Capítulo 15 - Isla

O que tinha acabado de acontecer? Jonny e eu simplesmente perdemos completamente a inibição e nos agarramos nos bastidores do ensaio fotográfico. Tudo bem, não é nada demais, mas deveríamos seguir com nosso dia, assim como planejamos antes disso ter acontecido. Assim que saímos do estúdio, olhei ao redor, grata de estar na cidade que nunca dorme, finalmente realizando meu sonho.

— O que passa na sua cabeça? — Jonny finalmente me tirou do torpor de minha mente, fazendo com que eu o olhasse com um sorriso no rosto. — Tento descobrir mas parece um labirinto.

— Sonhos... Sabe, quando eu vim morar em NY, meus pais me apoiaram bastante, mas só porque eu estava fazendo faculdade junto. — Coloquei a mão no teto do seu carro, sentindo o metal levemente quente devido ao Sol. — Mas meu sonho realmente sempre foi ser modelo, me ver nas capas das revistas e agora isso começou! Finalmente deixei de ser apenas um manequim para ter a receber atenção pelo meu nome.

Jonny desbloqueou o carro, e quando entramos fomos agraciados pelo insulfilme preto bem escuro que dava a sensação de privacidade, mesmo que dezenas de pessoas passassem ao nosso redor. Senti sua mão se unir a minha, entrelaçando os dedos nos meus do jeito que gosto ao mesmo tempo em que pressionou levemente, aquele ato me passava tanta segurança.

— Você é inigualável, Isla. Tenho certeza que as pessoas jamais esquecerão seu nome. — Meus olhos encontraram os de Jonny, sempre tão azuis, mas dessa vez transmitiam uma sensação boa, como se por mais que eu caísse ali, não iria me afogar como antes sentia. Era reconfortante mergulhar na imensidade de Jonathan Hanton, e por mais que tivéssemos um compromisso dali poucos minutos, aproximei meus lábios do dele suavemente. Os dedos de Jonny seguram meu cabelo, enroscando-se nas mechas soltas, o que faz com que eu me aproxime ainda mais dele. Com minha mão em seu rosto, acaricio a bochecha direita, até que nos separamos, encarando um ao outro e sei que palavras não são necessárias.

Com as horas passando rápido e uma agenda lotada de compromissos, nós dois seguimos pelas ruas de NY até chegar no novo endereço da loja da Skin 4 You, por mais que meu nome não estivesse ali, minha coleção estaria e eu não podia estar mais orgulhosa, claro, de Jonny também, afinal, aquela loja era fruto de todo seu trabalho incansável.

As paredes de concreto com rachaduras por onde saem pequenos ramos de plantas demonstram toda a estética de Jonny: você pode ser forte e poderoso, sem perder sua parte delicada e sentimental. Seu nome, situado bem acima de onde uma arara de roupas fixas está presa, traz o destaque para o verdadeiro criador da obra, fora isso, dez provadores, divididos entre femininos e masculinos, luzes de led, piso de porcelanato branco, manequins e barras de ferro no exterior, que servem de moldura para as altíssimas janelas de vidro, comprovam o que a equipe de obra disse: a reforma está completa.

— Essa loja ficou maravilhosa, Jonny! Sério. — É a primeira vez que meus pés tocam esse chão, então estava vendo tudo como uma potencial cliente, adoraria entrar na loja e estourar meu cartão de crédito, claro, se tivesse dinheiro para isso.

— Sabe qual é a melhor parte? — Ele perguntou enquanto deslizava as mãos pela parede de concreto, aquelas folhas eram reais ou de mentira? — É que é minha! Puta merda, tem meu nome nas paredes, Isla. Lutei tanto para chegar aqui, nem acredito que a primeira loja está pronta, agora só falta a de Paris, Matthew vai para lá resolver as últimas pendências para podermos lançar as duas lojas juntas.

O estilista havia gasto grande parte de sua renda na compra e reforma de ambas as lojas, a de Paris estava sendo mais complicada, afinal, não estava lá para analisar o andamento da obra, contando apenas com chamadas de vídeo e idas ocasionais de Matthew ao lugar. Com os olhos marejados, Jonny se virou para meu oposto.

— Minha vida inteira está aqui. — A voz embargada de Jonny fez com que eu me aproximasse novamente, colocando ambas as mãos em seus ombros antes de descer até seu peito e puxá-lo para um abraço, de costas mesmo, onde escondi meu rosto e respirei fundo, sentindo os tons amadeirados de seu perfume. — Você também merece, Jon... E não vejo a hora da inauguração.

Depois de alguns segundos abraçados, Jonny fez questão de me mostrar cada metro quadrado da loja de dois andares, que têm de tudo para ser o novo sucesso de NY, principalmente para mulheres com a média de idade igual a minha. Como uma criança na manhã de Natal, Jonny desembalou cada objeto novo que chegou durante a semana, desde bancos super confortáveis que ficarão espalhados pela loja, até os espelhos dos provadores, para ter a absoluta certeza que estava tudo perfeito. Ele havia perdido completamente a pose de adulto responsável, já que estava sentado no chão ainda sujo de uma fina camada de poeira de gesso lixado, o que fez com que suas roupas pretas ficassem completamente brancas. Com o máximo de discrição possível, levantei minha câmera, tirando a foto bem no momento em que um sorriso largo apareceu em seus lábios ao perceber que as pinturas encomendadas pela internet haviam chegado.

— Jonny, eu tenho que ir... Nos vemos amanhã? — Por mais que eu não quisesse tirá-lo de toda a sua alegria, meu relógio mostrava que o penúltimo compromisso do dia estava me aguardando.

— Claro, estava pensando... Você quer ir jantar comigo? Ou eu posso cozinhar, o que você preferir.

Minha feição deve ter sido muito feia, pois no mesmo momento Jonny se levantou, limpando as calças e tentando dizer que podíamos ir com mais calma e que não queria me forçar as coisas. O único jeito de eu acalmá-lo foi selando nossos lábios em um selinho rápido.

— Jantares formais não são muito meu encontro favorito, parece que estamos em uma reunião de negócios, e eu não quero misturar ainda mais essas duas coisas. — A verdade é que meu encontro com Laurent tinha tudo para dar errado, pois por mais que eu goste de luxo e queira uma vida melhor, nenhum relacionamento pode ser baseado no que o outro tem ou ''Olhe, estou te levando para um restaurante caríssimo, vamos nos beijar?''. Com Jonny precisava ser diferente.

— Então... Você tem alguma ideia? — A mão de Jonny tocou meu rosto, afastando uma mecha com delicadeza antes de colocar atrás da orelha. Por mais que o momento fosse fofo, ele estava sujo de gesso, por isso tive que me afastar com rapidez para não espirrar bem em seu rosto. Depois de uma sequência de espirros e nariz avermelhado, encarei o homem com um sorriso constrangido, enquanto ele exibia um semblante brincalhão. — É alérgica a minha pessoa, Isla?

— Há, há, há... Engraçadinho. — Mostrei a língua para Jonny, mas não estava chateada. — Tenho sim uma ideia, mas você só vai saber amanhã.

Antes que eu me arrependesse de não ficar ali com Jonny, desci as escadas da loja e andei por cerca de quinze minutos até chegar na loja em que havia combinado com uma Elizabeth emburrada na porta. Ela, sempre tão pontual, foi fazer amizade com uma pessoa não tão certinha assim, são os carmas da vida, não é mesmo? A atendente não tardou a nos atender, mostrando cada peça do mostruário e torcendo para que comprássemos pelo menos uma, pois já havia nos visto ali e sempre terminávamos com ''Estamos só dando uma olhadinha''.

— Essa peça tem uma estampa linda, o tecido é macio, confortável... Ótima para passar a noite toda. — A atendente passou cada detalhe da peça. Por mais que a maioria fosse técnica e eu não me importasse. — O que vocês acharam?

— É meio pequena... Não acho que seja tão confortável assim. — Para comprar uma cama daquela, preferia ficar com meu colchão velhinho. Sim, estamos comprando colchões e camas, afinal, não é todo dia que um salário bem generoso caí em minha conta, mais do que cinco vezes na agência. Jonny foi bem generoso no contrato, e a tendência é dos números aumentarem cada vez mais quando a coleção for lançada. — O que você achou, Liz?

— Que não dá para um casal dormir aqui nem ferrando, parece cama de solteiro e o colchão é super duro. — Liz levantou da cama, olhando ao redor da loja para então andar em direção a uma cama que estava ali. Na mesma hora a atendente se sobressaltou, como se não pudéssemos pagar pelo preço. — Essa aqui é ótima, vem cá, Isla.

Sem perder tempo, me deitei do lado de Liz. Na mesma hora todos os músculos de minhas costas relaxaram e senti como se estivesse dormindo nas nuvens mais fofas de todo o céu. Deixei cada sentido meu aproveitar daquele colchão e finalmente entendi o porquê dos outros odiarem o meu, realmente estava péssimo e justificava as dores nas costas.

— Eu quero dois colchões desse, oito travesseiros e qual vai ser a cor da sua cabeceira, Liz? A minha vai ser branca. — Liz pensou um pouco antes de responder que também queria branca. Ainda que olhos fechados, ouvi um limpar de garganta e a atendente estava com uma prancheta na mão. — Pode falar, qual o preço?

— Então tudo deu... 527 dólares e 99 centavos, podemos dividir em até dez vezes sem juro no cartão de crédito ou damos 10% de desconto a vista, o que vai para... 475 dólares, qual vai ser a escolha de vocês?

Meses atrás eu jamais poderia fazer isso, me dar o luxo de comprar uma cama nova? Com um esforcinho conseguiria, mas presentear minha amiga com a mesma coisa? Impossível. Retirei o cartão de débito da bolsa, entregando para a atendente que finalizou todo o trâmite e quando apareceu a mensagem ''compra aprovada'' na tela, Liz pulou em mim, me abraçando e beijando meu rosto.

— Muito obrigada! Eu te amo, amiga. — Por mais que ela estivesse fazendo um escândalo no meio da loja, o que atrai olhares esquisitos, eu fiz a mesma coisa. A felicidade genuína de poder presentar alguém que amo e nunca desistiu de mim se apossava de cada cédula de meu corpo, só queria poder fazer aquilo mais vezes.

— Eu tenho mais uma surpresa para você... quer vir?

— Ai, Isla... O que você aprontou? — Liz tentou disfarçar sua curiosidade, sem eficácia alguma. Mandei o endereço para ela pedir o UBER enquanto eu finalizava a compra daquela loja. Meu coração, completamente a mil pela próxima parte, parecia querer sair do peito sem autorização alguma, mas ainda bem que o bairro era próximo, pois em cerca de apenas quinze minutos chegamos ao local.

Marcado pelas chamados ''Cast-iron Buildings''', os prédios do bairro de Soho costumam ter escadas de ferro de emergência do lado de fora em conjunto com as paredes de tijolos. Com mais de 300 grandes lojas em suas ruas e cortando o tempo na metade deslocamento, esse bairro é simplesmente perfeito para morarmos.

— O que você acha daqui? — Pergunto, como quem não quer nada. Discretamente, encerro a viagem do UBER, que segue seu caminho sem Elizabeth perceber. Sei que ela é apaixonada por coisas históricas e as fachadas dos prédios dali fazem parte de preservação de monumentos, por isso não podem ser modificadas.

— Bem melhor que o Bronx, né amiga... Melhores oportunidades de emprego nas lojas, ruas mais seguras... Por quê? — Seu olhar confuso finalmente encontra o meu. Sem hesitar, pego a chave que está no meu bolso e encaro minha melhor amiga, completamente extasiada.

— Você quer conhecer sua nova casa, Liz?

Adeus Bronx.

Olá Soho. 

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