4.
Precisei de alguns minutos para processar o que havia acontecido. Agora, meus olhos estavam bem abertos e minhas mãos tremiam.
— O que...do que você está falando?
— Do que eu estou falando?— Ele riu ironicamente e se aproximou, me fazendo encolher novamente. — Vi a dona Ruth essa manhã no caminho da casa do pastor. E adivinha? Ela me perguntou de você. Tem quase cinco meses que ela não a vê, Andrea, então me explique como vocês duas ficaram conversando no supermercado por horas naquele dia se ela não estava lá?— Ele gritava cada vez mais alto, e então precisei fechar os olhos.— Quando questionei ao pastor se a Maxine havia te buscado aquele dia, ele disse que não porque ela estava na faculdade!— Gritou. — Como é possível isso, me diga, Andrea?
— Pa...pai eu posso explicar.— Gaguejei.— Ok, tudo bem, nenhuma das versões é a certa mas eu juro que havia um propósito bom para aquela noite.— Solucei, assustada.— Eu precisei levar a Max porque ela não podia dirigir na volta e então...
— Não blasfeme contra a filha do pastor!— Ele rugiu mais uma vez, socando a pia que eu estava encostada.— Não se envergonha de mentir dessa forma, garota?— Seus olhos estavam vermelhos.— Ele a acordou para tirarmos a história a limpo e Maxine chorou dizendo que você pegou o carro para encontrar um garoto que está obcecada, sabe-se lá onde!
— Ela disse isso?
— Você dormiu com esse rapaz, Andrea?— Perguntou, tão perto de mim que pude sentir o hálito de cigarro.
— Pai, a Max mentiu, eu não peguei o carro dela para ir atrás de um garoto, eu estava com ela para trazê-la de volta da festa porque ela havia bebido.
— Pare de mentir!— Ele repetia. — Maxine tem apenas dezessete anos. Você que deve ser uma péssima influência pra ela. Meu Deus, onde foi que errei?— Colby se afastou um pouco, me deixando respirar. — Sempre fiz de tudo pra você, Andrea. Você cresceu na igreja, tem tudo do bom e do melhor, tem toda a minha atenção e ainda sim é uma alcóolatra, mentirosa, uma...uma prostituta. Sua mãe se envergonharia se...
— Não diga o que a mamãe sentiria porque você não sabe!— Pela primeira vez em toda minha vida, levantei a voz para ele.— Você. Não. Sabe.— Repeti. — A mamãe era amorosa e acolhedora, e você nunca conseguiu chegar aos pés dela então não diga o que ela faria. Tudo que você fez depois que ela morreu foi resmungar e jogar todas as obrigações de um adulto em cima de mim! — Eu chorava.— Eu tinha só doze anos...e você exigiu de mim a força que não teve para superar a perda dela. Sente falta da sua esposa, pai? Case-se de novo. — Limpei minhas lágrimas.— Já eu não posso ter outra mãe!
— Deixe de ser ingrata. — Colby tornava a esbravejar. — Você tem uma casa, comida, roupas e um emprego graças a mim. Te dou tudo que você precisa.
— Claro.— Vociferei.— Uma casa para limpar, sua comida para cozinhar, suas roupas para lavar e depois de tudo isso, ainda tenho que fazer o favor de cuidar de quatro homens para você naquela oficina.— Coloquei as mãos trêmulas sobre o rosto, nervosa demais com toda aquela situação.— Já parou pra pensar que talvez eu precise de um pouco de amor, pai? Que talvez eu queira fazer uma faculdade? Ou, no mínimo, que eu precise ir ao médico? Você não me enxerga além dos seus interesses. Você não me vê.
Colby Dior me deu as costas e respirou fundo.
— E essa é a sua desculpa para desonrar seu pai e me fazer de palhaço na frente da igreja, do trabalho e da vizinhança. Parabéns.
Alguns segundos de silêncio se estenderam.
— Pai, eu...
— Não sou o seu pai!— Colby ergueu uma das cadeiras e a jogou no chão, desfazendo-a por inteiro. — Saia daqui, sua vadia! Saia agora!
— Mas pai, olha...
— Saia, Andrea! Antes que eu acabe com você!
Quando ele alcançou outra cadeira, meu instinto foi correr. Assim que passei pela porta da entrada, o móvel seguiu em toda velocidade para a rua e eu não pude acreditar que ele arremessaria em mim. Corri para o mais longe que pude, até sentir minhas pernas doerem e o meu ar se esvair, mas não conseguia olhar para trás. Sentia que, se ele tivesse pegado a arma, atiraria em mim, então não conferi se Colby me acompanhava, apenas segui desnorteada pelas ruas.
Eu não olhava mais o relógio, mas presumo que minha fuga tenha se estendido por vinte minutos até minha primeira parada. Encostei em uma caçamba de lixo e respirei fundo, me permitindo chorar. Além de não saber para onde ir, a única pessoa que eu confiava no momento havia me traído e minhas náuseas voltaram com tudo, me deixando tonta. Dobrei meu corpo para tentar conter a sensação ruim.
— Meu Deus. — Murmurei, segurando o escapulário em meu pescoço com toda a força do mundo. — Sei que não sou a sua pessoa favorita. Na verdade, acabei de descobrir isso, mas por favor, não me abandone. — Solucei. — Por favor, meu Deus, mande seus anjos para cuidar de mim. Não tenho mais nada.
Ergui meu corpo novamente, limpando as lágrimas e, ao me situar no local, tive medo de não estar longe o suficiente de casa. Apressei meus pés para andar mais um pouco naquela manhã nublada.
Mais alguns minutos se passaram até que finalmente encontrei ajuda que não fossem homens em um carro suspeito ou em uma corrida matinal.
— Por favor. — Pedi, me encostando na estrutura do ponto de ônibus. Eu sabia que haviam cinco mulheres ali, mas minha visão turva me impediu de identificá-las. — Me ajudem. — Foi a única coisa que consegui dizer antes de apagar.
❀ • ✄ • ❀
Senti meus braços um pouco dormentes quando abri os olhos, mas pude reconhecer que estava em um hospital.
— Andrea Dior?— Uma mulher que usava um jaleco branco sorriu para mim, e tive certa dificuldade para focalizá-la.— Consegue me ouvir?
— Sim.— Afirmei, balançando a cabeça.— Quem é você?
Ela deixou uma prancheta de lado e analisou o soro ao meu lado antes de responder.
— Sou a doutora Mabel Madison, responsável pelo seu quadro clínico aqui no Hospital Central de Ohio. Também sou mãe de uma das garotas que te trouxe aqui.
— Ah, eu...— Forcei a memória.— Me lembro de algumas pessoas. Elas me trouxeram? Que gentileza.— Tentei me sentar e então ela me ajudou.— Gostaria de agradecê-las, elas ainda estão aqui, doutora?— Eu ainda estava meio atônita.
— Estão sim, as cinco, preocupadíssimas com você.— Dra Madison passou uma das mãos no meu cabelo de uma forma afetiva, qual eu raramente era tocada.— Mas precisamos conversar primeiro.
— Certo.— Assenti.
— Senhorita Dior, quantos anos você tem?
— Vinte.
— Você é casada?
— Não.— Franzi o cenho.— Por quê?
A doutora respirou fundo, se sentando ao meu lado.
— Você tem um namorado em uma união estável?
— Não.— Eu não estava entendendo para onde aquela conversa iria.
— Ok.— Mabel Madison mordeu o lábio inferior antes de continuar.— Quando você chegou aqui, senhorita Dior, foram feitos alguns exames em você já que estava desacordada. Você está desidratada e a pressão também estava muito baixa... tem vomitado muito ou passado por situações de estresse?
— Sim, é.— Concordei.— Doutora...A senhora está me assustando. O que há comigo?
Mais uma vez, ela se permitiu tocar meu cabelo como uma transmissão de afeto.
— Você está grávida, senhorita Dior. De nove semanas. — Disse por fim.— Meus parabéns...
Eu gostaria de ter terminado de escutá-la, mas como isso não estava sob meu controle, desmaiei de novo.
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— Acho que ela está acordando. — Uma voz que eu ainda não identificava estava sobre mim.— É, definitivamente, venham ver.
— Andrea?— Outra voz, dessa vez extremamente fina e doce, me chamava.— Andrea?
— Calma, Lilli.— Outra disse, me deixando mais confusa.— Ela está abrindo os olhos.
— Vocês devem ser as garotas quais eu gostaria de conhecer. — Tentei me sentar, e a moça da primeira voz, que usava uma jaqueta de couro, tinha cabelos pretos e assombrosos olhos azuis, me ajudou.— Não tenho palavras para agradecer o que fizeram.
— Não há de quê.— Outra que tomava um café no fundo da sala, se aproximou. Essa tinha pele preta, cabelos castanhos escorridos e uma beleza exuberante, embora parecesse cansada.— Se sente melhor?
— Ah, que ótimo, aí está ela.— A única mulher qual eu me recordava, doutora Madison, adentrou o quarto.— Tive uma ideia: Que tal colocarmos Andrea para tomar soro ali em uma das poltronas do corredor, hã?— Ela cutucou uma das garotas.— Vamos Diane, me ajude aqui. Vocês são muitas e a senhorita Dior precisa respirar um pouco, vai se sentir melhor ali fora.
De todas que estavam no quarto, apenas a doutora Madison, sua filha e uma menina ficaram para trás, e as outras foram arrumar a poltrona no corredor. Nunca me senti tão acolhida.
— Nós já nos vimos antes?— Perguntei a esta que segurava meu braço para fora do quarto, enquanto as Madison carregavam o soro. — Tenho a impressão que a conheço.
— Deve conhecer.— Ela sorriu, mas seus olhos pareciam cansados e carregavam uma maquiagem pesada. Ainda sim, ela era linda e me trazia tanto conforto no toque que não pude julgá-la.— Muito prazer, me chamo Beatrice Coleman.
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