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ஓீ፝͜͜͡͡Aos poucos tudo deixava de ser escuridão.

Os olhos de Sarah iam ganhando foco à medida que os segundos se passavam, enquanto ela sentia sua cabeça pesada, como se tivesse carregando o mundo todo sobre si. Sentia-se tonta de alguma maneira e as costas um pouco doloridas, talvez por estar esparramada de mal jeito naquele estofado. A audição dela também parecia voltando aos poucos, ganhando cada vez mais enfoque, como o volume aumentado de um aparelho até finalmente chegar no seu cem por cento. O barulho de um motor rangendo tomou sua audição e a base contra sua pele vibrava, portanto ela sabia que não estava em sua casa.

Quando tentou mexer a boca, sentiu que havia algo nela. Sua boca roçava em algo macio e supôs que poderia ser um pano. Tentou mover os braços, mas também não conseguiu, pois havia algo prendendo os seus pulsos. A garota olhou na direção dos bancos dianteiros, percebendo os mesmos cabelos com mechas loiras sentado no banco do motorista, parecendo extremamente concentrado na estrada. No banco do carona, havia outra pessoa com cabelos cacheados. Não dava para ver o rosto, mas chutava que poderia ser o namorado de Jason, assim como Blaine dissera que estaria.

A única vez que vira o rosto do namorado de Jason, fora na foto que estava na parede na casa dos Blackwoods, quando fora ali para ter um encontro com Blaine. Não conseguia se lembrar com todos os detalhes, mas tinha um leve vislumbre com aqueles cachinhos negros e olhos expressivos.

Nesse mesmo momento a última lembrança de quando ainda estava acordada invadiu à sua memória. Ela na frente da casa onde residia, perante o tio do seu namorado, Blaine. A voz grave do homem vibrando contra a sua garganta, fazendo com que ela sentisse um frio na espinha e corresse em direção ao seu carro na esperança de se salvar. Os passos acelerados dele vindo na direção dela e alcançando-a, puxando seus cabelos. O braço dele prendendo o corpo dela contra o dele. A mão com o lenço branco com aquela substância inebriante, fazendo com que apagasse ao inalá-la.

Os braços dela amarrados para trás do corpo dela estavam começando a doer cada vez que o carro balançava mais, enquanto seguia seu curso. De um modo cauteloso ela foi se mexendo à fim de se sentar no banco do carro, mas subir sem usar suas mãos para apoiar o peso do corpo e os braços para distribuir a força, não era uma tarefa tão simples assim, fazendo com que parecesse um peixe ao ser tirado da água se debatendo para sobreviver.

― Olha só quem acordou depois de um longo sono da beleza! ― disse Jason ajeitando o espelho retrovisor interno para conseguir vê-la no banco de trás, enquanto a voz grave dele rasgava os ouvidos da garota como garras em um quadro negro, fazendo com que ela sentisse um arrepio percorrer sua espinha. ― Como foi o sonho bela adormecida?

Jason deu uma risada carregada. Parecia estar se divertindo bastante com o sofrimento de Sarah, que só fazia ter mais nojo do tio de Blaine à cada novo minuto que se passava consciente. Era incrível como duas pessoas da mesma família poderiam ser tão diferentes. No final, nem sempre filho de peixinho realmente era um peixinho. Jason por exemplo, era um tubarão.

Do banco do carona ela pôde ver um rosto surgindo por trás do estofado. Os olhos negros dele estavam curiosos, focando no jeito desajeitado como Sarah estava se sentando no banco. Ele juntou as sobrancelhas para baixo, o que deixou sua expressão um pouco carrancuda, então ele levou uma de suas mãos até o braço de Jason, despejando um tapa que teve um som abafado devido ao tecido da roupa.

― Ai! ― resmungou Jason olhando para o namorado nitidamente irritado. ― O que foi que eu fiz?

― Não precisa ser tão cruel com a garota! ― repreendeu ele e finalmente Sarah pôde ouvir o som da voz do namorado de Jason, que fazia um contraste extremamente grande, pois ela tão leve que parecia como uma pluma agraciasse seus ouvidos. ― Não está vendo que ela está assustada?

― Ai Frederick, às vezes você é tão chato! ― resmoneou Jason com certa irritação em seu tom de voz. ― Não posso nem me divertir um pouco!

― Sei que acha divertido torturar as pessoas com as suas palavras ásperas, mas ainda continuo achando isso tudo desnecessário! ― criticou Frederick balançando a cabeça em negativa. ― Já não basta o fato de que essa pobre moça, vai morrer essa noite?

― Mas acho que ela deveria saber a verdade antes morrer! ― comentou Jason e pelo espelho retrovisor, seu olhar encontrou o reflexo do olhar da garota, que o encarava com os olhos crescentes, deixando em evidência todo o pavor que estava sentindo naquele momento estarrecedor.

― Acho que deveria deixar a última lembrança dela sobre o amor ser bonita! ― manifestou Frederick olhando para Sarah e dando um leve sorriso, fazendo a garota se perguntar sobre o que eles estavam falando. Será que era alguma coisa sobre Blaine? Amor?

― Acho que iria querer saber caso o amor da minha vida fosse um traidor! ― rebateu Jason fazendo uma careta para o namorado.

"Amor da minha vida"? Sarah se perguntou imediatamente. Não poderia perguntar aquilo em voz alto, já que estava amordaçada, então precisava se manifestar de alguma maneira para demonstrar que estava interessada em saber do que o casal estava falando. Precisava ter certeza se aquilo era sobre Blaine. Estava completamente desesperada para entender toda aquela situação no geral. Não poderia morrer sem saber toda a verdade.

Uma onda enérgica tomou conta do corpo da garota, fazendo com que ela tentasse dar uma resposta verbal, mas era completamente em vão, já que a sua voz saía de maneira abafada com o pano fazendo-a engolir cada propagação de som possível, então começou dar pequenos pulos no assento do banco, fazendo com os olhos negros de Jason se voltassem para ela por meio do espelho retrovisor.

― Eu acho que ela quer mesmo saber Frederick! ― observou Jason com um sorriso triunfante ganhando espaço em meio aos seus lábios finos.

Sarah pôde ver novamente o rosto de Frederick se voltando para ela e avaliando-a silenciosamente com os olhos semicerrados. A boca dele estava contraída para um lado como se aquilo o ajudasse a pensar melhor.

― Isso é verdade garota? ― perguntou Frederick por fim ainda um pouco desconfiado. ― Quer mesmo saber a verdade?

Sarah viu o reflexo dos olhos de Jason encarando-a por um instante, voltando o olhar para Frederick no segundo seguinte. As sobrancelhas dele estavam levantadas como se esperasse pela resposta da garota, então ela assentiu com a cabeça de uma vez por todas com todo o entusiasmo que conseguiu. Frederick puxou os lábios para baixo, contraindo um pouco as bochechas. Era como se estivesse sentindo algum tipo de gosto amargo em sua boca, talvez por ter que admitir que Jason estava certo.

― Viu só? ― Jason sorriu de modo jubiloso meneando a cabeça saboreando a sua vitória sobre o namorado que virou-se novamente para a frente e cruzou os braços como uma criança ao ser contrariada. ― Eu sabia que estava certo meu jeito de pensar!

― Claro, claro! ― proferiu Frederick num tom malcontente usando uma de suas mãos para gesticular, balançando para cima e para baixo. ― Você é sempre o dono da razão!

Jason jogou a cabeça para o lado.

― Eu sei que eu ainda ia querer morrer sem saber que o amor da minha vida foi um canalha! ― redarguiu Frederick perceptivelmente chateado. ― Meus últimos momentos seriam bem melhores pensando que fui muito amado!

― Acho que a pirralha pensa diferente de você! ― Jason parecia continuar se divertindo com tudo aquilo.

― Então vá em frente! ― rezingou Frederick encostando no vidro da janela parecendo perder o interesse nessa conversa. ― Conte tudo à ela!

― Então, por onde eu começo? ― indagou ele mexendo os ombros demonstrando toda a empolgação que sentia. ― Não quero dar muitos spoilers antes da grande revelação, sei que a sua gente não gosta muito disso.

Sarah não aguentava mais tanto suspense, então soltou um grito abafado, enquanto mexia seus ombros irritadamente. Se estivesse sem aquela mordaça tapando sua boca, ele com certeza ouviria uma coleção com os xingamentos mais feios que já dissera em toda a sua vida. O feitio zombeteiro de Jason a irritava profundamente, mesmo conhecendo há pouco disso. Nem poderia imaginar conviver com aquilo diariamente. De certa forma sentiu pena do Frederick por ter que suportar aquilo constantemente. Nem em seus pesadelos mais distantes poderia idealizar como Frederick suportava tudo aquilo sem enlouquecer.

― Calma pirralha! ― admoestou ele com um sorriso amarelo. ― Não precisa se descontrolar!

Sarah revirou os olhos, percebendo que não adiantaria nada agir de modo irrequieto, pois Jason não facilitaria seu trabalho. Talvez estivesse gostando de vê-la tão irritadiça. Por fim decidiu que apenas esperaria a boa vontade dele, mesmo que isso custasse sua paciência.

― Bem, como você já deve saber, você vai morrer essa noite ― relembrou ele dando de ombros como se não fosse nada demais, o que deixava Sarah ainda mais assombrada com tanta frieza vinda de uma pessoa apenas. ―, mas esse fato nem é a grande revelação. ― Ele riu. ― Na verdade, o que vem antes é que é ― tamborilou os dedos no volante como se tocasse alguma música em sua cabeça naquele momento. ― Aposto que Blaine nunca te contou o que de fato viemos fazer nessa cidadezinha no fim do mundo, mas como eu sou um sogro barra tio muito legal, vou te contar.

Jason começou a virar o volante, então Sarah sentiu o seu corpo sendo jogado para o lado sob a força da gravidade. Tentou jogar o corpo para o lado contrário para não colidir com a porta do carro e de certo modo funcionou até que voltou a seguir em linha reta como estava anteriormente, fazendo que ela se desesquilibrasse, mas ainda sim conseguisse voltar a se equilibrar.

Sarah via muitas árvores passando pela janela de vidro e pelo modo como o carro balançava, pareciam estar em uma estrada de barro e não no asfalto. Deveriam estar indo para mais dentro das florestas. Não sabia mais se estava em Heavenwood ou não. Temia que nunca mais fosse voltar a ver a cidade onde cresceu depois daquela noite, já que Jason estava tão certo de sua morte.

― Tudo começou quando conheci uma bruxa muito poderosa chamada Sibila há algum tempo atrás, então acabei descobrindo depois de contar a minha triste história de vida, que ela poderia fazer um feitiço para me dar a força de até dez alcateias ― anunciou ele nunca deixando de concentrar o seu par de olhos na estrada. ― Confesso que era uma oferta irrecusável e por um preço bem justo. A única condição era que dez moças virgens fossem sacrificadas na noite da lua de sangue, então pensei, talvez seja uma penitência que eu tenha que pagar em prol de um bem maior.

Sarah estava completamente transtornada com cada palavra que saía da boca de Jason. Era como se as portas do inferno tivessem sido abertas. Não poderia acreditar em tamanha apatia. Como era possível que aquele ser monstruoso conseguisse dormir durante à noite?

― No fim pensei, onde poderia arrumar tantas jovens assim, ainda mais virgens? ― prosseguiu ele gesticulando com uma das mãos. ― Foi então que vi um bando de jovens voltando da escola e minha cabeça se iluminou imediatamente. Eu sabia exatamente o que tinha que fazer. Eu não tinha mais aparência para voltar ao colegial como um estudante para conseguir jovens moçoilas, portanto, como eu já tinha oito filhos adotivos, achei que poderia infiltrá-los na escola, fazendo com que eles, com a boa aparência que tinham, seduzissem pirralhas como você e as atraíssem para o grande sacrifício na noite da lua de sangue.

A cabeça de Sarah estava prestes a explodir com todas aquelas palavras se chocando contra o seu cérebro. Era como se nunca tivesse acordado de um pesadelo. No seu íntimo, implorava para que ainda estivesse com as pálpebras seladas em um sono tão profundo à ponto de fazer tudo aquilo ser real o suficiente para sua mente acreditar que realmente estava ali, com todas aquelas sensações tão vívidas assolando sua pele. 

― Era uma boa ideia, pensei ― continuou ele contando com toda a empolgação que conseguia reunir. ―, mas ainda havia algumas coisinhas que eu precisava ajustar, então organizei todas as minhas ideias até meu plano estar completo. Acabei decidindo me mudar para oito cidades diferentes, todas vizinhas de Heavenwood, inclusive, com meus filhos queridos. Um para cada cidade. Agora adivinha qual foi a escolhida para Blaine? Que rufem os tambores! ― ele fez um barulho de tambores com a boca. ― Isso mesmo. Heavenwood. 

Sarah mantinha não apenas a cabeça em negativa, mas também o seu coração. Não podia acreditar que Blaine poderia ter feito aquilo com ela. Seu ser inteiro estava relutante em aceitar aquela realidade onde Blaine não era bom como ela imaginava ser. Como ele conseguiu mentir tanto tempo para ela? Como ela pôde não perceber que tudo era uma verdadeira mentira? Ela lembrava de todas as vezes que olhou nos olhos dele e sentiu verdade neles, mas talvez toda verdade estivesse apenas nela.

Lembrou das últimas palavras de Blaine no telefone: "Não confie no meu tio Jason e nem no namorado dele". Aquilo deixou a mente dela ainda mais confusa sobre quem deveria estar falando a verdade. Jason parecia ser psicopata o suficiente para mentir de uma maneira calculada, mas ao mesmo tempo pensava em como tudo fazia sentido. As lágrimas queimavam em seus olhos, mesmo que ela não quisesse. O peito dela estava doendo como se fosse esmagado. Implorava com todas as forças que aquilo não fosse verdade, mas caso fosse, seu interior estaria completamente devastado.

― Bem, como o número de filhos que eu tinha era inferior à dez, tive que dar o meu jeitinho ― discorreu ele movendo a cabeça de um lado para o outro. ―, então fiz com que dois dos meus meninos, os mais galanteadores, seduzissem uma menina à mais e dessem um jeito de trazer as duas para o sacrifício. Como eles são bem empenhados, já me ligaram dizendo que tudo correu como o esperado, então a única que faltava era você e como Blaine não podia se arriscar mais, pois já estava sendo procurado, resolvi tomar à frente.

Sarah juntou as sobrancelhas ao achar um pequeno furo no meio de toda aquela história que Jason lhe contara. Se Blaine não estava atraindo-a para fora da cidade para levá-la para o sacrifício, então por que queria tirá-la de casa naquela noite e por que pedira para não confiar no seu tio Jason, caso o encontrasse? Talvez porque soubesse que ele poderia ir até ela. Então será que ele estava tentando protegê-la ou apenas tentando cumprir a tarefa que seu tio lhe havia imposto desde o início?

O som de um telefone tocando ecoou dentro do carro. Parecia com o toque do telefone de Sarah, o que fez ela tentar procurar em seus bolsos, mas não conseguiu achar nada. Ao invés disso, viu Jason segurando um aparelho celular idêntico ao dela. Talvez aquele desalmado tivesse pego do bolso dela, enquanto estava desacordada. Aquilo fez ela ter ainda mais raiva dele.

― Ora, vejam só! ― pronunciou Jason tranquilamente enquanto esboçava um sorriso ferino entre seus lábios, enquanto mostrava a tela do celular dela com um número desconhecido. ― É só falar no diabo que ele aparece. Deve ser o seu queridinho ligando.

Jason abriu a janela ao seu lado que antes estava completamente fechada, segurando o celular contra o vento do lado de fora. Ela viu sua expressão pelo espelho retrovisor e ele parecia completamente sádico. Ela queria conseguir fazer alguma coisa, mas estava com o cinto de segurança em sua cintura, portanto se forçasse um impacto para à frente, não poderia ir muito longe.

― Acho que não vai mais precisar disso depois de hoje! ― declamou ele burlesco, então abriu a mão e a garota viu seu celular caindo em meio aquela floresta umbrosa.

Sarah gritou abafadamente contra o pano em sua boca e começou a se remexer, mostrando toda a sua indignação por ele ter feito aquilo. Jason parecia não se importar nenhum pouco com aquilo, fechando a janela recém-aberta tranquilamente, como se ela nem sequer estivesse ali. Como ele poderia ser tão álgido naquele nível?

― Calma pirralha! ― censurou Jason juntando as sobrancelhas para baixo. ― Não é bom ter apego aos bens materiais!

Jason riu deliciando-se com todo o mal que estava fazendo à Sarah. O peito dela queimava com chamas vívidas do ódio que estava sentindo naquele instante. Ela não se importava se seu celular havia sido jogado no lixo, mas como isso havia sido feito. Jason debochava de uma maneira surreal. Nunca vira alguém ser tão mal em minutos tão constantes.

Cada segundo mais dentro daquele carro parecia como uma visita categórica ao abismo. Queria mais que tudo sair dali. Queria que aquele pesadelo acabasse. Ela fechou seus olhos, pedindo para que quando abri-los, não estar mais ali, mas ao abrir novamente prosseguia no mesmo lugar. Praguejou mentalmente. Sentiu um vazio crescente em seu coração. A esperança de fato parecia tê-la deixado, pois aos poucos temia que não tivesse mais saída. A morte seria o seu destino final naquela noite.

― Olha só, chegamos pirralha! ― anunciou ele enquanto apontava para uma clareira logo mais à frente, onde um chalé com luzes acesas em todas as janelas jazia. ― Bem-vinda ao seu matadouro!

☪☪☪

Jason estacionou o carro assim que se aproximou suficientemente do chalé. O coração de Sarah palpitava com pontadas gélidas dentro de sua caixa torácica, com a certeza de que o fim estava cada vez mais próximo. Em sua boca podia sentir o gosto amargo da bile grudado em sua língua. Não queria morrer, mas parecia ser o único destino reservado para ela naquela noite. Com as mãos e os pés amarrados, não conseguiria ir muito longe. Mesmo que tentasse, sabia que as chances de falha eram exorbitantemente elevadas, tendo em vista que da última vez que tentou fugir, Jason se mostrou bastante ágil para pegá-la.

As lágrimas queimavam os olhos da garota, fazendo com que tivesse que piscar repetidas vezes para deixar que as lágrimas se formassem. O coração dela se apertava dentro do peito com o medo crescente, quase tirando seu fôlego. Ela vincou sua testa fazendo uma breve reza, pedindo aos céus que para que quem quer que a estivesse escutando naquele momento, fizesse uma intervenção para livrá-la da morte eminente.

Jason desceu do carro e também o seu namorado Frederick, que ficou parado de costas para onde Sarah estava. Jason deu a volta no carro e por fim abriu a porta do carro com um sorriso maléfico ornando em seus lábios. Ele se aproximou e desatou o cinto de segurança que contornava o tronco dela.

Por um mísero segundo Sarah sentiu uma vontade excruciante de bater em Jason e mesmo que não conseguisse escapar, pelo menos teria dado uma lição nele, mas como suas mãos e pés estavam amarrados, a única parte livre para combate era a sua cabeça, que poderia ser usada para dar uma cabeçada nele, mas então ficaria com uma baita dor de cabeça após fazer isso, já que não era acostumada. Sendo assim, tudo o que restava era seguir como um cordeiro mudo direto pro abate.

Jason conduziu Sarah para fora do carro, colocando-a de pé, enquanto empurrava a porta do carro para que fechasse, mas sem tirar a outra mão dela, garantindo que ela não tentaria fugir do destino que trilhara para ela.

A porta do chalé se abriu, então três mulheres surgiram ali. Todas elas estavam usando roupas pretas e longas, cobrindo todo o corpo. A única parte à mostra era a mão delas que estavam juntas na frente do corpo. Todas elas usavam um capuz sobre as respectivas cabeça como um manto da noite.

A mulher da ponta direita possuía cabelos loiros que caíam pelas laterais do capuz. Tinha a pele alva e seus olhos eram violetas, brilhando na escuridão. A mulher da direita tinha a pele cor chocolate e era possível avistar seus cabelos negros e encaracolados. Os olhos dela também eram violetas e incandescentes, então Sarah pensou que poderia ser uma condição das bruxas ter olhos violetas. Talvez aquilo fosse uma manifestação clara dos poderes que possuíam.

A mulher entre as outras duas, parecia ser bem mais madura que as outras duas. Os cabelos negros como ébano, caíam pelas laterais do capuz e a pele dela era pálida como a morte. Sarah notou que ela usava um tipo de tiara testeira de prata com algumas pedras dependuradas que balançavam à medida que ela caminhava. Suas mãos estavam juntas na frente de corpo e era possível ver um anel de rubi em seu dedo anelar. Parecia ser um artigo bem caro para ser adquirido por qualquer pessoa, mostrando que aquela bruxa era alguém muito importante, já que as outras duas estavam com as mãos sem nenhum adorno.

A mulher parou bem na frente de Sarah e seus olhos violetas a encontraram. Poderia achar os olhos dela tão bonitos se não fossem tão ameaçadores, fazendo a garota sentir uma pontada no coração. Um nó se formou no fundo de sua garganta, fazendo com que ela precisasse engolir em seco para afastar aquela sensação horrível congestionando toda a sua laringe. O corpo dela só sentiu um pouco de alívio quando os olhos daquela mulher pavorosa, se voltaram para Jason.

― Esta é a garota que faltava? ― questionou ela com certa tranquilamente com uma voz carregada e intimidadora, típica de uma mulher autoritária.

― É ela mesma vossa excelência! ― concordou Jason com um aceno de cabeça bastante sério, como Sarah ainda não o havia visto desde então. Parecia que a mulher intimidava até mesmo ele, um lobisomem poderoso, fazendo com que Sarah sentisse ainda mais temor por aquela mulher. ― A última garota virgem para o feitiço de poder!

― Ótimo! ― proferiu ela voltando a pôr o olhar sobre Sarah que voltou a sentir aquela sensação esmagadora em seu peito, quase como se não pudesse respirar.

A mulher levou a sua mão até a testa de Sarah e com o dedo indicador, tocou o centro da testa dela, falando algumas palavras em alguma outra íngua que Sarah desconhecia. Sentiu uma energia frívola no local onde a mulher estava tocando e por um segundo era quase como se uma agulha furasse sua testa, fazendo com que ela fizesse uma breve careta com o incômodo que sentiu, mas manteve a compostura.

A mulher afastou-se de Sarah por fim, encarando-a mais uma vez com uma das sobrancelhas alçadas. Sarah temia o que a mulher tinha feito com ela. Esperava que não fosse nenhum tipo de veneno ou feitiço da morte. Por mais que estivesse prestes ao seu fim, não queria de maneira alguma morrer.

― Solte-a! ― ordenou a mulher num tom firme.

― Mas senhora ― protestou Jason como se fosse absurdo o que ela estava lhe pedindo. ―, se eu soltá-la, ela vai...

― Solte-a! ― vociferou a mulher tão firme quanto antes. ― Eu estou mandando lobo!

Jason não enxergou outra alternativa a não ser fazer o que a mulher estava lhe deliberando, portanto puxou algo de seu bolso, mas por algum motivo Sarah não conseguiu virar-se para ver o que era, pois era como se todo o seu corpo estivesse travado, então só aí percebeu o que de fato era que a mulher estava fazendo com ela, colocando-a em alguma espécie de transe para que não fugisse quando Jason fizesse exatamente o que ela havia determinado.

Sarah sentiu as cordas sendo cortadas por algo que deveria ser algum tipo de canivete de bolso. Mesmo com os pulsos livres, suas mãos ainda não saíram do lugar. As únicas coisas que conseguia fazer normalmente era piscar seus olhos e respirar.

Jason cortou as cordas da perna e por fim retirou o banco que cobria a boca de Sarah. Se pudesse mover os lábios naquele momento, certamente ela faria, mas seu cérebro parecia estar bloqueando-a de fazer isso. E se sentisse alguma coceira? Teria de sentir aquilo eternamente sem poder dizer nada ou mesmo fazer alguma coisa? Seria uma tortura intermitente. Já não aguentava mais estar naquele lugar com aquelas pessoas diabólicas e nem sequer poderia fugir, pois não tinha domínio algum sobre seu corpo. Estava livre das cordas e da mordaça, mas estava escrava do próprio corpo que parecia travado.

― Agora vão para o pátio esperar com os outros ― comandou a mulher. ― À meia noite quando a lua de sangue estiver em seu ápice, vamos começar o feitiço. Inalva vai levá-los até o local que vos indiquei.

Uma das garotas, a de cabelos loiros, deu um passo à frente assentindo com a cabeça, demostrando aptidão.

― Bem, agora vou aprontar o sacrifício ― revelou ela olhando para mim. ―, afinal de contas, os deuses merecem o melhor que nós temos para oferecer ― disse com um sorriso triunfante surgindo em meio aos seus lábios finos, fazendo com que um frio percorresse a espinha de Sarah, pois o modo como aquela mulher sorria era completamente macabro. Seus olhos a olhando fixo, arrancavam sua alma do corpo. ― Siga-me garota humana!

Sarah não teve outra escolha a não ser fazer o que a mulher impôs, pois seu corpo a estava traindo. Ela não tinha mais nenhum controle sobre si. Cada passo que dava era contra sua própria vontade. Seu coração se contorcia desesperadamente dentro do seu peito com um grito em vão. Sua mente queria correr na direção contrária que aquela mulher macabra, mas seu corpo continuava seguindo-a sem parar. No fim de tudo, percebia que os próprios pés é que estavam caminhando para a sua exclusiva morte e aquilo a assombrava desesperadamente.

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