CAPÍTULO DOZE.
Depois daquilo, nós passamos um bom tempo terminando as nossas pastas e comentando entre si, para ver se alguém notava algum fato não percebido antes por nós mesmos.
Os meninos surgiram um pouco depois. Bêbados, para variar.
― Não vou acobertar vocês ― Karen disse, no mesmo momento.
― Como se precisássemos ― Todd retrucou, sentando-se em seu lugar e pegando a pasta abandonada.
― Vocês estão agindo como imaturos da Audácia ― disse Mischa, com o cenho franzido ― Esperava isso de todos, menos de Pacey.
― Eles me arrastaram para lá! ― o garoto tentou se defender.
― E o que estiveram fazendo? ― perguntei.
― Bebendo, conversando... Paquerando ― Steven começou a rir, como se tivesse contado uma piada.
― Homens ― Petal resmungou, nervosa.
― Me sinto em casa ― Mischa disse, e não parecia estar brincando.
Não conversamos mais, pois Trudie entrou na sala.
― Muito bem! Conseguiram? ― ela perguntou, ansiosa ― Sei que são muitos casos, e muitos não se resolvem apenas em um dia...
― Foi a irmã de Mercie Lewis ― Mischa levantou-se, interrompendo a fala de Trudie e lhe entregando a pasta ― Um acidente.
― Espera! Você pegou um caso de assassinato? ― perguntei, surpresa.
― Bem antigo ― Mischa concordou.
― Esse deu a maior repercussão ― Trudie pronunciou-se, olhando orgulhosa para Mischa ― Mais alguém?
Enquanto Karen e Petal conversavam com ela, falando de seus avanços, eu concentrei-me em minha pasta.
Um caso de adolescente desaparecida, a data era próxima do dia da Cerimônia de Escolha. Os pais eram Edric e Christa Wright, donos de uma loja, os dois eram da Abnegação. Esse caso devia ter uns 50 anos ou mais.
― Eu peguei um caso de desaparecimento ― disse, olhando para Trudie.
― Não são tão raros quanto os de assassinato ― ela disse, com uma feição triste ― Qual?
― Caso Wright ― eu disse.
― Nunca foi solucionado ― ela disse, aproximando-se.
― O que acha que aconteceu? ― perguntei.
― Bem... ― ela deu um sorriso ― É a sua função descobrir. Ou tentar...
― Talvez tivesse alguma relação com outro caso de desaparecimento na época ― disse Karen ― Adolescentes decidindo fugir juntos...
― Se concentra no seu caso, Karen ― Trudie repreendeu ― Parece até que querem mais trabalho...
― Não! ― Nolan e Jesse gritaram juntos.
― Inclusive, garotos ― ela se aproximou deles ― Nenhum avanço? Só as meninas?
Seguramos o riso ao ver a situação em que estavam.
― Estavam ocupados demais paquerando as veteranas ― disse Reilly, venenosamente, fazendo alguns corarem e outros lhe olharem com raiva.
― Meninas, estão liberadas. Vocês ― ela apontou para eles ― Vão resolver as pastas, e eu estarei aqui vigiando.
Saímos da sala, segurando o riso.
― Vão tomar um banho depois! Estão fedendo ― Karen gritou por cima do ombro.
― É permitido a Abnegação ter loja? ― perguntei, estranhada pela nota da ficha.
― O dinheiro deve ser para ajudar, e não duvido que entreguem comida a todos que recorram ― ela deu de ombros, sem dar importância a isso.
― Está na hora de irmos comer ― observou Petal, olhando o relógio.
― De que será o sorvete hoje? ― perguntou Karen, acariciando a barriga.
― Tomara que seja de chocolate ― disse Mischa, sonhadora ― Me lembra os bolos de chocolate da Audácia.
― São bons? ― perguntou Karen.
― São maravilhosos ― disse Mischa, indignada pelo "bons".
Karen apenas deu de ombros.
Perguntei-me qual seria a sobremesa favorita da Erudição, se é que tinha, ou eles pensavam que era prejudicial à saúde. Da Abnegação, não tinha dúvidas de que não existia sobremesa alguma.
― Espero que gostem de baunilha ― disse Karen, depois de terminarmos nosso jantar.
― Um dia eles farão chocolate ― Reilly consolou Mischa.
― Um dia ― concordou Karen, debochada.
― Onde está Trudie? ― perguntei, olhando pelo refeitório.
― Deve estar com os garotos ainda ― disse Karen, cortando um pedaço do sorvete com a colher.
― Pobres garotos ― zombou Mischa.
― Pobre Trudie ― eu disse, solene, fazendo Karen se engasgar.
― Meu Deus! Isso aqui tá muito gelado! ― reclamou Petal, a mão tampando a boca, tentando aquecer um pouco do pedaço que estava lá.
― Esperava o que? ― perguntou Mischa, tranquilamente.
― Algo não tão frio ― retrucou Petal, tentando engolir.
― Eu ainda prefiro picolé, é claro, mas sorvete é muito bom ― disse Reilly.
― Daqui a pouco vocês vão dizer que gostam de mascar gelo ― murmurei, e não me surpreendi ao ver o sorriso "inocente" de Mischa.
Quando chegamos ao dormitório, ele estava vazio.
― Que horas eles vão chegar? ― perguntou Petal.
― Quem se importa ― disse Mischa, com a voz abafada pelo travesseiro.
― Eles merecem ― resmungou Karen,
Troquei um olhar com Reilly, antes de me deitar sob o lençol.
Naquela noite, foi difícil de conseguir dormir. Eu costumava ter insônia há muito tempo, mas as coisas tinham melhorado um pouco com o passar do tempo, já que eu acordava muito cedo na Amizade.
― Por que eles chamam de homicídio culposo? ― perguntou Petal.
Franzi o cenho, olhando para o lado, onde deveria ficar a cama dela.
― O que? ― perguntei, lentamente.
― O nome é homicídio culposo quando não há intenção de matar, mas "culposo" dá muito a impressão de culpa. Deveria ser quando há a intenção de matar... ― Petal começou a divagar.
― Vai dormir, Closs ― ouvi Mischa resmungar.
― Estou sem sono ― ela reclamou.
― Então volta para a sala, resolver aquelas apostilas com os garotos ― sugeriu Mischa.
Escutei como ela descia do beliche e ia em direção à porta.
― Só pode estar de brincadeira... ― Reilly exclamou, tirando o lençol de cima do seu corpo.
― Ela vai ficar bem, sabe o caminho. ― ouvi Mischa lhe dizer, mas a loira não deu ouvidos, seguindo a amiga para fora do dormitório.
― De qual facção a Reilly era? ― perguntei, curiosa.
― Erudição, eu acho... ― disse Mischa.
― Franqueza ― Karen se manifestou, tirando nossas dúvidas.
― Ela não parece ser ― imaginei Mischa dando de ombros, enquanto dizia isso, a parte de cima de seu corpo elevada pelo cotovelo.
― Talvez seja a convivência com a Petal ― eu disse.
― Talvez...
Não vi quando elas ou os garotos voltaram, caí no sono antes disso. Eles devem ter demorado muito...
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