Capítulo 12
Quando ficamos sozinhos, pensamos em muitas coisas, apesar que algumas pessoas preferem não pensar em nada e simplesmente dormir. Mas para aqueles que não conseguem ou não podem dormir, nos sobra questionar certas coisas, reclamar de outras, achar algumas soluções e criar novos problemas. Enquanto eu pensava em tudo isso, uma enfermeira entrou no meu quarto para deixar minha comida, que por sinal parecia ótima.
Quando ela colocou um mini mesinha sobre minha cama para por os pratos, seu celular começou a tocar uma melodia linda, mas ela se envergonhou por estar com celular no bolso e nem se quer colocar no silencioso, apenas sorri e esperei a reação dela, parecia ser uma estagiária, talvez tivesse até minha idade.
— Se me deixar ouvir que música é essa, prometo não contar pra ninguém sobre o ocorrido — falei sorrindo e ela riu indo até a porta para conferir se não vinha ninguém — Perdão pedir isso, mas é um tédio não poder sair daqui, não tem nada para fazer também.
— Olha, eu não tenho redes sociais nesse celular e nem internet, só uso ele para ouvir músicas mesmo, aqui as vezes é meio estressante e isso ajuda — Ela explicou me entregando o celular — Tem várias músicas nele, pode ficar enquanto vou ao quarto ao lado, pego quando vier buscar os pratos da sua refeição.
— Muito obrigada! — respondi animado — Você é uma ótima pessoa!
Ela apenas sorriu e saiu. Dei uma olhada em todas as músicas, mas nenhuma me interessou tanto quanto uma que tinha por nomeação o mesmo nome de uma flor, Girassol. Era uma melodia calma, eu gostava de músicas assim, embora eu pouco focasse nas letras, sempre escutei músicas que houvessem instrumentos que me trouxeram paz e tranquilidade.
A música era ótima, tinha um belo começou, mas quando a cantora, que por sinal tinha uma voz encantadora, começou a cantar, meu coração doeu.
"Se a vida fosse fácil como a gente quer. Se o futuro a gente pudesse prever. Eu hoje estaria tomando um café. Sentado com os amigos em frente TV. Eu olharia as aves como eu nunca olhei. Daria um abraço apertado em meu avós. Diria eu te amo a quem nunca pensei. Talvez, é o que o universo espera de nós.
Eu quero ser curado e ajudar curar também. Eu quero ser melhor do que eu nunca fui..."
Essa música me faz pensar, eu nunca fiz nada disso. Eu passei minha vida inteira dentro do meu quarto, não ela inteira, mas 20 anos dela apenas vendo Netflix, dormindo, comendo e dando trabalho à minha mãe. Eu sempre disse que era como a Dory, que eu continuaria a nadar, mas na verdade eu sempre estive preso dentro de um aquário. Eu nunca se quer tentei viver de verdade, afinal, eu nunca ia lembrar cada dia vivido...
Era uma letra linda, eu nunca havia ouvido ela. Mas conhecia o rapaz que cantava com aquela moça. Eu já tinha chegado a assistir alguns vídeos do Winderson Nunes, mas nunca imaginei que ele fosse cantar algo tão emocionante.
"Eu quero dar valor até o calor do sol.
Que eu esteja preparado pra quem me conduz. Que eu seja todo dia como um girassol. De costas pro escuro e de frente pra luz..."
É isso. Está na hora de virar as costas para o escuro, eu quero viver de verdade, eu quero realizar meus sonhos, se eu realmente tenho pouco tempo de vida, quero que cada minuto seja inesquecível, é irônico isso para alguém que tem perca de memória recente, mas e daí? Quero ao menos ter, nem que seja apenas uma, lembrança feliz. Algo que não seja apenas acordar ou dormir.
Eu preciso fugir desse hospital, aquele doutor maluco não entende de nada. Claro que eu insisti para ele me dizer sobre minha próxima etapa, mas quem diz para um paciente que ele vai morrer? Mas por hora, não vamos pensar nisso, deixa esse aprendiz dar as quedas dele, é preciso errar pra aprender. Só espero que ninguém processe ele pela falta de sensibilidade.
Preciso de roupas, mas como eu faria isso? Pensei e pensei, andei pelo quarto, observei algumas pessoas pela janela e me surgiu uma ideia gênial. Eu só precisava dizer que estava com saudades de casa e já que eu não poderia voltar, pelo menos poderiam trazer algumas coisas para eu me sentir mais confortável aqui.
— Olá, vim pegar os pratos — a enfermeira falou entrando, bem na hora — Você já terminou?
— Ah sim, mas eu não estou me sentindo bem... — menti massageando minha cabeça fingindo estar doendo — Acho que ficar sozinho aqui está me fazendo mal, será que pode ligar pra minha mãe e pedir pra ela vir aqui?
— Entendo... Vou falar com o doutor e ver se é possível uma visita agora — Ela falou saindo e depois eu comecei a rir da ingenuidade dela, mas não seria tão fácil enganar o doutor — Hora de fazer um pouco de Drama.
Minutos depois o doutor chegou e eu estava gemendo de dor. Conseguir forçar algumas lágrimas e depois de me examinar, o doutor acreditou que eu estava mal. Ele ligou para minha mãe e pediu para ela ficar um pouco comigo, pois talvez isso me deixasse um pouco mais calmo. Aproveitei a situação para pedir a ele, que ela trouxesse meus cadernos para eu escrever e algumas roupas para eu me sentir "em casa" já que não podia estar lá. Então foi assim que meu plano correu perfeitamente.
Eu sei que essa não é a melhor versão minha, eu não queria enganar ninguém. Mas já que todos querem acreditar que vou morrer, pelo menos eu deveria ter a chance de aproveitar mais minha vida e não passar o resto dos meus dias em um quarto, esperando a sorte de ficar melhor ou não acordar mais.
Minha mãe chegou algumas horas depois, conversamos bastante, ela contou como estava sendo o dia a dia dela em casa, as vezes a Senhorita Samatha, a vizinha, aparecia para conversar com ela, seu sutaque era forte, embora falasse português, por morar nos Estados Unidos, era difícil compreender os argumentos dela. Porém quando a Sammy a visitava, tudo era divertido e ela não se sentia tão sozinha. Depois de algumas horas, minha mãe precisou retornar, logo iria escurecer e eu disse a ela que era melhor ela dormir em casa, mesmo questionando, ela resolveu ir.
Todas as luzes dos quartos do hospital, estavam sendo desligadas, assim os pacientes dormiam mais tranquilos. Alguns funcionários estavam indo embora, logo, logo seria minha deixa para fugir. Afinal, pra que esperar amanhecer não é? A noite é uma criança. Me vestir, ajeitei a cama e o cobertor para não parecer óbvio de início, que eu tinha fugido. Por sorte meu quarto era no 2° andar, eu não iria me machucar se pulasse a janela.
Quando a enfermeira visitou meu quarto pela última vez, esperei seus passos se distanciarem, olhei para o quarto e pensei na loucura que eu iria fazer, se eu dormisse, cochilasse até, já era pra mim. Mas eu sabia para onde iria, só precisava saber como chegar lá. Sim, eu não vou mudar de ideia, hora de fugir e mudar minha vida, minha história vai começar agora.
Eeitaa, o que acham desse mini surto de loucura do Richard? Vocês tem uma ideia para onde ele vai?
Estou animada para os próximos capítulos hein! Curtam e Comentem, até o próximo!
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