• Vinte e sete

Acordei atordoada, com intensa dores musculares.

Havia transado na noite anterior com o Rafael, mas o mais intrigante é que eu nem sei como isso foi de fato acontecer.

Do nada senti um tesão absurdo. Talvez o vinho deva ter ajudado. Porém, não queria ter feito. Não queria ter caído na sua lábia.

Me sinto usada.

Ele sempre dá um jeito de me "enfeitiçar", sempre consegue o que almeja. Mas, por incrível que possa parecer, não foi uma transa incrível e nem marcante.

Foi tudo muito ligeiro, não senti arrepios e nem as pernas trêmulas após o ato. Acredito que foi o sexo casual mais meia boca que nós dois já tivemos.

Apesar de estar em completa abstinência, não me deixou saciada. Não chegou nem perto disso.

¥

Após entregar alguns trabalhos na parte da manhã na faculdade, já estava de saída pro almoço. Acabei vendo a Bel por uns minutos e conversamos rápido.

— E ai, o que rolou ontem? Disse que queria falar comigo. — questionou enquanto tomava um copo d'água.

— Transei com Fael. — rolei os olhos, soltando um suspiro cansativo.

— Quê? Tá falando sério? Por Deus, Yasmin!— me olhou assustada e retrucou alto. — Você não cansa desse moleque nunca?

— Não foi como você tá pensado.. — hesitei. — Na real foi bem estranho, a gente bebeu vinho e depois quando me dei conta.. já tinha acontecido..

— Eu nem sei o que te dizer. Já te aconselhei tanto sobre esse cara.. — falou num tom exaustivo. Como se já tivesse cansada disso.

— Eu sei, eu sei. Foi uma fraqueza minha, não era pra isso ter acontecido. — a interrompi.

— Você sabe o quê faz. Já tá bem grandinha né? Eu só não quero que você sofra com isso, apenas. Você não sabe o quanto é horrível te ver sofrer por ele.

Respirei fundo e engoli a seco. Abaixei a cabeça um pouco envergonhada.

— Isso não vai acabar bem. Aposto que vão acabar voltando.

— Qual é.. foi só uma transa. Não teve sentimento algum.. tá tudo bem.. eu sei que não devia ter feito. — retruquei.

— Não. Não tá tudo bem, você sabe muito bem onde está se metendo se voltar com esse cara.

— Calma Isabel, não é pra tanto. Eu conheço muito bem o Rafael.. ele não vai ter essa chance comigo de novo.

— Cansei dessa história. Achei que finamente você e o Dado fossem.. sei lá.. dar em alguma coisa. Mas tô vendo que não.

— Faz um tempinho que não vejo ele. Mas a gente conversamos todos os dias, mas não sei o que dar, penso que não somos tão compatíveis assim.

— Ele já sabe que você voltou a transar com seu ex?

— Quê? N-não.. na verdade..

Oiê! Quem voltou a transar com quem? — a voz de Sabrina chegou por trás, nos interrompendo rápido.

Nos entreolhamos e tentei disfarçar o incômodo. Ela mal falava conosco, até tomei um susto ao vê-la toda saltitante em nossa direção.

— Olá.. — respondi um pouco sem jeito.

— Oi Sabrina, é.. não era nada.. — Isabel tentou fugir do assunto.

— Ah.. tudo bem né. Mas e aí como vocês estão? — dizia toda simpática. O que era um pouco estranho.

— A gente vai bem, e você? — murmurei.

— Tô bem. Aliás, tô tensa.. hoje vai ser o concurso do Dado, tô tão nervosa pra que ele passe! — mordeu os lábios inferiores.

— Ah! Relaxa, ele vai se sair bem. — retruquei.

— Tomara! Amo tanto aquele menino, não quero que ele se frustre com isso. — ela negou fraco e eu apenas assenti relutante.

Pelo visto os dois já estão de boa. Fico aliviada que as brigas diminuiriam, Dado estava cabisbaixo com isso. Talvez tenham até ficado novamente.

— Você quase nunca tá nesse bloco. Até estranhei. — Isabel a refutou.

— É, pois é. Vim aqui ver umas colegas. — desviou o olhar.

— Entendi. Bom, nós já estamos de saída né Yá? Até mais! — Isabel pegou em meus braços e me puxou de leve. Nos retiramos da sua presença.

— Até mais! — Sabrina sorriu cinicamente e virou as costas.

Andamos na direção oposta, ao estacionamento.

— Aí caralho, essa menina não me engana! — falou por entre os dentes e eu ri.

— Talvez ela só esteja num dia bom. Sei lá.

— Fala sério, quem acredita nessa simpatia toda? Ela é blogueira, sabe fingir muito bem. A internet é cheio de pessoas assim.

— Aí Bel.. não te aguento garota. — sorri rolando os olhos. — Ela deve nos detestar mesmo.. mas foda se né? Nunca fizemos nada a ela.

— Bom.. eu nunca fiz mesmo. Já você.. — me olhou com um ar de malícia e nós rimos.

Cheguei no local da prova e me preparei pra entrar na sala indicada. O local estava relativamente cheio.

Como não podia entrar com celular nem pertences, aproveitei pra dar uma última olhada antes de por em um saco plástico.

Havia algumas novas mensagens.

Mas a maioria era de Sabrina me desejando uma boa prova e que tudo ia dar certo.

Apenas olhei de relance e não respondi. Pois meus olhos só prestaram atenção em outra mensagem que havia recebido.

"Boa sorte, tá? Quando sair, me avisa!! 😘"

Soltei um sorriso fraco e respondi em seguida.

Respirei fundo e me preparei pra adentrar. Nesse momento só pensava em como eu realmente queria isso, minhas mãos suavam frio, e as horas pareciam não passar.

Tentei ser simpática com elas, mas é óbvio que elas notaram que foi um pouco "forçado" da minha parte.

Havia marcado de encontrar com uma antiga amiga no bloco D, e dei de cara com as duas batendo papo no corredor. Até iria evitar, mas queria mostrar que eu estava bem e feliz.

Mesmo após o meu "término".

E mesmo sabendo que o Dado e a Yasmin já haviam se pegado.

Eu e Eduardo sempre nos demos super bem, não é agora que isso vai deixar de acontecer. E já percebi que a Yasmin tá por caidinha por ele, e se tem uma coisa que eu detesto é brigar por homem.

Por mais que essa briga seja pelo homem da minha vida.

E apesar da minha pequena forçação de barra, pude escutar um pouco do que elas estavam conversando.

— Como é que é? Tem certeza que foi isso que você ouviu? — Valquíria me encarava confusa.

— Claro que tenho! — respondi direta. — Estavam falando sobre alguém ter voltado a transar com esse outro alguém.

— Calma aí.. isso ficou confuso... — Daniela, a minha colega, retrucou sorrindo.

— Não! Vocês não entenderam? Quem disse isso foi a Isabel, ela falava num tom irônico pra Yasmin! — falava como se tivesse desvendando um mistério.

— Peraí. Quer dizer que a Yasmin tá fazendo isso.

— Sim Val! Ela voltou a transar com alguém, e esse alguém deve ser o ex dela.. aquele babaca que quase bateu nela no meio da rua. — murmurei baixo.

— Sua audição é boa, hein? Realmente, agora posso dizer que as paredes desse lugar realmente ouvem! — Dani gargalhou.

— É. Ela tá transando de novo com o tal do Rafael. Não tenho dúvidas.. esses dias atrás ela ficou com o Dado.. agora.. mal sabe ele que ela já vai voltar com o ex. — neguei fraco.

— Talvez ela nem queria voltar com ele. Só esteja, sei lá.. passando o tempo. Todo mundo tem uma recaída de vez em quando. — Val retrucou.

— Ô Valquíria! Me poupe tá?

— Mas Sabrina! Ela tá solteira, deve estar pegando vários por aí.

— Você não entendeu ainda criatura? Se ela voltar com o Rafael, vai finalmente deixar a gente em paz!

— A gente, quem? — juntou as sobrancelhas.

— Eu e o Dado.. — hesitei.

— E quem disse que o Dado quer ficar em paz? Ele é homem, e os homens jamais gostam de estar em paz.

— Essa menina é um perigo pra ele! Aquele ex dela, é capaz de fazer atrocidades por ciúmes. Estou apenas  preocupada com ele.

— Conta outra vai.. você tá é mordida de ciúmes isso sim! — Valquíria me interrompeu.

— Só quero que ele fique bem, só isso..

— Por quê não tenta sair um pouco? Sei lá, respirar novos ares e beijar outras bocas? Vai te fazer bem!

— Concordo com ela, amiga. Tem que parar de ficar pensando só nisso, vai viver um pouco vai.. — Dani argumentou.

Assenti relutante e pensativa.

— Tem razão. Vou começar a sair mais, quem sabe assim o Eduardo sinta que me perdeu de vez.

Elas duas se entreolharam e me encaram com certa hesitação. Encarei o celular brevemente, tentei não ligar tanto pra minhas mensagens que tinham sido ignoradas.

Jogávamos vídeo game em seu quarto, e é claro que eu estava deixando ela ganhar de propósito. Lívia a todo momento reclamava que é péssima nisso, e ela realmente era. Mas eu jamais falaria.

— Isso é roubo! Tá na cara! — se levantou rápido.

— Não é não! Você que não sabe jogar.. desiste! — ri.

— Cansei dessa merda! — jogou o controle na cama. — Vamos fazer outra coisa.. — murmurou manhosa.

— O quê quer fazer? Tem alguma ideia? — encarei o seu corpo de cima a baixo num tom malicioso e ela soltou uma gargalhada.

— Tenho. — veio pra perto, depositando um selinho prolongado em meus lábios.

— Interessante.. — resmunguei.

— Mas isso é pra mais tarde. Antes, você prometeu que iríamos naquela hamburgueria nova que abriu. — fez um biquinho e eu ri, decepcionada.

— Tinha me esquecido disso, porra.. — neguei fraco.

— Vai ter que cumprir poxa, não quero dormir com fome. — insistiu.

— Tudo bem, tudo bem. Vamo lá! — dei um tapinha em sua bunda, ela logo saiu de cima de mim. Calcei meus chinelos e ela os dela.

Eu e Lívia estávamos vivendo os nossos dias como se não houvesse o amanhã, queríamos curtir o hoje e o agora. E tava sendo a melhor coisa, me sinto melhor quando estou ao seu lado.

Até agora não sabemos ao certo o que é isso. Mas eu deixo livre pra chamarmos como quisermos, e seja o que for, é incrível.

Para meu alívio, Ricardo anda mega ocupado nesses últimos dias. Nem tá se importando com que eu faço ou deixo de fazer. E pra completar, os pais da Liv me adoraram e acabo vivendo aqui.

Nós duas ainda não contamos ao nossos pais sobre o que tá rolando. Mas eu creio que os dela já devem ter percebido algo, não queria ter me apegado tanto e as vezes penso que fomos rápido demais.

Continua..

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