• Quarenta e três

Ao sair do transe, saí rápido do quarto e corri atrás dele pelo corredor. Descalça e ainda só de camiseta.

Comecei a entrar em pânico ao perceber que estava deixando de falar o que sinto por medo. E decidi de uma vez por todas ir atrás dele.

— Calma Dado. Espera! — chamei por ele; que se virou sem muito interesse pra mim, com os olhos perdidos e sem rumo.

Me aproximei um pouco mais, e ele só observava.

— Eu estaria mentindo se dissesse que a noite de ontem não teve importância nenhuma pra mim.. — hesitei. — Teve sim, e muita.

Acredito que é só de vez em quando que se encontra alguém com uma presença e eletricidade que combina tanto com a sua, no ato.

Sem pretenção alguma, ele tinha tido uma conexão comigo. E é uma sorte danada quando isso acontece.

— Mas então.. porque cê continua fugindo? Porquê tem medo de encarar seus sentimentos? — franziu o cenho, sem entender.

— Tenho medo de me apaixonar por você e.. sinto que isso pode estar acontecendo. — falei tão baixo como se soasse pra mim mesma.

Mas infelizmente ele teria ouvido.

De fato é bem estranho falar e admitir algo assim em voz alta. É como tirar um peso das costas, mais foda-se. Não dá pra guardar isso só pra mim pra sempre.

Ele ficou em silêncio por uns segundos. Apenas me fitou com os olhos confusos e surpresos pela minha fala repentina.

— Quê é.. não vai dizer nada? — insisti, ainda com a voz falha pelo medo do que ele poderia falar.

— Eu não.. eu não esperava que fosse dizer isso.. — exclamou com a voz mansa e desconfiada.

— Foi mal, eu só senti que deveria falar. — abaixei a cabeça. — Quer saber, esquece eu..

— Não sei o que dizer. — me interrompeu. — Pensei que não me quisesse por perto há uns minutos atrás.

— É. — sorri fraco. — Eu agi no impulso, não queria que virasse as costas pra mim antes de saber disso.

— Sabe por que agi daquela maneira no quarto?— questionou e eu só neguei com a cabeça. — Porque eu tô sentindo o mesmo Yasmin.

Os meus lábios tremeram e fiquei sem saber o que dizer. Ele falou aquilo tão convicto, tão certo e tão sério.

— Tô tentando não pensar tanto nisso, mas tá foda. Não tive coragem de falar algo ontem porquê eu tava bêbado demais, e hoje cedo cê acordou toda cheia de dúvidas sobre tudo que rolou..

— Eu era tão cheia de certezas antes.— ri de forma irônica. — Depois que você surgiu, sei lá.. surgiram tantas dúvidas em mim.

— Eu achei que nunca fosse dizer isso. — desviou o olhar, num tom indignado. O que deixava a situação bem mais dramática.

Respirei fundo e continuei o encarando.

— Mas.. eu acho que tô me apaixonando por você..— falou como se isso fosse algo de outro mundo.

Soltei um riso fraco, negando com a cabeça.

A única sensação que conseguia sentir, eram as mãos gélidas e o coração batendo a mil por hora. Diria que é quase um mini infarto.

— Tem noção do quão bizarro isso soa pra mim? Eu nunca tive que admitir umas coisas dessas antes. — desviou o rosto, rindo.

— Saiba que eu também tô na mesma, nunca pensei que fosse me envolver tão rápido após o fim do meu namoro. Se isso serve de consolo.

— Pensei que já tava ficando maluco com isso.

— Tenho medo, Dado. Eu gosto mesmo de você.. — abracei meus cotovelos, reforçando o que tinha dito.

— E tá sendo um problema? — se aproximou.

— Sim, se isso for nos magoar algum dia.

— Não dá pra saber, a não ser que vivamos isso.

— É sério.. eu não tô afim de me machucar mais. — insisti e ele riu fraco.

— A gente não escolhe esse tipo de parada. Cê acha mesmo que eu queria estar aqui nessa melação toda contigo? — dizia indignado. — Porra.. eu tô de férias, devia estar acordando sem roupa num quarto cheio de garotas.

— Não seja ridículo.— rolei os olhos e ele me puxou pra perto, passando os braços pela minha cintura. — Eu sei que não escolhemos isso, mas é que.. cê sabe que foi tudo tão conturbado antes e..

— Calma, não precisa lembrar disso agora. A gente não tem que sofrer por antecipação. — colou nossos corpos e me encarou fixamente.

— Tudo bem, tem razão. — suspirei. — Prometo que não vou falar disso.

— Vamos só tentar viver o momento. A gente tá se curtindo, e é isso que importa agora.. não quero te ver distante de novo.

— Você está certo. Temos que viver o agora, eu que sou muito precipitada às vezes.

— Ih.. tu já tá pensando em levar esse nosso lance lá pra Floripa? — falou humorado.

— Vai se ferrar vai. — tentei sair dos seus braços.

— Vem cá. — selou nossos lábios calmamente, com uma das mãos em meu rosto. — Vamo só tentar ser mais sincero um com o outro.

— Eu acho válido.. — concordei, extasiada.

E então, uma tosse forçada nos interrompeu.

Nos viramos rapidamente e vimos que era o garçom empurrando o carrinho de café da manhã que havia pedido minutos atrás.

— Com licença.. eu posso deixar dentro do quarto? — disse ao notar que a porta estava aberta. E com a voz um pouco alta, pela distância.

— Oi! Sim, claro. Já estamos indo. — falei ligeira. — E aí.. vai querer comer comigo? Ou.. — me virei pra ele novamente.

— Vamo lá. — passou os braços pela minha cintura de leve, me guiando por trás.— Não vou te deixar em paz tão cedo. — riu.

¥

Ao mesmo tempo que eu sentia "impotente" diante dele, me sentia em paz. Por algum motivo idiota ele trazia esse sentimento de tranquilidade e conforto.

Não sei ao certo explicar o que é viver o friozinho na barriga. Só sei que é algo realmente único, é algo que já não sentia a muito tempo.

Após passarmos a manhã juntos, ele foi pegar umas ondas com os meninos na praia.

Eu e Isabel decidimos ir pro spa, precisava recuperar minhas energias pra hoje a noite.

— Você tá com uma cara boa. Passou a noite bem? — ela entrelaçou nossos braços, igual duas fofoqueiras.

— Passei até. Mas ainda tô bem cansada, não dormi muito. — fingi desdém.

Ela me encarou desconfiada e riu. Íamos andando na direção do local.

— Mas me conta, como foi ontem? Beberam muito?

— Foi uma loucura. Aliás, esqueci de saber sobre a Layla, ela tinha ficado por lá.

— Ela desceu pro café hoje. Teve uma ressaca básica mas já está bem.

— Sério? Ótimo. — suspirei.

— Sim, e ela tá boa de memória. Até me falou de umas coisas que rolaram ontem. — insinuou algo.

— Aconteceu muita coisa. Até ia te contar depois.

— Você e o Dado se acertaram! Finamente, estou tão alegre em saber disso! — não aguentou segurar e me abraçou fortemente de lado.

— Eu ia te contar no momento certo. Mas pelo visto a Layla ja espalhou pra geral. — sorri negando com a cabeça.

— E ela disse que vocês foram embora juntos.. — me olhou maliciosa e eu ri.

— A gente encheu o cu de cachaça. Fui dormir só as quatro da manhã.

— É, eu posso imaginar o que ficaram fazendo.

— Foi incrível. — sussurrei. — E hoje de manhã, foi tudo bem confuso pra mim.

— Vocês conversaram melhor?

— Uhum. Eu disse a ele o que estava sentindo, e ele disse também.

— E aí?

— E aí que decidimos deixar a vida nos levar, viver só o agora. Sem nos importar com o amanhã, eu sei que isso pode dar merda no futuro.. mas não ligo. — respirei fundo.

— É a melhor coisa a se fazer. Viver tudo sem pressa e sem preocupações, vocês tão se curtindo e isso que importa.

— Me sinto bem melhor agora. Decidimos ser mais sinceros um com o outro, não fazia mais sentido eu querer esconder meus sentimentos.

Caminhamos até o local, ao entrarmos fomos direto vestir os roupões brancos.

— Mas essa coisa de amor, pra mim é muito forte ainda, sabe? Eu só consigo acreditar no gostar..— prendia os cabelos num rabo de cavalo.

— O amor acontece quando você é verdadeiro com você e com a outra pessoa.— dizia enquanto ajeitava suas roupas e eu ouvia atentamente.

— Ele não aparece quando tudo parece forçado. Não precisa ser amor, precisa querer ser amor.

— Caraca Isabel. Onde ouviu isso? — soltei um riso. Cortando todo o clima filosófico que ela gerou.

— Lugar nenhum.. — deu de ombros. — É algo tão simples, mas às vezes a gente se esquece.

— Aí aí.. o que seria de mim sem você? Me diz! — arrastei a voz e ela gargalhou.

Iam ser 6:30 da tarde, já tinha uma movimentação pela orla. O pessoal decidiu que nós íamos para um beach club/balada que ficava bem próximo ao mar.

Ia ter uma super festa, fora que dava pra ver melhor a queima de fogos.

Nesse exato momento, estava tomando uma cerveja enquanto comíamos porções de camarão em frente a um barzinho bem simples a beira-mar.

— E aí. Tá todo mundo pronto pra outra? Hoje vai render.— Léo exclamava, todo entusiasmado.

— Claro pô! Comprei até um whiskey pra gente. — Ítalo retrucou.

— Não aguento mais ingerir esse tanto de cachaça. Meu pai amado! — dizia Layla.

— Quem vê até pensa. Tu bebe mais que eu.— falei e ela riu alto, enquanto acendia meu cigarro e tragava  de leve.

— Ah gatinho, não é pra tanto.. — passou às mãos pelos meus ombros, negando fraco.

A parada é que meu fígado provavelmente já estava pedindo socorro. Estamos quase o dia todo assim, e fora o meu sono tá todo desregulado.

Algumas horas depois, voltamos pro hotel.

Entrei no quarto e ouvi um barulho, caminhei até o banheiro e me deparei com Yasmin secando os seus cabelos de qualquer modo, vestindo um roupão e de frente pro espelho.

A abracei por trás e ela virou o tronco, desligando-o e sorrindo fraco, com os cabelos esvoaçantes.

Tava tudo uma zona, maquiagens, roupas e sapatos pra todo canto. Fora seus cosméticos que ocupavam todo o espaço da pia.

— Ei.. — murmurei, dando um beijo com vontade em sua bochecha rosada.

— E aí, como foi na praia?

— Foi legal. E o spa?

— Foi bom também. — assentiu.

— Já está se arrumando? Ainda tá cedo. — exclamei, ainda com os braços em volta do seu corpo.

— Não gosto de fazer nada com pressa. — retrucou.

— Poderíamos estar fazendo outra coisa nesse meio tempo..— apertei os seus seios por trás e ela afagou.

— Não provoca não, tá? Eu já tomei banho e não tô afim de suar. — sorriu, tentando se recompor.

— Qual é, você já tá linda assim.. não precisa ficar se arrumando mais. — insisti.

Coloquei os seus cabelos pro lado, deixando o seu pescoço livre, comecei a distribuir beijos e carícias por toda a região.

Ela se arrepiou e soltou um suspiro abafado.Virei seu corpo com certa "brutalidade" e a prendi na bancada da pia.

— Quer mesmo continuar com isso? — sorriu com aquela carinha de safada.

— Mais do que tudo. — sussurro.

Ela me fitou por breves segundos e aos poucos foi tirando o roupão, num tom provocador. Mordi os lábios inferiores, a admirando boquiaberto.

Estava sem nada por baixo, e o seu corpo bronzeado e escultural logo caiu sob o meus olhos.

Me aproximei como um predador feroz e ela não se moveu. Foi questão de minutos pra afastar as coisas da pia e colocá-la sentada na bancada de mármore.

E ali mesmo nós fodemos na velocidade máxima.

Nossos corpos estavam colados e ela me abraçava com força, analiso aquilo no espelho e sentia mais tesão. Suas pernas tremiam e sentia suas unhas se afundarem cada vez mais nas minhas costas.

Foi então que ela prendeu suas pernas em minhas costas e foi aí que a parada ficou mais séria.

— Isso, coloca até o final! — pedia ofegante.

— Safada.. — falava ao pé do seu ouvido.

E então, no auge do prazer.. escutamos batidas na porta. O que nos fez parar instantaneamente.

— Yá! Amiga! Me empresta sua chapinha? Esqueci a minha.. — era a voz estridente da Isabel. Cacete.

— Oi.. já vai! — Yasmin respondeu toda trêmula, se afastando.

— Caralho. Na melhor hora. — suspirei indignado.

— Salvo pelo gongo. — ela se vestiu e saiu rápido.

— O que acha? — falei ao me vestir, enquanto Dado mexia no celular esparramado na cama.

Seus olhos se levantaram no mesmo instante e ele sorriu boquiaberto.

— Tá porra! Que gata.. cê tem certeza que quer ir assim? Vai ofuscar todo mundo..— brincou e eu ri.

— Gostou mesmo? Não tô pelada demais?

— Tá doida? Ficou gata pra caralho! — me fitou dos pés à cabeça.

Me analisei no espelho, pela última vez.

— Vamos? O pessoal já tá esperando. — levantou da cama e se prontificou pra sair.

Entreguei o meu celular pra ele, não ia levar bolsa e nem nada que me prendesse. Fechamos tudo ao sair.

Ao andarmos pelo corredor, sem ao menos eu notar ele entrelaçou as nossas mãos. Eu olhei aquilo e abri um sorrisinho de canto. Pareceu algo automático.

Encontramos com o pessoal, em seguida pegamos um mini van e fomos em direção ao beach club. No caminho fomos conversando, todos estavam muito bem arrumados e animados.

— Caraca, já tá bem lotado! — Bel exclamou ao chegarmos.

— Você tem certeza que fez as reservas né? — Benê questionou.

— Sim, tá tudo certo! Só falar nossos nomes.

Ao entrarmos, já pude ouvir a música alta.

Alugamos um bangalô, tem uns sofazinhos e é bem próximo ao mar. Pediram as bebidas e todo mundo começou a se animar.

Hoje seria a banda Eva e depois Vintage Culture. Mas por enquanto era só uns cantores quaisquer.

Bel tinha pedido que eu tirasse fotos dela antes que ficássemos bêbadas. Fomos em certos locais e tentei ao máximo tirar uma boa.

Depois disso, íamos voltando e ela encontrou algum conhecido no caminho e parou pra falar com ele. Os meus olhos ficaram perdidos, procurando por Dado ou por algum rosto familiar.

Foi quando o avistei conversando animadamente com uma moça e alguns caras, em nosso bangalô. Aproximei e ele se virou ao notar minha presença.

— Ei, onde estava? — falou ao me ver.

— Fui tirar umas fotos da Bel.

O pessoal me encarou de cima a baixo, e forçaram uma certa simpatia. Dado me apresentou rápido e falei brevemente com eles.

— Yasmin? Acho que já te vi lá em Florpia. — disse a moça, tentando se lembrar.

O pessoal a chamava de Mafe, diz o Dado que era uma grande amiga. Eu até me lembro vagamente que já tinha visto esse rosto em algum lugar.

— Eu encontrei contigo em uma festa, ela estava lá. Deve ter sido isso. — Dado reforçou.

— Ah é verdade. Acho que sim.. mas e aí, a Sasá não quis vir? — exclamou enquanto me fitava.

— Não, ela tinha outros planos.

— Poxa que pena. Mas então, já está ficando com essa dai? — falou num tom "baixo" e achou que eu não ouviria, se referindo a mim como se fosse uma vadia qualquer.

Soltei um riso irônico e discreto ao ouvir.

Nisso, peguei um dos drinks que estavam a postos e permaneci sentada num dos sofás brancos. Olhando as pessoas à minha volta.

— Sim. A gente tá se conhecendo melhor. — Dado respondeu meio sem jeito. — Yá tem sido incrível.

Fingi não que não ouvi aquela conversa, desviei o olhar e fiquei esperando aquilo acabar.

— Ah, que bom né. Bom.. caso.. — ela falou baixo e não consegui ouvir o restante da conversa.

Após uns segundos, ela se distanciou e Dado sentou ao meu lado. Colocou os braços por trás, e me olhou de canto abrindo um sorrisinho fraco, ao notar meu leve desconforto.

Eu detesto sentir esse tipo de ciúmes adolescente, só que não dava pra esconder meus anseios. Eu sempre deixo aflorar esse lado não tão bom.

— Quê foi gatinha? — questionou todo meloso.

— Da onde saiu aquela garota, mesmo? — disse de imediato e ele riu.

— A Mafe? Eu já disse, uma antiga amiga. Ela estava em Floripa esses tempos atrás.

— Cê viu o jeito que ela falou de mim? Que tosca. — neguei fraco, voltando a beber.

— Ela é meio otária às vezes. Ignora. — bufou.

— O que ela te falou depois?

— Ah. — hesitou. — Disse que teria um after depois e que se eu quisesse, o bangalô deles ficava próximo ao palco.

— Entendi. E você vai? — assenti, passando as mãos em seus fios curtos.

Ele se aproximou e me deu um selinho prolongado, e já pude sentir o leve gostinho da cerveja em sua boca molhada.

— Só se você fosse comigo. Caso contrário, não.. — deu de ombros e eu apenas sorri negando fraco.

— Aham.. tudo bem.

— Sério pô. — insistiu.

— Ei casal! Vamos.. tá na hora do whiskey! — Isabel nos interrompeu toda entusiasmada, segurando uma garrafa de vidro.

Após alguns minutos, o pessoal começou a dançar mais e a misturar as bebidas. Estavam todos muito felizes e entusiasmados, eu e Bel acabamos virando uns shots de tequila e já sentia tudo começar girar.

Não consegui nem pegar o meu celular pra registrar um sequer momento. Quando me dei conta, já eram onze e meia da noite. Faltava pouco pros fogos.

E vez ou outra Dado me abraçava por trás e beijava meus ombros, ele já estava pra lá de Bagdá. E sorria com os olhos me vendo "dançar", pois ele sabia que era apenas uma tentativa falha da minha parte.

Continua..

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