Capítulo 18 - Isla
A breve reunião com Laurent não tirou minha cabeça do trabalho, e assim que retornamos ao estúdio, Jonny e eu nos dividimos para dar conta das várias tarefas que exigem nossas atenções individuais.
— Eu quero uma peça dessa no meu guarda-roupa para ontem, Jon! Está simplesmente maravilhosa! — Com delicadeza, passei minha mão direita pela peça, um lindíssimo pulôver de lã branca com ombro caído e gola redonda canela, punhos e cintura inferior. A estampa, uma mistura de borboleta e tigre, dando destaque aos olhos azuis do felino, chama atenção por toda sua riqueza de detalhes, fora a textura do tecido, composto majoritariamente por algodão.
— Esses são dos modelos, mas vamos fazer um exclusivo para você. — Jonny me respondeu, por mais que sua atenção estivesse concentrada em costurar um cropped de couro fake.
— Vocês podem ir vestir isso aqui, por favor? Também tem a parte de baixo. — Entreguei para os dois modelos as blusas, por ser um modelo completamente unissex, Jonny e eu decidimos tirar fotos em pessoas opostas. A primeira modelo, Louise, tem cerca de 1,75 de altura, e por isso a colocamos com um short curto de tecido mais grosso para criar textura, ainda realçando suas longas pernas e pele preta retinta. Já Kevin, com seus imponentes 1,85 de altura, ficou responsável de mostrar a calça preta com cadarço. — Estão maravilhosos, sério.
Sem dúvidas eu recebia todos os créditos a respeito da estampa, uma mistura da minha personalidade com a de Jonny, por mais que ele em si não saiba disso. Jonny, representado pela borboleta, faz ilusão a sua metamorfose, renovação e força, já o tigre mostra toda a minha garra e superação. Desenhá-la foi a parte mais difícil, mas valeu a pena ao ver o visual completo.
— Temos um fotógrafo esperando por vocês no estúdio lá trás, vamos tirar umas fotos só para o arquivo, não sairão em nenhum veículo de publicidade agora, está bem? — Com uma planilha na mão esquerda, risquei o quadrado com as peças deles, seguindo para a próxima.
— Quem é a próxima? Ahn... Candace? — Chamo o nome em voz alta, mas como ninguém se aproxima, levanto o olhar e procuro pela figura, sem qualquer sucesso. Seria a Candace, mais conhecida como Candy? — Alguém viu a Candace?
No momento em que estou prestes a começar a caminhar pelo estúdio, Candace aparece correndo. Seus cabelos estão escovados e a leve maquiagem realçou sua beleza natural, ainda mais pelo fato dela não estar de ressaca ou cansada pós... ''trabalho''.
— Então você aceitou minha proposta? — Por mais que tente ser imparcial, não consigo evitar um sorriso animado e orgulhoso da menina bem a minha frente. Ela claramente não é uma modelo habitual, seu desfile não é limpo e preciso, as costas tem algumas dobrinhas e os seios são grandes para o padrão da maioria das marcas, ainda assim, é belíssima.
— Como eu poderia negar sua proposta? E então... o que eu vou usar? — Candy parece animada, como se sua vida dependesse daquele trabalho. Por isso, não perco tempo e entrego um cabide contendo uma túnica de malha sem mangas com franja de algodão na parte inferior. Como a peça principal é vazada, Candace terá de usar um top preto por baixo, assim como uma calça branca que parece tão fina quanto papel.
— Alguém realmente usa essa roupa no dia a dia? — A mais nova modelo parece desconfortável na peça, o que me causa uma risada baixa.
— Sim, artistas do pop na maioria das vezes... É unissex, então pode ver desde a Ariana Grande até o Shawn Mendes com uma peça dessa, cada um customiza no próprio estilo, mas a ideia base é essa que você está vestindo. — A peça é linda, mas tem algo de estranho, o caimento não está perfeito, por esse motivo chamo um dos costureiros, o mesmo que no meu último desfile ficou reclamando de eu ter emagrecido. — Está vendo aqui? Temos que encurtar a peça, o certo é bater na altura dos joelhos e não nas canelas.
— Eu não posso ficar conversando, mas que tal eu e você sairmos depois? — Aperto levemente o braço de Candace, me afastando em seguida. Um pouco cansada, subo as escadas até o escritório de Jonny, me jogando no sofá macio e fechando os olhos por alguns segundos, minha vida está mudando da água para o vinho, não há mais nada igual como há seis meses atrás.
A ideia de crescer profissionalmente é assustadora, mas também me deixa ansiosa e animada. Mas agora, estando oficialmente em um relacionamento sério com Jonny, não posso só dar atenção a carreira, porque realmente quero fazer o que temos dar certo. No meio dos meios devaneios, escuto a porta do escritório abrir e fechar novamente, seguido das persianas bloqueando nossas imagens.
— Você está bem? — A voz de Jonny é cuidadosa, temendo que algo não esteja bem comigo. — Foi o Laurent? Ele te disse alguma coisa?
— O quê? Não. Eu nem estava pensando nele. — Na mesma hora gesticulo, afastando aquelas hipóteses dele. Laurent não mexe mais comigo.
O estilista se senta no chão, ficando na altura do meu rosto e aproveitando da aproximação para colar nossos lábios em um beijo calmo, sem pressa e desejo ardente, mas é o suficiente para me fazer sorrir profundamente apaixonada.
— Você é tão linda... — Seus galanteios, quase que em sussurros, me deixam sem palavras enquanto ele continua, dessa vez deslizando o dedo indicador por cada parte que elogia. — Eu amo suas sobrancelhas... Sua boca, nunca vou me cansar de te beijar.
— Acho bom mesmo, porque eu pretendo ser a última boca que vai beijar a sua. — Apenas para provocá-lo, dou uma mordida leve em seu lábio inferior, o que arranca um suspiro contido do estilista. — Eu só estou um pouco cansada, por isso vim para cá.
— Seus pais ainda estão no apartamento? — Só de lembrar da cena de Jonny sendo pego nu na frente dos meus pais, tenho vontade de gargalhar histericamente, mas ele fica chateado, por isso apenas dou de ombros em afirmativo, ignorando os flashbacks em minha mente. — Estou com saudades de dormir com você...
— Nós nos vemos todos os dias, Jon.
— E não é esse tipo de saudade que estou falando. — Para Jonny, a imagem de Isla em todo o seu ápice de prazer e beleza deveria se repetir todos os dias, sempre que possível. O fato dos sogros ainda estarem na cidade acabava empatando muitos dos encontros dos dois, e por isso que com um sorriso malicioso, ele sugeriu a ideia seguinte. — E se nós fizéssemos agora? Uma rapidinha, só para matar as saudades.
— Estamos no trabalho, Jonathan Hanton! Mas eu prometo que vou dormir na sua casa hoje, ou pelo menos dou um jeito de te fazer despercebido pelos meus pais, está bem? Mas nada de rapidinhas no trabalho, sou uma mulher difícil de satisfazer. — Assim que termino de falar, Jonny desliza as mãos por de baixo do meu vestido, tentando-me a mudar de ideia, mas sendo interrompido por uma batida leve na porta. — Tá vendo? Por isso não podemos fazer nada aqui. — Sussurro, antes de perguntar o que queriam.
— Isla? Tem uma moça aqui te procurando.
— Diz que ela está ocupada! — Jonny grita, recebendo um leve tapa meu em seu braço. Empurro ele para longe de mim e caminho até a porta. Quem quer que seja a pessoa que me espera do lado de fora, não quis se identificar.
Demoro poucos minutos para passar pela confusão de costureiros e modelos, que jogam tecidos para todos os lados. Mas assim que alcanço os fundos do prédio, não reconheço a figura parada bem a minha frente, chego a olhar ao redor para ver se é alguma modelo com agente procurando emprego, mas ela está sozinha.
— Isla Taylor? — Seu inglês é extremamente carregado com sotaque exterior, claramente de alguma parte da Ásia.
— Sim, sou eu... Desculpe, nós nos conhecemos? — Indago, descendo os degraus que nos separam. Ela é nova, e com meu salto alto, fico mais de vinte centímetros mais alta do que a garota.
— Não, mas meu nome é Sayuri Mori, e eu preciso da sua ajuda.
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