Capítulo 22 - Laurent


Eu não sou uma pessoa ruim.

Essa possibilidade nunca passou por minha cabeça.

Então, quando olho no espelho, vejo o reflexo de um homem que aprendeu a como lidar com as situações mais adversas da vida e que não tem medo do que pode acontecer. Por isso dei minha cara tapa e recebi uma oferta de emprego: ser jurado em uma competição para decidir ''o próximo estilista'', decadente, mas melhor do que ficar em casa sem fazer nada.

— Eu acho que essa roupa não merece nem ser vista na televisão, quem dirá entrar em um desfile sério. É basicamente uma tentativa pessimamente sucedida de fazer patchwork, que a propósito, eu não sou um entusiasta. — Encaro o pobre participante a minha frente, posso ver seus olhos marejando daqui, o que me faz acreditar ainda mais em sua incompetência e despreparo. — Honestamente, isso aí não tem desculpa para mim. Péssimo.

Quando o rapaz volta para a sua posição, escuto a campainha no set, anunciando uma pausa das gravações. Sem olhar para trás, pego minha garrafa de água e sigo para o camarim, me jogando na poltrona confortável enquanto as maquiadoras retocam a maquiagem em meu rosto. Odeio televisão e sua iluminação exagerada que nos faz suar.

— Anda, para fora. — Escuto uma voz masculina dizer, e sei bem quem é. — Preciso de um momento a sós com o Laurent.

— O que foi, Charlie? Não vê que estou ocupado? — Mesmo com minha relutância, as maquiadoras saem do local, fechando a porta.

— Você é idiota? Ou quem sabe eu sou... Tenho certeza disso, você lembra o que dissemos sobre não adquirir bens agora? Que perante a justiça, você está completamente quebrado?!

— Sim, e ai? — Indago, sem interesse enquanto uma das veias de Charlie chega a saltar na lateral de seu rosto.

— Então me explica porque caralhos você comprou um apartamento de mais de dois milhões de dólares, Laurent.

Sem controlar sua raiva, Charlie joga a escritura do imóvel recém assinada em meu colo. Dou de ombros, sorrindo confiante e realizado. Sayuri desistiu de me perseguir, então por que continuar vivendo em um hotel como se eu fosse um ninguém? Preciso mostrar para Isla que tenho como dar tudo que ela sempre sonhou e quem sabe até mais.

— Cansei de morar em um hotel. — Devolvo a papelada para ele, jogando-a do mesmo jeito que fez comigo.

Charlie se aproxima a passos rápidos, com o dedo apontado em minha direção quando me levanto e o empurro com força contra a parede, ouvindo o barulho do choque. Suas palavras fizeram com que eu perdesse totalmente o bom humor.

— Se ponha no seu devido lugar, Charlie. Você é meu advogado e não meu pai ou amigo. Fale assim comigo novamente e vai ser despedido em um piscar de olhos. — Minha mão pressiona seu peito com força, mantendo-o preso contra a parede. — Estamos entendidos?

— Sim, Sr. Bellini. — Sua voz soa falha, parece até mesmo estar engasgado. — Me desculpe.

Com suas desculpas, volto a sorrir, como se nada tivesse acontecido e apoio ambas as mãos em seus ombros.

— Está vendo? É muito melhor assim, não é? — Gesticulo, fazendo menção a nós dois. — Tenho que gravar mais um bloco, mas depois disso, vamos tomar uma gelada.

— Claro, vou te esperar no carro. — Charlie diz, se afastando de mim.

— Ah, Charlie. — Chamo, quando ele está a passos de distância. — Ainda vou demorar um pouco, que tal passar na loja da Gucci e me buscar um terno novo? Tenho um evento para ir, sabe, pobres criancinhas famintas e tudo mais.

Vejo que o advogado hesita por alguns instantes, mas logo depois apenas acena a cabeça em positivo. Escuto outra campainha no set de filmagens, está na hora de voltar a gravar. Meus outros dois companheiros jurados se sentam nas pontas, enquanto eu ocupo o lugar do meio, considerado o principal.

Reviso minhas anotações no tablet e torço a boca em desaprovação quando vejo a próxima roupa que teríamos que dar um feedback. Por mim, todos poderiam ser eliminados, ninguém merece ser o novo estilista da moda.

— Então... Por onde começo?

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