25.Não há outra forma
&. Escutar a música e ler a letra para melhor experiência.&
Estática encaro Zack parado na minha frente com roupas de dormir que com certeza ele não queria estar usando.
— É... Eu...
Tento o questionar.
Ele me puxa pelo braço, uma das minhas pantufas saem do pé, e acabo jogando a outra e indo descalça. Pelos corredores adentro ele me levava, andando silencioso e cauteloso em um corredor escondido, discreto e talvez suspeito no final do castelo de mármore. Com certeza esses corredores são mais bonitos de manhã já que anoite a sombra dos galhos fazem sombra no chão e rangem nas janelas.
Zack segura a maçaneta e faz sinal de silêncio. Com sua força já conhecida ele há quebra tentando ao máximo não fazer barulho, a porta se abre.
A sala escura com um cheiro conhecido para mim, ainda sim não conseguia distinguir. Ele anda pela sala me deixando no meio dela de frente para uma enorme parede que era possível ver apenas molduras, porém não o que estava emoldurado. Ele vai até à janela, suas asas quase somem na escuridão da sala, ele puxa a cortina deixando a luz de um pequeno poste iluminar o cômodo. Era assombroso.
É claro que o cheiro era familiar, penas... Tudo cheirava a penas, penas cortadas, queimadas. Zack veio até o meu lado, colocou a mão no meu ombro.
— Como... Como achou esse lugar?
Ele se aproxima das asas na parede, e passa a mão em uma delas que tinha o tom escuro como as dele.
— Ontem quando você estava conversando com o loirinho, andei por esse lugar porque não aguentaria ficar olhando você com aquele cara... Então achei esse lugar.
Claro que ele foi bisbilhotar... Porém o que é tudo isso? Me aproximei também tentando ler o que havia escrito em cada moldura.
— Traidor... Traidora.
Era o que havia escrito em uma, duas... Talvez em todas as molduras, no entanto porque traidores?
Escutamos a porta ranger, claro que ele viria.
— O que vocês enxeridos nessa hora da noite estão fazendo aqui?
Kalibam com sua roupa de dormir sussurrava quase gritando da porta. Ele entra e fecha a porta.
— Como você nos achou?
Pergunto enquanto ele se aproxima, ficando do meu lado enquanto Zack o encara do meu outro lado. Kalibam olha para as asas.
— Fui ver se você já estava dormindo e não te vi lá.
Um alívio me vem de ter trancado a porta, não gostaria de acordar com ele me olhando no pé da minha cama.
— Então fui no quarto do demôninho ai, ver se você estava com ele.
Ele aponta para Zack. Se eu estivesse no quarto do Zack ele faria o que? Arrombaria a porta?
— Então vi que vocês não estavam e só procurei pelo castelo, até ver essa porta que estava trancada e agora esta sem maçaneta.
Ele encara o Zack por trás de minhas costas.
— O que é tudo isso?
O pergunto pontando coma cabeça para a parede, no entanto independente da resposta não tem um motivo plausível para terem asas como decoração.
— São os traidores, alados que perderam a batalha nas arenas e não quiseram se sacrificar. São considerados traidores, eles têm suas asas arrancadas e jogados da ilha ao mar. Alguns sobrevivem e nadam ate a areia e vivem entre os humanos, outros se afogam ou se matam quando descobrem que perderam.
Seguro a mão de Zack.
— Vamos embora...
Digo a Zack, ele ainda segurando minha mão começa a ir para a porta e vou junto sem olhar para Kalibam. Porém sinto ele segurando minha outra mão.
— Você não deveria acreditar nele sempre Yas... Ele nem te contaria que estava indo embora sem você.
Paro na entrada da porta, Zack me puxando por uma mão para o corredor, e Kalibam pela outra para dentro da sala. Se eles quisessem me puxar com força com certeza me partiriam, ainda sim fiquei parada no meio do campo de guerra que se formou quando Zack o encarou.
— Olha e ainda me chamou de bisbilhoteiro, foi olhar minhas coisas.
Zack fala para ele, seus olhos enegrecidos tomavam forma.
— Você estava de malas prontas, você a deixaria para trás.
Encaro Zack esperando ele dizer algo, dizer que era mentira.
— Eu ia... Você ficaria com sua família em segurança pequena... Porém então vi essa sala, percebi que aqui não é seguro.
Desvencilho-me da mão dos dois.
— Você... Nem me perguntaria se eu queria ficar?... Apenas iria embora?
Kalibam de braços cruzados encara Zack, assim como eu esperando uma resposta.
— Você estava tão feliz quando chegou, não poderia ser egoísta e tirar isto de você. Tirar a oportunidade de você viver com sua família, em segurança...
Abro a boca pensando em algo a dizer, no entanto Zack apenas queria o meu bem, mesmo que fosse me deixando para trás.
— Mas Zack... Eu iria atrás de você, eles foram minha família no passado, você é minha família agora.
Os olhos dele voltam ao normal, ele volta a segurar minha mão, então juntos decidimos ir embora do meu antigo lar.
— Esperem... Esperem até amanha pelo menos.
Paramos no meio do corredor, olhamos juntos para trás onde Kalibam fazia seu pedido.
— Eles podem querer ir atrás de vocês, achando que vocês desapareceram, esperem até o amanhecer pelo menos.
Sua voz estava baixa, senti quase como uma súplica. Olhei para Zack e seus olhos diziam que ele não queria esperar mais nem um segundo, porém não havíamos escolha, não queremos ninguém atrás de nós.
Zack acena um sim, com a cabeça mesmo não querendo, concordo com ele. Ao amanhecer vamos embora.
— Levo vocês aos seus quartos, caso alguém pergunte, estava mostrando o banheiro a vocês.
Kalibam segue em nossa frente, seguimos ele pelos corredores. Quase chegando em nossos quartos vejo Lucy em frente ao seu quarto, abro a boca para falar com ela, entretanto ela apenas fecha a porta. Tentarei amanhã.
— Tentem tomar café da manhã, vocês terão muito tempo de voo.
Sinto que Kalibam esta fazendo o máximo para eu ficar mais tempo, mais tempo perto dele.
— Claro...
O respondo talvez com pena. Zack entra em seu quarto deixando a porta aberta, Kalibam e eu nos encaramos e eu encaro a porta do meu quarto e em seguida a de Zack.
Não confio em dormir sozinha nesse lugar, nem que seja proibido vou ficar com Zack.
Piso para dentro do quarto de Zack, ele está tirando sua blusa para dormir melhor, me viro para fechar a porta, Kalibam ainda está lá a me encarar, ele fecha seu punho com força.
Não sei o que sentir em relação ao Kalibam, porém no momento sinto pena dele, ele finalmente esta vendo a garota que ele mais amou, no entanto ela esta entrando no quarto de outro garoto.
Dou um sorriso para ele e digo baixo para ele.
— Não vai acontecer nada... Fique tranquilo.
Não quero acordar de noite com ele chutando a porta, ainda sim também não quero ele mal, ele cuidou de mim por anos, posso pelo menos deixar ele calmo.
Ele deixa suas mãos relaxadas, me dá um sorriso sem graça e vai embora. Vejo que a porta da Lucy esta entreaberta, ela está olhando pela fresta, e quando nota que eu a vi, ela fecha. Faço o mesmo fechando minha porta.
Entro e Zack já está deitado de costas para o meu lado da cama. Deito abraçando suas costas e deixo a sua asa de cima, em cima de mim, ela é quente e me deixa calma.
Não sei se ele já dorme, porém falo mesmo assim.
— Por favor, nunca mais pense que eu não trocaria o mundo para ficar com você.
Ele em silêncio se vira para mim, seus olhos estão mais azuis que o normal.
— Não quero que você se sinta como um pássaro em uma gaiola, você deve ser livre.
Sei que ele quer o meu bem, e sei que ele pensa que perto dele não ficarei bem, e sei ainda mais que ele me deixaria pelo meu bem mesmo ele me amando, mas...
— Quero ser livre com você...
Ele beija minha testa, nos aconchegamos um no outro e dormimos.
Acordei me virando ainda de olhos fechados, mexendo os braços na cama e não achando o corpo quente dele. Levanto me jogando da cama, segurando os olhos pela tontura e tento correr até a porta, porém tropeço no tapete e caio de joelhos.
Escuto a porta do banheiro abrir.
— O que foi? Aconteceu alguma coisa?
Zack de cabelos lavados e toalha na cintura me levanta olhando meus joelhos.
— Eu... Pensei...
Ele entende a situação, achei que ele havia me deixado para trás.
Ele me encara com tristeza.
— Desculpa te deixar assim...
A porta do quarto abre bruscamente.
Kalibam entra, encara Zack e desce os olhos até a toalha que ele usava na cintura. Ele me encara e desce o olhar até meu joelho ralado.
— Vim avisar... Café da manhã.
Ele sai e bate a porta.
Zack ri, tento rir da situação, no entanto ainda sinto pena de Kalibam, é melhor para ele também não me ter aqui, para encarar todos os dias eu com o Zack.
— Vamos comer e sumir desse lugar de loucos.
Concordo com ele, vou ao banheiro e tomo um banho enquanto Zack se troca no quarto, visto minhas roupas que eu vim, que estavam limpas na porta do quarto dobradas. Zack e suas vestes escuras de sempre, sinto que finalmente vai voltar tudo ao normal.
Seguimos com nossas mochilas até o salão onde estava sendo servido o café. Vejo Lucy no canto e vou até ela, Zack vai até à mesa e começa ainda de pé, a pegar doces.
— Lucy eu...
Ela abaixa a cabeça.
— Eu sei... Você não mudou tanto assim.
Ela diz segurando minhas mãos. Como assim não mudei?
— Quero te pedir desculpas, mesmo, sei que é difícil se acostumar com meu novo eu, mas vou tentar meu melhor para isso ser mais fácil.
Ela levanta a cabeça com os olhos arregalados, talvez a antiga eu não pedia desculpas.
— Me desculpa! Desculpe-me mesmo... Mesmo... Me perdoa.
Ela vai abaixando o tom a cada pedido de desculpas, não entendo, o que foi? Porém minha mãe ou... Ykhar aparece e vem sorridente em minha direção, com seus braços musculosos me abraçar.
— Eu sabia que a minha guerreira não tinha perdido a vontade de lutar!
Ela me abraça forte me levantando do chão, sinto que meus ossos se rachariam, entretanto ela me soltou.
— Sabia que você ficaria!
Ficar?! Encaro Zack e ele com o rosto sujo de glace me encara com seu rosto frio.
— Me desculpa...
Lucy diz e sai do salão correndo. O que ela fez?!
— Lucy me disse ontem anoite que você ficaria, podemos até abrir uma exceção e deixar seu namorado ficar. Só precisa ganhar na arena.
A voz dela foi ficando baixa, sinto meus ouvidos zumbirem, minha visão escurece, porém ela volta. Arena... Aquela garota alada que eu chamei de amiga. Ela me jogou para isso.
— Filha?... Há não se preocupe, você é minha guerreira, vai conseguir!
Ela me da um tapa no ombro que era para me encorajar, ainda sim só continuo olhando o chão. Fugir? Não eles iriam atrás de nós. Arena? Eu nunca iria ganhar. Matar os adversários? Eu... Não sei se seria capaz.
Encaro Zack, ele se senta segurando firme na mesa.
— Vamos comer amor... Você terá que comer bem para poder treinar.
Entendo ele, e estou orgulhosa dele por conseguir se segurar. Sento ao seu lado.
— Zack aquela garota... Ela armou para mim...
Ele me encara por um instante, faz menção de levantar e ir em direção a porta, no entanto o seguro e ele volta a se sentar.
— Vou matar ela...
Entendo sua raiva, também tenho esse desejo.
— Não há o que ser feito... E se eu tentar fugir eles vão cortar... Cortar minhas asas.
Falo baixo para ele.
Ele segura minha mão forte e olha minhas asas.
— Vou treinar você o tanto que eu conseguir, nem que eu tenha que entrar na arena, você vai vencer.
Abaixo a cabeça e minha mãe se aproxima.
— Treinar? É amanhã o torneio.
Sinto um aperto no peito, minha visão fica embaçada. Droga estou vendo que só terei sossego quando morrer.
— Eu não quero ficar... Mãe.
A encaro segurando minhas lagrimas, não foi um aviso que eu dei, mas sim uma súplica.
Seu rosto se fecha, com raiva como eu nunca vi.
— Como assim?...
Fico de pé e apoio minhas mãos na mesa, Zack se levanta também.
— Foi um engano... Eu iria embora agora de manhã.
Aponto para as mochilas. Seu rosto me encara com raiva e talvez um pouco de nojo.
— Mas... Minha filha nunca fugiria da batalha, vai abandonar sua família.
Não sou mais quem ela pensa que eu um dia fui.
— Zack agora é minha família.
Digo com determinação, talvez agora entendam que eu não quero ficar com eles.
— Sabia que esse insolente seria problema.
Ela levanta a mão na direção de Zack que a encara séria, ele fecha os olhos. Talvez ele tenha uma política de não bater em garotas, porém eu não tenho. Seguro seu pulso.
— Como você ousa!
Ela grita para mim, as pessoas no salão ficam em silêncio.
Mesmo ela sendo forte, meu ódio apenas aumentou. É claro que a cortina de boas pessoas uma hora iria cair, são todos iguais tanto na terra como nessa ilha.
Ela puxa seu braço e eu a solto. Ykhar vai até à porta de saída.
— Não pense mais que te vejo como filha. Para mim você continua morta como um dia achei que estava.
Meu coração se quebra, no entanto era obvio. É como vi muitas vezes na floresta, o filhote tem um defeito, é estragado, a mãe deve abandonar para seu próprio bem. E agora eu era o filhote com defeito.
Ela sai e Kalibam entra pela porta.
— Está satisfeito?!
Digo a ele com raiva.
— Agora posso ficar aqui com você, como você sempre quis.
Seguro a mão de Zack e pego nossas mochilas, saio do salão batendo no ombro do Kalibam.
No entanto escuto ele sussurrar.
— Não queria nada disso... Porém acredito em você.
Imagens do capítulo:
-Quarto das asas:
*Lembrando vocês de curtir e comentar*
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