Capítulo 27 - Jonny


Isla dormiu abraçada comigo todas as noites desde aquele dia. Para falar a verdade, nossos apartamentos basicamente viraram uma grande casa comunitária, já que Matthew e Elizabeth também nos acompanhavam, sem acordo prévio, em cada uma das residências. E por mais que eu ame meu apartamento, acabei passando mais tempo no de Isla, por ser mais perto do ateliê e ela se sentir melhor lá, com os próprios pertences.

— Quer uma xícara de café, Jonathan?

Elizabeth sempre me pergunta isso, mesmo que já esteja carregando uma xícara fumegante e saiba que eu vou aceitar. Caminhei até a bancada, me sentando ao lado de Matthew, que está com uma cara cansada, de noite mal dormida. Todos estamos assim, faltando menos de uma semana para embarcamos para Paris, nossas ocupações estão cada vez maiores e o tempo curto, sem que consigamos balancear vida profissional e pessoal.

— Eu estava pensando, você tem certeza que quer inaugurar as duas lojas no mesmo dia? Não vai estar presente em uma delas. — Matthew está com o tablet na mão, mexendo com números que não sei do que são.

— Eu sei... Pensei bastante sobre isso, e tenho certeza sim. — Digo confiante. — Isla vai inaugurar a de Paris, e eu a de Nova Iorque... Já foi resolvido.

Matthew tenta argumentar, mas quem lança um olhar fulminante para ele é Elizabeth, sua própria esposa.

— Bebê, ele já decidiu! — Torço o nariz com esse apelido extremamente meloso, mas parece amolecer o coração do agente. De repente, como um furacão que só ela é, Isla aparece na cozinha, usando uma calça jeans e regata cavada nas laterais. Mesmo com roupas nada elegantes, ela é a mulher mais linda de todas.

— Bom dia, Liz. — Um beijo na mulher. — Matthew. — Um aceno de cabeça.

— E eu? Não ganho um beijo de bom dia? — Faço um biquinho, recebendo um selinho da mulher logo em seguida, que se senta na parte oposta da bancada ao lado de Elizabeth. Nunca vi duas amigas tão unidas quanto elas, tenho certeza que se um dia me mudar com Isla, teremos que levar Elizabeth e, consequentemente, Matthew. — Você gosta mais da Liz do que de mim!

— Você já ganhou muita mais que um beijo de bom dia, Jonny. — Rio baixo com a fala de minha namorada, dando de ombros e concordando com a afirmação enquanto Elizabeth murmura um ''informação demais.'' De fato, o modo que Isla me acordou foi muito melhor que um simples beijo.

— As malas de vocês estão prontas? — Questiono, mastigando o pão com requeijão ao tempo que as meninas comem uvas e outras coisas com quase zero calorias.

— Tenho que sair para comprar umas coisas ainda, Liz vai comigo. — Isla diz.

— Vamos comprar lingeries! — A outra modelo parece extremamente animada, chegando a dar pulinhos na banqueta.

Matthew tira as palavras da minha boca ao proferir:

— Podemos ir com vocês?

Com um coro de ''nãos'', todos caímos na gargalhada. A campainha toca, mas Isla parece saber exatamente quem é, pois sai correndo para atender e fica feliz ao ver Sayuri na porta. A japonesa, antes uma completa estranha, agora faz parte da nossa complicada e um tanto quanto disfuncional família, junto com o pequeno Akira, que agora abre os olhos e interage conosco.

— Ohayou Gozaimasu.

Depois de mais de mês juntos, todos aprendemos algumas coisas básicas em japonês, com o bom dia que Sayuri acabou de dar.

— Sayuri também vai dar uma volta com as meninas? — Pergunto, mas sou completamente ignorado por todos, já que Isla de repente se animou muito com Akira e agora fala em alto e bom tom ''Oi, amor da titia! Vamos passear hoje? Arrasar corações com essa carinha de modelo?''. Apoio meus braços na bancada gelada, olhando Isla que segura o neném nos braços. Sei que conversamos sobre filhos e ela só quer ter no futuro, mas ainda assim, meu amor parece tão feliz com o fato de ter um neném em sua vida.

— Liz, será que você pode engravidar e me dar mais um neném? — Ela pergunta, fazendo com que Matthew ao meu lado engasgue de nervoso. Dou um tapinha nas costas do homem, que chegou a ficar vermelho

— Que tal você engravidar e me dar um sobrinho? Folgada. — Liz responde, arrebitando o nariz antes de pegar Akira nos braços. Sayuri resolveu aproveitar a folga do neném, e pegou alguns pães na mesa.

— Eu não me importaria de ter um filho. — Finalmente chamo a atenção, Puxo Isla pelo pulso levemente, apenas para ela se reaproximar. — Olhem que mulher maravilhosa! Teria sorte dos meus filhos também serem dela!

— Isla, se você não se casar com Jonny, eu faço! — Sayuri surpreendeu a todos nós com essa constatação, já que geralmente ela é super quieta e tímida.

De repente o campainha toca, todos nos olhamos mas como ninguém comenta nada, Isla se levanta e vai em direção a porta, dizendo que deve ser uma das crianças do prédio vendendo doces, já que costumam ir frequentemente pois sabem que ela compra. Mas assim que ela abre a porta, sua voz estridente se faz presente.

— Você não vai entrar! Vai embora ou eu chamo a polícia.

No momento em que a voz da minha namorada fica alterada, levanto em um pulo da banqueta e vou em direção a sala de estar. Isla está segurando a porta, enquanto Laurent está atrás, encarando-a como se fosse esganar a qualquer momento. Antes que eu consiga alcançá-los, Laurent é mais rápido e empurra a porta, fazendo com que Isla bata na parede.

— Você não ouviu, Laurent? Vai embora. — Digo, segurando na gola de sua camisa polo. Com um sorriso cínico, ele me encara.

— Ou o que? Vai me bater? Acho que você já fez isso. — Ele me dá um empurrão, passando o olhar por todos os presentes até que para em Sayuri. De repente, sua expressão passa de raiva para incredulidade e espanto enquanto a japonesa segura o neném do modo mais protetor possível, sendo amparada por Elizabeth que está na sua frente. — Vocês fizeram isso? Você se aliou à ela, Isla?! Da mulher que quer me tirar tudo?

— Do que você está falando?? — Minha namorada diz ironicamente, ficando do lado meu lado.

— DISSO, ISLA. — Laurent tira do bolso um papel completamente amassado, parecendo ter sido alvo de um ataque de fúria. Enquanto Isla se abaixa para pegar a documentação, não desvio meu olhar do homem, atento a qualquer movimento dele, assim como Matthew, que está parado entre Laurent e as outras mulheres.

— Ele foi citado. Vai ser interrogado pelo juiz nessa sexta feira. — Isla não consegue evitar um sorriso triunfante. Primeiro, que ele não vai conseguir ir para a Paris Fashion Week, e segundo porque nosso objetivo foi cumprido, agora depende unicamente da justiça. Sabemos que depois dessa etapa, Isla terá que testemunhar, assim como Sayuri, mas finalmente as coisas se tornaram reais.

— Você disse que me amava, Sayuri. Por que está querendo fazer isso comigo? — De repente Laurent ignora todos nós, focando seu olhar na japonesa.

— Eu? Quem acabou com nosso namoro foi você, Laurent! — Sayuri entregou Akira para Elizabeth antes de andar em direção a Laurent. É a primeira vez que vemos os dois juntos, e parece haver tanta mágoa ali. — Só estou atrás do que é direito do meu filho. Uma vez você me disse que se o mundo estivesse acabando, você viria atrás de mim... Mas bastou uma gravidez para você sumir.

— Sayuri, eu... — Ele levou ambas as mãos até a cabeça, parecendo verdadeiramente desesperado. — Me desculpa.

O silêncio tomou conta do apartamento, enquanto todos observávamos o desenrolar da conversa. Sayuri, que parece tão pequena e indefesa, está com os olhos marejados, mas sua voz demonstra confiança.

— Eu te desculpo. — Posso ver ela engolir em seco. — Mas isso não muda as coisas. Agora, vai embora, por favor.

O ruivo tenta discutir, mas é impedido por Matthew, que coloca a mão em seu peito e balança a cabeça em negativo. Ele sempre foi o mais calmo de nós dois, então não me surpreendo que sem falar sequer uma palavra, Laurent aceita o pedido e vira as costas, deixando o apartamento sem falar mais nada.

Assim que ele vai embora, todos respiramos aliviados, mas não perco tempo em ir até Isla.

— Ele te machucou? — Pergunto, fazendo menção ao empurrar dele contra a porta. Isla me mostra que seu antebraço está um pouco avermelhado, resultado de um impacto inesperado. Seguro a área com carinho, passando o dedo. — Vêm, vamos colocar um gelo nisso.

— Estou bem, não precisa se preocupar. Daqui a pouco isso some. — Ela segura meu rosto com tanta delicadeza e... amor. São poucos segundos, mas preciosos para eu me dar conta: realmente amo Isla. Cada célula minha anseia por nossos encontros. Nunca esperei amar tanto alguém, de repente, todos os meus relacionamentos passados parecem simples... meios. Meios para eu alcançar Isla, nos conhecermos... Essa mulher, tão difícil, complicada e de gênio forte, se transformou em meu mundo em tão pouco tempo, que temo sua ausência.

— Isso não acabou com nossa tarde de compras, vocês sabem disso, certo? — Minha namorada diz, enquanto seca as lágrimas de Sayuri. A japonesa não vai conosco para Paris, afinal, não é uma viagem a lazer e sim trabalho.

— Podemos incluir uma noitada de drinques na nossa programação? — Liz questiona, colocando Akira no carrinho. — Como se fôssemos adolescentes sem preocupações.

— Eu concordo com essa ideia! — Matt responde, já sentado no sofá e se conectando no notebook. — E você, Jonny?

— O que vocês fizerem, eu estou dentro. Só que tem que ser depois das 21:00, vou para o ateliê hoje terminar umas peças. Sabe, colocar as etiquetas, passar algumas coisas... — Uma mentira descarada, já que não irei fazer isso. Mas manter as coisas em segredo de Isla é uma das tarefas mais difíceis que já encarei na Terra.

— Quer que eu vá com você, amor? — Faço uma careta imperceptível com a pergunta de Isla, mas logo retomo minha postura, apenas negando com a cabeça e dizendo que não.

Quando todas as mulheres estão prontas, pego a chave do carro e me despeço de Matthew, que vai ficar no apartamento por enquanto. Com três mulheres e um bebê, dirijo o carro até o centro das lojas que elas querem, deixando-as desembarcarem bem na porta, o que me gera uns gritos raivosos no trânsito. Mas isso não me importa, porque o sorriso de Isla é o suficiente para me levar a outro mundo. 

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