Capítulo 1
O despertador tocou estridente as cinco horas fazendo Elisabeth ranger os dentes. Se não precisasse tanto do emprego na lanchonete, voltaria a dormir, descartando esta opção ela saiu das cobertas quentes para o frio da madrugada. Olhou para o gato vira - lata, dormindo imperturbável em sua cama ao lado da comoda, e fez uma careta de desgosto.
- Felizes são os gatos, que não têm contas para pagar.
Bocejou desgostosa, espreguicou - se jogando os pensamento desprezíveis de lado e assumindo uma postura corajosa.
- Ao menos a água é quente.
Quarenta e cinco minutos, depois já estava atendendo no balcão da lanchonete.
Sua rotina era a mesma, desde que sairá da casa dos pais no sul do Brasil. Abrira mão do conforto e segurança em busca de grandes aventuras, com apenas uma mochila e esperanças de dias melhores. No entanto, o destino se encarregou e assumir o controle! Destruindo seus planos...
Certo! Parte da culpa era sua... Talvez 79% fosse sua culpa, já o admitirá no inicio do ano! Mas o destino... Todos diziam que o Tony partiria, mais cedo ou mais tarde... Por que era o seu destino! Mesmo sendo tão jovem, aos vinte e três anos, a diferença entre eles era de apenas dois anos. Ela sempre fora mais disposta às festas, baladas, enfim. Tony a seguia, dizendo que precisava proteger sua irmãzinha. E ao livrá - lá de mais uma confusão, lhe dava uma hora diária de broncas até o fim do mês, quando o círculo vícioso recomeçaria.
Com freqüência Elizabeth chorava, o ano novo lhe fazia maú, literalmente. Com enjôos, dores de cabeça, cólicas renais e o maú humor, a deixava insuportável.
Não fazia sentido!
Ano novo? Era uma época de sombras, apesar das luzes em redor. À meia noite, nada de mágico acontecia. Ela sabia. Esperou por esta mágica, que fizesse a dor sumir, que trouxesse alívio... Que a fizesse ter de volta, o prazer de acordar, todas as manhãs. Porém, em sete anos, nada aconteceu! Nada... Apenas dor... Dor crônica... Causada pelos gritos de agonia, em sua alma.
Tony era um homem lindo, com seu belo porte alemão e sotaque gaúcho. Gostava de chimarrão, e cavalgadas que terminassem ao redor de fogueiras, onde cantavam e dançavam o fandango. No dia seguinte ele, sempre partia os corações, das parceiras de dança ao ir embora. Todas apaixonadas, ficavam esperando por seu retorno. Ele ainda não havia se apaixonado, dizia, que quando acontecesse seria algo, como o Bigbang. Ao menos, para ele! Não houve tempo.
Olhando para um casal irmãos, que insistiam em frequentar a lanchonete, onde Elizabeth trabalhava, ela sentiu seu estômago revirar. Sério, eles eram lindos juntos, sua cumplicidade, a conversa descontraída. Os olhares fraternais dos dois... Mas, a fez sentir dor de estômago. Doeu lembrar, que nunca mais, teria o mesmo com seu irmão.
Pediu para uma das colegas, assumir seu lugar no balcão, com a desculpa de que estava apertada, e precisava ir ao banheiro. Sentada sobre a tampa do vaso sanitário, escoou as saudades com lágrimas angustiadas.
Se o destino do seu irmão era morrer cedo, o dela era viver em exílio? Longe dos seus amados pais, os avós e tios que tanto lhe eram queridos? Afastada da sua vida e da sua cultura, afastada das suas amigas e dos lugares favoritos na infância? Por que o destino não podia ser gentil? Perdera seu tudo... O nó na garganta se abriu, dando passagem para seu café da manhã, direto para o chão!
- Mais trabalho... - Pegou um pano de chão, para limpar sua derrota, em meio à mais lagrimas.
Será que um dia, finalmente, acabará seu exílio?
Ao chegar em casa estava exausta, mau podia acariciar o gato manhoso. Após um breve descanso no sofá em frente à TV, foi tomar seu banho relaxante. Perdera a fome o resto do dia, desde o episódio no banheiro, seu ânimo esmoreceu por completo. Desejou ter um gato mais ativo ou um cachorro daquele que te obrigam a fazer uma caminhada ao fim de tarde. Parecendo ouvir seus pensamentos, o gato preto começou uma perseguição frenética atrás da toalha de mesa. Ele pulou puxando o tecido, fazendo rolar as frutas de isopor do enfeite da mesa. Um pêssego virou alvo de sua atenção, numa arrancada exagerada, o bichano agarrou o isopor destruindo em pedaços. Ela não se incomodava, ao contrário dava - lhe um certo prazer, assistir estas caçadas furtivas. Ao menos lhe fazia sorrir vez por outra.
Levantou - se para arrumar a bagunça. Agora seu ânimo estava um pouco melhor, desde a infância gostava de ver as travessuras dos animais.
- Gato! - Da maneira como falou, parecia que xingava o bichano, mas este era o seu nome, nada muito criativo. - Você merece um banho de água gelada, mas isso seria maldade. - Sorriu, quando ele se esfregou em sua perna.
- Você é um sedutor.
Duas semanas para o ano
novo de... 1999.
Elizabeth havia decidido substituir uma amiga no fim de ano, para que ela pudesse visitar seus pais em outra cidade. Ao menos sua mente estaria ocupada, sem maus pensamentos a respeito do passado. Por isso, começou sua organização para o trabalho extra. Apesar de não ser muita coisa, custou certo tempo, mas conseguiu aprender a se organizar.
Tony ficaria orgulhoso, de sua irmãzinha.
Terminou de lavar as roupas de cama e estendeu - as no varal dos fundos. A kitnet era pequena, um quarto e banheiro, com uma cozinha americana. Tudo muito simpático, em tons pasteis padrão, das outras casas. Era uma linda, mas somente para os solteiros, familias seriam comprimidas naqueles cubículos. Não eram lugares construídos para sardinhas humanas.
Bem diferente da casa dos seus pais, uma bela chácara cercada por rios e matas cheias de vida selvagem. Era um lugar único no mundo, próprio para os contos de fadas mais deslumbrantes, que a mente fértil de uma criança poderia criar. E Elizabeth, o irmão e conde Klaus, seu amigo de infância, inventaram muitas histórias.
Klaus era mais amigo do Tony, tinha o sonho de ser soldado do exército. O que o fez sofre bulling por muitos anos, por ser magro e doente. Diziam, que o pobre menino era alérgico à tudo. Porém, na adolescência foi para um colégio militar, e nunca mais se viram.
Talvez, um dia tomasse coragem, e voltasse para sua cidade. Com tudo, para isso acontecer seria preciso algo extraordinário. Sua coragem teria que superar seu medo.
O telefone no final do corredor tocou. Elizabeth largou as roupas no balde, foi atender, secando as mãos no vestido de algodão azul. Naquele horário das três da tarde, só ela e mais uma vizinha estavam em casa. Abriu a porta, olhando atenta para o corredor. Ninguém. Era um orelhão, dentro do corredor de vinte casas.
- Alô?
- Oh, graças à Deus! - A voz chorosa de sua mãe, encheu seus ouvidos de pânico. Ao mesmo tempo de alegria. - Beth minha flor de laranjeira. Meu amor...
- M...mãe...
- Querida... Eu preciso de você...
De você aqui...!
- O que? Porquê?... A senhora sabe que eu não posso!
- Chega de punição! Eu quero minha filha aqui para o natal... Sabe, filha eu tive um sonho com... Seu irmão e você. Estavam aqui para o natal...
- Eu não consigo!
- Escute: estou velha de mais para discussões. Não há nenhum... Fato bizarro acontecendo, todos estamos bem de saúde. Mas, após sete anos longe da minha florzinha, eu me recuso a morrer sem revê - lá!
- Não posso... - Elizabeth chorava convulsivamente.
- Se não for fazer pelos seus pais...
- Mãe.
- Faça pelo seu irmão... Tony!
O telefone ficou mudo, assim como ela também, que só sabia chorar. Era por causa dele, que não conseguia voltar ao seu lar. Tudo naquela cidade, a fazia lembrar dos seus erros.
Não se pode voltar atrás, apagar os erros e traçar novos caminhos!
O passado será uma tortura eterna?
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