém asas molhadas não ajudam, mesmo assim luto, luto para continuar a viver.
Consigo chegar a superfície e puxo o máximo de ar que consigo. Consigo ver o Zack perto de mim me olhando antes de afundar novamente. Maldito momento para não saber nadar.
Consigo voltar a superfície por alguns segundos.
— Eu não sei nadar idiota!
Vejo o Zack que antes me olhava sério, mudar para surpreso e vir na minha direção antes de afundar novamente. A escuridão do mar por um segundo me deixou calma.
Sinto seus braços me puxarem.
Ele me leva para a superfície longe da escuridão do oceano.
Puxo o ar tossindo.
Seguro em volta de seu pescoço enquanto ele me mantem fora da água.
Ele me encara com seu cabelo escuro molhado, caindo no rosto. Como que quem esperava eu dizer algo.
— Idiota! Estupido! Corvo! Maldito garoto!
Falo batendo em seu ombro.
Ele apenas sorri.
— Sabia que você queria viver.
Paro respirando ofegante. Ele me beija. Não sei se tinha jeitos mais fáceis de me colocar de volta a realidade, porém funcionou.
— Tenho que te ensinar a nadar algum dia.
Aceno com a cabeça segurando ele mais firme após olhar para a água, e a escuridão do oceano me olhar de volta.
— Como vamos voltar gênio?
Olhamos para cima, onde era possível ver a ilha ficando invisível novamente.
— Não pensei nisso...
O encaro séria.
— Nossas asas estão ensopadas, e eu não sei nadar.
Digo para ele indignada dele me jogar de lá e não pensar nas consequências.
— Já disse que vou te ensinar a nadar.
Reviro os olhos.
— Claro que vai, além do mais, terá bastante tempo, porque vou vencer na arena.
Sorrio para ele.
Ele me abraça forte sem dizer nada.
— Zack... Por que eu deixei de querer viver, mesmo você estando ao meu lado?
O pergunto enquanto ele respira no meu pescoço.
— Você não queria morrer, só queria matar algo dentro de você.
Ele fala baixo, com sua cabeça embaixo do meu queixo.
Então somos interrompidos pelo barulho de asas chegando. O Kalibam e outro garoto forte chega.
O Zack tira o rosto do meu pescoço e encara o loiro.
— O que aconteceu aqui?!
Kalibam pergunta.
— Eu... cai.
Tento responder sem o Zack levar a culpa. Como explicaria que Zack me jogou da sacada para eu voltar a querer viver.
Kalibam me tira dos braços do Zack, me levando céu acima, me seguro em seu pescoço, minhas asas estão pesadas por conta da água, apenas deixo elas caídas, ele segura firme a minha cintura. O outro garoto fez o mesmo com o Zack.
— Você me deve explicações Yas...
Penso em responder ele com grosserias, no entanto, não quero que meu último dia nessa ilha seja eu magoando alguém que cuidou de mim.
— Eu... Eu pulei.
Ainda quero proteger o Zack. Apesar que no meu estado, eu teria pulado em algum momento.
Sinto ele me segurar mais forte.
— Se eu pudesse... Se eu pudesse, iria no seu lugar sem pensar.
O loiro diz enquanto chegamos na sacada. Ele quis algo discreto, ainda bem.
— Vamos conversar depois loirinha...
Kalibam diz baixo, enquanto Zack chega.
Kalibam diz no ombro do outro garoto, para ele não contar a ninguém sobre o ocorrido.
Então Lucy abre a porta. Fica estática enquanto encara nós quatro, Zack e eu ensopados.
— Café da manhã está pronto...
Então ela fecha a porta.
— Yas... A batalha é depois do almoço, e o sacrifício ao anoitecer.
Ele diz se enxugando com uma toalha e saindo com o outro garoto. Kalibam bate a porta.
— Vai você tomar banho primeiro, está gelada.
Chegando no banheiro, que a torneira da banheira havia ficado ligada. Estava tudo alagado e saindo para fora do quarto. Acho que foi assim que o Kalibam descobriu.
Desligo rapidamente a água.
Tomo meu banho e espero o Zack fazer o mesmo. Então vamos sérios, porém preparados para o café da manha.
Entramos no salão, mais iluminado que o normal, tudo estava tão claro e alegre. Havia até música.
Haviam alados novos, alguns guerreiros, e os três garotos que vou enfrentar hoje.
Sentamos a mesa, todos vestidos de branco. Até Zack, ele me disse que não queria criar problemas agora.
O banquete estava lindo, muita comida, música e risadas. Nem parecia que em algumas horas haveria um banho de sangue.
Zack e eu comemos em silêncio. Estava preparada para matar ou morrer por aqueles que amo, ou melhor... Aquele que amo.
Os guerreiros tentam puxar assuntos felizes, bem diferente de quando assustamos eles na arena.
Porém apenas continuo em silêncio. Além do mais em poucas horas ou eu mataria eles, ou eles me matariam. Em apenas algumas horas...
— HA HA, bem melhor matar ou morrer de barriga cheia.
Todos riem do que um dos guerreiros disse. Zack e eu apenas continuamos a comer em silêncio. Percebo que Zack não pegou nenhum doce, apenas carne. Ficamos tanto tempo tentando resolver os meus problemas, que esqueci dos dele.
— Está tudo bem?
Pergunto a ele, tocando sua perna.
Ele força um sorriso para mim.
— Apenas me fortificando para caso eu precise entrar em ação.
Não quero tirar a esperança dele, de que ele conseguira pisar na arena antes de alguém me matar.
A guerreira que antes chamei de mãe falou algum discurso sobre uma luta justa. Porém apenas ignorei, já que eu sei que vai ser todos e tudo contra mim.
E eu lutarei contra todos e tudo por ele, e por mim, agora eu sinto vontade de lutar por mim mesma.
O café da manhã acaba. Todos saem rindo e se abraçando. Para eles, são guerreiros se sacrificando por algo maior, sei que é feito para a sobrevivência deles. Ainda sim, deve haver outra forma.
Vou para a praça calma perto da arena.
O sol brilhava, quente e aconchegante. Fecho meus olhos aproveitando ele.
Vejo a mesma senhora da outra vez sentada no mesmo banco, talvez com os mesmos pombos de quatro patas.
Zack me segue, no entanto fica parado mais ao longe tomando sol com as asas esticadas. Como um passarinho. Ele ficou muito tempo na água gelada e salgado do oceano.
Sento-me ao lado da senhora, ela me oferece pão para eu jogar aos animaizinhos alados.
— Você não fugiu docinho?
Zack se aproxima mais de nós, ele encara um pombo.
— Não senhora... Não tive muitas opções, ou é lutar, ou viver fugindo.
O Zack se abaixa em silencio, prepara uma emboscada e pega um pombo.
— Entendo você docinho.
Ela encara o Zack puxando devagar cada patinha do pobre pombo, com a feição de estar tentando entender como ele funciona.
— Você está fazendo isso pelo jovem rapaz não?
Aceno a cabeça sorrindo, vendo o Zack como uma criança pegando mais um pombo.
— Lutarei como a senhora falou, lutarei até meu último suspiro para ver ele bem.
Zack se aproxima de nós com o pombo em cada braço, e pede um pedaço de pão.
A senhora entrega a ele, e Zack solta os animais que voam assustados.
— Vocês são um casal lindo docinhos.
Sorrio, enquanto observo o Zack jogar pedaços grandes de pão na cabeça dos pombos.
Rimos juntas. Ela pega o pão da mão dele e mostra como faz.
— Já sabe o segundo plano, não é mesmo jovenzinha?
Olho para ela curiosa, ela devolve os pedaços de pão menores para o Zack.
— Colocar fogo em tudo e fugir.
A encaro assustada, porém vejo o sorriso dela. Sei que é uma piada, ainda sim, sei que é algo que o Zack faria.
— E eu farei questão de fazer velhota.
Encaro o Zack brava pelo jeito que ele falou com ela, porém entendo o que quer dizer e ela também.
Depois de um tempo com a senhora e os pombos. Kalibam aparece embaixo de uma árvore próxima e me chama com os dedos.
Zack segura minha mão e ele quem me leva.
— Tenho um plano.
Kalibam com os braços cruzados diz. E algo que notei só agora, ele está de tapa-olho. Sinto-me culpada.
— Qual o plano loirinho?
Zack pergunta para ele, também de braços cruzados.
— Vamos usar o seu sangue demoninho.
Zack levanta a sobrancelha, também estou querendo saber qual é a dele.
— É simples, ela com seu sangue é mais forte, mais rápida, imbatível.
Lembro-me de quando matei o pai do Zack... Ou melhor o rei. Realmente se eu estivesse normal não teria tido chance.
— Mas isso pode matar ela... E vão descobrir se ela começar a soltar fumaça.
Então Kalibam tira uma seringa do bolso.
— Vai ser uma quantidade bem pequena, o suficiente para ela ganhar a batalha e depois isso ira sumir, já que ela tem sangue de angelical puro correndo em suas veias, por conta do transplante.
Lembrei-me do sangue dourado, Kalibam nesses tempos andou meio maluco mas... Mas isso realmente pode funcionar.
— Zack... Antes de você negar, pensa que são três guerreiros contra mim, ou mais.
Ele coloca a mão na testa, apertando e depois puxando o cabelo para trás.
— Ok... porém apenas uma quantidade para a batalha e apenas isso.
Então um sorriso forma do rosto do Kalibam, e ele me olha com um semblante de esperança.
Seguimos ele até o hospital.
Ele coleta em uma seringa bem pequena do Zack, que apenas reclama que o Kalibam não sabe tirar sangue.
Enquanto Zack segura seu braço para não sangrar, me observa com um olhar de preocupação.
Apenas sorrio para ele, além do mais, antes preciso sobreviver a arena, depois pensamos na transformação.
Kalibam tenta de um jeito mais gentil que com o Zack, e injeta o sangue. Minhas veias do braço onde foi injetado ficaram escuras por um segundo, meu coração acelera, sinto os caninos cresceram. Porém a transformação para aí. Sem garras, sem fumaça. Graças aos céus.
— Ótimo agora você está pronta, vá colocar sua armadura, mesmo que agora você não precise dela.
Sigo o Kalibam até um salão no subterrâneo. Nunca havia ido para esse lado da ilha. Chegamos a um pequeno vestiário.
Zack me ajuda a vestir a armadura escura como suas asas. A dos outros guerreiros diferia.
Os guerreiros sem se importar trocaram as vestimentas todos juntos aonde eu estava, a única garota guerreira. Zack me ajuda enquanto tenta tampar meu olho. Escuto ele xingar baixo.
Eram mais do que os que eu havia conhecido, além dos três que assustamos, tinha mais dois, mais novos. Talvez mais novos que eu, já que eram menores...
— Zack não quero matar crianças...
Falo baixo segurando seu braço, enquanto ficamos enfileirados a beira de uma grande porta.
— Por favor não pense nisso agora, é você ou eles.
Sinto ele apertar o próprio punho, sei que o meu garoto também não gosta da ideia, entretanto não há volta.
Escuto gritos de uma plateia, abafada pela porta imensa com um símbolo de duas asas, e uma espada no meio. A ilha que eu já havia percebido que era gigante, estavam todos reunidos lá.
As portas se abrem, a luz da tarde bate em meus olhos.
A plateia grita e aplaude.
Sinto minhas veias queimarem, o sangue do Zack está fazendo efeito.
Entramos na arena, Kalibam puxa o Zack de lado para ele não entrar comigo.
Forço um sorriso em meio ao pânico.
— Senhoras e senhores. Hoje mais um grande dia. Nossos guerreiros lutaram por nós.
Encolho-me em minhas asas, milhares de alados. Uma quantidade que as pessoas da terra nunca acreditariam que existia, escondidos nessa ilha.
Então o domo que protegia a ilha começa a ficar mais fraco.
— Como podem ver guerreiros e publico, está na hora.
Formamos um círculo em meio a arena, que havia árvores e pedras grandes para subir e se esconder, incluindo plataformas suspensas no ar, onde minhas asas me levaram.
— Quando o domo sumir completamente, é hora da batalha.
Então percebo que quem está falando ao público, é a minha mãe.
Todos preparados, armas em todos os lugares de diferentes tipos, porém nenhum arco e flecha.
Seguro forte a adaga em uma mão, que havia escondido ela na minha armadura. E na outra eu aproximo de meu pescoço, seguro o colar de canino, ambos presentes do Zack.
— Ok fique calma, vai ser rápido e logo acabara.
Então lembro do Zack, onde ele está?
Enquanto o domo fica mais fino e fraco, passo a visão na plateia até onde minha mãe estava. Meu sangue ferve ao ver Zack preso ajoelhado ao chão. Eles sabiam que ele iria intervir.
— Fique calma... Fique calma.
Merda eles sabem que ele é o meu ponto fraco, ainda sim vou usar isso para me deixar mais forte.
Então o domo some, fico por um segundo parada, e vejo os guerreiros pegarem a primeira arma perto deles.
Pensei que eles brigariam entre si, no entanto quem fez isso foram os dois jovens. Os três mais velhos viraram na minha direção.
— Merda...
Viro-me e fujo para as árvores mais próximas. Voando entre as folhas, algo que já fazia na floresta, até despistar eles. Escondo-me em um galho.
Olho para o Zack, ele está cansado, exausto, no entanto não tenta lutar contra as correntes que tem um brilho peculiar... mágico.
— Malditos...
Vamos garota pense. Use essa raiva, acumule ela e use contra eles.
Então puxo em minha memória todos os dias ruins que tive. Desde quando apareci na floresta, sozinha e com fome, anos solitária, quase fui vendida algumas vezes, os primeiros dias com o Zack, os caçadores, o líder que atacou o Tomoe. O pai do Zack, os alados, as mentiras... tudo.
Sinto algo gelado correr em minhas veias, a sede de sangue e o gosto de ferro na boca.
— Era disso que eu precisava!
Escuto bater de asas sobre mim, e logo sou atingida e jogada ao meio da arena.
O público vai ao delírio.
Tudo está mais lento, talvez eu esteja mais rápida. Ainda sim, apenas cuspo o sangue da minha boca no chão e me levanto, com a adaga na mão.
— Vamos pegar você loirinha...
Vejo um dos guerreiros se aproximar, talvez o que tenha me acertado. Sorrio para ele.
O semblante dele se fecha, ele percebe que estou diferente. A mentira que Zack e eu contamos a ele sobre eu ser um demônio, agora eram verdade.
Então ele se prepara. Porém o cara não sabia de onde eu atacaria, já que com a velocidade sobrenatural que ganhei, voei e o atingi de cima, direto na testa.
O chão racha embaixo de nós. A sede em minha garganta só aumenta, me fazendo engolir seco.
Puxo a adaga de sua testa. Ele cai ao chão, e a plateia fica em um silêncio sepulcral.
— Cadê vocês!
Grito ao vento, e olho para todos os lados, vejo o segundo guerreiro em uma plataforma suspensa.
— Vou pegar você!
Por tantos anos tive medo, medo de morrer, de ficar sozinha. De perder os outros. Porém, agora era minha vez de deixar eles com medo.
Voo até ele. O guerreiro voa entre as plataformas, porém sou menor, mais rápida. O atinjo de cima, o derrubando da plataforma.
Ele pousa em pé, cambaleando para trás com dor. Fico em sua frente.
Ele se prepara com a espada em sua frente, levanta sobre sua cabeça e da um passo em minha direção, e eu em um raio de luz o atinjo. Porém sinto uma pontada no estômago.
Claro... esqueci de sua espada.
Cuspo sangue em sua armadura antes branca.
Sinto o cheiro de queimado vir do Zack, a fumaça escura na plateia.
Porém não me sinto fraca.
— Você me subestima aladinho de merda.
Então enquanto ele ainda segura a espada em meu estomago, me empurro nela, ela entra mais fundo, me deixando mais perto dele.
O olhar de pânico em seus olhos, como se estivesse vendo um demônio.
Em um ataque rápido, e aproveitando o choque dele, passo a lâmina rapidamente em sua garganta. Ele tenta segurar ela resmungando com uma voz borbulhante, porém logo cai, sujando meu rosto e asas de vermelho.
Vejo ao longe em pânico o terceiro guerreiro.
Seguro a espada que ainda estava em meu ventre, pela lâmina. Ela me corta, no entanto quase não sinto dor, cuspo mais sangue enquanto retiro ela.
A jogo no chão. Sangue escuro pinga na arena.
O guerreiro segura a espada tremendo. Ando em sua direção com a adaga em uma mão, e com a outra curo meu ferimento.
— Vocês se acham a raça mais forte, a mais inteligente.
Ele da dois passos para trás.
— Mas vocês não tiveram que lutar por suas vidas, como eu fiz por anos.
Termino de curar, porém sinto minha força aos poucos sumindo. Merda, está acabando o efeito.
Então penso rápido, uso o medo do guerreiro contra ele. E voo em sua direção como um raio no céu. Impacto-me em seu corpo, o cara continua em pé após ser arrastado alguns metros.
Apoiada em sua armadura seguro seu colarinho. Ele chora.
— Por favor tenho família!
Droga não há mais volta. Porém nesse segundo que parei, ele tirou a adaga de minhas mãos com sua espada.
— Manipulador!
Preparo minha mão sobre minha cabeça, furo seu peito com meu punho, sinto suas costelas quebrarem com o impacto de minha mão, algo pulsar forte e quente. Fleches do pai de Zack vem a minha mente.
Retiro com toda a força que me resta e jogo ao chão, o guerreiro cai, e por um segundo vejo o rei caído no lugar dele. Tudo acontecendo novamente como um ciclo.
A plateia grita, uns aplaudem, outro vaiam.
Procuro as crianças sem entender, achei que elas estavam vivas, no entanto vejo seus corpos fincados em uma plataforma no ar. Os três guerreiros devem ter pegado eles.
— Venci...
Caio de joelhos, feliz, finalmente acabou... Sinto o suor descendo pela minha testa, o sangue secando em minhas asas e rosto. Tento limpar o de minhas mãos e minha saia.
— Que banho de sangue... Que desonra as terras angelicais sagradas.
Escuto Ykhar falar. Ao longe na plateia.
Olho em sua direção, vejo Kalibam voando até mim.
Ele está branco como papel, me ajuda a retirar a minha armadura.
— Idiota... Você não sabe o que fez.
Fico tentando entender... Porém eu venci...
— Garota guerreira, a última sobrevivente.
Viro-me para ela, a plateia fica em silêncio. Alguns angelicais vieram retirar os corpos. Pobres garotos sem escolha.
— Eu lhe pergunto minha jovem, você venceu porém, quem vamos sacrificar se você matou todos?
Um impacto chega no meu peito, idiota. Eu deveria ter parado no último guerreiro. Porém a sede de sobrevivência me cegou. Querer viver me cegou.
Escuto as correntes do Zack baterem, ele se debate.
Vejo guardas alados chegarem até mim.
— Não, ela venceu! Arrumem outra pessoa.
Kalibam fica entre mim e os guardas. Os mesmo o seguram.
Outros guardas me seguram. Kalibam é levado até o mesmo lugar que o Zack, que não ficava tão longe.
Ykhar vem até mim, tento me debater, no entanto o sangue do Zack não está mais em minhas veias.
— Você fez escolhas ruins hoje garota.
Ela passa o polegar em minha testa, pintando ele com uma tinta brilhosa, que lembrava o domo.
— Maldita!
Vejo uma pedra enorme sendo carregada por alguns guerreiros, suja de sangue velho. E com flores brancas nascendo nas rachaduras.
Um grito bestial é escutado vindo do Zack, ele está descontrolado, irreconhecível. Meu coração acelera.
Eles me levam até a pedra que foi colocada ao meio da arena, e pedras menores são colocadas em volta. Todas com símbolos desconhecidos gravados nelas.
Maldito lugar, maldito reino, malditas pessoas.
Debato-me enquanto me deitam na pedra, prendem meus pulsos e tornozelos com a mesma corrente do Zack e Kalibam.
— Me soltem! Isso não é justo!
Eles ignoram e continuam a preparar.
— Eu vou no lugar dela!
Escuto o Kalibam ao lado do Zack gritar.
Todos o olham, no entanto logo voltam a fazer seus trabalhos.
Merda vai tudo acabar, na frente da pessoa que eu já fui noiva e amei muito que tive uma vida que não me lembro. E do meu verdadeiro amor, aquele pelo qual eu morreria, que eu pretendia ter uma vida toda juntos.
Ykhar se aproxima com uma adaga, feita de um metal que brilhava como o antigo domo.
— Posso pedir algo?
Em lagrimas suplico a minha mãe.
— Claro, o último pedido do sacrifício.
Já perdi até meu nome.
— Depois de tudo isso, por favor me prometa que não vão fazer mau ao Zack. Vão deixar ele ir embora.
Ela encara o Zack que continua a se debater, a sombra escura está quase cobrindo o chão da arena. Ela concorda com a cabeça
— Posso falar com o Kalibam?
Ela me observa séria.
— Prometo não fazer nada.
Ela acena e a corrente do Kalibam é afrouxada, e ele pode se aproximar mais.
— Por favor deixem ela ir!
Ele suplica a Ykhar. Sem forças. Lagrimas podiam ser vistas de seus olhos, mesmo de seu olho cego que eu havia cortado.
Porém todos ignoram.
— Kalibam me escute, tenho algo a te pedir.
Ele abaixa a cabeça. Algumas meninas pintam meu corpo com uma tinta branca.
— Tire a memórias que o Zack tem de mim.
Ele levanta a cabeça tentando entender, porém logo sorri compreendendo a situação. Kalibam levanta e vai até o Zack, uma luz azul sai de suas mãos e Zack começa a se acalmar.
Que bom... Espero que ele viva uma vida feliz depois de tudo isso, e só conseguirá isso sem se lembrar de mim, meu garoto merece.
Eles preparam a adaga, que é da mesma cor que o domo.
Olho para Zack que está com um semblante calmo, me olhando.
— Meu garoto como te amei. Como te amo, e como vou amar até meu ultimo suspiro.
Te amei nessa vida, e vou amar na próxima também.
Então sem aviso, sinto a adaga me perfurar. A plateia grita, uns de alegria, teriam proteção finalmente, e outros de horror.
Meu sangue escorrer pela grande pedra sujando as flores antes brancas de vermelho.
O céu está tão lindo, me lembra anoite que conheci o Zack... O domo começa a criar forma novamente. Pelo menos servirei para manter as pessoas da mesma raça que eu seguras.
Memórias de toda a minha vida passam em meus olhos. E como não tenho memória do meu passado, são só memórias vivendo sozinha, porém depois com o Zack.
Conhecendo o Zack, cuidando dele, comendo com ele, rindo com ele, dormindo com ele, viajando com ele. Dançando, lutando e simplesmente vivendo ao lado dele.
Sinto meu coração bater mais fraco. Olho para Zack. O garoto de cabelos escuros como suas asas, entretanto com uma alma tão brilhante.
— Nesta vida e na próxima... Te amarei.
Escuto o ranger de correntes e elas se partindo. Minha visão escurece.
Sinto ele segurar minha mão. Por favor seja feliz e viva feliz... Por mim.
Sinto meu coração dar sua ultima batida. Total escuridão.
Sinto meu corpo.
Volto a sentir meu corpo. No entanto não da mesma forma.
Abro meus olhos, estou de pé.
— Zack?
Digo, porém minha voz não pode ser escutada. Pois olho para meus braços, eles estão quase transparentes.
Não sinto calor, não sinto meu corpo quente, não sinto meu coração bater.
Estou na praia.
Percebo ao olhar para a areia, onde não vejo meus pés.
Olho para o mar, para a direção da ilha. é possível ver sangue chegando a praia, muito sangue vermelho e dourado.
Procuro Zack com o meu olhar.
E vejo o meu garoto de costas, segurando algo. vou até ele, mesmo não sentindo o chão.
Zack anda em direção oposta a praia, em direção a nossa casa. Carregando algo.
Carregando meu corpo frio. Estou morta em seus braços.
Imagens do capítulo:
-Afundando:
- Até o fim:
*Lembrando vocês de curtir e comentar*
Obrigada a todos que leram até aqui, esse é apenas o primeiro livro. E essa história tem muito o que contar.
Dedico a todos os leitores e amigos que me ajudaram a melhorar, que riram e choraram nesse primeiro passo de uma linda história.
Espero vocês na continuação denominada Sob Suas Asas :D
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