I

Nunca pensei que pisaria nessa cidade de novo. Ainda mais em pleno verão como era da vez que sai daqui.

Quando eu resolvi deixar tudo para trás há dez anos, imaginei que seria para sempre. Apesar de que eu aprendi da pior forma possível que o "para sempre" sempre pode acabar...

Controle-se Elisa!, repreendo a mim mesma em pensamento.

É só pisar nessa maldita cidade que meu cérebro resolve se lembrar de coisas desagradáveis do passado.

Sigo meu caminho até o lugar que costumava ser o meu lugar favorito no mundo até a adolescência quan-do foi estragado como tudo aquilo que um dia cheguei a sonhar. E tudo por causa dele.

Chega, Elisa!

Tento focar todos os meus pensamentos para o único objetivo que me trouxe de volta a essa cidade ridícula, afinal, sou uma mulher adulta de 28 anos que tem uma cabeça completamente diferente da Elisa adolescente!

Chego ao meu objetivo e, por alguns segundos minhas pernas querem me trair e fraquejam, mas não, Elisa Fernandes não fraqueja! Pelo menos não mais.

Entro no parque que eu costumava amar e sigo em direção à mansão onde o advogado do seu Antenor me espera.

Eu ainda não acredito que ele morreu, não acredito que aquele senhor que eu aprendi a amar como meu próprio avô tenha morrido tão de repente. Ele sempre me pareceu tão forte e saudável apesar de ter mais de 70 anos. E um infarto o levou.

Chego à mansão rapidamente, conheço o lugar como a palma da minha mão. Eu sempre ia até o seu Antenor para lhe fazer companhia ou ajudar a cuidar do jardim e do parque. Sabia que ele se sentia muito sozinho depois da morte da esposa e quando a única filha do casal também faleceu, achei que ele não suportaria, mas ele sempre me surpreendia e dizia que Deus sabia de todas as coisas e tudo era dEle, então, Ele tinha o direito de pegar de volta assim como aconteceria com ele um dia. E aconteceu.

Seu Antenor era mais próximo à mim do que meu próprio pai. Eu vivia mais aqui do que na minha própria casa porque sempre era muito bem-vinda. Eu fazia com-panhia para ele e ele para mim, às vezes só sentávamos em cadeiras confortáveis para ficar admirando o jardim. Seu Antenor sempre disse que eu lembrava muito a sua filha quando ela tinha a minha idade e eu sei que o carinho que ele sentia por mim era completamente ver-dadeiro. E recíproco.

O problema é que eu já não gosto tanto assim de estar aqui. O lugar que costumava ser como o paraíso para mim, acabou se transformando um inferno por causa de uma única pessoa.

Afasto esses pensamentos novamente e toco a campainha da mansão. O mordomo, Sérgio, abre a porta e me saúda com alegria. Senti falta desse cinquentão careca e sorridente que sempre me tratou com gen-tileza. Dez anos se passaram e seus olhos continuam gentis, os poucos cabelos que ele tem na lateral da cabeça estão grisalhos agora e ele tem marcas de riso profundas, assim como as ruguinhas nos olhos.

— Elisa! Há quanto tempo! Sinto muito que seja nessas circunstâncias, mas estou muito feliz em revê-la — Sérgio me abraça e eu retribuo de forma rápida, sempre gostei dele, mas não sou mais tão fã de contato físico assim, na verdade, não fã de nada seja afetuoso.

— É bom te ver também, Sérgio. Lamento muito a morte do seu Antenor.

— Todos nós lamentamos. — O careca solta um suspiro profundo. — Venha, vou te levar até o senhor Hermano, ele está esperando por você.

Sérgio me leva até o lugar que reconheci como a antiga biblioteca do seu Antenor. Na cadeira onde ele costumava ficar, junto da mesa de madeira maciça que ainda tem alguns livros que eu reconheço espalhados, vejo um homem de terno e gravata, uma barba rala e com uns 30 anos no máximo. Lindo. Sexy. São as palavras que ecoam na minha cabeça assim que ele me olha nos olhos.

— Bom dia! — Ele cumprimenta com um sorriso de perder o fôlego. — Você deve ser a senhorita Elisa Fernandes, eu presumo.

— Presumiu certo — falo, já me sentando na cadeira disposta em frente à mesa, bem na direção em que o bonitão está. E esse sotaque latino? Eu defini-tivamente preciso experimentar um latino. — E você deve ser o advogado, estou certa? — Faço charme e lhe dou o meu melhor sorriso lascivo.

— Corretamente — ele sorri de volta. Se conti-nuar assim, não serei capaz de me conter. — Hermano Gonzalez, ao seu dispor. — Ele deixa o sotaque mais aparente.

— Hum, latino... — Digo mais para mim mesma.

Meus olhos o percorrem sem vergonha, minha visão se delicia até onde a mesa me permite olhar. Seus ombros largos, peitoral — que dá a impressão de ser tão firme e maciço quanto a mesa que nos separa — e os olhos castanhos escuros transmitem toda a confiança que eu já notava em sua postura. Que homem!

  Ele não parece se importar com a minha "inspe-ção". Muito pelo contrário, parece que também me olha com a mesma intensidade.

Até que uma tosse forçada nos interrompe.

— Vai precisar de alguma coisa, senhor? — Sérgio pergunta ao latino.

— Não, Sérgio. Obrigado.

— Elisa?

— Ah, não. Eu estou bem, Sérgio. Obrigada.

Ele assente e sai me deixando à sós com o gatão latino. Eu quero esse homem!

Bạn đang đọc truyện trên: AzTruyen.Top