As chamas da guerra
10 de maio de 849 da 10° Era do mundo – Planícies de Balor
As nuvens baixas estão coradas pelo sol poente no deserto de areia e pedra devastado por uma batalha que ocorrera aqui alguns dias atrás.
"Como estão às coisas aí?" — ouvi a inconfundível voz grave de Magnos no comunicador em meu ouvido direito.
— Tudo calmo. Nenhum sinal do alvo por enquanto — respondi.
"Certo. Continue de olho".
— Esse é o meu trabalho, não é?
"Há, há! Engraçadinha..." — ele zombou.
"Chega de brincadeira! Fiquem atentos!" — Clarys reclamou. Ela é uma líder bem nervosinha. — "Annie, você é nossa Sniper. Pare de se distrair!".
— Sim, senhora — respondi num suspiro pelo comunicador.
"Duas crianças mesmo..." — a voz irritante de Maglor soou no comunicador.
"Sim, nem dá para acreditar que estamos na mesma party..." — disse Clarys num suspiro. Me surpreende Cacio não ter participado desse momento de descontração.
Nossa equipe está aqui neste fim de mundo chamado Balor para uma missão ordenada por Eridörië, vice-comandante das Valquírias. Segundo ele, o Inquisidor e seus soldados passaram por aqui em direção a Jintra, a capital de Balor.
Nosso grupo é formado por Clarys, a líder; Magnos, o segundo no comando; Cacio, Maglor; e eu, a Sniper, que fora Clarys, eu não suporto nenhum dos outros.
Eu estou posicionada a 1500 metros de distancia dos outros em uma das poucas montanhas – ou morro no meu caso, já que onde eu estava era relativamente meio baixo para ser chamado de montanha – dessa área destruída, um pouco longe, mas eu sou a melhor no que faço. As planícies de Balor, como o nome já diz são uma enorme planície desértica, que agora com a guerra ficou mais desértica ainda.
"O que é aquilo a nordeste?" — ouvi a voz de Cacio no comunicador me trazendo de volta à realidade e apontei a mira para nordeste.
"Fale comigo Annie" — Clarys falou mais uma vez, mas desta vez mais séria.
— É um transporte de carga pesada. Pelo modo lento e arrastado como se move posso dizer que está carregando muito peso. Tem dois soldados humanos na parte de cima, ambos com Blasters do tipo óptico... — falei enquanto analisava.
"Oooh! Desde quando a princesa é perita em transportes de carga?" — Maglor falou irritantemente.
— Ah, cala a boca! — retruquei e voltei a analisar o que via. — Eles estão a 300 metros de vocês e a 1500 de mim. Tem um grupo pequeno de... — fiz uma pausa para contar. — 1, 2, 3... — murmurei. — Oito. Parecem ter implantes cibernéticos pelo padrão que andam.
"Certo, vamos agir. Annie pare o motorista" — disse Clarys mais uma vez.
— Ele já está na mira, é só dar a ordem.
"Ao meu sinal então." — ela fez uma pausa. — "Já!" — consegui imagina-la abaixando a mão como um sinal. Pressionei o gatilho de minha Hecate de cor preta com o dedo indicador da minha mão direita. Senti o bater do meu coração ecoar pelo meu corpo deitado sobre a areia vermelha. Soltei meu dedo indicador que deslizou para fora do gatilho da arma e o soltei. Da ponta do cano uma rajada de luz verde no formato de ponta de flecha. Ela cortou o ar a uma velocidade absurda e atingiu o cara que dirigia o transporte de carga em algum lugar da cabeça fazendo o transporte virar com tudo para direita e bater numa pedra. — "Ótimo tiro!"
Confirmei a eliminação do alvo e minha mão direita se móvel automaticamente para e puxou a haste de recarga da Hecate. — Próximo! — falei friamente para eu mesma. Somente três segundos haviam se passado após o primeiro tiro. Um rifle semiautomático podia atirar continuamente, mas a Hecate não era capaz disso.
Uma coluna de fogo se formou a partir do chão formando um circulo ao redor do transporte de carga e do pequeno grupo de oito que seguia atrás dele. Do impiedoso aperto no gatilho da Hecate foi lançado mais um projétil que cortou a atmosfera amarelada e voou para longe atingindo um dos oito caras que eu suspeitava ter implante cibernético, e eu acertei. O tiro de plasma com mana concentrada o atingiu na cabeça, causando assim uma explosão. A explosão, ao atingir os outros sete com implantes cibernéticos, explodiu-os junto com meu segundo alvo, restando apenas o que quer que esteja escondido no contender preso ao transporte de carga.
Pela mira da Hecate eu vi Magnos avançando cuidadosamente em direção ao transporte de carga com seu machado enorme em mãos. Atrás dele Cacio o seguia com sua lança.
Magnos não usava armadura, apenas algumas pesas de aço encantado aqui e ali; mas Cacio usava uma armadura completa de cor cinza com um pano vermelho preso na parte de trás de cada ombro – idiota exibido.
Posso ver atrás deles Maglor usando uma cota de malha de couro segurando uma espada média, e a seu lado Clarys, que não precisava de armas, pois ela mesma já era uma. Soube que ela sozinha matou um Faltren, um demônio de fumaça e fogo.
Eu observava Magnos avançar junto a Cacio, que era mais baixo que Magnos. Eu sou mais baixa que Cacio, então pareço uma criança perto de Magnos.
De repente o contender que estava acoplado ao transporte de carga explodiu. Dele saíram quatro soltados, e analisando pelo corpo e pelas armas emanando uma energia roxa translucida, posso dizer com segurança que são demônios.
Um grupo de cinco contando com o último a sair de dentro do contender, o Inquisidor. Ele tinha pouco mais que 1,78 de altura. Usava uma armadura negra e em suas costas repousava sua espada, que ele desembainhou ao ver o ataque do nosso grupo.
"Puta merda é ele!" — exclamou Maglor.
"Não percam o foco. Cuidem dos soldados, eu cuido do Inquisidor!" — Clarys ordenou. — "Annie, me cubra".
— Sim.
Clarys então avançou enquanto Magnos abria caminho para ela desferindo um poderoso golpe no chão com seu machado. Uma onde de energia explodiu no chão por um raio de seis metros enquanto os soldados demônio eram lançados para trás.
Clarys passou correndo pelos soldados caídos enquanto lançava bolas de fogo contra o Inquisidor, que as cortou como papel com sua espada.
Ele saltou em direção a Clarys enquanto desferia um golpe vertical no ar. Rapidamente, mirando em seu ombro direito, minha mão moveu-se inconscientemente, recarregando o próximo cartucho, e meu dedo indo direto para o gatilho. O som do disparo ecoou alto, provavelmente chagando até os ouvidos do Inquisidor. Mas por causa de seu elmo fechado, e por estar no ar, ele não poderia esquivar do meu tiro.
Mas fui surpreendida quando ele de repente mudou a trajetória de sua espada e defletiu o meu tiro, que ricocheteou em sua lâmina e se chocou contra o chão. Mas devido a isso, ele estava vulnerável.
Clarys moveu as mãos para frente. Suas mãos brilharam um azul avermelhado e um raio saiu de suas mãos se chocando contra a armadura negra do Inquisidor, que voou até o contender acoplado ao transporte de carga deformando seu aço.
Minha mão direita de moveu-se novamente, recarregando o próximo cartucho, mas meu dedo, voltando para segurar a arma, não foi para o gatilho. Ele já sabe minha localização. Preciso de outro lugar para atirar.
Me levantei ficando de joelhos, mas entes que eu pudesse me levantar, mesmo sem ver pela mira da Hecate, eu vi o Inquisidor investindo contra Clarys mais uma vez.
— Tch! — cerrei os dentes. — Sinto muito Clarys, ele sabe onde estou. Terei que encontrar outra posição para atirar — falei pelo comunicador.
"Certo... avise quando estiver pronta!" — ela disse enquanto aparentemente esquivava de um golpe.
Mordi os lábios e me levantei. Peguei a Hecate, dobrei as duas pernas do suporte e pendurei a alça em meu ombro enquanto ficava de pé. Olhei em volta girando 90° graus, mas tudo que via era uma vasta planície. — Merda!
A Hecate tinha um comprimento de 138cm e estava apoiada pesadamente em meu ombro, o que atrapalhava minha descida do morro. Olhando para oeste, mesmo a 1500metros e a olho nu, posso ver a batalha lá em baixo se intensificando. Permaneci em silêncio enquanto descia o morro.
Deslizei minha mão para a parte de trás da minha cintura, onde estava uma espada curta. Acho que terei que usa-la hoje. De repente avistei uma rocha próxima à batalha – 300 metros aproximadamente – um lugar mais que perfeito.
——§——
Esquivei pulando para trás de mais um golpe do Inquisidor. Ele é rápido, e cada golpe seu tem a força para partir um humano ao meio se esse for atingido diretamente, mas seus ataques são levemente familiares... sempre que ele ataca, um sentimento de deja vù percorre minha mente.
Ele atacou mais uma vez com um golpe diagonal. Coloquei as mãos na frente do meu corpo e conjurei um escudo de chamas. Recuei um pouco para trás por causa do impacto. Ele é forte!
Olhei de relance para o lado, por reflexo eu empurrei o Inquisidor para frente e saltei para trás. Vi de relance o machado de Magnos cortar o ar e vir girando loucamente atingindo o ombro esquerdo do inquisidor, que voou pouco mais de cinco metros para trás.
Aproveitando sua guarda baixa, juntei minhas mãos ao lado esquerdo do meu corpo e conjurei uma lança de fogo. Ela media pouco mais de dois metros de meio de altura. Olhei para ele e o vi vindo correndo com sua lança.
Depois de uma rápida troca de olhares, nós avançamos contra o cavaleiro negro. Minhas habilidades com a lança de fogo só são possíveis porque Cacio me ensinou tudo que sei. Num salto que reduziu a distancia entre ele e o Inquisidor, ao cair no chão com a ponta de sua lança penetrando diretamente o chão, uma onde de energia mágica foi liberada lançando o Inquisidor para trás.
Parei pouco mais de dez metros de onde o Inquisidor estava e joguei minha lança de fogo contra o inquisidor. A lança o acertou de raspão e ele avançou em minha direção.
Cacio entrou em sua frente enquanto investia com a lança contra o peito do Inquisidor, que defendeu o ataque com um simples golpe de espada, e logo depois girou o corpo desferindo um chute diretamente no peito de Cacio, que voou para longe.
Magnos e Maglor avançaram contra ele. Maglor é um ótimo espadachim, mas ele não é páreo para o Inquisidor, mas com Magnos com ele as coisas podem ser diferentes.
Magnos desferiu um golpe diagonal com seu enorme machado enquanto Maglor parava um pouco mais atrás. Sua espada começou a emitir uma aura azul translucida. Ele então desferiu dois golpes no ar, um horizontal e um vertical. Duas lâminas de energia foram lançadas em direção ao Inquisidor, que acabara de defender o golpe de Magnos.
Ao ver as lâminas de energia que Maglor jogou contra o Inquisidor, Magnos saltou para trás. Por um momento achei que as lâminas de energia atingiram o cavaleiro negro, mas esse pensamento passou tão rápido quanto veio.
O Inquisidor avançou contra as lâminas de energia. Jogou-se no chão com um rolamento passando por baixo da lâmina de energia que vinha horizontalmente. Ele rapidamente se levantou e girou o corpo para direita, passando assim pelo lado da segunda lâmina de energia que via verticalmente.
Num salto ao ar, o Inquisidor desferiu um pesado golpe vertical, que ao tentar defender erguendo sua espada horizontalmente para cima, os pés de Maglor afundaram no chão de pedra enquanto sua espada foi quebrada em dois. A lâmina do inquisidor penetrou profundamente o ombro do garoto, mas de repente uma rajada de luz verde em formato de ponta de flecha cortou o ar com um zumbido agudo e atingiu o peitoral da armadura negra do cavaleiro, que recuou um metro e meio para trás enquanto Maglor caia pesadamente sobre o chão de pedra e areia.
Olhei para trás e vi Annie de pé sobre uma pedra triangular com seu rifle em mãos apontando para o cavaleiro negro.
——§——
O meu disparo acertou em cheio o peito do Inquisidor, fazendo-o recuar para trás. Clarys estava a pouco mais de quinze metros dele. Sem pensar duas vezes, e já de saco cheio eu avancei enquanto recarregava para o próximo tiro.
"Pare Annie! Você não pode com ele!" — a voz de Clarys me alertou pelo comunicador, mas eu a ignorei e continuei.
O Inquisidor então avançou em minha direção, mas eu não hesitei. Num salto ele voou em minha direção com espada apontada para o alto. De repente, brilhando sob a luz do sol poente, no lugar onde meu tiro acertou, pude ver uma pequena cratera. É ali!
Apontei a Hecate para o alto e rapidamente, quase que por instinto, pressionei o gatilho. A bala de energia em formato de ponta de flecha brilhando com uma luz verde enquanto cortava o ar. Ela atingiu no alvo. O corpo do Inquisidor desacelerou um pouco, mas mesmo assim ele caiu pesadamente sobre o chão de pedra e areia, fazendo a poeira subir.
O corpo de Clarys se incendiou por inteiro e ela lançou um jato de fogo, que passou a pouco mais de dois metros do meu corpo à direita. Olhei para trás e vi o Inquisidor ser lançado para trás com força por causa do impacto. O jato de fogo deve ter atingido no mesmo lugar que meu tiro.
Parei de correr e meus olhos alternavam entre o corpo de Clarys, que ardia em chamas, e o lugar onde o Inquisidor caiu.
Ajoelhei no chão enquanto recava a Hecate para mais um tiro; a apontei para onde o Inquisidor caiu olhando através da mira. O vento soprou levando a poeira do lugar da queda do cavaleiro revelando-o de pé, mas sua armadura estava danificada.
Ele estava com a mão esquerda sobre a ferida. Ele então olhou diretamente para mim. Meu dedo indicador estava sobre o gatilho apenas aguardando a hora de atirar.
De repente um som de motor cortou o ar e uma nave de Thelari cortou o céu com um rasante e parou sobre o Inquisidor abrindo a comporta de carga. Ele olhou para cima, mas por um instante ele hesitou, mas saltou para dentro da nave. A comporta se fechou e a nave se virou para nós.
Com apenas dois disparos com as armas de plasma sob as duas asas, ela terminou de destruir o transporte de carga juntamente com o contender a ele acoplado. O que será que eles querem esconder.
Senti uma tapa forte na parte de trás da minha cabeça. Quando me virei vi o rosto de Clarys franzido. Ela parecia brava com alguma coisa.
— O-O que foi...? Por que isso?
— Por ser uma irresponsável! — ela retrucou, e logo depois um suspiro escapou de seus lábios. — Temos que voltar e relatar isso. Eles estão tramando alguma coisa.
Assenti silenciosamente enquanto olhava para a nave, que voava em direção a capital de Balor. — Eu vou buscar a nave — falei me virando para ela.
— Aproveite e peça para um Healer estar pronto. Maglor se feriu gravemente. — assenti e me levantei. Olhei mais uma vez em direção a capital de Balor. O que eles estão tramando e por que explodiram o comboio de carga? — Vamos ter muita dor de cabeça quando retornarmos ao QG — ela suspirou.
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