Gamsahamnida: Obrigado;

Aniyo: Não;

Miane: Desculpe (informal).

Os dias antes do baile passaram com rapidez. E quanto mais se aproximava, eu não acreditava plenamente que iria me intrometer em um evento filantrópico, sem um tostão furado. E, pior ainda, tendo como objetivo causar confusão com a mídia e com Kang Mi Cha. Me sentia tão egoísta quanto ela, pois não estava indo por causa das crianças, e sim para aparecer.

Porém, ao mesmo tempo que me via uma intrometida interesseira, me culparia ainda mais por saber do plano argucioso contra Kim Seok Jin, e não ter feito nada para protegê-lo.

Passei em frente à entrada do closet, dentro do quarto. O traje azul-marinho-escuro estava pendurado em um cabide, devidamente passado e limpo.

Comecei os preparativos às quatro da tarde; Kim Nam Joon passaria às sete e meia da noite.

Naquela altura eu estava com os cabelos finalizados, quase totalmente secos. Fiz um penteado simples, algo parecido com um coque despojado. Ia prendendo os cabelos com a ajuda de grampos, deixando soltos alguns fios nas laterais do rosto.

A maquiagem também não foi mais elaborada que o penteado. Posso dizer que apenas incrementei o que já fazia no dia-a-dia. Um esfumado no côncavo das pálpebras, uma pele bem feita, batom nude com acabamento natural, assim como os cílios postiços. Eu não precisava de muito mais além disso.

Com uma dificuldade e meia, vesti a grande quantidade de tecido sem amassar... tanto.

Quando encontrei meus pés no meio do volume do vestido, os calcei com o par de scarpins vermelhos de Christian Louboutin. Eles tinham um valor especial para mim, ao qual nenhum valor em dinheiro seria compatível.

Escolhi um par de brincos em tamanho discreto, de pedras cintilantes para por nas orelhas, e tudo aquilo estava passando de bom.

Saí apressada, tropeçando nos próprios panos ao encontro de Kim Nam Joon, que já esperava na porta.

Antes de pisar na calçada, olhei por todos os lados, me certificando de que não havia nenhum vizinho para me ver naquela situação.

A área estava limpa, porém, assim que pisei o pé na rua, dei de cara com o ajussi saindo para passear com seu labrador cor-de-leite: — EOTTEKHE?! — ele berrou, espantado. — VIZINHA?!

— Ãn... — Procurava uma desculpa, mas nada aparecia. Não havia nada realístico para dizer, até por que eu estava dentro de um vestido de gala, prestes a entrar em uma limusine. —Annyeonghaseyo...

Para melhorar a situação, o motorista daquele automóvel comprido saiu, elegantemente vestido — ele até tinha um quepe na cabeça e luvas brancas nas mãos. O ajussi observava, boquiaberto, enquanto o homem arrodeava o carro e abria a porta para que eu entrasse.

— Waaaa... Até parece que você vai em alguma premiação do Oscar! Aigoo, vizinha, você por acaso se tornou famosa de repente?!

— Aniyo... É apenas... Uma confraternização do trabalho... Gamsahamnida... — Entrei rápido pela porta aberta da limusine, fechada em seguida pelo chofer.

Tentava, de cabeça baixa, arrumar o volume do vestido como podia dentro daquele espaço.

— Ya... Está tudo bem? O que aquele ajussi queria com você?

— Nada, na verdade.

— Tem certeza?

— Ele só confirmou... que estou chamando atenção indevida. Aish, que coisa ridícula... — Suspirei, desistindo do vestido, ele amassaria de qualquer forma.

O carro estava em movimento, à caminho do local do evento.

— Ya, o que é isso... — Ele levantou o meu queixo. — Você está linda.

— A questão não é essa. — Encarei seu rosto, ao que ele retirou imediatamente a mão do meu queixo.

Kim Nam Joon tinha os cabelos penteados para trás, o que deixava o formato do seu rosto em evidência.

— Então qual é? Vejamos... Você está com vergonha.

— E não deveria? Só estou indo como intrometida, para causar confusão. Vergonha não chega nem aos pés do que eu deveria sentir.

— Aigoo, fique calma...

— Não me peça uma coisa dessas.

— Miane... Eu não deveria ter dito que você é egoísta. É a garota mais altruísta que eu conheço.Está se sacrificando por nós... apesar que nem todos merecem...

— Como assim?

— Eu sou o verdadeiro egoísta aqui. Miane, Ana-ssi.

— Ah, jinjja... Falei para você parar com todo esse drama.

Kim Nam Joon respondeu com um pequeno sorriso.

— Você não tem com que se preocupar. As pessoas nesse evento são um pouco mais sérias, ninguém vai causar confusão nenhuma, a Mi Cha vai se comportar, e só veremos boas fofocas nas notícias do dia seguinte. Tudo vai se resolver...

— Não existem fofocas boas, e elas nunca podem ser comparadas a notícias. Isso é tão contraditório de se dizer...

— Ne... — assentiu, dando uma curta pausa nas palavras. — Você... — Inclinou levemente o rosto em minha direção. — Conseguiria forçar um sorriso?

— Para...?

— Para eu ter a honra de tirar uma foto com você. — Abriu a câmera do celular, posicionando-a entre nós.

  
 
Não chegamos pela entrada principal, mas pelos bastidores. Era uma espécie de sala de espera, e estava cheio de pessoas impecavelmente bem vestidas.

— Aquele é o prefeito? — Me aproximei do ouvido de Kim Nam Joon para perguntar.

— É sim...

A equipe de organizadores do evento começaram a organizar os pares em uma fila.

— Daqui entramos na área das fotos — explicou Kim Nam Joon. — Cada par por vez.

As pessoas ao redor até nos olhavam, mas não havia nenhuma reação. Assim, eu estava conseguindo ficar mais despreocupada.

Isso até ver, exatamente dois casais à nossa frente, Kim Seok Jin e Kang Mi Cha à postos, prestes a passarem pelo tapete vermelho.

— Nam Joon-ah!

— Mwo? — Ele me olhou assustado.

— Me esconde... — Coloquei o garoto de costas para o casal que queria evitar.

— Mas o que foi... — Tentou olhar para trás.

— Não! É a Kang Mi Cha, e o Jin, lá na frente!

Fiquei me escondendo e ao mesmo tempo observando os dois. Eles eram os próximos na fila, e minha intuição gritava avisando que Kang Mi Cha faria o show dela na frente daqueles flashes. Kim Nam Joon me encarava preocupado, sem entender nada, obviamente.

— DROGA! — Nem senti meus lábios mecherem quando gritei em português, fazendo com que as pessoas finalmente esboçassem uma reação aos seus olhares curiosos.

— O que foi isso?!

— Miane, Nam Joon-ah! Mas temos que fazer alguma coisa! — Entrei em desespero, dizendo tudo sem tirar as vistas daquelas entrada.

— Fazer o quê?

— ELES ENTRARAM! O que eu faço, o que eu faço!? — Estava quase dando pulinhos de tão nervosa.

— Relaxa... — o outro disse lentamente. — Daqui a pouco é a nossa vez, espere só mais um pouco…

— Mais um pouco e será tarde demais... — Suspirei, segurando a barra do vestido e, com a outra mão, puxei o braço de Kim Nam Joon o mais firme que podia para que ele  não se soltasse de mim. — TEMOS QUE IR!

E assim saí, o mais rápido que conseguiria caminhar sem correr, pois aquelas roupas e sapatos tornaram tal coisa impossível de ser executada.

Kim Nam Joon estava morto de constrangimento.

— Ana-ssi, o que está fazendo? Não pode fazer isso! Estamos furando a fila, e é só um casal por vez! — reclamava enquanto andávamos; seu rosto estava completamente ruborizado. — Aigoo, e está apertando meu braço...

— Senhorita, por favor, aguarde a sua vez. Não pode entrar agora — disse uma organizadora que guardava a entrada. Ela esticou o braço na minha frente, impedindo.

— Desculpe. Mas é uma questão de vida ou morte — afirmei, segurando firme o braço da mulher, conseguindo retirá-lo do caminho.

— Joesonghamnida, joesonghamnida! — Kim Nam Joon se desculpava, curvando-se na direção da organizadora. — Eu realmente não sei o que deu nela...

Pisei os dois pés naquele carpete vermelho-sangue, e todos naquela tempestade de flashes olharam imediatamente, sem entender o motivo da minha presença ali.

Mirei a atenção na direção do casal que entrara. Kang Mi Cha ainda sorria para as câmeras, mas foi se desfazendo aos poucos, à medida que percebia a reação dos fotógrafos.

E, por fim, ela resolveu olhar para onde todos naquele momento olhavam: EU.

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