• Quatro

Meus olhos mal conseguiram acompanhar aquele movimento brusco que Rafael havia executado.

Ele instantaneamente partiu pra cima daquele cara só porque ele tentou me ajudar, ou melhor, tentou conter aquela nossa discussão ridícula na calçada.

— Rafael! Pelo amor de Deus! — gritei desesperada tentando segurar seus braços de alguma forma.

— Quem é ele pra se meter na nossa briga? Tá doido porra? Se mete nisso não maluco! — retrucou com a voz irritada e trêmula.

Antes que o cara pudesse ao menos revidar, alguns dos seguranças avistaram e foram rápido os apartar antes que a briga ficasse maior.

— Você se machucou muito? Desculpa moço, nossa eu nem sei o que fazer.. — me aproximei devagar na tentativa de me desculpar. — Cacete Rafael, olha o que você fez!

— Depois a gente conversa, isso não acabou Yasmin! — disse ríspido entrando no carro, e saiu cantando o pneu. Sem dar tempo de eu poder dizer uma sequer palavra.

— A sorte é que tô um pouco bêbado, se não aquele filha da puta tava fodido! — pegou em seu maxilar e eu notei que seus olhos tinham ficado roxo.

— Desculpa mesmo, ele é descontrolado.. — segurei o choro e funguei o nariz. — Aí meu Deus, quer que eu vou atrás de algum gelo ou uma água?

— Relaxa.. só não esquece de chamar a polícia se ele tentar algo contra você novamente! — soltou um riso sem humor e eu assenti meio relutante.

Peguei meu celular e comecei a discar o número da Isabel inúmeras vezes, mas era quase impossível ela ver minha ligação dentro daquele furdunço. E ainda mais se ela tiver beijando alguém.

— Valeu mesmo por tentar me ajudar, eu nem sei como te agradecer. — falei sem jeito e ele assentiu receoso.

— Caramba Dado! O que houve? Tava te procurando lá dentro. — uma loira escandalosa gritou e veio até nós depressa. — Meu pai, você se meteu numa briga?

Aquela seria Sabrina Paiva, a aspirante a blogueira que a faculdade toda vivia fofocando sobre.

Aliás, os dois formam um casal bem harmônico.

— Foi um filha da puta que partiu pra cima de mim porquê eu estava tentando apartar a briga dele com a.. namorada.. ex namorada.. — me olhou de canto.

— A culpa foi minha! Nós terminamos recentemente e ele inventou de me perseguir até aqui! — entrei no meio.

— Nossa, esse roxo vai ficar pior amanhã. Já te falei pra não se intrometer em brigas nessas festas. — ela dizia analisando cuidadosamente o hematoma.

— Tá tranquilo, não foi nada demais. Eu só não acho certo um maluco querer dar show, ele podia bater na moça.. — murmurou.

— Você se machucou? — a loira se virou pra mim e me perguntou com o olhar tenso.

— N-não, eu tô bem. — neguei fraco com a cabeça,

No mesmo minuto o seu celular tocou, ela disse que iria ter que atender rapidamente e saiu de perto indo pra um canto mais afastado.

— Vou procurar a minha amiga, antes que ela vá embora sem me avisar. — me prontifiquei pra sair.

— Vai lá, Yasmim.. — falou meu nome como se fosse um mero conhecido e eu soltei um riso torto.

— Peraí, como sabe meu nome mesmo? — franzi o cenho.

— Aquele cara gritou o seu nome várias vezes.. se esqueceu? — riu fraco e eu assenti rolando os olhos.

Sim, óbvio que sim. Rafael berrou tanto o meu nome que eu nem precisei falar pro cara mais. Adentrei no local novamente e comecei a andar rápido.

Não sei como consigo gostar tanto desse idiota, acho que ele conseguiu exatamente o que queria; estragar a minha noite. Perfeito.

Por sorte encontrei Isabel no meio da galera, e assim que ela me viu soltou um gritinho tentando chamar a minha atenção.

— Ei! Aqui! — ergueu os braços e eu fui até ela.

— Ainda bem que te achei!

— Onde você estava? Pensei que tinha ido embora.

— O Fael apareceu aqui do nada, veio querer brigar e tirar satisfações. Não sei onde ele tava com a cabeça!

— Quê? Que escroto! Não acredito.. — falava alto por causa da música.

— E o pior nem foi isso.. um carinha entrou na nossa briga e acabou levando um soco do Rafael.

— Caraca, porquê eu não estava lá? Iria ajudar o cara a revidar no Rafael. Meu ódio só aumenta! — revirou os olhos.

— Achei que estivesse ocupada beijando alguém e por isso não atendeu minhas ligações.

— E estou menina. — puxou o braço de alguém que estava conversando com um pessoal ao nosso lado. — Com esse Deus grego aqui..

— E aí! — o cara me cumprimentou sorrindo.

— Prazer, Yasmin. — sorri gentilmente.

— Bernardo! — assentiu.

— Aí Deus, ele é um gato. Eu sei! — fez movimentos com a boca sem que ele visse e eu ri fraco.

— Vai que é sua.. — sussurrei alegre por ela.

— Ih.. parece que meu amigo entrou numa briga e levou um olho roxo.. — checou seu celular e eu sem querer, prestei atenção.

— Quem é? — Bel questionava.

— Acho que o cara de quem eu falei, é amigo dele.. se não me engano é Dado, né? — tentei me recordar de alguma coisa.

— Sim, esse mesmo. O que aconteceu? Sabrina que me mandou mensagem.

— Ele tentou me ajudar numa discussão no meio da rua com o meu ex, por isso o olho roxo.

Após explicar brevemente, ele quis sair pra ver onde o resto do seu pessoal estava. Isabel logo o seguiu, e eu consequentemente também tive que segui-la um pouco relutante.

— Que imbecil.. queria filmar e expor a cara desse sem noção! — Sasá falava inconformada, enquanto bebíamos e usávamos cigarro eletrônico em frente à festa.

— Ainda bem que esse filha da puta vazou. — tomei a latinha de cerveja da sua mão.

— Viram Benê? Ele sumiu.. — Valquíria exclamava.

— Vimos ele beijando uma menina lá dentro! Estava bem entretido.. — Sabrina segurou o riso.

— Como sempre, né? — Val rolou os olhos, com um ar de ciúmes.

— Pô, relaxa aí.. uma hora você consegue um beijo também. — brinquei e ela me mostrou o dedo do meio.

— E aí porra! O que aconteceu? — Bernardo chegou acompanhado de duas garotas vindo por atrás. Acho que são amigas.

— Tô bem já, não foi nada não. Só foi um desgraçado que ficou puto porquê tentei me meter numa treta.

— Pô, foi mal.. tava ocupado com essa gatinha aí. — riu se referindo a uma mulher alta que estava ao seu lado.

— É, a gente viu mesmo Bê! — Sabrina riu maliciosa.

No mesmo minuto, meus olhos se encontraram com o da menina estranha que eu tinha tentado defender a alguns minutos atrás.

Ela recuou e desviou os olhos timidamente.

E antes que eu pudesse notar, Sabrina passou seus braços ao redor do meu pescoço toda melosa e com um sorriso largo.

— Tô querendo te chupar muito mais tarde. — falou ao pé do meu ouvido. Soltei um riso sem graça e só balancei a cabeça; e a envolvi nos meus braços.

— Combinei com o pessoal, vai rolar um afterzinho lá em casa. — Valquíria dizia empolgada checando o celular a todo momento.

— Demorô, partiu né? — Bernardo falou alto.

— Ah não sei.. vim com minha amiga e vou voltar com ela.— a menina que está com ele disse indecisa.

— Não, por mim tudo bem amiga! Pode ir se quiser.— a outra falou rápido.

— Ah vamos logo todo mundo! — Sabrina disse de imediato. — Lá tem bebida de sobra, e você sabem que e é pecado desperdiçar.

— Eu não acredito que você me fez topar isso! — nós entramos no meu carro rapidamente.

— Yas larga de ser chata, é só um after. — Bel abriu o espelho do carro e retocou o batom.

— Na casa de completos desconhecidos. — liguei o motor e iniciei partida.

O carro deles estava logo à frente e íamos segui-los, pois eu não faço ideia de onde seja isso.

— Por falar nisso.. cê notou o quão gato é aquele tal de "Dado"? Pela fé.. — falou casualmente e eu soltei um riso frouxo.

— Nem notei. — dei de ombros.

— É, mas pelo visto a namorada dele deve ser mega ciumenta. Mas também não é pra menos.

— Ela pareceu simpática, os dois combinam. — dizia sem tirar os olhos da direção.

— E amanhã, você trate de dar uma prensa daquelas no Rafael. Ele tá ficando louco!— mudou de assunto.

— Eu sei Bel. — suspirei. — Essas suas atitudes estão me dando nos nervos, tá foda pra caralho. E não sei como controlar isso.

Em menos de dez minutos, chegamos em um prédio numa avenida movimentada. Estacionei no meio fio e descemos, quase junto à eles.

Todos entramos e fomos em direção ao elevador, o seu andar ficava na cobertura. O apartamento é um luxo e é enorme, tinha até uma piscina na varanda.

Não foi questão de minutos pra chegar mais gente. E sentaram em um círculo e começaram a usar drogas ilícitas e a beber destilados.

Alguns foram na piscina e outros começaram a se pegar.

Isabel estava toda empolgada com Bernardo, os dois ficaram se pegando na hidromassagem. Só que antes ela havia postado uma foto no story e me marcado.

E eu poderia prever que Rafael iria ver isso e iria dar outro show depois. Ele não suportava me ver saindo e ainda mais bebendo até essas horas.

Estava distraída olhando o celular, até que ouvi uma voz masculina se aproximar e se sentar ao meu lado num daqueles sofás brancos que ficavam espalhados pela casa.

— E aí, tá tranquila? Não quer beber mais um copo?

— Tô sim, não, quero não. Obrigado. — hesitei.

Ficamos em silêncio por alguns minutos, e aquele cheiro de essência do cigarro eletrônico invadia o meu nariz.

— Cê faz qual curso? Não lembro de ter te visto lá na faculdade. — puxou assunto.

— Arquitetura, e você "Dado"? — fiz aspas com os dedos até porque não sabia ao menos seu nome. 

— Direito. Ah, esqueci de te falar.. mas é Eduardo, só que 99% das pessoas só me chamam de Dado. — riu.

— Eu já ouvi falar de você, aquela sua namorada vive postando fotos e minha amiga segue ela.

Ele segurou o riso e apenas negou fraco.

— Quê foi?

— Ah não, não somos namorados.. nós só estamos sei lá, nos curtindo a um bom tempo.

— Entendi. Desculpa, achei que fossem.

— Estava pensando nisso esses dias..

— Em pedir ela em namoro?

— É, acho que sim. Não sei ainda, tá tudo tão de boa que dá até medo de "mudar algo". — tragou.

— Se vocês se amam, acho que o certo é fazer o que tem vontade..

— Peraí, que? — me olhou intrigado e eu retribui o olhar de confusa. — Amar? Não acha essa palavra muito forte não? Eu nem lembro a última vez que disse isso pra alguém.

— Sim eu sei, é muito forte dizer que ama alguém. Mas quando esse sentimento surge, não tem porquê não dizer.

— Deve ser muito da hora poder dizer isso sem nem ter que pensar duas vezes. — assentiu pensativo.

— Essa conversa tá ficando melancólica demais. — ri e ele me acompanhou.

Notei o visor do meu celular vibrar e respirei fundo ao ver as mensagens que haviam chegado.

WhatsApp 📱
Rafael: Onde cê tá essas horas da madrugada Yasmin? O quê tá fazendo? Eu vi a foto que Isabel postou, eu sei que já deve tá beba.. não acredito que tá bebendo. 😒 👍🏼

Após ler, soltei um riso sem humor e bloqueei a tela novamente. Ignorei as mensagens, eu já não tenho a mínima paciência e nem a obrigação de responder.

— Tá tudo bem?

— Só foi meu ex enchendo a porra do meu saco..

— Pera vai, ele não pode estragar sua noitada. Me dá isso aqui!— pegou rapidamente o celular das minhas mãos.

— Ei! Me devolve! — tentei pegar mas ele ergueu os braços. — O quê foi? Eu não vou respondê-lo.

— Só devolvo depois que cê virar uma dose daquele conhaque! — ordenou e colocou o celular no bolso da sua calça jeans.

— Quê? Nunca! Aquilo ali mata qualquer um! Para de graça e me devolve logo Dado.

Ele insistiu mais um pouco e me arrastou pra perto daquelas bebidas extremamente fortes. E eu relutei até o último segundo, mas foi tanta insistência que eu acabei cedendo apenas uma mísera dose.

— Toma com tudo, não pensa muito não! Só vai! — Bel brotou do nada e me deu o copinho de vidro.

— Peraí, deixa eu me concentrar e tampar o nariz!

— Sem cerimônia, vai logo! — Dado me apressava.

— Se eu passar mal com isso aqui, mato vocês. Tô falando sério, não posso voltar bêbada pra casa!

— Relaxa, qualquer coisa Bernardo dirige pra gente!

— Quê? Olha pra ele! Tá mais doido que o Batman! — Dado caçou e Bernardo riu assentindo.

Peguei aquele copo e virei tudo de uma vez, a única coisa que eu sei é que fiz mil e uma caretas e dei até uns pulinhos de tão forte que essa porra é.

Continua..

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