23. Em família

&. Escutar a música e ler a letra para melhor experiência.&

Os angelicais presentes na minha frente largaram as armas no chão e vieram em minha direção.

 Surpresa com o abraço que me dão, sinto uma nostalgia, um sentimento de que eles já fizeram parte da minha vida, tento puxar qualquer lembrança deles, qualquer uma que seja, no entanto nada vem. Zack continua atrás de mim de braços cruzados.

— Yasmin achávamos que você estava morta a uns três anos!

A garota que dizia ser Lucy e ser minha amiga de infância, continua me abraçando fortemente.

 Lucy uma garota de um cabelo loiro quase branco, e o garoto ruivo ao seu lado de braços cruzados pareciam irmãos, ou teriam um parentesco próximo, eram bem parecidos, porém ela era animada e radiante, ele era mais quieto e observador, não dizia nada.

— Poderiam deixar a festa para depois? Ela precisa de ajuda agora.

Zack atrás de mim ainda com os braços cruzados, resmunga para os irmãos.

A Loira segura meus braços olhando atentamente as manchas escuras que seguiam em direção ao meu rosto.

— Isso é incrivelmente fácil de resolvermos, só precisamos ir à cidade.

 De repente o sentimento de desistência sumiu do meu coração, um sinal de esperança surgiu, olhei para Zack, se ele não estivesse desconfiando dos alados, ele estaria sorrindo agora.

— Vamos! Muita gente vai adorar te ver.

 A garota me segura pela mão e alça voo em direção ao mar, o ruivo pega os equipamentos, e Zack em silêncio o segue.

 Todos voamos por cerca de meia hora, a loira contava sobre a infância que passamos, ainda sim eu não lembro, que eu era incrivelmente corajosa e sempre ganhava nas brigas. Oque era assustador de pensar que com amnésia eu perdi não só a memória como uma personalidade que agora me é estranha.

 Chegamos ao meio do mar, não era possível ver terra em nenhum lado do horizonte, então a Lucy levantou sua mão e a pulseira que até então não havia notado brilhou, e no alto de nossas cabeças uma incrível e imensa ilha surgiu.

 Uma imensa ilha flutuante, com quilômetros de diâmetro com um domo quase que transparente a rodeando.

 Nenhuma criatura mortal poderia ter conseguido fazer isso, por isso ninguém nunca encontrou os angelicais, eles estavam em uma ilha escondida no meio do mar por uma proteção que a deixava invisível.

 Sinto a mão de Zack segurar meu pulso, sei que ele está desconfiado e assustado, também estou, porém é nossa única chance.

Voamos até a entrada, sinto meu rosto queimar, está piorando.

 Guardas com armaduras branca e dourada nos recebem, porém, quando veem o Zack, entram em posição de defesa, Zack também faz o mesmo ainda segurando meu pulso.

— Opa, o chifrinho está com a gente.

A garota loira passa em nossa frente falando com os guardas.

Zack segura mais forte meu pulso, já estou vendo que vamos ter problemas.

 Lucy se aproxima de mim, apontando para a mancha já em meu rosto e os guardas entendem a situação e abrem caminho, porém os olhos não foram tirados do Zack.

— Vamos até à enfermaria, e tentem ignorar os olhares.

 O garoto ruivo que até então estava em silêncio, segura a mão da irmã e segue em frente. Retiro a mão do Zack do meu pulso e seguro ela, talvez ele fique mais calmo.

Ele esboça um pequeno sorriso.

 Então entramos na enorme cidade branca e dourada, a luz forte do lugar chegava a incomodar os olhos, porém quando os acostumei, vi uma incrível civilização totalmente de angelicais, crianças brincando, mães e seus bebês andando nas ruas felizes, idosos jogando algum tipo de jogo de mesa.

— Igual no meu sonho...

 Alguns olhares se direcionaram para nós, porém naquele momento não eram para mim, eu era apenas mais uma igual na multidão, estavam a olhar para Zack.

 Seguimos a rua de pedras brancas, tudo no lugar era ou branco, ou de tons claros. Com minha audição aguçada graças a essa escuridão que me consumia, escutei um casal sussurrar.

— Filha de Ykhar está viva?

Será algum parente meu? Era para mim?

 Meus pensamentos foram interrompidos, quando chegamos no hospital, médicos alados nos receberam, nem precisaram perguntar nada já que quando direcionaram os olhos para mim, entenderam a situação.

 Me chamaram, fui na direção da porta, entretanto senti um puxão, um dos médicos segurava o ombro do Zack o impedindo de seguir da porta.

— Ou ele vem comigo, ou não vou.

 Pensei que eles apenas desistiriam de me tratar, porém os irmãos encararam os médicos que logo o soltaram, Zack puxou o ombro bruscamente e me levou corredor adentro. Os irmãos ficaram na sala de espera.

 Tudo incrivelmente claro, assim como imaginei os hospitais, entramos em uma sala onde uma enfermeira de asas assim como as minhas nos atendeu, me olhou espantada e me puxou para uma cadeira.

 Zack segurava minha mão enquanto preparavam meu braço para uma transfusão, fazia sentido já que tinha um sangue estranho fluindo junto com o meu.

— Você quase não chega a tempo menina!

 A enfermeira que parecia ser mais nova que eu, coloca a agulha no meu braço, e vejo a bolsa de sangue que flui até minhas veias, porém esse sangue não era vermelho, e sim de um tom de dourado.

— Eu... Oque é isso moça?

Ela volta a atenção para mim depois que terminou de arrumar tudo.

— Você terá o sangue assim também quando for iniciada.

Ela sorri gentilmente para mim, não sei oque é essa iniciação, no entanto parece ser algo como ser aceito no reino.

— Qual seu nome jovem garota? Nem sabia que havia angelicais andando na terra...

 Ela me pergunta sentada ao meu lado, observa o Zack e vê que ele esta ferido pelas sereias e vai ajudar ele. Zack observa a bolsa de sangue dourada.

Ela coloca suas mãos sobre Zack e o cura assim como eu. Será que todos tem esse dom?

— Me chamo Yasmin, tenho vinte e um anos e vivo na terra desde que me lembro.

A enfermeira levanta bruscamente. Fazendo Zack levantar também.

— Filha de Ykhar está viva... Ela vai adorar saber disso!

Ela sai da sala feliz e rapidamente. Ficando apenas Zack e eu.

— Conseguimos...

Zack diz se jogando na poltrona novamente, olhando para mim.

— Você não vai se livrar de mim tão facilmente.

O respondo sorrindo.

 Zack cansado de esperar, dorme na cadeira de braços cruzados, ele é um ponto escuro nessa enorme sala branca. Um tempo se passa até que os irmãos chegam junto com a enfermeira, a bolsa já se esvaziou, olho para meus braços e eles estão normais, sem nenhuma linha escura, meus dentes sem caninos e minhas unhas pequenas.

— Zack acorda!

 A enfermeira termina de retirar o aparelho de mim, Zack levanta assustado e fico na frente dele, dou uma rodada mostrando como estou bem e saudável.

Ele levanta espantado por acordar no susto, esfrega os olhos e os fixa em mim. Me abraça levantando no ar, sorrindo verdadeiramente, retribuo o sorriso.

— Que fofos, agora entendi que eles namoram!

A Lucy fala quase gritando batendo no braço do irmão, ela é bem animada.

— Vamos pombinhos, Yasmin você precisa conhecer um lugar e ver alguém...

Zack e eu trocamos olhares desconfiados, ainda sim seguimos os dois.

 Voltamos às ruas, é tão boa a sensação de andar na multidão sem se esconder, ninguém liga para quem eu sou ou se sou de uma raça rara, todos são iguais a mim. Porém, Zack se sente desconfortável, vou fazer meu máximo enquanto estivermos aqui para ele se sentir bem.

Puxo a mão dele chamando sua atenção e dou um sorriso para ele.

— Não precisa ficar assim, não vai acontecer nada de ruim.

Tento o tranquilizar, ele retribuiu um sorriso forçado, tirando o cabelo dos olhos.

 Chegamos ao castelo central, passamos pelo grande portão, guardas usando armaduras brancas com dourado como os da entrada bateram continência para nós, retribui com um oi, não sei muito oque fazer nessa situação.

 Chegamos ao grande salão, o som de nossos passos no chão incrivelmente limpo ecoava pelos corredores, tudo incrivelmente grandioso, os corredores com imagens de guerreiros alados, criaturas místicas que nunca vi, as janelas tinham o entorno pintado de dourado, e o teto com gravuras em dourado.

  Seguimos até um pequeno salão, onde a luz entrava pela janela refletindo no chão.

 Ao fundo algo me chamou a atenção, me fazendo soltar a mão de Zack e andar até a parede no final da sala, um quadro pintado, um enorme quadro que me deu arrepios.

— Eu... sou eu?

 A garota loira se aproxima de mim, colocando a mão no meu ombro, tentando me passar conforto, eu entendi, sou eu na foto criança.

— Por que não me lembro de nada?

 Tento com todas as minhas forças lembrar de qualquer coisa, os locais me pareciam familiares, que já passei aqui diversas vezes, porém nada vem em minha mente, nada...

— Não se preocupe Yas, você vai se lembrar algum dia, mas agora temos de ver sua mãe.

 Aquilo me fez ter uma dor no peito, tenho mãe e ela está viva?! Será que ela é nova? Será que é uma boa pessoa? Será que se lembra de mim? Volto para onde Zack estava parado com seu olhar sério e volto a segurar sua mão.

 No entanto agora quem tenta me dar conforto é ele, que levanta meu queixo me fazendo olhar, não sei se estou pronta, passei três anos pensando que não tinha ninguém, que era a última, para agora descobrir que tenho não só família, mas sim todo um reino.

 Seguimos até um jardim onde uma mulher alta e com uma armadura enorme estava de costas. Quando a Lucy a chamou, ela se virou e soltou a espada que estava segurando no chão.

— Filha!

Ela corre em minha direção me abraçando fortemente, Zack solta a minha mão e se afasta.

— Senti tanta sua falta minha guerreira, procurei você por um ano!

 Então ela se recompõe e volta a postura de guerreira que ela estava antes, pegando a espada do chão, a guardando. Pensei que sentiria algo quando abraçasse ela, no entanto não senti nada, só a sensação de calor e de que a conhecia de algum lugar.

 A Ykhar, ou não sei se devo a chamar de mãe, faz um sinal com as mãos dispensando os irmãos, eles saem da sala ficando apenas eu, ela e Zack... Cadê o Zack?

— Zack?

Olho em volta procurando por ele, então a Ykhar puxa minha mão.

— De quem está falando?

Continuo a procurar.

— Ele... Ele mora comigo... Temos algo.

Ela dá um sorriso.

— Então você arrumou alguém? Me apresente o belo angelical.

 Gelei meu coração quando Zack saiu de trás da pilastra que ele estava escondido. Minha mãe saca a espada apontando na direção dele, Zack tira as adagas que trouxe e segurou uma em cada mão. Os dois parados se olhando, com ódio nos olhos.

— Quem permitiu um demônio entrar em nossas terras?!

Vou andando até ficar entre eles e suspirar profundamente.

— Ele é o Zack...

 Ela abaixa a espada, procura uma cadeira e desaba, processando a informação com seus olhos fixos no chão. Vou na direção de Zack segurar a mão dele, por que ele estava escondido? Talvez ele não queira estar aqui.

— Nos conhecemos na floresta onde eu moro, moramos juntos, ele é uma boa pessoa, e não estaria viva se não fosse ele.

 Ela levanta, arruma a sua armadura e marcha em direção ao Zack, me preparo para caso ela o ataque, porém ela para na frente dele, e bate continência.

— Obrigada por proteger minha única descendência.

 Então ela aperta a mão de Zack fortemente, ela tem um ar de guerreira, se parece comigo, porém maior e mais forte que eu jamais serei.

— Não há de que... Fiz por amar ela.

Ele me olha, e sorrimos um para o outro, ele parece mais calmo.

— Então namorado de minha filha, se não for pedir demais, poderia nos deixar a sós, preciso conversar com ela muitas coisas.

Ele me olhou desconfiado. Seu cabelo está quase seco, ainda cai cabelo em seu rosto.

— Não se preocupe, aqui é seguro, para ela e para você também.

Então Ykhar tira uma faixa branca, com um brasão de asas de seu bolso e amarra no pulso de Zack.

— Eles vão saber que você está comigo.

Zack suspira e solta minha mão.

— Não vá longe...

Digo a ele, enquanto ele sai por um caminho do jardim, ele se vira e aponta para o próprio nariz.

— Vou te achar.

Ele sempre sabe onde estou, sorrio para ele, e ele segue com as mãos no bolso.

Eu e minha mãe nos sentamos na cadeira embaixo da árvore rosada.

— Vou te fazer muitas perguntas, minha guerreira, mas por onde andou? Por que fugiu? 

Fugir? Não me lembro de nada...

— Eu não tenho lembrança de nada Ykhar. Só de ter dezoito anos e alguém me deixar na floresta, não me lembro desse lugar, nem de ninguém... nem de ter família.

Aperto minhas mãos nos joelhos, por que não lembro de nada mesmo nesse lugar, mesmo com a sensação de já ter estado aqui?!

— Como era a pessoa que te deixou na floresta?

 Ela diz com um semblante sério. Coloco minha mão na cabeça forçando o máximo que consigo, tentando puxar algo da minha mente, então me vem à memória apenas que era um garoto, talvez um pouco mais velho que eu.

— Só... Me lembro de ser um garoto, desculpe.

Ela levanta a cabeça com um olhar de raiva.

— Já sei quem pode ser... Kalibam.

Quem é esse garoto? Por que ele me deixou lá?

— Vamos, ele lhe deve respostas, e já imagino o porque ele te deixou lá... Foi quando você fez dezoito anos.

Ela começou a andar pelo jardim, que havia plantas de diversos tipos na beira no caminho. Apenas segui ao seu lado.

 Oque acontece aos dezoito?

Sigo ao seu lado o caminho todo, até sairmos do pequeno jardim e seguirmos por uma pequena rua.

— Somos um povo guerreiro, não somos fortes, mas a vida nos forçou a ser.

 Relembro dos momentos de vida ou morte que passei, dos ferimentos, da fome e de tudo que lutei.

— Até os dezoito todos são treinados pelo menos o básico de batalha, e alguns seguem nesse ramo, como eu e você.

 Eu? Uma guerreira empunhando uma espada e derramando sangue em guerras, não consigo me imaginar.

 Então chegamos a um lugar que parecia um grande campo de terra com o mesmo brasão do tecido de minha mão desenhado no chão. Onde vários guerreiros de asas treinavam, o som de espadas, arcos e flechas, e todo tipo de arma em ação era possível escutar.

— Quando se faz dezoito anos, tem que se passar por uma prova, e Kalibam talvez achou que você não era capaz, mas isso você terá de falar com ele.

 Ela me deixa e voa em direção ao castelo, me deixando lá sozinha olhando os guerreiros e guerreiras. Então um cheiro familiar me veio, um perfume, porém não sabia o porque era nostálgico. Um garoto vem em minha direção.

O garoto do meu sonho...

Ele para na minha frente, um garoto loiro, alto, empunhando uma espada prateada está parado em minha frente.

— Você... Você está viva...

Ele me abraça, fico sem reação, meu coração não para de bater rapidamente.

— Quem é... Quem é você?

 Ele levanta meu queixo, fico petrificada, ele me puxa para um beijo que durou um segundo antes de eu empurrar ele.

— Oque você esta fazendo!?

 Ele sorri para mim. Porém, tudo foi cortado com um cheiro de queimado, e um som rápido de asas, o garoto loiro em minha frente sumiu, quando algo bateu nele o levando para o meio da quadra de batalha, Zack em cima de Kalibam o batia contra o chão contra o brasão.

— Vou matar você loirinho!

 Corro até onde estavam, os alados a nossa volta para para observar, tento puxar Zack, no entanto ele não se move, e não tenho mais a força que tinha quando estava envenenada. Zack levanta ele pelo colarinho e o bate no chão novamente, fazendo o chão rachar.

— Quem deixou um demônio entrar aqui?!

O garoto falava embaixo do Zack, parecia como se nada estivesse acontecendo.

— Você beijou ela! Quer morrer?!

 Zack descontrolado grita e braveja para cima do garoto que continua deitado no chão, apenas olhando para a faixa branca no pulso do Zack, talvez por isso não revidou. O garoto da a Zack um sorriso sarcástico.

— Lógico que a beijei, é a minha noiva.


Imagens do capítulo:

-Quadro:

*Lembrando vocês de curtir e comentar*

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