Desconforto E Compromissos
×Visão de Finn
– Você vai levar o Aaron no médico pra ver como anda a perna? – Lisa pergunta, enquanto eu vou até a geladeira com o copo para enchê-lo de água.
– Assim que ele chegar. – respondo.
– É impressão minha ou ele está mais preocupado que o normal?
– Aaron anda com um pouco de ciúmes, mas eu sei que é ciúmes de cuidado. – digo e ela sorri.
Eu nunca tinha tido contato com ciúmes, a menos que fosse o ciúmes de Emma, mas sabia bem a diferença de ciúmes de cuidado para ciúmes de posse. Tínhamos passado por coisa demais para que alguém se aproximasse de uma forma sorrateira, tentando destruir nossa relação e Aaron não fizesse nada.
– Aaron gosta muito de você, ele só quer proteger a relação de vocês. – compreendo bem o que ela quer dizer.
– É, também sei disso... – tomo um pouco de água.
– E você com as suas próteses? Estão te dando trabalho? – me apoio no balcão, enquanto vejo ela lavar algumas louças.
– Não, elas não doem mais, felizmente aprenderam que... – quando ia terminar, a campainha toca.
– Quem será? Já tá no horário do Aaron sair da escola? – Lisa pergunta, sem entender.
– Não... – coloco o copo no balcão. – Já volto, Lisa.
– Tudo bem. – saio andando.
Eu vou andando pela casa e pego a chave da porta. Antes de abrir, olho pelo olho mágico e vejo que Elaine está diante da porta, segurando seu casaco diante do corpo. Eu, então, abro a porta e sorrio, mas meu sorriso perde a intensidade quando eu vejo que Hans, o rapaz motivo da minha briga com Aaron dias atrás estava com ela também.
– Oi, Elaine... – falo e ela sorri.
– Oi, Finn... – responde, dando-me um beijo no rosto.
– Olá. – cumprimento Hans, que sorri.
– Oi.
– Entrem... – digo, dando espaço e eles passam por mim.
– Tá sozinho? – Elaine pergunta, parada no meio do apartamento.
– Tô com a Lisa, o Aaron tá no colégio. – estendo minha mão em direção ao sofá e eles se sentam.
– Ah, que bom, estava pensando um horário pra vir em que ele estivesse sem o Aaron mesmo. – ela responde.
– Aconteceu algo?
– Não, é que o aniversário dele também está chegando, você sabe disso, não é? – sorrio.
– Sei, tava pensando no que iria fazer pra ele. – digo. Ainda faltavam alguns meses para o aniversario de Aaron, mas mesmo assim seria bom começar a pensar a partir de agora, para que nada saísse errado.
– Então, o James me pediu pra conversar com você pra gente sair pra algum lugar, fazer uma viagem em família... – sorrio. – Agora que o Hans está aqui, vai ser muito mais legal unir todo mundo. – ela segura a mão dele, que só sorri quando ela o olha. Quando Elaine volta a me olhar, o sorriso dele some e ele começa a me avaliar.
– Acho uma boa ideia uma viagem em família. – tento ignorar ele ali.
– Você sabe algum lugar que ele queria ir? – confirmo com a cabeça.
– Olha, faz algumas semanas que ele tinha dito que sentia muita vontade de passar uns dias na Disney comigo, o pai dele e você, porque você era simpática e ele acreditava que gostaria do lugar. – falo, me lembrando de uma conversa que tive com Aaron algum tempo atrás.
– E o Hans? Ele disse algo sobre ele ir?
– O Hans ainda não tinha chegado, quando ele disse isso. Ainda não nos conhecíamos... – digo, olhando ele por um curto período de tempo, voltando a atenção para Elaine em seguida.
– Então acha que a ideia é boa? – antes que eu responda, Hans fala.
– Se não for, posso ficar... – respiro fundo.
– Deixe de ser bobo, quero que vocês sejam amigos, você precisa se socializar mais. – Elaine fala e eu não digo nada. – Aliás, Finn... – volto minha atenção a ela.
– Sim?
– O James mandou um óleo pra fazer massagem nos seus cotos, ele disse que recebeu essa recomendação de um médico excelente de Chicago... – ela procura ao redor e não encontra. –Acho que deixei na minha bolsa. Já volto meninos, vou pegar. – fica de pé e sai.
– Tudo bem, mãe.
Quando Elaine sai do apartamento, Hans me encara e sorri em seguida. Eu fico sem entender o que ele quis dizer com isso e o olho confuso.
– O que foi? – pergunto e ele morde o lábio inferior.
– Você é bem bonito mesmo... é impressionante que até a sua voz é feita pra seduzir. – ele fala com uma voz suave que não me agrada.
– Obrigado. – respondo, incomodado.
– Você tem mesmo vontade de casar mesmo com Aaron?
– O que você tem a ver com isso? É uma escolha minha e do Aaron, unicamente. – ele sorri de lado.
– Ele é um garoto novo, nem sabe o que quer... daqui a pouco não vai querer mais você.
– E como você pode saber disso? – pergunto e ele sorri mais uma vez, me deixando ainda mais incomodado.
– Conheço e entendo meninos como o Aaron.
– E como são meninos como ele? – pergunto, cruzando meus braços e encostando no sofá, esperando que ele falasse logo o que ele queria tanto dizer.
– Sempre tiveram tudo do bom e do melhor. O que acontece no final das contas, é que não sabem dar valor a nada. Eles perdem com facilidade coisas importantes e raras, que merecem a verdadeira atenção. – o encaro com o olhar semicerrado.
– E você acha que consegue ler mentes ou ver futuro, pra me dizer quando o meu relacionamento não vai dar certo?
– Não, eu sou apenas um cara experiente nesse meio. Você vai ver que o Aaron não gosta de você. – me sinto incomodado com a sua certeza de afirmar algo assim.
– É melhor, então você cuidar da sua vida. Não sabe nem da metade da minha história com ele. Se não gostasse de mim ele não estaria mais comigo há bastante tempo, coisa que alguém que acabou de nos conhecer jamais entenderia. Então ponha-se em seu lugar.
– Tudo ia ser mais fácil se ele não estivesse com você, você quer dizer. – ele fala e eu fico sem entender.
– Fácil?
– É, eu ia ter você só pra mim. – ele explica, observando meu corpo e mordendo mais uma vez a boca.
– Acho melhor você ficar bem distante de mim.
– É? E se eu não quiser?
– Aqui está, Finn... – Elaine fala, entrando no apartamento e Hans rapidamente volta a sua postura para uma postura calma e sensata.
– Oh, obrigado. – digo, recebendo a embalagem.
– James falou que ajuda demais nas dores que devem aparecer às vezes. O médico é excelente, então eu acho que vai ajudar. – Elaine explica, mostrando ser a mulher prestativa que sempre foi.
– Obrigado...
– Nós vamos conversando sobre a viagem pelo celular, tudo bem? – pergunta, chamando Hans para irem embora.
– Tudo sim. – falo, ficando em pé também.
– Acho que essa viagem vai ser excelente. – Hans fala e sorri. – Vai unir muito bem a nossa família.
– Vocês querem comer algo? – pergunto, ignorando aquele comentário, enquanto andamos pelo apartamento.
– Não, eu só vim porque eu precisava te entregar isso e conversar sobre o aniversário do Aaron.
– Então tá. – abro a porta.
– Até mais, Finn. – Elaine fala, enquanto passa por mim com Hans.
– Até mais. – falo. Hans não diz nada, ele apenas me manda um beijo com a mão e eu fecho a porta do apartamento em seguida, tentando me livrar do que eu tinha acabado de ver.
– Esse garoto vai ser um problema, um problema sério. – Lisa fala, parada na porta da cozinha e eu confirmo com a cabeça.
×°×
– Bom Aaron, sua perna está bem... ela ainda dói? – o médico pergunta, enquanto Aaron está sentado sobre a cama do consultório.
– Muito pouco.
– Ele vem pisando no chão, Finn? – o médico me pergunta.
– Não, não deixo.
– O Finn vem sendo um ótimo enfermeiro. – Aaron fala e eu estranho aquilo, eu não era seu enfermeiro, eu era seu noivo e cuidava dele, porque gostava de ver meu amor bem.
– Que bom, é pra isso que eu pago ele. – o médico fala e Aaron começa a rir. Fico sem entender mais anda, mas mesmo assim sorrio também.
Quando saímos do consultório fomos até o carro para irmos para casa. Já era a noite e Lisa já não estava mais lá em casa. Eu ajudei Aaron a entrar no carro e logo saímos em direção à nossa casa. Chegando nela, o óleo de massagem que ganhei de Elaine estava sobre a mesa, o que fez Aaron me olhar por alguns segundos.
– Comprou? – ele pergunta, pegando a embalagem e eu sinalizo um "não" com a cabeça.
– Elaine trouxe.
– Ela veio sozinha? – Aaron pergunta e eu já sei o que ele quer dizer com isso.
– Não, ela veio com aquele rapaz. – Aaron larga o óleo na mesa e sai andando até seu quarto. – Agora eu sei. – ele reduz a velocidade de seus passos em direção ao quarto.
– Sabe o que?
– Que ele quer me tomar de você.
– Como você sabe?
– Ele me disse. Ele tentou me fazer acreditar nele, por algum motivo as pessoas acham que conseguem me enganar com facilidade.
– É que você é diferente. – Aaron fala. – Lembra quando eu briguei com você por causa do Dylan? – confirmo com a cabeça, me aproximando dele. – Se fosse você no meu lugar, você teria feito o que eu fiz? – Aaron passa a mão no meu rosto, quando fico perto o suficiente pra isso.
– Não, eu não iria acreditar em terceiros. Iria te perguntar se era verdade.
– Viu, você é mais objetivo.
– Mas agora eu sei o que ele quer e eu não vou dar espaço pra isso.
– Eu sei, esse é um dos motivos pelo qual eu te amo tanto. – Aaron fala. – Vou tomar um banho, preciso relaxar. – me dá um beijo curto e eu deixo que ele vá para seu banho, se acalmar.
Vou até a cozinha, tiro minha blusa por causa do calor e esquento a comida que Lisa tinha feito para o nosso almoço, acredito que dava pra jantar ela, afinal estava deliciosa. Organizo a mesa e tudo que precisaria para o nosso jantar. Quando Aaron aparece na cozinha, já de bermuda solta e me vê, ele sorri, vindo até mim.
– Tava arrumando tudo. – digo.
– Pode continuar. – ele me abraça por trás. Aaron começou a beijar minhas costas, me acariciando o tempo inteiro. Ele ficou agarrado em mim durante todo o tempo que passei próximo da pia, fazendo suco natural de laranja.
Quando o suco estava pronto, lavei minha mão e me virei pra ele, abrindo as pernas para que Aaron se encaixasse no meio delas e eu pudesse beijá-lo. Era tão bom tê-lo ali, era tão bom poder sentir que tínhamos nossa privacidade naquele momento.
Depois de alguns minutos e com o fim do beijo, peguei a jarra com o suco e levei até a mesa, para que pudéssemos jantar. Jantamos juntos aquele dia e Aaron me contou sobre a escola, treino e amigos. Falei pra ele que estava aprendendo a cozinhar com Lisa e mais algumas coisas sobre meus treinos de corrida que ficavam recorrentes.
Na hora de dormir, colocamos um filme aleatório, e foi aí que eu me lembrei de um detalhe que já tinha me esquecido de comentar, mas aproveitei para falar.
– Daqui dois dias eu vou fazer aquele ensaio fotográfico. – Aaron me olha, sorrindo em seguida.
– Tudo bem, peço pro Mitchell me trazer. – ele responde e eu o abraço com mais força.
– Talvez lá não demore muito e eu volte no mesmo dia pra casa, vou poder ir com você pro aniversário do Evan. – Aaron me dá vários beijos, sorrindo em seguida.
Acabamos dormindo depois de alguns longos minutos e de manhã, quando acordei, ele já tinha ido pra escola. Eu acabei por ir correr, na hora do almoço voltei e ajudei Lisa na cozinha. Era legal aprender a cozinhar com ela e mesmo eu fazendo algumas coisas horríveis, Lisa não desistia de me ensinar a fazer aquilo. No final da tarde, fui buscar Aaron na escola e ele felizmente não demorou. Estava no grupo dele, Alec, Mitchell e Amber.
– Pelo visto já tá dominando bem as pernas. – Mitchell fala, me cumprimentando. Nós tínhamos um relação de proximidade e distância difícil de explicar, mas ele me deixava confortável.
– É, agora parece que está mais fácil. – respondo ele sorri.
– Oi, Finn... – Alec fala, acanhado. Ele ainda achava que eu tinha raiva dele pelo o que seu irmão fez com a minha, mas eu não tinha. Sabia separar bem as coisas.
– Oi, Alec. – sorrio.
– Tá um gato, Finn. – Amber fala e eu encaro ela. – Isso quer dizer que você tá muito bonito. – ela pisca pra mim, eu acabo rindo daquilo, abraçando-a em seguida. Amber era bastante carismática.
– Vamos? – Aaron pergunta e eu confirmo.
– Tchau, pessoal. – Aaron fala e saímos juntos.
No carro, acabei por receber muitos carinhos dele. Ele vinha tentando compensar o episódio de ciúmes que tinha tido nos últimos dias e embora eu não achasse necessário, respeitava essa vontade dele de fazer as coisas de forma diferente. Quando chegamos em casa, mandei um e-mail pra Mercedes, contando que iria para o tal estúdio fazer as fotos e eles me responderam que eu poderia ir sem problemas e ainda falaram que já sabiam e que tinham ajudado na organização do evento. Na manhã do dia seguinte, acordei junto com Aaron, minha mala já estava pronta, pois ele tinha me ajudado a fazê-la na noite anterior e isso facilitou muito na hora da minha saída para o aeroporto.
Na minha mala não tinham muitas coisas, tinham alguns equipamentos eletrônicos como meu notebook, fones e carregadores. Também tinham algumas peças de roupas para o ensaio, já que eles tinham me pedido isso também. Eu não acreditava que iria demorar muito lá, porque no convite estava especificado que era um ensaio curto. Eu queria mesmo era, se possível, voltar no mesmo dia.
Aaron pediu que Mitchell me levasse para o aeroporto e em seguida que fossem para a escola e Mitchell fez de bom grado para me ajudar. Antes de entrar no aeroporto, Aaron me deu um beijo de despedida e eu logo saí andando, afinal não poderia perder o voo.
Horas mais tarde, cheguei no estúdio. Lá tinham diversos atletas que eu já tinha visto na televisão e todos me cumprimentaram. A maioria era simpática e bem engraçada, o que fez com que tudo ficasse mais fácil naquele momento. Eles tentavam melhorar a simpatia no lugar, para não dar vergonha na hora de cada ensaio, o que fez toda a diferença.
No momento das minhas fotos, percebi que eles tinham conseguido um carro de corrida da Mercedes e que ele estava no estúdio para me auxiliar. Não só isso, eles também conseguiram fazer ambientações para todos os esportistas que estavam naquele lugar com os respectivos esportes que cada um praticava. Eu tive que tirar várias fotos, várias delas com roupas diferentes. Em uma delas, eu estava sentado sobre o carro de bermuda, uma bermuda curta que chegava a mostrar toda a minha prótese.
Na outra eu encostei no carro, segurei ambas as minhas mãos diante do meu corpo e sorri. Tirei fotos de bermuda, tênis e blusa de manga normal na maior parte das fotos, mas teve algumas que eu tirei de bermuda e tênis, sem blusa, pois o fotógrafo percebeu a minha tatuagem e queria aproveitá-la. Fora as fotos que eles tiraram de perto, dando ênfase ao meu rosto.
– Muito obrigado, Finn. – um rapaz fala, vindo me cumprimentar após o meu ensaio.
– Você é o Drew? – pergunto e ele sorri, confirmando com a cabeça.
– Eu mesmo.
– Eu gostei das fotos, obrigado pelo convite.
– Eles já te enviaram algumas, certo? – ele pergunta.
– Sim...
– Se quiser falar algumas frases para colocarmos no seu ensaio, isso daria ainda mais ênfase em quem você é e o que você quer. – confirmo com a cabeça, sorrindo em seguida.
– Posso sim...
Ainda fiquei mais algum tempo no estúdio, falando as frases que queria que usassem nas minhas fotos e depois disso me despedi de todos. Era a primeira vez que eu estava indo para um lugar apenas para fazer uma coisa e voltar no mesmo dia pra casa, mas isso seria excelente, afinal eu tinha que ir pra uma festa com Aaron no dia seguinte.
Naquele dia, cheguei em casa de madrugada e não quis acordar Aaron. Quando cheguei no meu quarto, deixei minha mala de lado e fui tomar um banho. Após o banho me deitei na cama e para a minha surpresa eu senti ele me puxar para dormir de conchinha com ele.
– Que bom que chegou, meu amor. – ele fala e eu sorrio, agarrando em seu corpo ainda mais.
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