• Dezesseis

— Babi.. tá tudo bem? Abre aqui.. — escutei a voz da Yasmin me chamando do outro lado.

— Entra! — bloqueei a tela do celular após responder Lívia.

Ela abriu a porta devagar e me encarou solidária. Se aproximou cautelosamente e se sentou ao meu lado.

— Como você tá?

— Péssima. Tá tudo uma merda, meu pai me odeia e eu não tenho mais o que fazer. Tô me sentindo meio culpada por ser assim.

— Você não tem culpa de nada! E aposto que o seu pai te ama muito, mesmo cometendo tantos erros.. ele não te odeia. Não mesmo.

— Quê? Ele nunca vai me aceitar, e isso não é amor. — retruquei rápido. — Ele já deixou bem claro isso.

— O meu pai, nunca me amou. Eu daria tudo pra que um dia ele me amasse e não nos maltratasse..— notei seus olhos se encherem d'água.— E sei que o Ricardo tem muita coisa pra melhorar, mas é impossível ele deixar de te amar.

A abracei de lado e ela fungou seu nariz, contendo a sua emoção.

É estranho estarmos tão próximas tão de repente, não via ela como apenas minha meia-irmã, hoje eu sei que ela é minha irmã por inteiro.

— Eu sinto muito Yas. Mas por outro lado, você tem a mãe que eu nunca tive, então.. — soltei um riso em forma de consolo e ela assentiu fraco.

— Acho que a gente se completa de certa forma. — coçou os olhos se recompondo.

— Posso te pedir mais um único favor?

— Pode, fala aí. — prendeu os cabelos em um rabo de cavalo e me olhou atentamente.

— Me leva na casa da Lívia amanhã?

— Claro que eu levo. Mas, porquê seria um último favor? — olhou ao redor e viu todas minhas roupas bagunçadas em cima da cama.

— É, então.. tô pensando em ficar uns dias na casa do Alexandre. — hesitei. — Mas por favor, promete que não vai contar isso pra ninguém?

— Hã? Tá pensando em sair escondida? — arregalou os olhos.

— Sim, eu quero dar um tempo. Ficar lá vai me fazer bem. Eu nem ia te contar nada.. mas..

— Tem certeza que isso não vai dar merda?

— Sei lá, mas se der.. cê vai estar do meu lado, né?

— Tá, tudo bem! — falou receosa e eu a abracei em seguida.

— Obrigada! Obrigada! Eu te devo essa.

— Mas quanto tempo tá pensado em ficar lá? O que digo pro Ricardo? E se ele quiser chamar a polícia?

— Diz que não sabe de nada, ele não vai querer ligar pra polícia. Não vou ficar por muito tempo, é sério.

— Promete que vai ficar bem?

— Prometo. Vai dar tudo certo.

Ela só assentiu relutante, mesmo não concordando muito com isso, era o melhor a ser feito. Eu sei que pode dar ruim, mas ficar aqui não vai melhorar.

Os domingos costumam ser solitários, e para variar não tinha tantos planos hoje, o que era sempre uma merda.

Após tomar um banho, me deitei na cama e fiquei vendo o Instagram o resto da manhã.

Vi uns stories que Bel tinha postado com Bernardo e sorri no mesmo instante, ela parecia tão feliz ao lado dele. Isabel nunca foi de se enrolar assim, ela sempre ficava só por ficar, esse era o divertimento dela.

Mas aí, do nada esse carinha apareceu. O foda é que eles dois combinam, torço demais por sua felicidade.

Ao passar os dedos pelo feed, vi uma foto que o Dado tinha postado ontem e abri um sorrisinho no mesmo instante, e posso apostar que ele estava chapado e já deveria ter fumando um beck.

dado.couto

Curtido por yasvascon e outras mil pessoas.

Praiou 🤟🏼

sasapaiva: Aff q gato, ainda bem q já beijei 🙀
benemesquita: Voa mlk 🤟🏼
valpaivaa: Nem chama né ??
gomestata: Uau!! Que lindo 👏🏼

— Filha? — minha mãe falou encostada na porta que estava entreaberta. E fez com que eu saísse dos meus pensamentos.

Me virei rápido ao ouvir sua voz, e arregalei os olhos ao ver o que ela segurava.

— Quê isso mãe?

— É.. então.. o Fael acabou de deixar na portaria.. — ela segurava uma cesta imensa de café da manhã.

— Aí meu Deus.. ele não cansa nunca, né? Que saco! — resmunguei baixo.

Ela deixou com cuidado a cesta em cima da cama.

— Olha.. tem um bilhete.. — me entregou um papel e eu li com os olhos.

"Para que seu dia seja mais doce, com amor. Fael"

— Filha, ele tá tentando. Tenta amolecer um pouco o seu coração.. e sei que não é fácil. Mas dá pra ver que ele te ama muito.

— Mãe, não quero ter um namoro iô-iô. Cansei de ter que fazer isso, ele é instável. Uma hora me ama e na outra tá me odiando. Não tem como isso dar certo!

— Vocês jovens são assim. É tudo intenso, mas eu sei que no fundo você não tá contente com esse término.

No mesmo instante, recordei do que Dado tinha me dito ontem antes de entrar em casa. É como se fosse algum tipo de sinal, ele queria me dizer mais coisas.

Hesitei por alguns instantes.

— Eu ainda gosto dele. Só que é mais aquela chama adolescente. E não um amor maduro, era algo que já estava me fazendo mal.

— Não sei o que realmente aconteceu. Mas torço pra sua felicidade. Você merece um amor, que te lembre novamente o quanto é bom amar.

— Obrigada.. vou lembrar dessas palavras! — abri um riso tímido de canto.

— Bom, pelo menos trate de comer isso aí.. qualquer coisa tô no escritório! — saiu ligeiramente do quarto.

Encarei aquilo tudo e fui comendo aos poucos. Nem estava com tanta fome assim, mas acabei beliscando algumas coisas.

Por mais que o Rafael seja um cara extremamente difícil de lidar, parece que jamais ele vai desistir de tentar me agradar de alguma forma.

Mas infelizmente esses presentes e coisas materiais nunca me convencem de nada. 

Porém, decidi mandar uma pequena mensagem em forma de agradecimento, isso seria o mínimo. E não demorou nem cinco minutos e ele já respondeu.

WhatsApp 📲
Rafael

Eu: Ei! Valeu aí pela cesta de café da manhã..

Rafael: Que isso, não tem que me agradecer hahah, comeu tudo já? 😬

Eu: Uhum, estava muito bom aliás

Rafael: Ta curtindo a ideia de sermos só amigos? Se estiver incomodada com alguma coisa é só me falar.

Eu: Pra mim tá tranquilo até agora

Rafael: Minha família adorou te ver ontem, falaram que você estava linda 😂

Eu: Devem estar loucos pra que a gente volte, isso sim.. por isso tão me elogiando! Kkk

Rafael: Que? Jamais hahaha, eles gostam de você de verdade. Sempre vão gostar.

Eu: Eu sei. Tb tenho um carinho gigante por eles!

(...)

Começamos a conversar normalmente, sem discutir ou a brigar por algo idiota. O que era um pouco raro.

Quase nunca ficávamos conversando de boa, mesmo eu tendo "fingido" essa parada de ser amiga dele, era estranho porquê ele realmente estava sendo apenas o meu amigo.

Nem tentou me convencer de nada ou dizer que quer reatar o namoro. Bizarro.

— Sim baby, eu tive que vim de uber. Minha mãe precisou usar o meu carro hoje. — rolou os olhos.

— De boa, na volta eu te levo.. — baguncei o cabelo com as mãos rapidamente.

— Meu Deus que saudades..—Sabrina sorriu ao me ver secando o corpo e veio me abraçar manhosa. — Caramba, que cara mais cheiroso, hein? — riu.

Havia acabado de sair do banho, ela tinha acabado de chegar lá em casa. Tinha tirado os seus sapatos e deixado sua bolsa em cima da cama, ficando mais a vontade.

— Saudades também gata! — sorri de leve, dando  um selinho rápido em seus lábios e indo me vestir.

— Ah não.. não se veste não! — me encarava toda  maliciosa. — Cê tá tão mais bonito desse jeito aí..

— Tá querendo me usar né? — brinquei e ela fez um sinal de sim com a cabeça.

Chegou mais perto de mim e me beijou velozmente, segurei em sua cintura e apertei devagar.

Estávamos com muito tesão acumulado.

Suas mão passeavam pela minha nuca e pelo meu rosto, e aquele seu cheiro forte de perfume invadiu meu nariz.

— Mas peraí, os seus pais não estão em casa né? — pausou o beijo devagar.

— Não. Acho que eles foram no mercado..

— Ah tá, menos mal. Assim podemos fazer bastante barulho. — mordeu os lábios.

— Calma que o quarto da Lívia é aqui do lado! — brinquei e ela deu de ombros, voltando a me beijar.

Minhas mãos apalpavam a sua bunda com força por cima do shorts. Nosso beijo era necessitando, minha toalha logo escorregou e ela abriu um sorriso safado e se ajoelhou na minha frente no mesmo minuto.

Murmurei um palavrão ao sentir sua língua entrar em contato com meu membro. Peguei seus cabelos de qualquer modo tentando impulsionar a sua cabeça.

Meu membro estava ereto e totalmente latejando, eu mal conseguia me manter em pé. A ergui novamente e com cuidado fomos cambaleando sem quebrar o beijo até a cama.

Horas depois.

— Acha que essa roupa tá boa? — falei entrando no quarto da Yasmin.

— Aí meu Deus! — ela soltou um mini grito, ao ver que eu tinha entrado de supetão.

— Aí garota que susto! — dei um pulinho pra trás.

Ela estava terminado de colocar seu sutiã de frente pro espelho. Parecia uma missão quase impossível.

— Caramba, você não tranca essa porta não?

— Eu esqueci.. droga. — pegou sua toalha e enrolou no seu corpo, correndo até a porta e a trancando.

— Mas fala aí.. essa roupa tá boa? — questionei.

— Tá sim. Gostei. — me analisou com certa pressa.

— Vai demorar muito pra se aprontar? Lívia disse que vai pedir algo pra gente comer. — me sentei na beirada da cama.

— Não, só vou por essa roupa aqui.. acho que não vou nem descer do carro. — falava enquanto vestia um short jeans branco e uma blusinha de manga.

— Quê? Porquê? Depois quem vai me buscar?

— Pede pro Dado te deixar aqui em casa. Ou pega um uber.

— Eu nem falo com ele direito, ah não Yá. Trate de me esperar, não vou demorar.. — insisti. — Fica lá conversando com ele, sei lá.. só me espera.

Ela apenas negou fraco abrindo um sorriso torto, e logo terminou de se arrumar.

Eu precisava falar com a Lívia tem um tempo, e vai ser bom poder desabafar com outra pessoa além do Alê e da Yas, às vezes penso que já tô enchendo eles demais com isso.

Babi tinha me pedido pra levá-la na casa da Lívia, e ainda por cima queria que eu a esperasse. Como era domingo e eu não tinha nada útil pra fazer, poderia até ficar.

No caminho fomos ouvindo algumas músicas, notei que aquele semblante cabisbaixo que a Bárbara tava, tinha mudado um pouco, ela estava mais contente e tagarela.

— Que horas tá pensando em ir pra casa do Alê?

— Não sei. Acho que amanhã de manhã, depois que todo mundo sair.

— Já tá tudo certo? Você conversou com ele, né?

— Sim, ele já tá me esperando.

— Já estou até prevendo o que o Ricardo vai falar quando não te ver voltar pra casa no fim do dia.. — suspirei.

— Não quero nem pensar. Mas pelo menos vou ficar longe disso tudo por um tempo.

— É, vai ser estranho eu voltar a ser a filha única por alguns dias. Não vou me adaptar.. — brinquei.

— Boa sorte, irmãzinha.. — deu um sorriso.

¥

Ao chegarmos no condomínio, estacionei o carro no meio fio. Babi tirou os cintos depressa e fez menção de descer do carro.

— E aí.. vai descer também?

— Nem sei se o Eduardo tá aí. — peguei o celular e encarei a tela por alguns segundos, na tentativa de mandar uma possível mensagem pra ele.

— Vamos logo, e se ele não tiver você vai embora. — falou relutante.

Mesmo não querendo tanto, aceitei descer. Hoje eu nem falei com o Dado, ele certamente não vai estar aí.

Domingo sempre tem rolê de pagode e cerveja, e ele não é de recusar nada.

Antes que nós pudéssemos nos aproximar da casa, vimos um carro preto se aproximar e estacionar na vaga da garagem principal.

Eram os pais deles, pareciam que tinham acabado de voltar do mercado. Desceram com várias sacolas nas mãos, e ao nos verem abrirão um sorriso simpático.

— Olá queridas! O que estão fazendo aí fora? Vamos entrar.. — dona Luciana exclamou sorridente.

— Ah oi, eu vim só deixar a Babi aqui! Quer ajuda? — me ofereci pra pegar algumas coisas da mão dela.

— Obrigada. — me entregou as compras — Se puder me ajudar a guardar tudo isso também, eu vou ficar agradecida. — brincou e nós rimos.

— E aí, você que é a colega do Dado, né? Hum.. deixa eu lembrar o seu nome.. — falou pensativo. — Yara.. não, Yasmin! Desculpa.

Soltei uma gargalhada e assenti. Seus pais pareciam serem ótimas pessoas, a minha pouca timidez tinha desaparecido em menos de alguns minutos.

— Sim, isso mesmo. Mas podem chamar só de Yas.

— Ah, Bárbara.. pode subir, a Lívia tá no quarto! — ela sinalizou com a cabeça.

— Sim, obrigada. Tô indo lá! — ela foi em direção as escadas rapidamente.

Os ajudei com as compras até a cozinha. E ao entrar, Raja me viu e veio com o rabo abanando pra perto de mim. Como se quisesse brincar.

— Oi! Como você tá? — sorri e ela apoiou suas patas nas minhas pernas, quase me desequilibrando.

Deixamos tudo em cima da bancada de mármore.

Por mais que a tensão já tivesse passado, me sentia estranha em estar na casa dos outros assim. Parecia até que já éramos íntimos, ou que eram da "minha" família.

— E então, como vão as coisas na faculdade. O Dado me contou que você faz arquitetura né? — ela puxou um assunto por alguns instantes.

— Sim. Já estou indo pro sexto semestre, tá ficando bem puxado. — sorri fraco.

— Posso imaginar. — dizia enquanto lavava algumas frutas.

— Falar nisso, o Dado tá em casa?

— Ah.. não sei.. —hesitou.— Ele não me avisou que iria sair, mas se quiser pode dar uma olhadinha no quarto dele.

— Não! Que isso! Eu tô bem aqui. — proferi rápido.

Jamais iria invadir ou entrar no quarto do garoto, eu vim aqui só uma única vez. Não tenho tanta coragem assim, já estava até pensando em ir embora.

— Amor! — ela chamou o marido, que estava na sala.

— Que foi? — ele se aproximou com o controle da TV na mão.

— Sabe se o Dado tá aí? Ele te falou alguma coisa?

— Acho que está. As chaves do outro carro estão aí. — deu de ombros. — Quer que vá chamar ele?

— A Yasmin que queria saber, eu falei pra ela subir e verificar.. mas acho que está com vergonha. — abriu um sorrisinho de canto, me fitando de lado.

— Vai lá, bate na porta. Ele deve estar dormindo ou assistindo alguma coisa. Terceira porta à direita.— o senhor Davi insistiu. — Não tem problema não..

— Ah.. tudo bem.. se não for incômodo.. — suspirei um pouco receosa.

— E diz pra ele levar a Raja pra passear mais tarde! — ela exclamou antes que eu saísse da cozinha.

Subi as escadas vagarosamente, tentando não fazer tanto barulho. Todas as portas estavam fechadas, e logo visualizei a dele. Respirei fundo e andei até ela.

Não sei o que estou fazendo aqui. Ainda vou matar a Bárbara por isso. Merda.

Pestanejei por alguns segundos, dando duas batidas de leve na porta. Estava tudo quieto, e creio que ele deve estar no décimo sono.

— Dado? — murmurei baixinho.

— Lívia? O que foi agora? — respondeu alto.

E no mesmo instante, ele abriu a porta lentamente, dando de cara comigo.

Nossos olhares se cruzaram e ali paralisamos. Fiquei sem reação e senti um leve desconforto, ele me olhou meio assustado, franzindo o cenho.

Estava sem camisa e com um semblante cansado.

— Yá? Quê? O que você.. — resmungou.

— A sua mãe. Ela pediu pra você passear com a Raja. — falei a primeira coisa que veio na minha cabeça. O interrompendo.

Ele soltou um riso confuso ao perceber que eu não estava tão confortável assim com aquela situação.

— Tá tudo bem? Não sabia que você viria, porquê não me avisou?

— Vim só trazer a Babi. Ela pediu que eu ficasse, sua mãe disse que não teria problema eu vim te chamar aqui. Mas achei que não tivesse em casa.

— N-não tem problema. É que.. — coçou a nuca. — A Sabrina.. ela tá aqui... 

— Ai não, meu Deus! Desculpa.. não sabia. Foi mal mesmo. Eu tô de saída! — falei depressa, quase me xingando mentalmente por ter batido na sua porta.

— Não! Espera. — pegou em meus braços levemente. — Eu já tô descendo.. fica conversando com a minha mãe.

E do nada aquela sensação estranha voltou, senti um arrepio no fim da espinha. E como um impulso, tirei rápido as suas mãos de mim.

— Dado, você tá com a Sabrina aí. Não acha melhor eu vim depois? Tá tudo bem, não quero atrapalhar.

Ele me fitou com os olhos perdidos, é como se não soubesse o que fazer naquele instante. Aposto que deveriam estar transando e certamente estraguei a transa.

— O que foi neném? — a loira surgiu por detrás dele com um sorriso malicioso.

Estava enrolada por entre os lençóis, com os cabelos bagunçados. E apenas dava pra notar o breu de lá de dentro. É, eu realmente interrompi a foda do casal.

Se caso eu tivesse um super poder de desaparecer de perrengues como esse, já não estaria mais aqui. Isso estava ficando cada vez mais bizarro. 

— Yasmin? — ela me encarou de cima a baixo. — O que você está fazendo aqui?

— Já estou de saída.. até mais.. — me distanciei sem dar tempo deles falarem algo a mais. Saindo sem ao menos me "explicar" direito.

Que caralho. Apertei os passos e fui andando sem olhar pra trás, acho que não quero ter que olhar na cara deles tão cedo depois disso.

Senti que as minhas bochechas estava queimando de vergonha e repúdio. Eu sou uma imbecil, que tipo de pessoa chega na casa da outra assim? Só posso estar ficando louca mesmo.

— Que porra aquela garota estava fazendo aqui? — falei incrédula após fecharmos a porta novamente.

Ele coçou os olhos e respirou fundo, sentou na cama e encarou a tela do celular brevemente. Nosso clima foi totalmente interrompido por ela.

— Sei lá.. minha irmã é amiga da irmã dela, e ela só veio deixá-la aqui. — respondeu sem nem me olhar.

— Quê? Só me faltava essa. — ri com ironia.

— Não começa tá.. não tô afim de discutir sobre isso.

— Isso é sério? Não basta vocês virarem amigos do nada, ela vai frequentar a sua casa agora? — cruzei os braços indignada.

— Ela nunca nem entrou no meu quarto. Veio aqui em casa apenas uma única vez, não pira cara..

— Ótimo. Ela cortou todo o nosso clima, agora vai lá atrás da sua nova amiguinha. Porquê pelo visto você tá foda-se pro que eu penso né? — retruquei.

Comecei a andar de um lado pro outro procurando por minhas roupas, vesti ligeiramente e fui calçando os sapatos.

— Sabrina, é sério que você vai ficar brava comigo? Que culpa eu tive caralho? Você não confia em mim não? — exclamou um pouco irado, procurando por suas roupas também.

Hesitei por uns segundos, segurando a emoção.

— Nós não somos namorados. Sempre esqueço desse pequeno detalhe! Acho que passei do ponto de novo. — sorri sem humor.

— Calma pô, não vai adiantar você ficar assim. Não quero brigar contigo de novo por conta de ciúmes.. tá tudo bem, vem cá vem. — ele quis me puxar para um abraço mas eu recusei.

— Não Eduardo! Eu realmente não tô legal.

— Foi mal, não sei que culpa eu tive. Me desculpa mesmo assim, achei que confiasse mais em mim.

— Eu confio. Só não consigo confiar naquela garota, ela te olha de uma forma diferente, não sei explicar, mas o olhar é diferente. E eu sou mulher, sei do que estou falando.

Ele me encarou sem jeito e apenas balançou a cabeça negando fraco, soltando um riso nasal em seguida. E acho que não é só eu que tô notando isso pelo jeito.

— Sasá, não tá rolando absolutamente nada entre a gente. Deve ter sido só impressão. — me olhou com semblante sério, dando ênfase na palavrada "nada".

Eu conheço Dado o bastante pra saber que ele tinha ficado desconfortável ao tocarmos nesse assunto, sei que ele é fechado pra isso. Mas eu não falo algo sem ter absoluta certeza, não era apenas uma impressão.

Eu falava sem parar sobre os últimos ocorridos. Era como se tivesse tirando um peso das minhas costas, Liv também ficou chocada com a reação do meu pai e com todas as coisas que ele me falou.

Ela me disse muitas coisas bonitas e acolhedoras, e disse que sempre que eu precisar, ela vai estar aqui.

— Mas porquê não fica aqui em casa? Acho que os seus pais nunca vão te achar, aqui tem espaço pra nós duas.

— Ah amiga, eu até poderia. — hesitei pensativa — Mas já combinei com o Alê, os seus pais talvez não aceitariam muito bem..

— Que isso, eles são muito tranquilos, juro. Só acho que aqui seria o lugar ideal, e também não seria por muito tempo assim.

— Eu sei, mas agora já foi. — suspirei. — Porém, vou vim te visitar sempre que der, mesmo no meio dessa confusão toda.

— Promete? — me fazendo um biquinho e eu ri.

— Claro, óbvio.

— Sabe Babi, também tive muitas questões quanto a minha sexualidade.. mas eu penso que até hoje ainda não me descobri por completo. — falou reflexiva, mudando um pouco de assunto.

— Então, você não tem certeza do que realmente é?

— T-tenho. — gaguejou — Só que eu não escolho por quem eu vou me sentir atraída, é algo que não tenho controle às vezes.

Juntei as sobrancelhas um pouco confusa, tentando entender o que ela estava querendo dizer. O silêncio tomou conta do quarto, ela apenas abaixou a cabeça e permaneceu pensativa.

— Lívia, se quiser me contar alguma coisa que tiver acontecendo.. pode me falar, ok? — murmurei.

Ela levantou sua cabeça e me encarou seriamente, e sem pressa foi se aproximando de mim, fiquei muda e não consegui me mover, seus olhos fitavam minha boca e confesso que me tremi por completo.

Até que nossas bocas ficaram a 1 cm de distância, o silêncio era ainda maior. Ouvia nossas respirações e o meu coração batia a mil por hora.

Minha boca ficou entreaberta e paralisada.

— Liv.. eu.. — tentei dizer algo, porém rapidamente ela juntou nossos lábios com um selinho demorado.

Não sei explicar a sensação maluca que senti, mas retribui o beijo. Minhas mãos estavam gélidas e ela as segurou carinhosamente, senti que meu coração iria explodir a qualquer momento.

Continua..

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