Capítulo 8 - Lembranças

Já haviam se passado duas semanas desde o funeral de Lucas. A Sra. Amell se recusara a deixar Jhon entrar, se não fosse por Marcus ele não teria tido a chance de agradecer a ele, mesmo que não pudesse retribuir pelo coração doado. Jhon entendia a família Amell e consolava o novo amigo – Marcus – que chorava como se fosse uma criança frágil.

Foi difícil mentir para Lucy. Ela não sabia que ele havia morrido há alguns dias e que esse era o real motivo dele não estar ali presente, ao seu lado. Jhon tentava ao máximo não se abalar quando Lucy perguntava por Lucas e ele sempre dizia que ele havia ido ver um parente querido que estava doente, mas que logo voltaria.

Eu me pergunto se ela acreditava...

A cada três dias ela perguntava por ele. A ultima vez que o fez foi horas antes da cirurgia que a manteria viva, Jhon não estava no quarto – ele falava com o medico que iria operá-la. – e eu estava com um livro nas mãos quando ela me chamou.

Math.

– Sim – fechei o livro e a olhei.

– Você sabe se o Lucas voltou?

Pensei rápido. Lamentei por ele não estar ali, eu poderia imaginar a dor que seria para ela quando soubesse.

Ela ira me perdoar?

– Ainda não, mas ele ligou e disse que vai dar tudo certo e que não precisa se preocupar e que quando a cirurgia acabar ele estará aqui para ficar com você. – dei um breve sorriso.

Ela riu satisfeita com a resposta.

Olho para ela agora dormindo e me pergunto:

Como ela vai reagir quando souber a verdade?

Ela vai nos perdoar por termos mentindo para ela?

Negando uma dor que por direito é dele?

Talvez ela me perdoe, mas eu estaria fazendo algo errado?

E Lucas, como ele reagiria se fosse com ele?

Ele não mentiria, mas isso não me importa no momento. Ela estando bem posso aguentar a raiva que ela terá de mim, mas Jhon conseguirá fazer isso?

O vento uivava do lado de fora. O outono havia se passado, o inverno chegara à pequena cidade. A neve caia tranquilamente do lado de fora enquanto algumas crianças coriam pela rua em duas divertidas e entusiasmadas guerras de neve. Olhei para o sorriso estampado no rosto dos pequenos que ali se divertiam enquanto eu colocava o livro que eu estava lendo em repouso em minhas pernas.

O quarto estava iluminado só pelo abajur ao meu lado, o quarto estava em completo silencio se não fosse pelo bip da aparelhagem que mantinha sob controle a sua vida, o coração não havia sido rejeitado pelo organismo, mas ela teria que passar o resto de sua vida tomando medicação para que nada acontecesse ao seu coração e a si mesma.

Lucy dormia tranquilamente enquanto eu me reencostava na poltrona reclinável e esticava minhas pernas. Um pequeno suspiro saiu de meus lábios enquanto eu me virava para admirar novamente as crianças pela janela. Observá-las me trazia lembranças de uma época mais simples em que Lucy e eu éramos inseparáveis. E foi em um dia como esse que tudo começou.

– Lucy isso não vale – eu gritava enquanto corria a metros de distancia de Lucy, que derrubara meu boneco de neve.

Lucy estava me esperando em pé junto ao monte de neve, ele tinha um sorriso largo e coçava a cabeça toda vez que trapaceava. Apesar de ter apenas 13 anos ela já tinha um corpo bem desenvolvido e muito fôlego. Ela sempre me ganhava nas corridas e nessa época do ano destruía meus bonecos de neve.

Era 23 de dezembro estávamos em mais uma de suas disputas, Lucy corria a todo vapor em direção ao meu boneco de neve e eu como sempre estava para trás, mas naquele dia algo a fez perder a velocidade, parecia cansada e procurava ar mais do que o normal, mas ela não parou de correr.

Meu corpo ultrapassou o seu e cheguei primeiro ao eu boneco o chutando e fazendo com que ele desmoronasse e caísse no chão. Lucy estava atrás, tinha um sorriso no rosto, mas não era um sorriso que eu conhecia. Corri ate ela nossos corpos se esbarraram e caímos na neve acumulada na calçada da senhora Jhonson.

Cai por cima do corpo de Lucy que me abraçou e me segurou enquanto com urgência buscava um pouco de ar, meus olhos se arregalaram e ela apenas fechou os olhos e respirou fundo, quando os reabriu estava com o mesmo sorriso que sempre carregava quando ganhava de mim.

– Você ganhou Math, meus parabéns. Você me superou. – disse ela respirando com dificuldade.

– Você esta bem?

– Eu estou bem não se preocupe. – disse ela ainda em busca de ar, mas não deixava em nenhum momento que seu sorriso sumisse do seu rosto.

– Lucy...

– Hmm... – ela me olhou curiosa.

– Posso pedir uma coisa já que ganhei?

– Claro. – disse ela finalmente se recuperando e mudando sua expressão.

– Bem eu vi um casal se beijando ontem na praça.

– E...

– Bem, eu queria saber como é?

Ela riu.

– E...

– Eu não sei de devo te pedir isso.

– Certo seu medroso, porque apenas não faz.

– Você tem certeza?

– Absoluta – disse ela convicta.

Aproximei-me de seus lábios e o toquei com os meus, ela fechou os olhos enquanto eu olhava para seu rosto agora tranquilo, no instante seguinte eu afastei os meus dos dele e me deu o sorriso largo de sempre.

Não sei se ela se lembrava deste momento de quando éramos mais jovens, mal eu sabia que aquele era um dos primeiros sinais de uma doença que um dia a mataria. Quatro dias depois dona Elisa passou mal, assim como Lucy ela escondeu os sintomas da mesma doença que Lucy havia herdado e não demorou muito para que ela se fosse.

Eu me perguntava por que ela não havia acordado após a cirurgia como todos nos esperávamos, mas talvez ela esteja esperando por algo e isso me preocupava por talvez ela esperar inconscientemente por ele e por que ele nunca iria voltar.

Levanto-me e saio do quarto levando comigo esses pensamentos. Caminho pelo corredor branco com o cheiro de detergente forte que incomoda meu nariz, na verdade sempre odiei estar em um ambiente como aquele. Jhon vinha em minha direção com um copo de café expresso nas mãos e me entrega.

– Como ela esta?

– Nada ainda. Ela vai acordar não perca as esperanças.

– Não vou.

Ele afaga meu ombro e sigo para a recepção, me sento em uma das poltronas, olho para o teto branco e fecho os meus olhos quando dou por mim o copo estava no chão e o café esparramado no piso branco.

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