Epílogo

Reino Celestial; 07h44min/ 29/09/844.

A garota corria desesperada pelos corredores do palácio esbarrando em todos no caminho até a sala de reuniões. Em seus braços estavam várias pastar e papeis amontoados entre seus braços e seu corpo. Depois de correr por mais alguns corredores ela finalmente chegou à sala de reuniões.

Ao vê-la se aproximando, um dos guardas cutucou o outro que tentava escutar a confusão que ocorria atrás das portas. — Ei, aquela não é a Jin? — disse o guarda.

O outro guarda então voltou sua atenção para o corredor. — Sim, é ela mesma. Atrasada como sempre. Vamos abra a porta. — falou o guarda empurrando uma das portas. O outro fez o mesmo, e momentos depois Jin entrou correndo na sala.

As portas então se fecharam. O barulho era alto. Havia muitas pessoas discutindo. Todos os generais do Reino Celestial estavam ali.

Era uma sala circular. No centro da sala, haviam algumas estatuas, e em um lugar um pouco mais elevado, havia três pessoas e um assento vazio.

— O que vamos fazer?! O mundo humano está um caos! Passaram-se apenas poucas horas desde o marco zero, e os demônios já tomaram toda a Tamura. É apenas questão de horas que eles tomarem Murien! — falou um dos generais presentes na sala.

— Sim, ele está certo! Precisamos fazer algo quanto a isso. Não podemos ficar aqui parados enquanto o mundo cai! O que vocês acham que eles farão depois de dominar Zesthirya!? É obvio que atacarão o Reino Celestial!

Os generais começaram a ficar cada vez mais inquietos, até que uma das três pessoas que estavam sentadas no centro da sala se levantou. Uma mulher de longos cabelos dourados amarrados com uma trança, uma armadura prateada com alguns pequenos detalhes em dourado, e uma capa azul. Ao vê-la todos os generais se calaram rapidamente.

O silêncio então tomou conta da sala. Tudo que se podia ouvir eram as respirações tensas daqueles que estavam presentes na sala. Até que aquele silêncio penetrante e pesado foi quebrado por uma voz que ao mesmo tempo em que era doce e gentil, era firme, poderosa e pesada.

— Vocês estão certos, todos vocês. Não podemos ignorar o estado que o mundo se encontra. Se eu pudesse voltar atrás e mudar a minha escolha de separar os reinos, talvez nada disso poderia ter acontecido. Por causa da separação dos reinos, nós não podemos observar o que acontece com o mundo. O titulo de "Deus" parece uma piada agora...

— Minha senhora...

— A única que percebeu o que aconteceria e tentou fazer algo a respeito foi Saphira. E vocês já sabem o que aconteceu. Ela perdeu todo seu poder. No fim até mesmo a Deusa da terra não pôde fazer nada. Parece que é nosso destino falhar. — completou ela. — A decisão a tomar agora é clara: vamos lutar! Contatem o Senhor do Gelo Eterno em Karath. Nós vamos para a guerra, e que essa seja a última!

Os generais então gritaram empolgados e motivados.

— Vocês a ouviram! Preparem tudo, nós partimos o mais rápido possível! — disse um dos generais ali presentes.

Logo após o fim da reunião, um dos Deuses foi até aquela que acendeu a chama da perseverança nos generais.

— Alice... — disse ele se aproximando. — Você tem certeza que irá fazer disso outra guerra?

— Eles já fizeram isso, Eridörië. — respondeu ela. — Saphira está em coma, o aliado dela está desaparecido, noventa e duas mil pessoas morreram e este número só tende a crescer. Isso é uma guerra.

— Eu sei, mas...

— Minha senhora? Perdoe-me por interromper. Eu encontrei os documentos que me pediu. — Disse Jin se aproximando.

— Conversamos depois, Eridörië.

— Mais uma vez perde-me por interromper, meu senhor Eridörië.

— Não tem problema, Jin. Tenha um bom dia.

— O-brigada.

— Venha, Jin. Vamos para outro lugar.

Muito longe do Reino Celestial, na costa oeste de Tamura, Lilith e seus soldados preparavam-se para seguir viagem até Murien.

As tendas cobriam quase toda costa. Haviam ali muitos demônios, e mais estavam espalhados pela ilha. Lilith não estava em sua tenda, ela caminhava pelo acampamento indo em direção a uma tenda que ficava mais afastada das outras. No caminho todos a cumprimentavam de forma extremamente respeitosa e formal.

Depois de caminhar um pouco, a pequena tenda já podia ser vista. Em sua entrada estavam dois guardas vestidos com armaduras pesadas. Ao vê-la se aproximando os dois guardas imediatamente abriram caminho para ela, que ao passar acenou com a cabeça.

Dentro da tenda havia uma cama mais ao fundo, uma mesa com algumas poções, e um armário. Lilith então se aproximou lentamente da cama. Sobre ela estava um garoto de cabelos escuros, Adam. Ele estava em coma profundo. Lilith então se sentou na beirada da cama e pôs sua mão sobre a cabeça do garoto.

— Queria que as coisas tivessem sido diferentes...

— Se as coisas não tivessem ocorrido dessa forma, talvez nós não estivéssemos aqui — Disse um homem vestido de com uma malha escura, longos cabelos brancos e uma voz grave.

— Melaphir, o que faz aqui?

— A senhora não estava em sua tenda, então vim até aqui.

— Espero que tenha boas notícias.

— Sim, eu tenho. Conseguimos oito naves de carga e vinte navios. Com isso nós seremos capazes de chegar até Murien.

— Certo, avise os outros que partiremos ao anoitecer.

— Certo.

Porém Melaphir não foi. Ficou olhando Adam por um tempo enquanto se perguntava o motivo de Lilith mantê-lo vivo.

— Precisa de mais alguma coisa? — perguntou ela.

— Eu estava pensando... por que a senhora o mantem vivo? Ele não tentou lhe impedir de trazer-nos para este mundo?

— Sim, ele tentou.

— Então por quê?

— Por que? Bem, isso não é da sua conta. Se estiver preocupado dele ser uma ameaça em potencial, não se preocupe.

— E-entendido.

— Agora vá. Não se esqueça de falar com o rei Deafhir sobre nossa chegada.

— Certo. Se me der licença...

Ele então saiu da tenda, mas não antes de olhar uma última vez para o jeito que Lilith cuidava de Adam.

"Maldito moleque."

Pensou ele ao sair da tenda.

— Não ligue para ele, Adam. Ele só está com ciúmes. — disse ela para o garoto, que continuou inerte.

A cortina da tenda então se abriu mais uma vez.

— Se esqueceu de algo, Melaphir?

Lilith então se virou para entrada da tenda, porém desta vez era o médio responsável por Adam.

— Dr. Thefh. Desculpe, eu me confundi.

— Não ligue para isso, minha senhora. Todos cometem erros.

Ele então adentrou a tenda e foi até mesa onde haviam algumas poções. — Ele deu algum sinal de melhora, minha senhora?

— Não, nenhum. Ele continua imóvel, alheio a tudo que acontece ao seu redor.

— Entendo. Então ele continuará neste estado por algum tempo.

— Quanto tempo?

— É muito difícil dizer. Ele não tem nenhuma leitura de mana. Ele está totalmente zerado. Ele continuará a dormir até que sua mana seja recarregada, e isso é algo que nós não podemos interferir.

— Entendo...

— Não tenho muitas esperanças se ele irá acordar. Eu... sinto muito, minha senhora.

"Não. Algo me diz que Adam ainda tem um papel a cumprir antes do fim de tudo." — pensou Lilith enquanto observava o doutor preparando algumas poções.

— Certo, vou começar o procedimento. Se não se importar, gostaria que a senhora saísse — disse o dr. Thefh.

— Oh, certo. Deixarei ele em suas mãos — disse ela saindo da tenda.

Ao sair da tenda, Lilith fora interceptada por um dos seus soldados. Ele lhe trazera uma mensagem de Bronn.

— Bom trabalho Bronn — sussurrou ela depois de ler a mensagem.

***

Longe da costa de Tamura, no Reino Celestial, Alice caminhava pelos jardins do palácio ao lado de Jin.

— Você tem certeza que essas informações estão corretas? — perguntou Alice enquanto foleava uma das pastas que Jin trouxera consigo.

— Sim. Eu chequei as fontes muitas vezes para ter certeza.

— Então este garoto Adam é o único sobrevivente do massacre de Tamura, e ainda por cima estava do lado dessa demônio Lilith que causou toda essa confusão?

— As fontes dizem que ele mudou de lado e tentou impedi-la.

— Aparentemente ele falhou feio.

— Sim. Os outros que estavam com ele estão mortos ou desaparecidos. E parece que o exército de demônios está indo para Murien.

— Isso está ficando cada vez pior... — disse Alice fechando a pasta. — Jin, envie uma mensagem para Kartel e Oriel. Diga que tenho uma missão para eles.

— O-o que pretende fazer minha senhora?

— Uma missão de reconhecimento. Quando Kartel e Oriel chegarem passa-lhes para irem ao acampamento na fronteira.

— Certo!

Alice então entregou as pastas a Jin e caminhou para dentro do palácio.

Horas depois, a noite no Reino Celestial foi movimentada como nunca.

Cavaleiros se moviam em todas as direções, as forjas emitiam um forte som de aço sendo forjado. Alice estava na varanda de seu quarto observando atentamente. De repente alguém bateu na porta.

— Alice, eu estou entrando.

A porta então se abriu. Alice se virou e deu um sorriso ao ver quem era. Uma mulher de longos cabelos escuros e olhos azuis, usando um vestido verde claro com alguns detalhes em branco veio caminhando pelo quarto até ficar de frente com Alice, que usava um vestido azul.

— Eliza, já faz um tempo.

— Nem tanto. Só uns trezentos anos, eu acho — disse Eliza sorrindo.

— Não achei que viria tão cedo.

— Bem, quando eu soube que você pretende fazer outra guerra com os demônios, achei que precisaria de sua ferreira novamente.

— Só espero que esta não seja como a última...

Eliza então se separou de Alice colocando as mãos em seu ombro.

— Bem, por hora vou apenas mostrar sua armadura.

— O que? Você já fez?

— Sim! — disse ela exibindo um enorme sorriso. — Vem, vamos vê-la — disse Eliza puxado Alice.

Elas desceram as escadas até a sala de armas e armaduras. Eliza abriu as portas e passou na frente, Alice entrou logo atrás.

Eliza então se posicionou ao lado de um manequim envolvido por um manto branco. — Está pronta? — Perguntou Eliza.

— Pare de fazer suspense e mostre logo.

— Nossa, como você é chata — disse Eliza fazendo cara de brava.

Eliza então puxou o pano. Os olhos dourados de Alice brilharam com a luz da lua refletida pela armadura prateada em alguns detalhes em azul.

— Eu a fiz com as mesmas cores da sua antiga, já que gosta tanto dela. O que achou?

— Está ótima. Você como sempre fez um excelente trabalho.

— Me perdoem por interromper... — disse um guarda ao parar em frente a porta. — Estão todos prontos minha senhora.

— Certo, já estou indo.

O guarda então fez uma reverência e saiu. — Eliza ajude-me a vesti-la.

Alguns minutos depois, Alice passou pela porta da frente vestida com sua armadura. Ao vê-la os soldados fizeram uma reverência. Ela então respirou fundo.

— Esta noite nós iremos e direção a fronteira dos reinos. O Senhor do Gelo Eterno, Aoros se unirá a nós assim como os elfos. Sinto que esta guerra trará consequências terríveis que iram ecoar por toda a Criação. Sejam fortes. Não lutem por mim ou pelo mundo, lutem por aqueles que vocês amam e querem proteger. — ela então puxou sua espada e a ergueu em direção aos soldados. — Pela nossa honra como Deuses!

— Pela nossa honra! — gritaram em coro.

E em algum lugar do oceano que ficava entre Tamura e Murien, naves e navios preparados para guerra iam para Murien, o lugar que tudo realmente começará.

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