Capítulo 14

Ontem, eu caí, não pensei, me irritei, chorei. Hoje, eu aprendi, refleti, me emocionei, sorrir. Amanhã, já não sei, mas de algo eu tenho certeza, amanhã talvez seja, uma grande surpresa.
— Richard Blazer.

— Que lindo poema Querido! — Dona Tetê falou batendo palmas — Como consegue fazer isso? Assim do nada, você só pensou e as palavras surgiram?

— Na verdade, minha memória não é muito boa, mas esse poema é a única coisa que me dar algum tipo de esperança — expliquei sem jeito, envergonhado, fazia meses que eu não recitava esse poema, mas até ano passado era minha proteção de tela, eu não queria esquecê-lo mas infelizmente acontece — Essas palavras são meu único conforto...

— Conforto de quê querido? — Ela perguntou preocupada percebendo meu desânimo — Algo vai acontecer com você amanhã? Digo, no futuro?

— Talvez sim, talvez não — Falei olhando para o céu estrelado — Quem sabe...

A senhora Teresa percebeu que eu não queria falar sobre aquilo e respeitou meu silêncio, não perguntou mais nada, apenas observou o céu comigo. Fazia tempo que eu não saia para olhar as estrelas, ou como sempre, sai e não lembro. Eu não sabia que era tão bonito como eu estava vendo naquele momento. Cada estrela tinha seu próprio e único jeito de brilhar, talvez fosse meu tempo sem vê-lo, mas parecia mesmo que cada estrela brilhava de uma forma diferente...

Já fazia alguns minutos que estávamos esperando alguém vir buscar Tetê. Tentamos contar histórias e isso ajudou bastante, até que ela disse que queria muito ouvir um poema, pois seu neto era escritor e lhe enviava diariamente poemas em áudio para ela ouvir. Mas fazia tempo que ela não recebia... Foi aí que me arrisquei fazer esse favor pra ela e agora estamos aqui encarando o céu.

— Olha, ela está chegando — Tetê falou observando um carro vindo em alta velocidade do outro lado da esquina, fazendo curvas que quase faziam as rodas do carro levantar — Por que será que ela está tão devagar hoje?

— Ela está devagar!? — Perguntei assustado me levantando da calçada que estávamos sentados para observar o carro que se aproximava — Tetê, tem certeza que é essa pessoa que vem te buscar?

— Como eu disse, ela está muito devagar, mas acredito que deve ter encontrado algum policial por aí de novo — Ela explicou bem calma, como se isso já fosse um costume, o que me preocupou ainda mais — É a Marry, ela é assim mesmo. Ela disse que se for pra andar devagar, ela não tiraria carteira e andaria de bicicleta.

— Tem certeza que é uma boa ideia ir com essa garota? — perguntei preocupado imaginando se seria uma boa ideia irmos com aquela doida — E onde fica a segurança nisso tudo?

— Todo carro tem cinto não é? — Ela piscou e começou a rir como se aquilo fosse brincadeira, puxando-me pelo braço — Vamos, não se preocupe! Marry cuida de mim faz tempo e estou viva até hoje.

Eu não sei se é mais perigoso eu ter pulado a janela do prédio do hospital e fugir, ou arriscar a qualquer minuto dormir sem querer e acordar sem poder me mover por não encontrar a Sammy para me ajudar, ou entrar no carro com essa criatura. Quem faz curvas como ela fez, já deve ter batido o carro pelo menos umas 5 vezes. 

— Só bati uma vez moço — A garota falou parando o carro e me encarando — E nem foi total culpa minha! Quem coloca uma lata de lixo numa curva fechada? Essas coisas ficam em espaço mais aberto.

— Você ler mentes? — perguntei curioso, mas acredito que não tenha sido apenas eu que pensa que ela dirige irresponsavelmente — Já deve está acostumada a ouvir que você dirige rápido de mais, creio eu, então pouparei meu fôlego.

— Rápido é o tempo menino, e nem por isso obedecemos suas leis. — Ela falou sorrindo, abrindo a porta para entrarmos no carro — Vamos logo, preciso fazer o jantar ainda.

— É melhor chegarmos vivos — Falei encarando-a sério mostrando que eu não estava brincando — Se passar de 50, eu assumo o volante e vamos a 10 por hora!

— Desde quando eu obedeço estranhos? — Ela falou, virando os olhos chateada — Vamos logo senhor certinho, já são quase 22 horas!

Entramos no carro e a pedido de Tetê, a moça foi devagar. Ela não parecia ser mais velha que eu, mas se fosse, a mente dela parou na fase adolescente rebelde e maluca. Embora ela fosse numa velocidade menor, as curvas que ela fez quase nos jogou pela janela e Tetê sorria com aquilo tudo. Pobre senhora, na idade dela, um ano de vida a mais ou a menos não deve fazer muita diferença... Porém se eu morresse, tudo que eu fiz pra chegar aqui terá sido em vão.

Graças aos nossos anjos protetores, chegamos vivo. Hoje eles tiveram um grande trabalho! A casa de Tetê era simples e pequena, fiquei me perguntado se aquele era a casa dela, de quem seria a outra. Mas deixei esse assunto para outro momento, eu só queria entrar e comer alguma coisa. Embora fosse incômodo, se eu não comesse logo sentiria sono. Isso acontece por que fiz meu cérebro ter esse gatilho, foram anos de prática. Já que eu não lembrava se havia comido ou não, tentei fazer com que eu sempre sentisse sono, assim sempre saberia se havia ou não pulado refeições.

— Chegamos vivinhos — A garota falou saindo do carro e se espriguiçando — Hora de uma soneca.

— Você não ia fazer o jantar? — Ela me ignorou totalmente e entrou dentro da casa. Agora sei por que a Tetê sempre foge... — Responsável de mais essa sua cuidadora, não é Tetê?

— Não se preocupe, ela não é sempre assim, deve estar estressada hoje. Fazer as coisas por aqui é bem chato, principalmente lidar comigo, já que tenho probleminhas de memória — Ela explicou entrando também e a acompanhei — Andar de carro é o que desistressa ela, por isso eu nunca a incômodo quanto a isso.

A senhora Tetê já estava com Alzheimer, é uma sorte gigante ficar Velho e não ter isso. Mas como sempre pensei, azar mesmo é ser novo e ter algo parecido... Já que a rainha da Inglaterra não quis fazer o jantar, eu que terei que me virar com isso... Embora eu nunca tenha conzinhado na vida, deve ter algum tutorial na internet. A noite vai ser longa e mais uma vez perdi a oportunidade de seguir com meu plano. Mas por algum motivo, eu me sentia bem ajudando aquela senhora... Era como se eu pudesse fazer por ela, o que nunca fiz por minha mãe e por falar nela, que saudades, espero que não tenha descoberto ainda que fugi do hospital.

Por hora, vou ajudar essa senhora, arrumar um jeito de passar um tempo aqui e depois entrar em contato com Sammy e minha mãe. Não posso voltar pra casa, mas não custa nada mandar uma notícia que estou bem. Espero que compreendam, minha aventura começa agora e eu não vou retornar tão cedo...

Uma personagem nova para brincar com a mente de vocês. Ela será muito importante também hein. Boa leitura e até mais!

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