Capítulo dezoito
Não demorei a lembrar o que tinha acontecido e perceber que estava deitada em uma maca, com os olhos fechados.
Eu tinha desmaiado.
― Ei! Está tudo bem ― Karen confortou-me, assim que abri os olhos e sentei-me.
― Eu desmaiei! No meio da simulação ― balbuciei.
― Trudie não vai lhe tirar pontos por isso. Ela só fez aquele teste para provar nossa capacidade de observação ― disse Karen, olhando-me com pena ― Reilly também passou mal com o sangue...
― Não desmaiei por causa do sangue ― disse, rapidamente.
― Então por que? ― ela perguntou, confusa.
― Porque... Não viu de quem era o corpo?
Ela parecia me avaliar, ainda parecendo confusa.
― Você reconheceu o corpo? Nenhum de nós fez isso ― ela disse, franzindo o cenho ― Talvez fosse algo da simulação...
― Ou eu alucinei ― suspirei, deitando-me pesadamente na maca ― Não é algo da simulação, você também o conhecia.
― A gente precisou olhar para aquele corpo por uma hora. Desculpe-me, Aeryn, mas eu não tenho a menor ideia de quem ele é ― disse Karen, negando com a cabeça.
― Então eu alucinei mesmo...
Ficamos em silêncio por um tempo. Ela me olhava fixamente, enquanto eu mantinha meu olhar no teto da enfermaria.
― Quer saber como foi? ― perguntou.
Eu assenti com a cabeça, tímida.
― Tinha um furo na testa, e cicatrizes nos braços. O que significaria uso de objetos cortantes, e uso de uma arma para mata-lo ― estremeci, tentando não pensar na cena, novamente ― Nolan e Jesse ajudaram a descobrir o tipo de bala, e chutaram o tipo de arma de onde veio. Eu e Todd olhamos os vestígios de sangue, a localização onde o assassino estaria quando atirou. Tinha alguns objetos jogados e quebrados no chão.Sei lá! A gente só foi montando, como um quebra-cabeças...
― Deve ter sido muito legal ― murmurei ― Duvido que Trudie faça isso novamente.
― Considerando você e Reilly... É, talvez ela não vá fazer novamente ― concordou Karen.
― Como eles descobriram a bala? Tinha no corpo? ― perguntei, tentando pensar em outra coisa, além do corpo morto de Evan, e o meu desmaio.
― Não! Nós não tocamos em nada, isso mudaria a cena do crime ― disse Karen, como se eu fosse louca por, sequer, pensar nessa possibilidade.
― Está bem! Desculpe ― disse.
― Eles vêm da Audácia, lembra? Eles sabem sobre essas coisas. Eles explicaram, tem a ver com o formato, tamanho e orla do ferimento ― ela explicou ― É algo meio difícil de explicar...
― Não! Tudo bem! Fico feliz de que tenhamos Nolan e Jesse para esse tipo de coisa...
― E Mischa.
― Sim, Mischa... É que você não disse nada dela.
― Ela ajudou muito também. Isso de arma e bala... Tem muitos detalhes. A entrada, a saída, a cor, o tamanho... Nunca pensei que a Audácia fosse ter tanto conhecimento quanto isso.
― Afinal, quem cuida disso? Erudição ou Audácia?
Ela parou para pensar, antes de me responder:
― Olhe, pelo que entendi, a cena é coisa da Audácia, enquanto que o corpo é da Erudição. Nós, tecnicamente, só cuidamos da parte jurídica.
― Foi só pra observação? Mesmo? ― perguntei, para confirmar.
― Talvez algum representante seja enviado, para observar as investigações ― Karen deu de ombros ― Quero dizer, não podemos confiar muito neles, não é mesmo?
― Talvez ― respondi, incerta ― Há quanto tempo estou assim?
― Calma! Foram só... Duas horas ― ela respondeu, olhando para o relógio.
― Ai, meu Deus! Isso é um pesadelo... ― resmunguei ― Do jeito que Trudie está montando os exercícios, devo ter perdido bastante coisa.
― Você logo recupera ― disse Karen, tentando me animar ― Venha! Vamos para a sala de estar.
― Não são aquelas pastas de novo, certo? ― perguntei, nervosa.
― Não! Não se preocupe... ― ela riu ― Da última vez que conferi, era algo sobre a primeira fase. Não! Espere! Terceira fase.
― Já não é a primeira vez que confunde a primeira com terceira ― disse, enquanto me levantava com cuidado.
― Bem, parece que faz anos desde que Trudie deu aquele discurso...
― E não faz nem um mês.
Era pensando nessas coisas, que eu percebia o quanto o tempo passou.
― Eu acho você infantil ― ouvi a voz de Mischa, de dentro da sala.
― Aeryn! ― exclamou Trudie, vindo em nossa direção, ela parecia se sentir culpada por meu desmaio.
― Estou bem! ― garanti, indo para perto da fila.
― Estamos trabalhando com a sinceridade ― disse nossa instrutora, desnecessariamente ― Cada um de vocês dirá o que sente em relação ao outro. Embora, eu sinta que não terá nada de rivalidade, vocês são a turma mais unida que já tivemos em muito tempo.
Até Pacey soltou um leve sorriso com essa fala.
― E você parece um garoto ― retrucou Steven, que estava na frente de Mischa.
Jesse e Nolan tiveram que correr para segurá-la, pois ela parecia disposta a quebrar a mandíbula dele.
― Chega! Chega! ― Trudie gritou, irritada ― Voltem para a fila! Não me obriguem a lhes mandar para ajudar na prisão!
Mischa deixou-se levar pelos amigos, embora seu olhar permanecesse fixo e furioso para Steven.
― Obrigada por sua sinceridade ― ela disse, aos dois ― Acho que já chega por hoje!
― Trudie, quando vamos poder visitar a Petal novamente? ― Reilly perguntou, assim que viu a brecha.
― Comportem-se, primeiro. Logo, eu falo com os médicos e meus superiores ― disse Trudie, com seriedade ― Agora vão jantar.
― Isso tudo é culpa de vocês! ― Reilly reclamou, passando por Steven e Mischa, irritada.
Eles não pareceram perceber, pois começaram a discutir.
― Parecem você e Todd ― eu disse para Karen.
― Não viaja ― ela respondeu ― Eles se odeiam.
― E vocês não? ― perguntei, surpresa.
Ela deu um sorriso enigmático.
― Primeira fase. Treine melhor ― disse, antes de sair andando.
― Ela disse o que acho que ela disse? ― Reilly perguntou, atrás de mim.
― Sempre soube ― dei de ombros, sorrindo.
― Afinal, já sabemos qual é a mentira do exercício ― Reilly parecia ter uma boa memória, melhor que a minha ― Ela disse que já foi apaixonada.
― Sim, a mentira foi que ela "foi", ela ainda é ― concordei.
― É melhor a gente ir, antes que ela nos esgane ― disse Reilly.
― Não podemos mentir, somos francas.
A cada dia mais, eu amava essa habilidade da minha facção.
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