The Seven Days VIII
Ri de mim mesma por ter escolhido vestir uma das peças mais cobertas do closet, de propósito. De frente para o espelho, fiquei vendo como o jumpsuit de crepe Dior se comportava em meu corpo. Seu decote canoa não revelava mais do que devido, o comprimento até um pouco antes dos tornozelos contornavam levemente a silhueta e, complementando com uma sandália básica de saltos médios, ela ficava até mais alongada. Cobri os ombros à mostra com os cabelos, num meio preso lateral. Os brincos grandes traziam um ponto de luz dourado em meio a tantas cores fechadas.
- Você por acaso quer me matar? - Park Ji Min começou, assim que bati a porta do táxi.
- No sentido literal da palavra... provavelmente - respondi, esticando o sinto de segurança, enquanto sua risada abafada me fez revirar os olhos.
Seu perfume forte exalava por todo o carro. Vestia uma calça preta tão justa que me perguntava como ele conseguia se mover. A camisa de manga longa azul marinho tinha um tecido fluido. Os botões perto do colarinho não estavam abotoados, o que era, ao meu ver, um tanto desnecessário. Seu rosto, coberto por uma máscara preta e óculos escuros.
Em uma plena quarta-feira e a boate em Gangnam, lotada.
- Quanta boemia...
- E você no meio! - provocou.
Com tanta escuridão, as luzes coloridas piscantes ofuscaram meus olhos, como se dançassem enlouquecidamente, ao compasso de Bang Bang Bang*.
- Vem! Vamos beber alguma coisa! - Park Ji Min puxou meu braço, saindo em disparada até o balcão extenso do bar.
- Por favor, o drink mais forte da casa! - me sentei no banco alto quando ouvi o grito direcionado ao barman, que após assentir, olhou para mim, esperando por algo.
- Água, por favor.
Um soco em Park Ji Min o deixaria numa feição melhor do que aquelas palavras.
O drink mal tocara em seus dedos, e já quase não existia dentro do copo. A máscara abaixada no queixo e seu encarar decepcionado por baixo dos óculos em minha direção não saía de cena.
- O que foi, alcoólatra? Esperando fazer efeito? - Ele me respondeu apenas por, num gole só, acabar com o restante da destilada, batendo com força o copo sobre o balcão. - Ya, vai com calma. Se começar a dar trabalho, te deixo aqui sozinho - ameacei, enquanto degustava a água em minha disposição.
- Aigoo... Você ia mesmo deixar seu oppa aqui sozinho?
- Paga pra ver.
O garoto apenas levantou uma das sobrancelhas.
- Garçom! - gritou novamente, sem tirar os olhos de mim. Aquilo era claramente um desafio.
- Aish, esse babo... - Suspirei e, numa medida desesperada, o puxei até a pista de dança.
Fiquei parada, esperando uma reação dele, mas tudo o que sabia fazer era me olhar como se tivesse visão de raio-x.
- YA! SE MEXE! - gritei em seu ouvido, por causa da zoada ensurdecedora que as pessoas dançavam.
- VOCÊ PRIMEIRO!
- ACHA QUE EU SEI DANÇAR AO SOM DESSE BARULHO!? FAZ ALGUMA COISA QUE EU TE IMITO!
O sorriso que saiu dos seus lábios foi o mais maldoso que já vi em toda minha vida. E foi aí que Park Ji Min ostentou todo o seu talento, fazendo movimentos e sequências tão complexas que eu duvidaria da realidade se não estivesse assistindo tudo à meio metro de distância.
- CONSEGUIU PEGAR? - perguntou quando decidiu parar seu show, passando a mão pelo rosto e interrompendo o trajeto duma pobre gota que escorria pela sua boca.
- É SÉRIO ISSO!? - Cruzei os braços.
- MWO!? MAS ESSA FOI TÃO FÁCIL! - Cessou a zoação assim que percebeu meu olhar agradável. - BRINCADEIRA! VOU TE ENSINAR UM PASSO LEGAL!
Era como uma aluna tentando seguir os passos do seu professor, literalmente. Dançamos várias músicas, ou pelo menos ele poderia afirmar que estava realmente dançando; quando dei por mim, estava ofegante e com a boca seca.
- VOU TOMAR ÁGUA!
- ANIYO! FICA AÍ QUE EU PEGO PRA VOCÊ!
Andou à passos largos até o bar, mas quando me pisaram o pé, perdi o garoto de vista.
Estava prestes a eleger um culpado para exigir satisfações, mas Park Ji Min chegou com um copo de vidro nas mãos.
Desesperada pela sede, fui sedenta atacando o líquido.
- MAS QUE... - Cuspi tudo, em um instante. - QUE MERDA É ESSA?! MICHYEOSSEO?
- VOCÊ QUE É LOUCA! ME MOLHOU TODO! - Afastou os braços do próprio tórax, analisando a camisa.
- BEM FEITO! - Joguei nele o pouco da vodka que ainda restava. - VOU TOMAR ÁGUA! - E saí, o deixando na pista.
Park Ji Min havia bebido bastante, e por isso, comecei a temer que ele agisse como Jeon Jung Kook, o que seria um pesadelo, pois no caso daquele maknae, ele tinha seus hyungs para segurá-lo. E no meu caso? Como eu seguraria um Park Ji Min bêbado com o caráter atrevido elevado a trezentos por cento?
Quando matei a sede, fiz sinal para o garoto que ainda dançava feito louco, apontando direção às mesas.
- Você dança muito Ana! - exclamou, enquanto nos sentávamos. - Mas fiquei com ciúme... Aqueles caras não paravam de olhar! Aish... Eu devia ter mostrado para eles que você é minha!
- Mwo, trouxe a nota fiscal? Babo... - atribuí o leve xingamento, vendo sua careta virar um sorriso rapidamente, a máscara presa embaixo do queixo. - Você se vira bem na dança.
- ME VIRO BEM?! Eu arraso, querida! - se gabou, arrebitando o nariz para cima, só para provocar.
- Arrasa... na modéstia - respondi, sem emoções na voz, enquanto o rapaz ria sem parar, elevando o braço e pedindo mais destilados.
- Sabe Ana-ssi, agora sinto que tenho uma nova meta de vida - disse com sinceridade.
- E o que seria? - perguntei, curiosa.
- Ver você totalmente bêbada. E isso não vai demorar para acontecer! Apenas escreva as minhas palavras.
Naquele momento eu já havia desistido de Park Ji Min.
- Não trouxe papel nem caneta.
Com uma garrafa na mão, e os óculos abaixados até a metade do nariz, ele simplesmente deu uma risada abafada; intercalava goles e olhares em minha direção, que por sinal, estavam por me esvair o resquício de paciência enquanto eu tentava me distrair observando as pessoas agirem feito loucas ao redor. Não estava funcionando...
- Ya! Quem te deu isso? - Vi, pelo canto dos olhos, que ele apontava para o meu pulso, que se encontrava desleixado sobre a mesa redonda.
- Sinceramente, não entendo o porquê de todo mundo estar dando tanta importância para isso - respondi, antes de revirar bem meu globo ocular. - Foi o Seok Jin-ssi.
O nariz do garoto se enrugou, quase instantaneamente.
- Pelo menos parece cara... - Levou os dedos ao nariz, o adulando a parar de se encolher tanto. - Mas espero que isso pare no seu pulso! - esbravejou como um pai, me fazendo rir por lembrar que havia pensado a mesma coisa.
Quando enfim o convenci a ir embora, o desregulado insistiu que passássemos por um beco úmido e mal-iluminado.
Dava passos que ecoavam o som dos saltos, e era a única coisa que dava para ouvir além de vozes e batidas vindas de longe. Park Ji Min caminhava ao meu lado e eu, atenta ao movimento de minhas próprias pernas. Isso até sentir o peso de sua mão em meu ombro, cessando nossos passos. Passou alguns segundos encarando, calado.
- O quê, vai me agarrar à força?
- Wa... Que tipo de homem acha que eu sou?
- Do tipo que dá em cima de qualquer pessoa viva.
Ele sorriu até seus olhos encolherem. Entretanto, durou pouco.
- Está me interpretando errado, Ana-ssi. Eu não dou em cima de todo mundo. Só de você...
- Wa... Você é realmente bom com as palavras. E o que costuma dizer depois? - Ergui as sobrancelhas esperando a resposta, que se expressou num olhar confuso da parte dele. - Seria algo do tipo sentimental? Talvez um "eu não paro de pensar em você", "não sei o que está acontecendo comigo", ou quem sabe...
- Na verdade costumo fazer uma pergunta.
- Entendi. Não quero saber qual é. - Voltei a caminhar, retirando sua mão que ainda repousava em meu ombro. Ele simplesmente continuou ali, parado.
- Quem é o seu bias? - gritou.
- G-Dragon! - respondi sem olhar para trás, ainda a caminhar.
- MAS EI! YA! O G-Dragon não vale! - gritou mais uma vez e tratou de correr para me alcançar.
Chamei um táxi assim que pisei na avenida. Logo Park Ji Min se aproximou, ao que eu disse: - Chama um táxi pra você. Assim não precisa passar na minha casa.
- Claro que não! O combinado foi buscar e deixar lembra? - Suspirei em arrependimento, recordando minha ideia sem noção.
Estava internamente agradecida por Park Ji Min estar quieto durante todo o trajeto.
- Jagiya, se quiser ir devagar tudo bem, eu espero! - Aquela frase foi a pior coisa dentre tudo que o garoto havia aprontado. Só consegui rir, bem alto.
- Ela está bem? - o taxista procurou saber, preocupado.
- Acho que sim, ahjussi - O garoto não tirava seu olhar provocativo do rosto nem diante ameaças.
- Autoconfiança é bom, mas nada de se iludir para ficar confiante. Isso não é saudável! - reuni ares para dizer, ainda dividindo o espaço das palavras com risadas, que contagiaram até mesmo o ahjussi taxista, que prestava detida atenção em nossa conversa.
- Tem certeza? Eu posso entrar... - o outro continuou com as irritações, assim que o automóvel parou frente a minha casa.
- Por que não volta pra festa? A chance de sucesso é maior - sugeri, desplugando o cinto de segurança.
- Ani, tudo bem... Eu disse que vou te esperar, eu consigo.
- Já pensou em seguir carreira de padre? Seria uma boa, já que quer esperar. - Saí do carro, fechando a porta em seguida. - Annyeong!
O taxista se virou para questionar Park Ji Min: - Filho... tem certeza que consegue ou te levo de volta?
- Ahjussi, me leve para casa. Sou um homem fiel. - Afirmou decidido, sem tirar o sorriso cínico do rosto.
Bang Bang Bang foi a primeira música K-pop que ouvi (depois do Psy, claro) 🤣.
E você?
Bạn đang đọc truyện trên: AzTruyen.Top