Capítulo I

“Ele era um bom homem,” lamentava Gibbs, segurando o seu chapéu contra o peito enquanto olhava para o corpo estirado na areia, ao lado de uma cova que ele próprio havia cavado. “Ele tinha, é claro, os seus defeitos,” continuou,  “era um pilantra bêbado, afinal, mas ainda assim um bom homem.” Ao dizer isso, choramingou e assoou o nariz na manga da camisa. “Pobre Jack.”

Antes de empurrar o cadáver para dentro da cova, o marujo tratou de checar os seus bolsos. Não encontrando nada neles, praguejou em voz baixa e se contentou em ficar com os seus anéis.

“Sei que compreende, Jack. Não vai fazer muito uso deles de agora em diante,” falou, agachado diante do corpo imóvel enquanto retirava, uma por uma, as joias de seus dedos.

“Então não sabe que roubar de um morto traz má sorte?”

“Pelas barbas de Poseidon!” gritou o marujo, saltando para trás. “Que espécie de bruxaria é essa?”

Ao ficar de pé com certa dificuldade, pois sentia-se um pouco tonto e enjoado, Jack buscou ao redor o seu chapéu, que encontrou caído sobre a areia a alguns passos de distância. Gibbs observava-o com os olhos saltados e gaguejou algumas palavras, fazendo com que o pirata o encarasse.

“O que há, homem? Está pálido. Parece até que viu um fantasma.” 

Ainda confuso, Gibbs esfregou os olhos e, um tanto hesitante, aproximou-se de Sparrow. 

“Jack, é você mesmo? E em carne e osso?” disse, tocando em seu braço com a ponta do dedo.

“Ora, deixe de maluquice. E quem mais eu seria?” 

"Por deus, Jack! Eu por pouco não o enterro vivo. O que diabos aconteceu aqui? Por que estava se fingindo de morto?"

“Eu não estava fingindo," respondeu o outro, sacudindo no ar o chapéu e colocando-o sobre a cabeça em seguida.

"O que quer dizer com isso? Não está me dizendo que voltou do mundo dos mortos, está?” Gibbs deu um passo para trás e fez o sinal da cruz.

"Inclusive estou com a impressão de que não sou muito bem vindo por lá," falou o pirata, acariciando a barba.

“Só digo que acredito porque vi com estes olhos. A verdade é que você estava mesmo direitinho igual um cadáver quando voltei, só faltava enterrar," falou o outro.

"E então, encontrou alguém?... Ou algo?" 

"Não encontrei nada nem ninguém." O marujo olhou nervosamente para os lados e completou: "mas eu diria que é melhor irmos embora logo. Este lugar está me arrepiando todos os pelos."

Enquanto falava, notou que Sparrow já não o escutava. Seu olhar havia de repente se perdido no horizonte.

“O que houve, Jack?” 

“Estou me lembrando de algo…" o pirata o encarou com um olhar vago e distante. "Estou me lembrando do outro lado."

“E como é lá?”

“Vazio...” Então seu cenho se contraiu, como se estivesse tentando lembrar-se de algo. “De repente, ouvi uma voz...” prosseguiu. “Eu não via quem estava falando, mas era uma voz de mulher. Bonita... doce... mas tinha algo de mórbido nela. A voz disse... O que ela disse?” Fechou os olhos, esforçando-se para lembrar. “Ela disse que eu precisava voltar, pois tinha que recuperar o tesouro... Mas isso não faz sentido... Eu trouxe esse maldito tesouro, não trouxe?” Olhou ao redor em busca da arca que haviam trazido até ali, mas não a encontrou. "Tinha mais alguém aqui quando você voltou?” perguntou para Gibbs.

“Não, não havia ninguém. Apenas você caído na areia", respondeu ele. "E agora me recordo também de que o baú já não estava mais aqui quando retornei. Só o que encontrei foi isto.”

O marujo tirou do bolso uma jóia de pedra vermelha brilhante e entregou-lhe.

O colar. Lembrava-se de estar segurando ele quando foi atingido por...

“Anne...” o pirata sussurrou entre dentes, apertando com força o colar entre os dedos. 

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