Impulsos Provocados Pela Raiva

×Visão de Finn

– VÃO! – A menina grita e por segundos a única coisa que se ouve é o som dos pneus contra o asfalto.

Eu evitava olhar pelos retrovisores, enquanto corria no espaço curto das ruas do subúrbio. Ao meu lado, pude ver que Dylan conseguiu passar na frente, mas ele, com outros dois caras, acabaram escorregando em uma poça de óleo logo na frente, mostrando-me onde não deveria passar.

Esses três carros se bateram, foram na direção deles outros três que estavam atrás de mim e terminaram o acidente, mas ainda assim pude ver que o carro de Dylan foi o menos afetado, tanto que ele logo voltou a corrida. Os outros que vieram depois provavelmente não viram que eles tinham batido, mas isso ai não é problema meu.

Atrás de mim vieram duas caminhonetes, e depois de vê-las rapidamente eu logo voltei a atenção para a pista, afinal eu precisava ver com urgência onde estava indo para evitar óleo na pista e não derrapar.

A cada curva meu coração batia mais forte e a cada derrapada proposital, eu sentia que meu corpo reagia com impulsos de felicidade, mostrando o meu amor pelo o que fazia. Para a minha surpresa, logo Dylan apareceu ao meu lado novamente e quando o olhei, ele sorriu. Ele deveria ter pegado algum atalho e eu estava feliz de ver que ele estava ao meu lado, mas enquanto a última e mais longa curva era pra esquerda, eu fui para a direita.

Dylan pareceu não entender e seguiu, mas eu sabia que pra onde ele estava indo tinha uma margem grande de perder o tempo da curva e encontrar algum muro ou poste. Por onde eu estava indo, tinha uma viela que ligava rapidamente a pista de chegada, além de ser mais rápida era mais segura.

Passados alguns segundos, eu fui o primeiro a chegar, com os olhos atentos de todos que esperavam os carros que estavam participando da corrida. Logo em seguida as duas caminhonetes chegaram, mas nada de Dylan.

– Onde ele esta!? – pergunto, descendo do carro e batendo a porta dele.

– Ele bateu... – um dos homens que dirigia uma das caminhonetes fala, quando me aproximo dele.

– Onde? 

– Lá atrás... – o outro dos homens fala e eu entro no meu carro novamente, voltando no percurso, procurando o carro de Dylan.

Quando o encontro, desço do meu carro e vou até o dele. Chegando mais próximo, percebo que ele está desmaiado e que em sua testa desce sangue de um ferimento. Eu, então, abri a porta do carro, tirei seu cinto e o peguei desmaiado no colo, levando até o meu carro e o colocando no banco de trás. Em alguns segundos apareceram mais algumas pessoas curiosas para olhar o que tinha acontecido.

– Ele vai ficar bem? – um dos corredores me pergunta, enquanto eu fecho a porta do meu carro.

– Vai sobreviver. – falo, indo até o carro de Dylan.

Quando chego em seu carro eu entro, tiro a chave dele da ignição e fecho tudo, trancando o carro em seguida. A moça que marcou minha chegada e ia me entregar o prêmio se aproxima com o pacote nas mãos e me joga ele, sem dizer nada.

– Vai ajudar ele? – ela pergunta.

– Já estou ajudando. – respondo para a moça e entro no meu carro, coloco o dinheiro no porta-luvas. Dou uma olhada rápida para Dylan desmaiado no meu banco de trás e em seguida saio dali.

×°×

– Onde eu estou? – Dylan fala, acordando atordoado.

– Calma aí, você tá seguro... 

– O que aconteceu? Que dor de cabeça do caralho... – ele reclama, colocando a mão onde já tinha o curativo.

Eu tinha trazido Dylan pra minha casa, pois não sabia onde ele morava. Fiz um curativo para seu machucado e o deixei dormir na minha cama. Eu acabei indo dormir no sofá, mas assim que acordei, voltei para meu quarto, para evitar as perguntas de Emma de manhã. Eu acabei ficando a manhã inteira sentado no meu banco, esperando ele acordar.

– Você bateu ontem e acabou se machucando. – explico, enquanto ele me encara e quando termino, ele deixa sua cabeça cair sobre a cama novamente. Dylan estava com a jaqueta de couro, blusa azul escura e calça jeans do dia anterior.

– Não precisava ter me ajudado. – ele fala, agora se levantando.

– Nem você aquele dia. – rebato ele me encara por alguns segundos.

– Obrigado. – confirmo com a cabeça.

– Você vai me levar na escola? Tenho reunião... – Emma pergunta, surgindo na porta. – Opa...

– Vou, vou sim. – respondo. – Emma, esse é o Dylan, um amigo que sofreu acidente ontem. Dylan, essa é minha irmã mais velha, Emma.

– Oi, Emma... – Dylan fala para Emma, que sorri.

– E ele já está bem? – Emma me pergunta.

– Não sei, como se sente? – pergunto a Dylan e espero que ele seja uma pessoa sincera.

– Muita dor de cabeça. – Dylan fala para Emma.

– Vem tomar café, tenho um remédio que pode ajudar também. –Emma fala e eu me levanto. Dylan se levanta também, mas quando olha para os pés, vê que esta sem tênis e se senta na cama.

Ele coloca seu tênis, que estava no canto da cama e em seguida saímos do quarto. No café, ele mal falou, mas Emma o ajudou com a dor de cabeça.

– Aqui está, espero que ajude. – Emma fala, entregando o comprimido e a água a Dylan, mas ele toma o comprimido sem a água.

– Obrigado... – Dylan agradece, após tomar o remédio.

– E então, como foi a corrida ontem? – Emma pergunta.

– Ganhei de novo. – ela sorri.

– É, seu irmão é muito bom. Ele ganha todas que participa. – Dylan comenta.

– Mesmo assim eu tenho medo. Por mim ele jamais entraria naquele carro pra arriscar a própria vida. – Emma rebate, enquanto come.

– Pode ficar tranquila que ele nunca bate também. Ele é o único que vê uma poça de óleo antes de entrar nela e acha atalhos para favorecer na corrida. – Dylan fala e eu observo que ele andou me estudando. Talvez ele estivesse me observando há bastante tempo e eu sequer percebi.

– Dylan bateu duas vezes ontem.

– Não quero nem imaginar o preço do conserto daquele carro. – ele fala e começamos a rir.

Terminado o café da manhã, eu fui no meu quarto trocar de roupa e ali fiquei por alguns minutos, até Dylan aparecer e eu ainda estar sem camisa, olhando se tinha alguma mensagem no meu celular.

– Tatuagem maneira. – ele comenta e me assusta, fazendo meu coração bater mais rápido por alguns segundos.

– Fiz faz algum tempo. 

– Eu curti ela, achei maneira. – ele fala e me deixa confuso, como eu odeio gírias.

– Traduz. – peço, torcendo para que ele entenda.

– É muito bonita. 

– Obrigado. – falo e vejo que ele avalia meu corpo. Eu, então, coloco a minha blusa rapidamente e ando em sua direção.

– Então é aqui que é o casulo do melhor piloto do racha de rua? – Dylan pergunta e eu não entendo o que ele quer dizer, mas como aprendi com Emma, eu apenas sorri e dei uma resposta imparcial.

– Às vezes. – falo e ele sorri.

– Aqui é bem maneiro. – Dylan fala e levando em consideração a tradução dele de minutos atrás eu acredito que "maneiro" é uma coisa boa.

– E você, mora onde? 

– Com a minha mãe, no centro da cidade. 

– Legal... – falo, enquanto andamos pelo apartamento.

– Mais ou menos, pertenço a um grupo de pessoas que desprezo. – fico sem entender. Como alguém pode fazer parte de um grupo que despreza?

– É? 

– É. Depois você vai entender. 

– Vamos? – Emma aparece saindo de seu quarto, segurando sua bolsa.

– Bora. – Dylan fala e antes de sairmos, ele parece me observar bem.

No carro, Emma colocou Justin Bieber no som e vê-la fazendo lip sync me fez sorrir. A pior parte, foi observar Dylan fazendo também no banco de trás do carro. Quando a deixei na escola para a tal reunião, fui com Dylan para o local do acidente na noite passada e ver o estrago que tinha se instaurado em seu carro me deixou mexido.

– Vai ser uma grana pra arrumar, definitivamente. – Dylan fala, depois de tirá-lo de perto do poste em que ele tinha parado.

– Se você não tivesse diminuído a velocidade por causa da curva,  estaria morto. – digo, enquanto olhamos o carro com a lateral amassada.

– Bom, vou levar ele pra arrumar. 

– Tem dinheiro pra isso? – ele sorri.

– Relaxa, tá tudo tranquilo. 

– Então eu... Vou embora. 

– Você ainda tem falado com meu primo? – ele pergunta e eu o encaro.

– Que primo? 

– Aaron. – sinto uma sensação estranha.

– Não. 

– Sei. – Dylan fala, entrando em seu carro. – Não me leva a mal, mas... Ele só vai brincar com você.

– Eu não sou brinquedo. – respondo de forma séria e ele sorri.

– É claro que não. – ele diz, arrancando com o carro em seguida.

Eu saí dali também e em poucos minutos estava em casa. Coloquei um filme para assistir, mas a minha cabeça estava tão inquieta que eu nem consegui me concentrar no filme, eu apenas acabei dormindo ali mesmo para tentar conseguir um pouco e paz mental. Horas mais tarde, acordei com Emma me ligando, e como tinha esquecido de falar pra ela que tinha arrumado seu carro, acabei indo com ele buscá-la.

– Você é incrível! – ela fala, enquanto eu paro do lado dela. Eu passo pro lado do carona e deixo com que ela dirija.

– Agora você tá livre de mim. – ela acaricia meu rosto, sorrindo em seguida.

– Vamos dar uma volta, eu pago o almoço. – ela fala e eu esfrego uma mão na outra, mostrando estar animado.

– Ótimo. 

Antes que a comida do almoço chegasse Emma e eu dos divertimos. Emma tinha um astral incrível e era bastante engraçada. ela e eu sempre tivemos essa coisa de nos sentirmos confortáveis ao lado do outro e com isso a nossa convivência era de muita paz.

– Uma rosa para a namorada? – um senhor de pouco mais de 40 anos fala, se aproximando de nossa mesa.

– Oh não, nós... – Emma vai falar algo, mas eu a interrompo.

– Sim, quero sim. Quanto custa? – pergunto e Emma me encara.

– 5 dólares. 

– Me dá duas, por favor. 

– Qual cor? – o homem pergunta.

– Uma branca e uma vermelha. – senhor me entrega as rosas.

– Muito obrigado. 

– Pra você, meu amor. – falo, entregando a rosa branca à Emma, que sorri.

– Obrigada. – ela fala, com aquela carinha de boba e logo nossos pratos chegam.

Depois do almoço, fomos para casa e lá eu fiquei algumas horas no celular. Fora as mensagens de Eddie pedindo para que eu fosse na casa dele, nada demais tinha naquilo e por isso o coloquei de lado. Emma e eu acabamos assistindo algo até a o início da noite, mas foi quando ela foi se arrumar para sair que eu percebi que algo estava errado.

– Como estou? – ela fala, surgindo com um vestido longo preto, salto e até maquiagem.

– Aonde você vai? – pergunto, me sentando e segurando a almofada no colo.

– Sair com alguém. – Emma fala, se olhando mais uma vez no espelho da sala.

– Se me falar com quem, eu te falo a minha opinião. – digo e ela me olha, como se não acreditasse no que ouviu.

– Para com isso Finn, você vive me falando pra sair... 

– Vai na festa da cidade?

– Não, vou em um jantar. Me fala logo sua opinião, você sabe que ela é importante pra mim. – Emma pede. Ela estava tentando fazer chantagem emocional, mesmo essas coisas não funcionando comigo. De qualquer forma, decidi ajudá-la.

– Você está sempre muito linda, mas agora você está deslumbrante. – falo, ficando de pé e abraçando minha irmã. – Se diverte. – quando solto ela, Emma me olha com aquela cara de felicidade.

– E você, vai na festa da cidade? 

– Talvez, se eu ficar muito entediado.

– Vai com o Aaron? – Emma pergunta e eu olho pro chão, me sentindo totalmente desconfortável com aquela conversa.

– Ele e eu não nos falamos mais. – digo, me sentando no sofá.

– Por quê? – ela se senta ao meu lado.

– Autismo. 

– Você falou? – Emma pergunta, colocando a mão no meu ombro e eu respiro fundo.

– Foi. – falo, brincando com as mãos.

– E ele? – Emma pergunta. Eu queria parar de responder, mas minha irmã era a pessoa que eu mais confiava no mundo e por isso não consegui.

– Mais um que pediu pra que eu não me aproximasse. 

– Eu sinto muito... E como você está com isso? – Emma pergunta e eu a olho nos olhos, sorrindo em seguida. Não queria deixá-la preocupada comigo.

– Normal, você sabe que eu não sou do tipo que põe muitas expectativas em algo. – ela sorri de volta, me dando um beijo no rosto.

– Talvez seja isso que muitas pessoas buscam. – ela sussurra no meu ouvido e se levanta em seguida.

– Não sentir aquela falta que faz chorar de outras pessoas? – ela concorda com a cabeça.

– É, você apenas... respeita tudo.

– Eu não, o autismo. Sei lá, não tem como saber se eu seria como sou sem ele. – rebato e minha irmã sorri.

– Eu vou indo. Se cuida, por favor. – confirmo com a cabeça.

Em alguns minutos minha irmã saiu e eu fiquei só em casa. Continuei assistindo televisão, até Eddie me ligar.

O que foi? – pergunto, atendendo.

Para de ser idiota. – Eddie fala, tentando fazer chantagem com seu tom de voz, mas ao contrário de Emma, com Eddie eu não tinha nenhuma empatia aprendida.

Fala logo

Vai na festa da cidade hoje? – eu bufo.

Não. 

Bora comigo? – Eddie insiste.

Eu já disse que não vou... 

É só pra você ficar ao meu lado... Eu tô com medo de arrumar briga com outros traficantes. – Eddie pede. Eu tinha certeza que isso era desculpa, afinal eles nunca ficavam no mesmo lugar, logo, não seria hoje que eles iriam ficar.

E o que eu tenho de ligação com isso? 

Você é um muro. – reviro meus olhos.

Eu não vou, Eddie. – desligo o celular.

Eu não ia até aquela festa. Eu já tinha me convencido disso e por isso tinha feito pipoca e comia, enquanto tomava suco. Eu estava de calça moletom, sem camisa e assistia Maze Runner, até alguém bater na minha porta.

Quando abro, Eddie está com uma latinha em uma mão e um cigarro de maconha na outra. Eu fiquei olhando pro chão por alguns segundos e depois de ver que Eddie não iria embora, eu acabei dando espaço pra que ele entrasse.

– Você vai lá comigo. 

– Tá, não tira nada do lugar. – Peço. Eu era bem organizado e Eddie sabia disso, não queria que ele bagunçasse minha casa pra me convencer a ir com ele, como já tinha feito antes.

– Eu sou a própria organização. 

– Para de ser irônico, eu tô falando sério. 

– Tá, tanto faz. – ele fala e eu totalmente sem escolha, vou pro meu quarto.

Eu coloquei um sobretudo preto, calça preta, tênis e arrumei meu cabelo. Em poucos minutos saí do quarto e Eddie estava mexendo na geladeira.

– Sai daí. – falo, puxando ele e fechando a geladeira.

– Nossa, mas você tem umas roupinhas de gente fina que nossa senhora. Nem parece um lascado. – Eddie fala e mais uma vez o vocabulário dele me confunde.

– Você quer que eu te dê alguns socos? – pergunto, apontando para a saída, pedindo que Eddie saia do apartamento.

– Não. 

– Então anda logo. – falo e saímos do apartamento. – Como você veio pra cá? – pergunto, quando saímos do pequeno prédio em que eu morava.

– O Steve me trouxe. – Eddie fala. Steve era um dos revendedores de Eddie.

– Tá, tanto faz. – digo, enquanto vamos em direção ao meu carro e entramos nele.

– Você nunca mais tinha me deixado entrar aqui... – Eddie comenta, observando meu carro por dentro.

– É, porque você tem espírito de gente porca. – falo. Eu já falei que às vezes não consigo pensar antes de dizer algo?

– Eu não. 

– Olha aí, já tá derrubando lança no meu carro. Segura isso direito. – falo, apontando pra sua latinha.

– Tá, fica tranquilo. – Eddie pede, se ajeitando e evitando que caia mais daquilo no meu carro.

– Eu não vou te dar carona de volta pra casa. – falo enquanto dirijo. Não ia ficar até tarde da noite com aqueles homens naquela festa.

– Tá bravo hoje? 

– Eu só não quero que conte comigo, como eu não conto com você. – falo. A nossa amizade era forte, mas conhecíamos os limites da sinceridade.

– Você é meu melhor amigo, Finn... – Eddie fala, como se eu não soubesse. Eu sabia que ele tinha medo de perder a minha amizade novamente, como perdeu quando fui preso.

– É, eu sei. E você o meu Ed, mas você sabe como as coisas funcionam. 

– Tá, pra mim tá ótimo. – ele fala e finalmente se cala.

O centro da cidade estava cheio de famílias. Tinha parque de diversão, pipoca e algodão doce. Vários homens vendendo balões e por aí vai. Aquela típica cena de aniversário de cidade americana. Eddie logo me chamou para nos juntarmos a uns cara que mantinham contato com ele e entre esses caras estava Alex, um rapaz cujo eu dei alguns beijos algumas vezes, mas como não significavam nada eu simplesmente deixei de considerar, afinal, se só serviu pra me trazer problemas, é melhor esquecer.

– E então, como você está? – Alex pergunta, se aproximando de mim com as mãos no bolso de sua jaqueta.

– Eu estou com dor de cabeça e bem estressado por causa do Eddie. – falo. No mesmo instante em que saí do carro e ouvi a musica alta da festa da cidade minha cabeça começou a latejar.

– Sempre sincero. 

– É, você sabe como é. 

– Eu fiquei mal quando a gente teve que se separar. – Alex fala, como se ele não fosse o motivo.

– É bom saber disso. – rebato e ele logo acende um cigarro de maconha e começa a fumar.

– Eu esperava que você dissesse que também tinha ficado. 

– É, mas não fiquei. Eu só achei que tudo o que tínhamos já tinha sido resolvido e estava tudo bem. 

Alex e eu terminamos tudo, quando ele foi preso por tráfico de drogas. Eu fui visitá-lo na cadeia uma vez e disse que tinha mudado pela minha irmã. Ele não aceitou muito bem e acabamos discutindo. Alex me pediu pra nunca mais olhá-lo e eu fiz, na verdade eu faço isso até hoje, mesmo ele ainda tentando me conseguir de volta.

– É, eu sei. Agora olha pra mim e diz que você não sente minha falta, Finn... porque eu sinto a sua. – Alex pede, enquanto eu olho para o chão.

– Você sabe que eu não vou olhar e você sabe que eu não sinto a sua falta.

– Você não precisa. – ele fala, se aproximando de mim gradativamente, mas quando chega perto demais eu viro o rosto, desviando de qualquer tentativa que viesse dele.

– Não vai rolar, Alex. – digo, mostrando que eu levo a sério o que me pedem.

– Até você vir me pedir pra acordar na minha cama de manhã. – ele conclui e se junta com os outros.

– Aí Eddie, esses aqui são meus amigos do time. – Mitchell fala, se aproximando de Eddie.

– E quem são? Nomes, por favor. – Eddie pede.

– Clarck, Oliver, Noah e Jayden. – Mitchell diz, apresentando cada um dos rapazes.

Foi aí que eu tive um pressentimento – coisa que era extremamente rara de acontecer. Na minha cabeça, foi nesse exato momento que a vida começou a ir por um caminho diferente do que deveria. Vendo a situação de fora, eu tinha certeza que coisa boa não sairia dali.

– Beleza, é o seguinte rapaziada, me chamo Eddie. Não aceito vacilos. – Eddie fala, se apresentando para os rapazes. Eu fico apenas olhando aquilo de longe, me afastando deles completamente em seguida. –Aonde você vai? – Eddie pergunta quando vê que eu estou me afastando.

– Virou minha mãe agora? – ele acaba fazendo um "não" com a cabeça.

Eu continuo andando pelo evento que estava cheio e saio de perto daqueles viciados. Não entendia como Mitchell tinha coragem de ir comprar drogas em um evento promovido pelo próprio pai, mas enquanto andava, vi que Aaron estava com uma garota, em uma área que ninguém podia entrar, a menos que fosse gente importante, claro.

Eu me apoiei em uma das grades de proteção do lugar e fiquei olhando aquela quantidade de enfeites do evento. Depois de alguns minutos, alguém ficou ao meu lado, e quando olhei Dylan sorriu.

– Não pensei que viria. – Dylan fala.

– Eu não ia vir.

– O Tyler tá bem ali. – Dylan afirma.

– Ele não gosta de ser chamado assim. 

– É, mas eu não ligo. – ele fala e eu o olho rapidamente. – Digamos que não somos muito amigos.

– Acho que pessoas que não respeitam as outras são pessoas traiçoeiras.

– Bom, ele já vacilou bastante comigo, então não tenho que ter respeito sobre ele. – Dylan fala e eu olho para minhas mãos nos meus bolsos do sobretudo. – Pelo visto ele vacilou com você também.

– Comigo não, ele fez a escolha dele. 

– Qual foi? Você é lindo, Finn. Por qual motivo ele não iria querer você? 

– Porque eu sou um autista. 

– E daí? – Dylan fala, se aproximando de mim. Ele estava com um blazer por cima de uma camisa social e calça. Eu não gostava dessa aproximação dele, mas minha decepção era tanta que eu não me afastei.

– Dylan, amor... sua mãe tá te procurando. A cerimônia vai começar. – uma moça bem vestida fala e Dylan se afasta de mim.

– Eu tava falando com meu amigo. Diz "olá" pro Finn. – Dylan fala para a moça.

– Oi, Finn. – a moça me diz.

– Finn, essa é a minha namorada Celine. – Dylan diz e eu o encaro por segundos.

– Olá, Celine.

Ela sorri e logo Dylan sai com ela. Ele ainda me olha, enquanto anda ao lado dela e pisca em minha direção, mas eu não esboço reação e volto a olhar para os enfeites do evento. Quando olho novamente para onde Aaron estava, descubro que ele não estava mais ali. Eu mal podia acreditar que em menos de 30 minutos dois rapazes já tinham tentado se aproximar de formas sensuais de mim, mas estava feliz por nada ter acontecido.

A cerimônia de comemoração do aniversário da cidade começou e pude ver Aaron no palco, com quem parecia ser sua mãe ao lado. Mitchell estava sentado ao lado de Aaron e o prefeito começou a falar. Foi aí que Aaron deixou seu olhar viajar pela plateia e eu deixei que nossos olhares se esbarrassem. Ficamos nos olhando nos olhos distantes por alguns segundos que e só paramos, quando ele teve que começar o discurso.

– Meu pai não pôde estar aqui, mas ele me mandou para representá-lo... – Aaron começou a falar e foi nesse momento que eu dei as costas e fui andando até a parte onde estavam os rapazes.

– Já posso ir embora? – pergunto a Eddie, que olha pro palco e me olha novamente.

– Não sabia que ele ia estar aqui. – Eddie fala e eu dou de ombros.

– O que? Agora você é cobaia de mauricinho? – Alex pergunta, se aproximando e me deixando irritado.

– Dá pra você parar de me perseguir, Alex?

– Ou o que? – ele pergunta e alguns caras já ficam atentos.

– Ou eu vou dar muitos murros nisso aí que você chama de rosto. 

– Tudo bem, que tal a gente ir embora? – Eddie fala tentando me segurar.

– Me solta, Eddie. – ordeno e algumas pessoas percebem que uma briga está se iniciando ali.

O autismo tem outra face, além da antissocial e compulsiva. Essa outra face era agressiva e impulsiva. Ela me estressava com facilidade e me fazia querer bater bastante em Alex naquele momento. Tudo aconteceu tão rápido, que quanto eu me vi, já estava jogando ele no chão e dando socos na cara de Alex.

Eu dei diversos socos e todos do nosso grupo saíram de perto, quando perceberam que a polícia se aproximava de nós.

– Não, não... ele é meu amigo, tá tudo bem. – escuto a voz de Aaron falar por trás de mim. – Ei. – ele me chama. – Vem comigo. – ele fala quando eu o olho e me puxa pelo braço, me tirando de cima de Alex, que estava com o rosto sangrando.

– O que é isso aí no seu bolso? – essa frase do policial foi a última que ouvi, antes de me afastar completamente daquele lugar.

Eu podia escutar os flashes das câmeras dos paparazzi seguindo a gente, enquanto Aaron me levava para longe da multidão e aquelas luzes foram fazendo meu raciocínio ficar confuso. Eu não me lembro de muitas coisas daquela noite, além de imagens cortadas de quando estávamos no meu carro, mas já de manhã eu acordei em uma cama macia com lençóis azuis e apenas de cueca.

~O que está acontecendo?Penso.

~Será que ele roubou meus órgãos?Penso.

~Cale a boca.Penso.

~Eu não estou sentindo meu rim. ~Penso.

~Pare de exagero! ~Penso.

Aaron estava sentado em uma cadeira com rodinhas na minha frente, como se tivesse passado horas me vendo dormir. Ele estava de short solto e eu só esperava que não tivesse acontecido nada entre nós que eu tenha esquecido de vez.

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