5.
Beatrice Coleman, Scarlett White, Briella Quinn, Diane Madison e Lillian Reeve, eram os nomes das garotas quais eu pretendia nunca esquecer. Naquela manhã, todas as cinco se dispuseram a deixar seus compromissos de lado, no ponto de ônibus, para me trazer ao hospital.
Depois de devidamente apresentadas, por mais que conversássemos, minha cabeça ainda processava a informação impossível de esquecer que a Dra. Madison havia me dado.
— Doutora?— A chamei de forma sutil, quando Mabel se aproximou ao lado de um homem alto, loiro e que olhava de forma preocupada para mim. Deveria ser seu marido.
— Andrea?— Ela sorriu.— Se sente melhor?
— Sim, doutora. — A olhei depois de um tempo, apesar de constrangida pelo homem que exalava poder.— Só não sei o que fazer. Mesmo. Mais um motivo para o meu pai me matar. Eu não tenho nada. — Engoli o choro que começava a formar em minha garganta.
— Você pode começar contando pra gente. — A garota menor e de cabelos vermelhos, Lilli, acariciava minhas mãos. — Talvez possamos te ajudar...
Não consegui olhar nenhum deles nos olhos. Seria terrível ter que expor, para tantos desconhecidos, que eu havia engravidado de outro desconhecido.
Para minha sorte, a garota que havia se apresentado como Beatrice Coleman se aproximou de nós, abocanhando um hambúrguer magro e tomando suco de laranja em um copo com canudo.
— Oi...pai.— Ela cumprimentou o homem, e só pude respirar normalmente quando ele me deu as costas para abraçá-la. Talvez fosse sua presença paterna que me intimidasse tanto. Os dois trocaram algumas palavras em tom baixo.
— Tem algum parente ou amigo seu que pode vir te buscar?— perguntou Scarlett, ajustando melhor o distintivo que usava debaixo da jaqueta. Ela tinha um ar protetor, o que era compreensível considerando que era policial, mesmo que não tenha anunciado. Eu tinha certeza.
— Ou seu namorado. — sugeriu Lilli.
— Eu não tenho...um...namorado....— Desviei meus olhos de todos quando senti que eles me trairiam e começariam a lacrimejar, me lembrando novamente do problema que eu tinha em mãos ou, melhor, no ventre.
— Sem querer ser a mãe chata... Diane, agora que ela está bem, você não deveria estar na escola?— Disse a doutora Madison, e então me lembrei do quanto eu estava atrapalhando a vida de outras pessoas. Me senti péssima.
Diane olhou seu uniforme e sorriu frouxo.
— É verdade.— A menina sorriu com os olhos para mim, e então tocou meu ombro. — Podemos fazer o seguinte... Vamos pegar o número umas das outras e então, se Andrea se sentir confortável para nos contar, nós nos encontramos novamente.
—Pode ser. Eu também tenho que ir para a escola.— Lilli se levantou e se dispôs a pegar os números de telefone. Eu só conseguia oferecer um sorriso para elas, porque meu coração estava a mil.
— Andrea, a doutora Madison vai assinar sua alta após o almoço, e talvez você precise descansar antes de encarar a realidade, seja ela qual for.— Briella me entregou um copo d'água antes de continuar.— Você disse inconsciente que está fugindo do seu pai. Se sente confortável em voltar para casa?— Perguntou, e só de me lembrar do desespero que foi aquele momento, tremi, fazendo que não com a cabeça. — Certo, então você pode vir comigo, se quiser.
Arregalei os olhos, surpresa.
— Mas, você não tem que ir para a escola? — Minha voz saiu um pouco mais trêmula do que eu pretendia.— Minha presença não vai incomodar seus pais?
Briella sorriu de forma reconfortante.
— Não, eu faço faculdade a noite. E não moro com meus pais, sou nova na cidade e estava procurando mesmo uma companhia naquela casa.
Senti um pingo de esperança invadir meu peito. Não estava tudo perdido, afinal de contas.
— Eu aceito, então. — Limpei o canto do olho que escorria uma lágrima, grata e encantada pela simpatia de Briella Quinn.
— Ótimo garotas, agora que está tudo resolvido, só posso dizer que a atitude de vocês foi muito bonita. — Ela ajustou o jaleco no corpo.— Tenho outros pacientes por agora, mas volto em algumas horas para assinar sua alta, tudo bem?
Antes que ela se virasse, segurei sua mão, mas só comecei a falar quando as outras se viraram para pegar suas coisas.
— Doutora, eu...— Involuntariamente, apertei sua mão. Estava preocupada.— Temos um problema.— Mabel Madison se aproximou de mim para que pudéssemos falar mais baixo.— Eu não posso pagar pela...
— Deixa isso pra lá!— Pensei que o assunto fosse apenas entre nós duas, mas Beatrice se agachou ao meu lado na poltrona, com olhos radiantes.— Preocupe-se apenas com sua recuperação, tá bom?
Fiquei confusa, e vi que o pai dela, assim como a doutora, caminhavam e conversavam rumo ao balcão.
— Hm, é, mas...
— Sh...— Ela insistiu, e então deixou uma sacola ao meu lado.— Aí, seu lanche, trate de comer. Fique bem, Andrea.
E então Beatrice me deu as costas, me deixando sozinha no corredor e caminhando em direção a saída do hospital.
Me encostei na poltrona, sentindo finalmente o ar ser filtrado em meus pulmões. Apesar de toda a circunstância não ser a melhor, eu conseguia reconhecer que meu pedido feito no meio da rua fora acatado. Eu havia ganhado cinco anjos para cuidar de mim.
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Dividir uma casa com Briella era legal. Nós havíamos conversado um pouco melhor sobre a minha situação, e embora eu não tenha contado ainda sobre a gravidez, ela não me pressionou com o aluguel nem outras despesas, pois sabia que toda a minha renda vinha da Tractor Dior e agora eu precisava procurar por outro serviço. Além disso, pegamos algumas roupas que combinaram perfeitamente comigo no bazar da rua de baixo.
Faziam duas semanas que eu estava morando com ela, e naquele momento, debatiamos sobre crepúsculo.
— Eu ainda acho tudo meio apelativo, porém...— Briella pensou um pouco, guardando os cadernos na bolsa.— É, eu acho que curtiria essa coisa de ser podre de rico e morar em uma floresta, é meio misterioso, e até sexy.
Ri alto.
— Se eu pudesse escolher, seria a Rosalie. — Declarei, levando à boca a última colherada de sorvete de morango que a Quinn havia comprado especialmente pra mim.
— Ah, não, você seria tipo uma Bella. — Ela vestiu sua jaqueta jeans. — Eu seria a Rosalie.
— Isso não é justo, eu disse primeiro!— Nós rimos, mas a campainha tocou, interrompendo nosso momento. — Vai de carona para a faculdade hoje?— Questionei, já que ela estava de saída e nós não recebíamos visitas. Briella franziu o cenho.
— Não.— Me olhou, confusa. — Espera aí.
Enquanto ela abria a porta, comecei a lavar a colher e a vasilha do sorvete.
— Oi, posso te ajudar?— Briella perguntava para algum desconhecido.
— Desculpe o horário.— Eu poderia reconhecer aquela voz em qualquer lugar do mundo.— Eu gostaria de falar com Andrea Dior, ela está?
A mulher que me hospedava o avaliou primeiro, até decidir que ele era jovem demais para ser meu pai.
— Quem quer saber?
— Ah, perdão.— Ele estendeu sua mão direita para cumprimentá-la.— Eu sou o...
— Blake.— Corri para a entrada, a fim de impedir que ele a seduzisse tão rápido quanto fez comigo. Ele fazia isso constantemente e sem qualquer intenção.— Como me achou?
— Ah, ok.— Briella riu.— Bem, Andie, como é pra você, eu vou...saindo.— A Quinn alternativa o olhar entre mim e ele.— Por que não convida o seu amigo para entrar e...
— Não, não...— Passei pela soleira ao lado dela.— Conversaremos na varanda mesmo. — Briella fechou a porta, sentindo a tensão quase palpável entre nós dois.— Boa aula.
Ela sorriu forçadamente.
— Obrigada. Boa...conversa.— E então ela nos deu as costas, caminhando rumo ao ponto de ônibus.— Qualquer coisa, me liga!
Blake e eu nos encaramos por alguns segundos, e então percebi como ele ficava espetacular no pôr do sol. O Dempsey parecia uma obra de arte ambulante, e se nosso filho ou filha fosse igual a ele, eu seria imensamente feliz.
— Andrea, eu...
— Como me achou?— Questionei de novo, sentando-me em uma das cadeiras e colocando a almofada sobre minha barriga. É, eu sei, não dava pra notar ela, mas Blake era muito inteligente e perceptível, e eu não poderia correr o risco.
Ele manteve distância, e apenas se virou, ainda em pé, para me olhar.
— Andrea, eu fiz alguma coisa para você?— Blake coçou as sobrancelhas.— Se foi sobre a piada de você ser vegetariana eu, eu não pensei que fosse se ofender com...
— Não sou vegetariana. Não me ofendi. — Ele pareceu aliviado. — Por que acha que fez algo pra mim?
— Bem, porque... nós nos encontramos três vezes na vida, e duas delas você pareceu fugir de mim, como agora, fazendo de tudo para me afastar. Eu fiz alguma coisa que você não gostou?
Olhei para baixo, e finalmente consegui olhá-lo nos olhos.
— Você nunca fez nada ruim, Blake. — Confessei. — Me desculpe se passei essa impressão. Gosto demais de você, mas acho que não devemos ser mais próximos que isso.
— A primeira parte me deixa tranquilo e a segunda me aborrece um pouco. — Ele se permitiu puxar a outra cadeira. — Mas não estou aqui para falar sobre nós dois. Estou preocupado com você.
— Por...por que você se preocuparia comigo? Estou ótima! — Eu já começava a sentir minhas mãos soarem.
— Andrea eu fui na Tractor Dior no caminho de volta do Arizona. — Confessou. — Um dos funcionários, acho que Hudson, me contou o que aconteceu. Você saiu fugida da sua casa, enquanto estava doente e nunca mais voltou! Isso não é algo a se preocupar?
— Ah, isso. — Sorri, aliviada. — Eu estou bem. Sair de casa e da oficina foi a melhor coisa que me aconteceu. Hã...— Ele não parecia acreditar. — Colby tem me procurado?
— Não. — Isso parecia deixá-lo frustrado.— Quando perguntei por você ele disse que não quer te ver nem pintada de ouro. Sua amiga Max está trabalhando lá agora. Por incrível que pareça, ela não me contou nada sobre você.
— Ela não é minha amiga. — Não pude deixar de transparecer certo rancor na voz. — Se ninguém sabia sobre mim, como me encontrou?
— Sou capaz de ir até o fim do mundo pra conseguir o que eu quero, Andrea. — Quando ele disse isso, borboletas se enlouqueceram em meu estômago. — E a ideia de imaginar você sozinha vagando pelas ruas de Columbus, desprotegida, me deixou assustado.
— Ainda não explicou como me achou. Se você pode me achar, Colby também pode, então tenho que dar um jeito nisso.
Ele respirou fundo.
— Não, ele não pode. — os olhos de Blake brilharam. — Você não me respondia mas não me bloqueou nas redes sociais. Vi quando postou uma foto com a Briella e eu sabia que a conhecia de algum lugar. Foi só hackear o sistema da faculdade, encontrar ela na lista de alunos de economia e procurar pelo endereço.
Precisei de algum tempo para digerir a informação de que alguém havia feito tanta coisa para me encontrar.
— Bem, como pode ver...— Abri os braços. — Estou ótima.
— Você vai ficar por quanto tempo aqui?
— Não sei.
— Tem pra onde ir quando precisar?
— Não estou pensando nisso agora. O que quer dizer?
Blake coçou os cabelos, e então olhou longe, vendo que a noite já havia banhado o céu de Columbus.
— Só quero que saiba que não está sozinha, Andrea. Sei como é essa sensação de que ninguém no mundo se importa, mas eu me importo. — Ele parecia sincero. — Se precisar de qualquer coisa, pode me mandar mensagem ou me ligar. De verdade, Andrea, estou aqui por você, ta bom?— Ele tocou meu braço, e então comecei a chorar.
— Obrigada.
— Não eu não queria que você...— Ele se levantou rapidamente e me abraçou como pôde.
— Obrigada Blake. Vou parar de ignorar você, eu prometo. — Nós rimos, e então ele ergueu meu rosto para me enxergar melhor. — Você é um... ótimo...amigo.
Ele piscou várias vezes.
— Somos amigos. Que bom. — Declarou, me abraçando brevemente de novo. — É, então eu, eu... vou indo. Tem o meu número. Até mais.
E ele saiu, desnorteado, para longe de mim.
Quando me vi sozinha, decidi que não aguentaria mais lidar com aquele segredo, porque ele não esperaria minha boa vontade para aceitar e não pararia de crescer por isso.
Me coloquei de pé, e decidi marcar um encontro com as meninas do ônibus para pedir por um conselho.
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