Finalmente
Kakao: aplicativo de mensagens instantâneas muito popular na Coreia do Sul, assim como o WhatsApp é no Brasil;
Ahjumma: Senhora;
Abeoji: Pai.
— Aigoo, sou eu que agradeço!
— Eu não fiz nada pra você me agradecer. O que dizia o e-mail?
— AH ENTREVISTA! Segunda, às dez!
— Vou torcer para tudo dar certo.
— Estou com um bom pressentimento… Omo, vou conhecer o prédio da Big Hit! Será que eu esbarro com a Stranger Masked por lá?! Dizem que ela é uma staff — brincou, esboçando o som de seu sorriso.
— Hol… com toda certeza você vai dar de cara com ela lá. Talvez até seja ela que vai te entrevistar… Enfim, SN dê o seu melhor!
✂️✂️✂️
O fim de semana havia enfim chegado. Com uma xícara de café sem açúcar e uma camisola desconjuntada, me enfurnei no ateliê.
Naquele sábado finalmente conseguiria finalizá-lo.
Fechei a porta, deixando as preocupações e fobias me esperando ávidas no lado de fora. Era surpreendente como minha satisfação se fazia tamanha dentro daquele cômodo.
O vestido me ligava a ela, nos tornava mais unidas de uma certa forma, mesmo que todo o esforço nunca tivesse a chance de ser recíproco… Mamãe e Di seriam capazes de me perdoar algum dia?
Arrumei, pela milésima vez naquela tarde, a enorme e pesada peça escura no manequim, estampando um sorriso de glória por estar na minuciosa fase do acabamento. Ajustes daqui e dali, desmanches e muita persistência faziam parte do trabalho. Costurava uma larga barra invisível no vestido quando recebi uma ligação.
— CACHORRA?! NÃO SE LEMBRA MAIS DAS AMIGAS NÃO?!
Afastei o celular do ouvido com o escândalo de Vanessa.
— Quando vai aprender a gritar baixo? — Coloquei o celular na outra orelha, massageando a que tinha ficado surda.
— Quando você disser que me ama! — Ouvia risadas múltiplas.
— As meninas estão com você?
— Lógico! Falando nisso, vaca, sai do Kakao* e vem abrir a porta como uma boa anfitriã que você não é!
Finalizei a chamada, me assustando por ser noite.
— Meninas... — Abri a porta.
— Ursinha! — Sofia me abraçou.
— Olá Ana! — Pietra sorriu, entrando.
— Sofia, que roupa é essa?! — Perguntei, e suas pequenas bochechas pegaram cor, enquanto sorria com uma das mãos sobre a boca.
— É o look da SM…
— O quê?!
— Primeira vez que te vejo usar tanto preto! — Vanessa observou.
— Eu mereço… — Revirei os olhos. — Mas… Você… Quem acha que ela é, Sofia?
— Ah, não sei… mas eu gostei do fato dela ser estrangeira, e ainda mais com todo aquele cabelo cacheado… — Sorriu, porém, aos poucos foi ficando sem expressão alguma no rosto.
— Uau, por um momento… — Pietra e Vanessa se juntaram a Sofia, me analisando; eu estava petrificada.
— Pensando bem… — a Louca voltou a dizer. — Cara, teu cabelo parece pacas…
— Ana?
— Stranger, é você?
— Ana Caroline Oliveira Fleury — Vanessa voltou a escandalizar —, de rolo com sete…
— HOMENS?!
— LINDOS?!
— Para não dizer outra coisa né, porque vamos combinar… — A Louca deu uma risadinha sugestiva. — Aquele Park Ji Min…
— VAN! — Sofia brigou com sua voz fina e logo voltou a olhar para mim.
Eu continuava gélida; os olhos ardendo, pois havia me esquecido de lubrificá-los durante todo aquele tempo. Rapidamente, sequenciei várias piscadas, direcionando meu olhar para o tapete verde musgo sob os pés, ao passo que um leve desespero gradativamente se elevava por conta do silêncio se estendendo.
— HAAAAAA!
Era a Louca estilhaçando o silêncio com um daqueles sorrisos escandalosos. O que eu não esperava ver eram Pietra e Sofia se voluntariando para se juntar à amiga mentalmente doente, iniciando uma sessão de risos.
Um minuto depois… Vanessa estava jogada no chão, de barriga para cima, abraçando a mesma, ainda rindo feito sem interrupções. Sofia já encostara uma mão na parede, apoiando seu corpo que estava inclinado, enquanto se dava a rir; nem a vi parar para respirar. Pietra a cada minuto soltava com dificuldade um "por favor, eu não aguento mais", talvez tentando negociar com o próprio cérebro, o que não teve muito êxito.
Aos poucos as crises se amenizaram, até que a risada cessou.
Vanessa levantou as costas do chão, ficando sentada:
— A gente viajou legal nessa…
— Ai, eu estou com dores no abdômen… — Pietra reclamou.
— A nossa Ana, andando com sete homens?! — A Louca continuou dizendo. — E causando polêmicas por aí?!
As três se olharam, prendendo a nova leva de risos por vir. Apenas permaneci todo o tempo observando o movimento.
— Terminaram?
Vanessa se levantou:
— Só você mesmo mulher…
— Se já terminaram com a sessão da alegria, venham comigo.
As três me seguiram até o ateliê.
— Que lindo! Você reformou? Está idêntico, Ana… — Pietra sorriu para mim, como se estivesse orgulhosa. — Me sinto na sua antiga casa de infância…
Ficaram observando todo o ambiente.
Retirei de uma gaveta quatro tesourinhas finas.
— Peguem. — Distribuí.
— Quê isso? — Vanessa perguntou, estranhando.
— Acho que uma tesoura.
— Ah, vá! — Me deu a língua. — Pra quê isso?
— Se quiserem se sentar... — Apontei para o tapete felpudo, e fui pegar o vestido que estava guardado.
Elas foram seguindo meu trajeto com os olhos, segurando cada uma sua tesourinha.
— Oh my gosh… o que é isso? — Pietra foi logo interrogando.
— Só uma coisinha que estava trabalhando. Prontas para começar? — Sentei no tapete.
— Começar o quê mulher? — Vanessa inquieta questionou.
— A tirar todas as linhas soltas. Quero que participem nisso… de alguma forma.
— Eba! — Sofia comemorou, e nos concentramos na nova tarefa.
— Daqui a cinquenta anos, quando as pessoas falarem da Coco Chanel brasileira, quero ser lembrada por tirar as linhas de uma de suas obras primas! — Pietra imaginava, sorrindo com os olhos atentos às roupa.
— É, sonhar é bom…
— É maravilhoso! — ela concluiu. — E você vai adicionar esse ao seu portfólio, sim? Nunca fez um vestido de gala desse porte.
— Acha que eu deveria?
— Mon cher, se me mostrassem essa coisinha me dizendo ser um Versace ou até mesmo Elie Saab… Ah, eu acreditaria!
— Que exagerada…
Passamos cerca de vinte minutos envolvidas com aquela finalização.
— Eu tô tirando a última... — Vanessa avisou.
— Do meu lado está tudo limpinho! — Sofia disse, conferindo as costuras.
Observava o vestido finalmente, oficialmente, terminado. Não conseguia esconder o sorriso da boca.
— Parabéns! — exclamou Pietra. — Agora precisa prová-lo!
— Provar?!
— Com toda certeza! Não está em suas medidas?
— Está, mas…
— VESTE! VESTE! VESTE! — gritavam, batendo palmas.
— Tá...
Assim que abri a porta do ateliê, já vestida no traje, vi as três ainda sentadas no chão. Pietra arregalou os olhos, tampando a boca com as duas mãos. Já os olhos de Sofia, se encheram de água e Vanessa gritou um palavrão.
— Agora dá uma voltinha!
Ele havia ficado exatamente igual ao que eu pretendia, e apesar de ser uma roupa de festa, era muito confortável.
— Vou tirar.
— Ah, eu quero ficar vendo a noite toda! — Sofia comentou.
Voltei para guardar o vestido e encontrei o ateliê vazio.
Estavam na cozinha. Sofia sentava na cadeira enquanto Vanessa futricava o que tinha em cada armário. Pietra puxou um papel embaixo do pote de vidro em cima do balcão.
— "Deixei panquecas no congelador, por favor, não fique sem comer de novo. Quero ver os seus olhos brilhando logo! Fique bem…"
Corri, puxando o bilhete de suas mãos antes que pudesse ler o nome do autor.
Elas arregalaram os olhos.
— SUA SEM VERGONHA! — Vanessa começou.
— Pode parar com isso! É só um bilhete do… digo, da… — Cocei a cabeça. — Da ahjumma* que vem arrumar a casa!
— Não acredito em você! Está mentindo! — A Louca acusava.
— Então qual o nome dela? — Pietra tentou me encurralar.
— O nome?! — Desviei o olhar. — Ahjumma!
— Ahjumma não é nome! — Vanessa se aproximou. — Me dá!
— Não! — Escondi o bilhete nas costas.
— Então podemos deduzir o pior… — Pietra raciocinou.
— Pior?! Não, melhor! TEM UM CARA DORMINDO AQUI! — Van até pulou de felicidade, mas parando de repente, me encarou. — Eu quero nomes! — Correu em minha direção, conseguindo tomar o bilhete.
— "… Fique bem logo. Com amor, omma." OMMA?! NÃO!
Soltei o ar preso nos pulmões. Kim Seok Jin, sempre me pondo em enrascadas.
— Você a chama de omma?! Por que? — a Patricinha perguntou.
— Ãn… — Cruzei os braços. — Eu não a chamo, mas… Isso não importa. Vanessa, devolve.
Vanessa estendeu a mão com o bilhete, quando fui para pegá-lo, ela retirou a mesma com rapidez.
— Devolve!
— Pega… ardilosa.
— Mas, está tudo bem Ana? — Pietra voltou a perguntar.
— Está.
— Então por que a sua omma disse isso? — Sofia se juntou aos questionamentos.
— Foi só um dia que eu passei mal. Já passou.
Vanessa me escaneou desconfiada, mas não disse nada.
— Então vamos preparar as panquecas da sua omma, estou faminta!
❇️❇️❇️
Domingo à noite.
SN sorriu, alisando sobre um canto da cama sua saia secretária e a blusa listrada de branco com azul bebê que carregava babados discretos.
— SN!
Logo seu sorriso se desfez, virando o rosto em direção à porta fechada do seu quarto:
— Ne, abeoji!
— VEM AQUI AGORA!
Ela suspirou, abrindo a porta do quarto, indo até seu pai.
— Preciso de dinheiro.
— Mas, abeoji… E o seu salário?
— VOCÊ NÃO TÊM RESPEITO?! QUE INSOLENTE! COMO ACHA QUE SUSTENTO ESSA CASA? PRECISO DE DINHEIRO!
— Miane… eu não tenho…
— Você é a vergonha dessa família, assim como sua mãe, aquela fraca — ele disse em baixo tom, próximo ao seu rosto, que permanecia abaixado.
O homem se afastou, aos poucos levando embora seu odor alcoólico.
SN apenas apertou os olhos, com as mãos fortemente fechadas.
— Só mais um pouco… Aguente apenas um pouco mais…
❇️❇️❇️
— Yeoboseyo…
— Kim Nam Joon, amanhã, assim que chegar na empresa, vá direto para a minha sala.
— Maenijonim, aconteceu alguma coisa?
— Saberá amanhã, precisamos conversar sobre a Stranger Masked.
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