O Nervosismo Provocado Pela Falta De Informação

×Visão de Aaron

– Aaron, têm saído notícias sobre seu possível envolvimento com um rapaz desconhecido. Tem algo a dizer sobre isso? – a repórter me pergunta, antes que eu entre no evento.

– Ele é meu amigo. Um novo amigo, uma pessoa que conheci recentemente.

– Você só era visto andando com seu time ou com Mitchell, correto? – a mulher pergunta e eu faço o que meu pai sempre me disse para fazer: sorrio.

– Correto.

– Então onde vocês se conheceram? Você tem algo a esconder de todos? – ela insiste e meu mundo parece congelar. Eu queria falar tudo pra ela, mas eu não consegui.

– Vamos, filho... – meu pai corta aquela conversa, se aproximando.

– Não, eu não tenho. – respondo pra ela, rápido.

– Tem certeza? Porque a mídia acredita que tem. – ela tenta mais uma vez e vira o microfone em minha direção novamente. Eu me sentia péssimo de estar ali.

– Anda, Aaron, vamos. – meu pai fala e me puxa, enquanto eu saio andando eu encaro aquela mulher, que sorri ao ver que me deixou pensativo.

Dentro do evento de gala, muitas pessoas bem vestidas. Governadores de outros estados e o prefeito, claro. Meu primo, Dylan, cujo eu tinha brigado alguns meses atrás estava sentado na mesa com sua mãe e me observou com descaso por alguns segundos, desviando o olhar em seguida, como se me desprezasse – e eu sabia que provavelmente ele me desprezava mesmo.

– Olha quem chegou! Nosso grande jogador! – o governador do Kansas fala, se aproximando de mim e me dando um abraço. Esse homem parecia gostar de mim de uma forma estranhamente adorável.

– Olá, como vai senhor? – pergunto ao governador do Kansas. De fundo, posso ver Dylan me encarando com um olhar quase sanguinário. Era engraçado como sentir que ele me odiava me dava força para viver mais um dia.

– Eu estou ótimo, finalmente veio... – ele fala me puxando. – Queria te apresentar a minha filha, eu te disse no ano passado que ia te apresentar ela.

– Ah, claro... me lembro. – respondo e ele puxa uma moça, que fica de frente pra mim. Ela era loira, pele clara e tinha olhos escuros.

– Então vão conversar, andem... – ele força e saímos andando.

– E seu nome é... – começo, esperando que ela termine.

– Ellen. É um prazer. – ela responde. Ellen estava com um vestido longo e parecia ser uma moça de personalidade forte.

– Prazer, Ellen. 

– Pode me chamar de El. 

– Eu sou o Aaron.

– Eu gosto desse som de "E" que os "As" trazem ao seu nome. – ela provavelmente já tinha lido a meu respeito e conhecia a escrita do meu nome. Na escola, alguns estudantes imigrantes me chamavam de "Áron" como se o som dos dois "As" juntos intensificassem a pronuncia da letra. Eu cansei de corrigi-los, explicando que a pronuncia correta era "Éren".

– É, é legal... 

– Você parece estar longe. – ela observa, enquanto pega uma taça de bebida.

– Desculpa, é que eu não tô bem hoje.

– É pelo seu namorado? – Ellen pergunta e eu olho para os lados, vendo se alguém tinha escutado.

– O que?

– Eu vi as manchetes sobre o seu relacionamento. 

– Aquilo foi só fofoca... – respondo e ela sorri.

– Eu sei como é ter a privacidade invadida, Aaron. Ano passado aconteceu comigo, eu tava começando a sair com a menina que hoje é minha namorada e eles descobriram. – ela toma um pouco da bebida.

– Você namora? 

– Sim, a Rosie. 

– A cantora? 

– É, talvez por isso tenha vazado. – El dá de ombros, como se não ligasse mais.

– E você, tendo sofrido uma exposição dessa me da algum conselho? – pergunto e Ellen me olha, parecia que ela tinha ficado animada.

– Não fica com medo. – isso acaba parecendo impossível. – Se você acha minimamente tem chance de ficarem juntos, vai em frente, mas não espere que as pessoas vão aceitar tranquilamente, porque não vão. Você tá entrando na idade que a sociedade espera que namore uma moça e forme uma família cheia de filhos para que eles usem como modelo, então vão fazer questão de deixar isso claro sempre. – concordo com a cabeça e ela sorri.

– Boa noite a todos... vamos começar? – meu pai fala e nos sentamos.

O jantar continuou e doações milionárias foram feitas. A todo o momento Mitchell me encarava, mas bastava olhar pra ele, que ele mudava a direção de seu olhar. A mesma coisa acontecia com Dylan e a vontade de vomitar surgia todas às vezes que eu o olhava. Quando o jantar acabou, me despedi da minha nova amiga e fui pra casa com meu pai e minha mãe. Eu não gostava dessa coisa de ver 6 carros saindo juntos e cada um indo pra um lado, pra despistar paparazzi, mas sabia que era necessário.

Quando cheguei entrei em casa, já fui tirando meu blazer e tudo que me incomodava naquela roupa social. Finalmente pensei que teria paz, mas mais uma vez eu estava profundamente enganado.

– Oi, filho. – meu pai fala, entrando no meu quarto. Eu estava sentado na cama, mexendo no celular e me ajeitei para falar com ele.

– O que você... oi pai. – ele se senta no canto da minha cama. Meu pai é preto, um pouco mais alto que eu e forte também. Eu já tinha apanhado algumas vezes dele na infância por ter sido uma criança bem difícil e ele não ser um grande exemplo de paciência e confesso que eu me lembrava bem do peso da mão dele.

Ele nunca tinha me dado uma surra de verdade, mas os poucos tapas que me deu para me corrigir da forma como ele achava ser a certa, já me fazia não querer levar mais nenhum pelo resto da minha vida. Talvez por medo de levar algum de seus tapas novamente eu tenha acabado me tornando o "certinho" que Mitchell tanto critica. Mas sabe... se isso me fazia ser uma boa pessoa, já me sentia bem. A última pessoa que eu queria decepcionar era o meu pai.

– Sua mãe me disse que você está mais agressivo depois que começou a falar com aquele rapaz. – de cara me sobe uma raiva difícil de controlar. Custava falar a verdade pelo menos?

– Pai... não é verdade, eu fiquei agressivo mais cedo, porque ela me chamou de Tyler.

– Você sabe que foi ela que escolheu esse nome, ver você repudiá-lo a deixa triste. – às vezes ele fazia de tudo para suprir a falta que a minha mãe fazia questão de deixar na minha vida. Meu pai também era o responsável por tentar melhorar toda a minha convivência com ela.

– Eu não gosto quando ela fica aqui em casa. – esse problema com a minha mãe vem desde que eu nasci e na minha mente, desde quando ela disse que eu era indesejado por ela.

– Ela é sua mãe, Aaron.

– É? – pergunto em tom irônico e ele me olha com um olhar de advertência.

– Olha como você fala. 

– Sinceramente... ela era mais legal quando estava longe.

– E eu, sou mais legal quando estou longe? 

– Eu sinto a sua falta. – falo. – Eu te amo, pai. – expresso em baixo tom. Minha vida era melhor antes de ele ser o governador que todos imploravam por atenção.

– Faria qualquer coisa por mim, Aaron? – eu o olho. Ele me encarava de forma séria e eu conhecia aquele olhar.

– O que você quer dizer com essa pergunta? 

– Aaron, você consegue ficar longe desse rapaz? – meu pai questiona e eu o olho completamente incrédulo.

– Pai, que pergunta é essa? 

– Quero saber se o seu amor por mim é capaz de fazer você preservar a nossa família. – sorrio um sorriso irônico, que enche meus olhos de lágrimas, mas não deixo nenhuma cair deles.

– Eu não quero conversar sobre isso. 

– Eu sei. Durante toda a minha vida me mobilizei pra proteger você, pois sou seu pai, filho... mas agora eu preciso da sua ajuda. – me levanto da cama rapidamente.

– Pai, você ouviu o que você me perguntou? – pergunto, ficando de costas pra ele.

– Eu sei que é idiota. 

– Idiota? – me viro pra ele. – É surreal, eu gosto dele. Você sempre me disse quando era mais novo pra procurar a felicidade e é por isso que eu amo tanto você, porque você é humano. Não esperava que ter contato com aquelas pessoas robóticas transformasse quem você é.

– Mas a nossa vida é pública... – ele fica de pé.

– A sua vida é pública. – rebato, em alto tom. – Eu nunca disse que gostava e nunca disse que gostei quando o James... – respiro fundo. – Quando o meu pai virou um homem que liga pra todos, menos pro filho.

– Do que é que você está falando? Eu sempre escuto você.

– Eu ia te falar sobre ele. Eu ia. – ando de um lado para o outro. – No dia da entrevista eu ia te falar que quase briguei na escola e que conheci alguém, mas você teve aquela maldita ligação.

– Eu sei que você gosta dele. – ele tenta me tocar, mas eu saio de perto dele.

– Ele, até o momento, é a única pessoa que eu gosto e ainda não foi embora, porque tinha uma reunião em algum lugar. 

– Ele vai embora e você sabe disso. Só precisa do empurrão certo. – a última frase que sai de sua boca me deixa assustado.

– O que? 

– Eu tentei da forma que eu sempre fiz com você, mas hoje você tá incomunicável. – meu pai me deixa assustado.

– O que? – pergunto em alto tom, enquanto ele anda em direção à porta.

– Tá proibido de sair daqui. A partir de amanhã, você só vai sair pra escola e voltar direto pra casa. Tá de castigo. – meu pai fala, antes de fechar a porta.

– Pai! – grito, mas ele apenas fecha a porta e me deixa trancado.

Bato diversas vezes na porta, mas sabia que não iria conseguir sair, poque minha porta era reforçada, logo, uma vez trancada se tornava quase impossível arrombar. Ela foi feita pra que caso alguém encontrasse e entrasse na nossa casa, pudéssemos nos esconder nos quartos com segurança até a polícia chegar. Vale a pena dizer que eu odiava essa porta nesse momento.

Com isso, acabei me deitando na minha cama e dormi ali, sem me cobrir ou qualquer coisa do tipo. Não chorei, embora quisesse. Eu não conseguia chorar quando estava com raiva e nesse momento eu estava com ódio puro e genuíno do que meu pai estava fazendo. De manhã, me levantei e troquei de roupa. Quando coloquei minha mão na maçaneta e a girei, torci para que a porta estivesse aberta e assim foi. Quando saí andando pela casa meu pai não estava mais nela.

– Bom dia, senhor. – Lisa fala, enquanto arruma a mesa do café.

– Onde eles estão?

– Seus pais saíram hoje de manhã. – me sento a mesa.

– Eu vou no Finn. – aviso, enquanto como.

– Não pode, eles deram ordens aos seguranças para que você não saísse. – ela explica e a fruta que eu ia dar mais uma mordida cai da minha mão, rolando sobre a mesa.

– Eu tô preso na minha própria casa? – me levanto da cadeira.

– Querido... 

– Não! – falo, em alto tom. Nos meus olhos surgem lágrimas e eu encaro Lisa. – Eu tô preso na minha própria casa, como isso pode ser possível?

– Deixa esse assunto se esfriar... – Lisa fala em tom compreensivo.

– Lisa... eu preciso ver o Finn. Me ajuda... – peço e ela se aproxima.

– Calma... – ela vem até mim. – Seus pais vão chegar antes do almoço. Olha pra mim... – ela pede e eu faço. – Se você se comportar e não chamar atenção, eu acho que consigo convencer o Alvin de deixar você sair a noite. 

– É sério? 

– Sim, mas você vai ter que me prometer que não vai chamar atenção, isso pode custar meu trabalho. – Lisa pede e eu concordo com a cabeça várias vezes.

– Tudo bem, tudo bem! 

Eu passei a minha tarde inteira jogando vídeo game no meu quarto. Não quis almoçar, já que quem trouxe minha comida foi a minha mãe, mas eu lanchei a tarde um sanduíche que Lisa fez e trouxe pra mim. Antes de escurecer completamente, meu pai veio no meu quarto. Pelo o que sei, ele passou o dia em casa, pois queria conversar comigo, mas não teve coragem de vir.

– Pausa o jogo. – pede, parando na porta, mas eu ignoro.

Meu pai, então, puxa os fios do vídeo game e o desliga. Eu o encaro sem reação e ele se senta ao meu lado na cama. Eu já falei que meu pai não era exatamente o exemplo de paciência dentro da minha família? Ele já até saiu no soco em plenário.

– Não cansou de me deixar com raiva? – encaro ele. Meu pai era assustador quando estava sem um sorriso no rosto.

– Filho, não dificulta as coisas pra mim. 

– O que mídia sabe, pai? Que eu saiba, eles me viram com um rapaz que não era o Mitchell... Grande apocalipse esse. – ele respira fundo.

– É. Você tem razão, mas sabe aquele paparazzo, o Luther? – meu pai pergunta. Luther era um paparazzo que sempre foi bastante simpático e por isso tinha desenvolvido uma amizade com a minha família.

– O que tem ele? 

– Ele era um dos paparazzi que estavam na cachoeira. – flashbacks daquele dia acabam vindo na minha mente.

– E daí?

– E daí que ele me mandou essa foto... – meu pai me estende seu celular e nele tem uma foto minha e do Finn, enquanto nos beijamos. – Ele disse que não é o único que tem, mas como ninguém falou disso nesse momento eles combinaram de não mandar pra ninguém por acharem que podem ser traumáticos pra você. Acho que a reportagem sobre a minha brutalidade em plenário ajudou com que eles tomassem essa decisão...

– O Luther e quem mais tem? 

– O Luther e um amigo dele, Matteo. Eles falaram que não vão expor isso pra jornais ou sites de fofoca, porque respeitam a gente, mas se alguém descobrir antes deles, eles serão os primeiros a vender essas fotos. – eu o encaro.

– Grandes amigos. 

– É o trabalho deles. – meu pai retruca e eu olho mais uma vez pra foto.

– Eu não posso me relacionar então? – meu pai guarda o celular.

– Segura a barra. Só um pouco. Se for ver o Finn, não demonstre afeto a menos que estejam em um lugar totalmente privado e seguro. 

– Tanto faz. 

– Não esquece que vai ter uma matéria sua essa semana. –ele me lembra. Como eu odiava revistas.

– Não quero. 

– Já foi confirmado. Você é o capitão do time, vai ajudar a sua imagem e a imagem da escola.

– Eu não suporto me ver como um produto pra todo mundo. 

– Nem eu suporto ter minha índole comparada aos meus colegas de terno, mas às vezes temos que fazer coisas que não suportamos. 

– E o Finn e eu?

– Se você não chamar atenção e não deixar que ninguém os veja juntos... – ele fala, enquanto se levanta. – Eu sou seu professor e vocês dois tem uma prova. Se forem colar, não deixe que eu os pegue. – vai até a porta.

– Pai... – o chamo.

– Sim? – ele fala, antes de sair.

– Desculpa pela forma como eu falei com você ontem.

– Tá tudo bem. – ele diz e solta um sorriso de leve. – Eu tenho uma reunião amanhã e por isso estou indo embora, mas essa semana eu volto e prometo que conversamos. – concordo com a cabeça.

Demorei um pouco mais e liguei para Finn. Depois disso ele e eu passamos uma noite muito boa, ele conseguiu me lavar de todo o meu estresse no nosso momento. Eu acabei chegando exausto em casa e fui dormir assim que coloquei meus pés no quarto.

De manhã, acordei sentindo um pouco de dor. Tudo bem, eu vou ter que falar que foi muita dor. Eu mal conseguia andar direito, mas tive que aguentar durante toda a manhã, sem dizer uma palavra sequer. No café a Lisa já percebeu de cara que algo estava errado, por eu ficar me ajeitando na cadeira o tempo inteiro.

– Tá tudo bem?

– Tá sim, é bobagem. – falo.

– Bom dia, Tyler. – minha mãe diz, aparecendo na mesa. Eu ainda estava com raiva por ela ter dito que o meu comportamento explosivo era culpa do Finn.

– Já esqueceu meu nome de novo? – pergunto em tom irônico, enquanto como.

– Desculpe. – minha mãe fala, comendo também. – Não esquece que temos almoço na casa da Darla.

– Não posso, tenho escola. Fora que tô evitando o mala do Dylan.

– Vocês são primos... – ela fala, como se eu não soubesse.

– É, mas eu não ligo. Não vou sair mais cedo da escola pra almoçar com ele.

– Filho... – me preparo para levantar. Ainda com dor.

– Tenho aula agora. Com licença. – me levanto, antes que ela termine.

Saio andando pela minha casa e entro no meu carro. Saio de casa e vou até o colégio, hoje seria dia de treino. Enquanto andava em direção ao meu grupo de amigos, me sentia mal, como se algo tivesse saído do meu controle, mas não saberia explicar a sensação.

– Sumiu o final de semana inteiro. – Amber fala, se aproximando de mim e eu lhe dou um beijo na bochecha.

– Ah, oi Amber... – digo e ela sorri. – Foi aquela matéria, meu pai ficou enfurecido.

– Entendi, mas você vai na minha festa de aniversário, sim? – questiona, enquanto eu continuo andando na direção de Mitchell.

– Vou sim. Me manda o endereço. – peço, enquanto ando de costas.

– Mando sim. – ela confirma e eu pisco pra ela.

– Oi, desgraçado. – Mitchell fala, quando chego no grupinho do time em que ele estava e passa o braço pelo meu ombro, se apoiando em mim.

– Oi, limitado... – digo pra ele e cumprimento outros do time.

– Fiquei sabendo que o Finn pegou seu número com um dos moleques... – Mitchell conta, em baixo tom.

– E daí?

– E daí que o Tom também sabe. – ele aponta com a cabeça para Tom, que vinha em nossa direção pelo corredor.

– Que maravilha. – resmungo.

– Como você está? Seu negócio de vadia dos machos da rua tá dando resultado, aquele seu cliente da matéria foi pedir seu número pro Clarck. – Tom fala e eu sorrio.

– É? 

Eu passo por ele, olhando em seus olhos e logo continuo andando pelo corredor do colégio.

– Olha quem chegou, meu garoto. – meu treinador diz. – Quero conversar com você.

– Sim senhor. – digo, tirando o braço de Mitchell do meu ombro e indo até ele.

Quando entro em sua sala, ele pede que eu me sente e assim faço. Ainda estava com a minha bolsa no ombro, por isso logo que sentei a coloquei no chão.

– Você sabe que tem uma entrevista essa semana, certo? – meu treinador pergunta. Bratt era meu treinador, desde quando entrei no time e eu gostava dele pela sua simpatia.

– Sei sim, meu pai estava em casa esse final de semana e conversou comigo. – falo e ele limpa a garganta.

– Seu... pai? 

– Sim senhor, ele ressaltou a importância de uma bela entrevista pra mim e para a escola. 

– Então se o seu pai falou, tá tudo certo. – Bratt diz e eu concordo.

– Sim senhor. – falo, me levantando e indo em direção a porta.

– Aaron... – o treinador me chama e eu o olho. – Você é gay?

– Precisa saber da minha vida pessoal, senhor?

– Não, eu... – o interrompo.

– Foi o que eu pensei. – saio da sala.

Fui até meu armário e peguei meu livro de história, que seria a primeira aula do dia. Antes de entrar na sala, vi que Emma chegou um pouco mais atrasada e fui até ela, perguntar se estava tudo bem com Finn.

– Emma... – digo, acenando pra ela, enquanto vou em sua direção.

– Ah, oi Aaron... 

– Como o Finn tá, ele... – ela me interrompe antes que eu termine.

– Olha, eu não acho bom você se aproximar dele agora, ele tá passando por uma fase complicada e eu também, afinal tô na correria pra sair da escola. – estranho isso.

– O que? 

– É, eu consegui o emprego que eu queria em uma escola para pessoas com deficiência.

– Espera... e o Finn? – questiono, estranhando toda aquela situação.

– Não posso conversar agora, Aaron. – Emma fala. – Desculpe querido. – ela passa por mim.

– Ele te trouxe hoje? – pergunto, em alto tom enquanto ela se distancia.

– Não. – ela fala levantando a chave de seu carro.

Eu acabei indo para a sala, mas eu não consegui me concentrar em uma palavra sequer do professor. Tudo bem que eu nunca fui muito fã de história, mas como eu queria minhas notas perfeitas, ela sempre foi uma matéria que eu fiz questão de prestar atenção.

Na hora do treino, algo estava diferente, talvez pelo aluno novo que tinha aparecido nele.

– Pessoal, esse aqui é o Alec e ele é um aluno novo. Não quero ninguém aqui na cola dele. Alec, esse aqui é o Aaron, capitão do time. – meu treinador fala, se aproximando de mim com ele ao seu lado.

– É um prazer, Alec. – estendo minha mão.

– O prazer é meu, capitão. – Alec fala apertando minha mão e eu confirmo com a cabeça.

– Bom, vamos treinar. – meu treinador fala, batendo palmas e assoprando seu apito.

Treinamos arremessos, corremos no campo e jogamos alguns jogos entre nós. Nosso time tinha como uniforme a cor preta e cinza, carregávamos o nome de "Panthers" e éramos considerados o terror de outras escolas. Isso, porque Mitchell e eu corríamos demais e éramos grandes. 

É claro que só de pensar em quanto nosso time caiu no quesito "rendimento" eu já me sentia triste. Acontece que ver um jogador novo entrar aliviou isso, porque Alec parecia ser um cara centrado e pacífico – que eram exatamente os atributos que eu precisava e procurava naquele momento.

Acontece que quando fui treinar arremesso com Alec senti que ele era diferente. Ele tinha uma potência de projeção da bola muito menor que a dos meus colegas, mas por ter menos massa muscular, conseguia correr mais rápido que todos nós.

Já no vestiário, Alec ficou sentado nos bancos, esperando que todos tomassem seus banhos, sem encarar ninguém. Eu estava tomando banho e o observava, até ver Tom se aproximando dele para tirar sarro, como fazia com todos que ele sentia que não iriam revidar.

– O que foi que você tá encolhido aí? – Tom pergunta a Alec, que fica calado e sequer o encara.

– Olha lá, ele parece ter perdido a língua... – Blaney vai na onda dele.

– É viadinho, é? Se for, não tem problema, não é o único. – Tom provoca e me olha em seguida.

– Deixa o garoto em paz, Tom. – falo, fechando o chuveiro e enrolando minha toalha ao redor da cintura.

– Para de se meter em tudo. Deixa eu brincar com o nosso novo bonequinho... – ele toca em Alec, que tira sua mão com um soco.

– Eu sei que você já sente uma atração incrível por ele, mas deixa o garoto em paz. – provoco em tom irônico e no mesmo instante Tom me encara e vem em minha direção.

– Vai se foder, Tyler. – ele fala devagar, quase rosnando. Nossos rostos estavam próximos, como os de lutadores de UFC antes das lutas.

– Vaza, Tom.

– Tanto faz. Fica aí com a sua nova putinha. – ele dá as costas e algumas pessoas ainda sorriem no exemplo de babaquice dele.

– Eu vou esperar você. – Mitchell fala.

– Vai com eles. O Oliver e o Clarck estão esperando você. – aponto para os dois, que estavam na porta, esperando Mitchell.

– Não faz assim, Aaron. – Mitchell pede, mesmo ele sabendo que não ter ficado do meu lado tinha me deixado decepcionado.

– E eu vou fazer como? Vaza. 

– Foda-se. – Mitchell resmunga e sai do vestiário com aqueles viciados.

– E você, não vai tomar banho? – pergunto a Alec.

– Não posso. – ele diz e eu me sento ao seu lado.

– Por quê? 

– Se eu falar, vou virar piada. – fico sem entender.

– Experimenta. – digo.

– Eu sou trans. – Alec fala.

– Então você... – tento entender.

– Nasci e fui designado como uma garota, mas depois entendi que sou um rapaz. – Alec explica e eu agradeço silenciosamente pela cola.

– Eu sabia que seus músculos estavam em tempos diferentes de desenvolvimento.

– Vai contar pra todo mundo? 

– Não. E você precisa banhar.

– Não se importa? 

– Eu vou trocar de roupa, enquanto você banha, relaxa. – digo e me levanto, indo até meu armário.

Alec, então, fica de é e tira a blusa do uniforme. Nesse momento posso ver as marcas em seu peito, provavelmente da cirurgia para retirar os seios.

– E então, você é o filho do governador, não é? – ele pergunta, enquanto toma banho.

– Sou sim. E você, veio pra cá por quê? – pergunto, enquanto me visto.

– Minha mãe separou do meu pai, ela queria reconstruir uma vida nova. – Alec explica.

– Você chegou atrasado hoje. 

– É, foi difícil levantar. Na verdade era pra eu ter vindo desde o começo das aulas, mas não tive coragem. – comenta e eu entendo. Se tivesse a opção, também não viria.

– Alec... – o chamo.

– Sim? – ele responde.

– Não se importe com o que o Tom fala, ele é daqueles típicos valentões sem caráter que faz de tudo pra conseguir atingir alguém. – falo, colocando meu tênis.

– Levando em consideração que eu sou um novato e não tenho um grupo, ele vai conseguir implicar bastante comigo. – solto um sorriso involuntário, com certeza ele estava certo, mas eu tinha que mudar isso.

– Pode ficar comigo, Mitchell e uma amiga nossa na hora da refeição.

– É sério? 

– Claro. Já terminou? – pergunto, encostando no armário após colocar meu tênis. Pego meu celular e começo a mexer nele.

– Terminei... – ele fecha o chuveiro.

Enquanto Alec se veste, fico sentado em um dos bancos com o celular na mão.

=Oi, eu espero não estar sendo invasivo, mas queria saber se podemos fazer algo essa tarde... Tô com saudade de você, Finn. –Aaron McDevitt.

Mandei a mensagem para Finn e quando olhei pra cima, Alec estava diante de mim, com o cabelo molhado e um sorriso no rosto.

– Como se sente? – pergunto, me levantando e pegando minha bolsa.

– Bem melhor. – saímos do vestiário em seguida.

Saímos juntos e não demorou até eu perceber que os olhares de Tom e Blaney vieram em minha direção e de Alec. Na nossa mesa, Amber e Mitchell já nos esperavam, enquanto conversavam. A aproximação de Amber no nosso grupo afastou Lindsay e Rachel, e eu tenho que falar que estava feliz por isso.

– Então, meus pais estavam falando de fazermos naquele clube, que tem aqui no centro. – Amber fala, provavelmente se referindo ao seu aniversário de 18 anos.

– Eu acho uma boa ideia, mas já adianto que não vou ajudar a limpar nada no dia seguinte. – falo, colocando minha bolsa sobre a mesa, fazendo Amber e Mitchell cair na gargalhada.

– Espera espera... E esse aí? – ela pergunta, se referindo a Alec, que se sentou ao meu lado.

– Esse aqui é o Alec. Novato, da minha altura, corre bem e é bem simpático. Vai sentar com a gente, tudo bem? – Amber encara o garoto, sorrindo em seguida.

– Bem vindo ao clube dos excluídos, Alec. 

– É? 

– Ela fala isso, porque ela foi excluída da mesinha das líderes de torcida e eu como um ótimo samaritano, adotei. – faço graça e Mitchell começa a rir. – Foi tipo o que aconteceu contigo... tenho um coração muito bom, não aguento ver gente sofrendo, tenho que adotar pra preencher minha creche. 

– Engraçadinho. – Amber protesta, tomando o suco que estava sobre a mesa.

– Essa mesa é pra pessoas boas, Alec. Pessoas verdadeiramente boas... Mas tenho que dizer que algumas ainda tem uma personalidade meio duvidosa. – falo em tom engraçado, encarando Mitchell, que comia. Ele, então, me olha e solta os talheres.

– Ah, vá pra puta que te pariu, Aaron. – Mitchell fala e eu, Amber e Alec caímos na gargalhada.

– Com prazer, princesa. – mando um beijinho pra Mitchell e Amber quase se engasga com a cena.

– Vocês são engraçados. – Alec fala.

– É, eu sei. Só não esquece que quem tá nessa mesa defende quem também tá aqui e somos fiéis. Não vamos te deixar sozinho pra lidar com otários como o Tom, Alec, mas você também não pode nos abandonar depois. – Mitchell comenta, enquanto consigo ouvir trechos da música "Vent" do Baby Keem em seu fone de ouvido e Alec confirma com a cabeça. 

Eu sabia que nossas relações na escola estavam cada vez mais estreitas e sufocantes, mas não sabia que tudo isso tinha uma capacidade de ficar muito pior do que já era. Felizmente, no geral, continuamos conversando e almoçamos. Alec era simpático e engraçado, Mitchell e Amber se deram muito bem com ele e com o passar do tempo eles conseguiram interagir bastante. Tivemos mais aulas e a tarde, na hora da saída, me encontrei com Mitchell, que já estava com Amber e Alec.

– E aí, você vai comigo no Eddie hoje? – Mitchell pergunta, apreensivo.

– Não, vou procurar aquela pessoa. E você, Alec, quer carona? – ele faz um "não" com a cabeça.

– Não, eu tô bem... meu irmão daqui a pouco aparece. – nos minutos seguintes um carro para na frente da escola.

– Anda logo, tenho reunião daqui a pouco. – o rapaz que dirigia diz. Ele era parecido com Alec, mas tinha uma barba média. Ele estava de óculos escuros e seu tom de pele não era escuro nem claro, estava em um meio termo, como o de Alec.

A diferença mais visível entre os dois eram os formatos dos rostos. O de Alec era mais oval e o do rapaz no carro era quadrado. Alec ainda era mais forte que ele, talvez pelo futebol americano e não pude comparar a altura por motivos óbvios.

– Então... até amanhã. – Alec fala e vai em direção ao carro do garoto, que sai em seguida, enquanto todo mundo olha.

Mitchell e eu damos de ombros e continuamos conversado com Amber por mais um tempo. Ela estava animada com os preparativos de sua festa de aniversário, mas minha cabeça voou, quando vi Emma saindo com algumas caixas. Fui correndo até ela e quando uma das caixas ia cair no chão eu peguei.

– Deixa que eu te ajudo, professora. – falo e Emma me olha.

– Oi novamente. – ela responde, abrindo o porta-malas do carro.

– Emma... por favor... – peço. Eu sabia que algo estava estranho, desde quando mandei mensagem para Finn ele não tinha me respondido.

– Tudo bem. O Finn me disse que ia correr hoje pra ver se conseguia esquecer o que aconteceu ontem, se você quer conversar uma última vez com ele, é melhor você ir lá. Não fala que eu te contei, é muito importante e sério isso. – aquela conversa me assusta.

– Tudo bem... – é tudo que consigo responder, enquanto coloco a caixa no carro. Depois disso, me começo a me afastar dela.

– Aaron... – Emma me chama.

– Sim?

– Eu espero que fique tudo bem. – Emma fala e essa simples frase faz com que um arrepio suba pelo meu corpo e uma vontade de chorar preencha todo o meu rosto. No entanto, a única coisa que faço é sorrir. 

– Eu também. –  respondo, voltando a andar. 

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