Ás Vezes Não Temos Escolha

×Visão de Finn

– E como foi a aula ontem? – pergunto e minha irmã da de ombros, enquanto faz o jantar.

– Nada demais... Teve o jogo de abertura do ano letivo e mais uma vez o Aaron deu o seu show como capitão do time. – ela explica e esse nome me atrai.

– Show... – reflito em voz baixa sobre o que essa palavra queria dizer naquele contexto de conversa, mas acabo desistindo. – E esse Aaron... Como ele é na escola? 

– Excelente aluno, notas altíssimas e um ótimo desempenho no time. Muitas pessoas falam que ele é capitão por ser filho do governador, mas eu e outros professores não acreditamos nisso. Ele é um ótimo rapaz. 

– Se você diz...

– Bom, vamos comer? Tô morta de fome. – ela fala me deixando confuso, enquanto começo a pegar os pratos e colocar na mesa.

– Vamos. – falo, desistindo de entender o que ela disse com "morta de fome" e colocando a lasanha que tinha acabado de fazer no meu prato e no prato dela. Ela estava viva, então esse tipo de afirmativa não fazia sentido algum.

Emma e eu comemos tranquilamente e no final fui até meu quarto e me joguei na minha cama para dormir. Mais cedo ouvi boatos de que teria um racha no subúrbio sul da cidade, mas me neguei a participar por ser muito propenso a acidentes de carro e por não ter treinado naquela área.

Fora que eu sabia que Emma não me deixaria sair. Ela conhecia a fama daquele lugar e por isso apenas peguei meu celular para dar uma olhada nas mensagens do dia antes de dormir. Eu podia ouvir Emma falando ao telefone sobre contas atrasadas e foi ai que eu escutei ela gritar estressada e jogar o celular contra a parede.

Me levantei rapidamente e fui até ela, que chorava sentada no chão. Quando toquei nela, Emma me olhou e me abraçou, como se implorasse por ajuda. Senti, naquele momento, que ir para aquele racha tinha acabado de se tornar sim uma opção viável.

– O que aconteceu? – pergunto em baixo tom.

– Querem nos despejar... – explica e eu fico pensativo, olhando para o nada por alguns segundos, segurando seu rosto e olhando em seus olhos em seguida. Eu odiava isso, mas naquele momento não se tratava apenas de mim.

– O dinheiro tá pouco, né? 

– Eu terminei de pagar aquele dinheiro que o papai tinha pegado com aqueles homens com aquele dinheiro que você me entregou e paguei algumas contas, mas não deu pra pagar todos os aluguéis atrasados e comprar comida com o meu salário e com o dinheiro. Eu pedi que o senhor Miller dividisse a dívida em duas vezes pra eu pagar com meu salário todo dessa vez mês que vem e no próximo, mas ele não quis. Falou que se não pagarmos os 7 aluguéis atrasados, estaremos no olho da rua até o fim da semana. – ela explica e eu reflito.

– Tá tudo bem. – respondo, me levantando.

– Aonde você vai? 

– Correr. – falo e ela se levanta, me segurando.

– Não, Finn! Não... 

– Eu vou voltar, eu sou o melhor, lembra? – pergunto e sorrio de lado, tentando passar algum tipo de confiança. Outro dia eu li que as pessoas costumam sentir positividade quando sorrimos pra elas e demonstramos confiança. 

– Irmão, por favor... 

– Tchau. – concluo a conversa, pegando minha jaqueta que estava na cadeira da mesa de jantar e saindo de casa.

Entro no meu carro e começo a dirigir até o fim do subúrbio norte, entrando e indo até o outro lado no subúrbio sul da cidade. Eu morava no início do subúrbio norte, na parte que não tinham tantos assaltos e assassinatos, mas para onde estava indo era ainda pior. O Eddie morava próximo de onde estava ocorrendo a corrida, mas ainda sim a rua dele era melhor que a que estava indo naquele momento. Quando cheguei lá avisei que correria e enquanto conversava com alguns "amigos" Aaron apareceu ao meu lado.

– O que faz aqui? – pergunto e ele sorri.

– Bom, o Eddie marcou com o Mitchell de encontrar ele aqui. – ele fala – Melhora essa cara, parece que está vendo uma assombração.

– Entendi... E você veio de acompanhante, como sempre. – percebo, então, que Aaron ficou incomodado, mas não disse nada. Eu gostava de imaginar o que as pessoas pensavam quando eu claramente falava mais do que devia, mas era impossível. O máximo que conseguia era pensar em algum sentimento que seria comum em Emma e acabar generalizando, tentando entender todos como eu tinha aprendido a lidar com ela.

– E você, o que faz aqui? Pensei que não corresse nessa região. – ele questiona e eu o observo por alguns segundos.

– Quem te disse isso? – pergunto e ele dá de ombros. Eu não tinha dito pra ele que não corria nessa região.

– Andei fazendo pesquisas ao seu respeito, senhor Finn. – ele fala e me arranca um sorriso.

– É? E o que mais andou descobrindo nessas pesquisas? – pergunto, me encostando de lado no carro e olhando ele nos olhos de perto pela primeira vez. Eu geralmente não conseguia fazer isso com qualquer pessoa. Olhar nos olhos de alguém me trazia completo desconforto, mas aprendi a fazer para dar credibilidade a algo que eu falava para Emma. Não me pergunte o motivo pelo qual eu consegui olhar nos olhos de Aaron sem precisar me acostumar com ele porque eu não sei.

– Primeiro você tem que falar por qual motivo tá correndo aqui... – ele protesta, me olhando de volta como se não se importasse com a nossa proximidade atual. 

– Problemas em casa, minha irmã precisa de dinheiro. – explico, acabando com aquela olhada nos olhos. Ela conseguiu chegar no auge do incômodo mental em mim.

– Quanto ela precisa? 

– Uns 5000 dólares. – explico. Talvez ela precisasse até de mais, mas eu não queria abrir a minha vida completamente pra um cara que tinha conhecido em um curto período de tempo atrás.

– Eu posso te emprestar esse dinheiro. 

– Você tem uma inteligência menor que a da média das pessoas? – pergunto e ele me encara.

– Como é? 

– Teria coragem de emprestar dinheiro a um cara que você conheceu ontem? 

– 5000 dólares é a minha mesada. Não vai fazer falta se você não pagar... E acho mais seguro do que ver você correr. Quanto vale essa de hoje? 

– 3500. – falo.

– Nem vai ser tudo o que precisa. 

– É, mas é uma parte.

– Corredores, aos seus lugares! – uma garota grita e eu dou a volta no meu carro, ignorando ele. Não era como se eu realmente fosse pegar dinheiro com um garoto aleatório. Por mais que eu estivesse desesperado, ainda me restava noção. Eu não sabia se ele era uma espécie de agiota da classe alta da sociedade e se fosse os juros provavelmente seriam altíssimos. 

Quando entro e olho para o lado, no entanto, vejo Aaron fechando a porta e colocando o cinto. Observando aquilo fico sem entender e sem acreditar que ele está ali.

– O que você quer? – questiono. 

– Adrenalina.

– Você pode morrer, sabia? 

– Então não bata. – ele rebate e eu fico incrédulo com aquela determinação. 

– 1, 2, 3, VÃO! – a garota grita e aquela fileira de carros sai em alta velocidade.

Posso ver que vários carros ainda estão na minha frente e por isso entro em uma viela, para pegar um atalho. Embora eu soubesse o caminho, no entanto, tinha medo que alguém chegasse onde eu ia antes de mim, porque se não eu poderia acabar enfiando meu carro na porta do carro de outra pessoa – e com Aaron ao meu lado, com certeza isso chamaria uma atenção que eu não queria receber. Esse medo fez com que eu ficasse mais cauteloso do que geralmente sou.

– Pra onde estamos indo?! – Aaron pergunta, enquanto se segura no banco do carro e quando vejo todo aquele desespero acabo rindo um pouco. – Você saiu tão rápido que a minha determinação e espírito ainda estão lá na linha de saída...

– Confia em mim. – peço, enquanto afundo ainda mais o pé no acelerador do carro naquela viela e felizmente saio dela na frente de todos.

Continuo pilotando, sem olhar pelos retrovisores. O farol alto dos outros carros poderiam me causar cegueira temporária. Sinto um incômodo ainda maior na curva mais fechada e paro de acelerar, fazendo meu carro derrapar em uma curva perfeita. Agora sim vejo que posso olhar para o retrovisor, afinal de todos aqueles carros que tentaram realizar a curva cerca de 3 apenas não bateram – a curva possuía pouco espaço e alguns carros acabaram entrando em duplas, provavelmente porque acreditaram que conseguiriam acabar se enfileirando nos últimos segundos, mas não conseguiram.

Vejo um carro ao meu lado que tenta me acertar por diversas vezes e por causa disso eu tenho que me manter em um zig zag na pista, tentando não deixar que aquele rapaz amasse a lataria do meu carro. Ele não custou 1 dólar para que eu não ligasse. Para todos os efeitos, em uma dessas tentativas de me acertar ele acabou deslizando sobre uma poça de óleo e batendo com outros dois carros.

Na última curva eu podia ver a linha de chegada e ao olhar para o lado Aaron sorria, como se tivesse gostado da adrenalina.

~Eu gosto dele. ~Penso.

~Você nem conhece ele. ~Penso.

~É, mas eu realmente acho que ele pode cuidar do Finn. ~Penso.

~Só você, ele tem cara daqueles garotos ricos que usam os outros. ~Penso.

~Ele ia emprestar dinheiro ao Finn. ~Penso.

~Grande coisa. ~Penso.

~Freia! ~Penso.

Acabo metendo o pé no freio e parando diante de uma das moças, que parecia assustada. Ainda fiquei alguns segundos com o carro ligado, parado. Quando olhei para o lado, vi que Aaron agora sorria pra mim. Desliguei, então, o carro e me preparei para descer, sem dizer nada pra ele. Quando eu desci do carro, uma garota veio em minha direção, me cumprimentar. Aaron também me cumprimentou quando desceu do carro e ficou ao meu lado.

Alguns carros chegaram em seguida, todos curiosos já que era a primeira vez que eu estava naquele lugar – afinal Emma realmente não me deixava ir para aquele lado da cidade correr. Fora ela, eu também não confiava muito naquela parte do subúrbio, principalmente por ser considerada a mais perigosa da cidade, mas precisava do dinheiro. Foi aí que um homem alto desceu de um carro preto de vidros escuros e veio em minha direção. Aquilo me deixou levemente atento.

– Entra no carro e me espera lá. – falo para Aaron, que faz sem reclamar ou perguntar nada.

– E você, quem é? – o homem pergunta e na mão dele vejo o pacote com o dinheiro.

– Finn, Finn Longford. – ele, então, me avalia inteiro. 

– Aqui está seu prêmio, Longford. – o homem fala, me entregando um pacote e eu dou as costas. –Ai garoto...

– Que foi? 

– Eu tô precisando de um piloto bom pra fazer umas entregas. Se você se sentir interesse... – ele começa e eu o interrompo.

– Te procuro. Mas se eu fosse você não ficaria esperando. – falo, entrando no carro e entregando o pacote ao Aaron.

Dou ré e saímos dali em seguida. Por algum motivo bem estranho eu não conseguia nem mesmo respirar direito estando ali. Era a sensação mais estranha que já tinha sentido. Enquanto eu dirigia para que nos afastássemos daquele lugar, consegui perceber que Aaron estava curioso pra olhar o que tinha dentro do pacote. Ele não era do tipo que conhecia uma embalagem de um pagamento por racha.

– Então aqui tem...

– Dinheiro. É. – falo, olhando ele por alguns segundos. – Quer comer alguma coisa? 

– Você vive disso? E se você morrer? – Aaron pergunta e eu suspiro.

– Presta atenção... – ele me olha. – Eu não corro em racha, porque quero. Eu corro, porque mesmo aquela escola que você estuda sendo de gente rica, ela paga uma miséria pra minha irmã aguentar vocês. Meu pai morreu e deixou um monte de dívida pra minha irmã e eu tenho passagem, então não arrumo emprego, graças a política falha de ressocialização do pai do seu amigo. Se eu morrer, vou ser mais um delinquente desconhecido na estatística. 

– Eu sei que você não corre porque quer. – Aaron fala tirando um baseado do bolso.

– Você fuma? – pergunto e ele nega com a cabeça.

– Ganhei hoje do Eddie, quer experimentar comigo? – eu o encaro.

– Me entrega isso.

– Não. – ele fala e eu freio o carro com força, deixando ele em choque. Então tomo o cigarro da mão dele e jogo pela janela. – Ei! Por que fez isso? – ele pergunta, enquanto eu volto a acelerar.

– Eu pedi, você que não me entregou. 

– Volta, vou pegar. – Aaron fala e eu o encaro com raiva.

– Não, não vai.

– Por quê? 

– Por qual motivo você acha que seu amigo tá viciado? Não tem só maconha nisso... É uma tragada e o fim da sua vida. Pra sua sorte, eu não formo mais viciados. – ele parece refletir.

– Você é bem chato pra um cara sem escrúpulos. 

– Quer ver meus escrúpulos? – pergunto ofendido, já sabendo que talvez me arrependeria.

– Foi brincadeira. – ele fala e eu começo a dirigir calado. – Ei, foi brincadeira. – insiste, pegando no meu braço e apertando ele. Eu olho para sua mão e mesmo tentando entender aquilo como brincadeira, mas a minha mente não entende isso tão facilmente.

Eu continuo dirigindo até chegar em casa e quando chego, minha irmã vem correndo até mim e me da um abraço apertado.

– Graças a Deus. – ela fala. Eu odiava essas atribuições religiosas, então prefiro ignorar. Em seguida, peço o pacote que estava com Aaron.

Nesse momento minha irmã vê que eu estou com ele e parece ficar acanhada com isso. Eu então entrego o pacote a ela que me encara.

– Não tem o suficiente, mas dá pra ajudar. – digo e ela me olha com aqueles olhos verdes cheios de lágrimas. Minha irmã olha Aaron por alguns segundos e então me olha novamente. – Ele é um conhecido meu... ele tá limpo também, pode ficar tranquila. – me preparo para sair novamente.

– Você volta hoje? – ela pergunta e eu me viro de frente pra ela mais uma vez, dando um beijo em sua testa e sorrindo.

– Amo você. – digo, de forma séria e ela concorda com a cabeça. Em seguida, Aaron e eu saímos do apartamento.

Entramos no carro e eu posso ver minha irmã olhando pela janela, como se ainda se sentisse acanhada pelo Aaron ter presenciado tudo o que presenciou, mas de uma forma estranha eu sentia que podia confiar nele e com isso saímos por ai, sem um lugar exato para irmos.

×°×

- Eu entendo seus motivos. Quer dizer... Eu nunca vivi nada assim, mas eu consigo imaginar. – ele fala.

– Eu corro desde os 16. Comecei com um carro velho do meu pai... Meu pai era viciado em jogo e apostas, com isso vivia pedindo dinheiro pra uns bandidos daqui para bancar os jogos. Quando ele e minha mãe morreram, todas essas dívidas foram pra Emma, ela era ameaçada para pagar isso. Eu me viciei por causa do contato constante com o mundo do crime naquele bairro e ela teve que aguentar esse problema sozinha. – explico e Aaron continua me olhando de forma séria.

– Eu sinto muito. – ele fala, colocando a mão nas minhas costas e passando sobre ela. Essa expressão eu conhecia bem, lidar com isso de "sinto" vindo de alguém era comum na minha vida.

– Eu me "limpei" pela Emma e tentei arrumar emprego, mas quando o Eddie foi preso acusado de estupro, eu estava com ele. Toda a droga que estava no apartamento eu assumi como minha por causa da minha amizade com ele e por ainda ser menor na época. 

– Foi em cana? – Aaron pergunta.

– Passei um tempo na prisão sim, mas depois que saí, não consegui nada. Ainda sou visto como um traficante sem nunca ter traficado. – ele, então, sobe sua mão das minhas costas e começa a fazer cafuné na minha nuca, devagar.

Estávamos fora do carro, sentados na beira de uma estrada qualquer, enquanto conversávamos. Por mais que nos conhecêssemos há pouquíssimo tempo, eu sentia como se o conhecesse a minha vida inteira – e isso era uma loucura de refletir, porque eu nunca imaginei que sentiria isso por alguém.

– É uma pena que tenha sido obrigado a pagar uma conta que não é sua. – Aaron diz, em baixo e lento tom.

– Fiz isso a minha vida inteira, não tem como eu me importar menos com isso agora. – respondo e ele sorri, me olhando mais uma vez. 

Admito que eu já tinha sentido atração por ele desde a primeira vez que o vi e talvez por isso eu estivesse ali, naquele momento, sem me importar muito com o que estava acontecendo. Aaron claramente não gostava muito de ser uma pessoa previsível – ou sequer teria entrado no meu carro mais cedo – e eu confesso gostar de pessoas que me surpreendem. 

E mesmo que eu confesse que sim, esses olhares e insinuações dele mexiam comigo, eu nunca quis tanto beijar um rapaz antes, mas não era do tipo de ficar contestando o que eu queria, mesmo que talvez devesse – principalmente por ser uma pessoa que talvez me trouxesse problemas. Continuávamos sentados na beira de uma pista totalmente vazia pelo horário. Na minha frente, meu carro estava estacionado, eu estava com meus braços em volta dos meus joelhos e ao meu lado, Aaron estava cada vez mais próximo. Foi aí que aconteceu.

Aaron e eu nos inclinamos e nossos lábios se tocaram em um beijo tímido, enquanto nos mantínhamos de olhos abertos. No começo parecíamos querer ver se aquilo realmente acontecia, mas foi quando fechamos nossos olhos e demos início a um ritmo pacífico com desejo que sentimos que sim... Aquilo era para acontecer.

Com uma das mãos Aaron passava seus dedos entre o meu cabelo e me puxava para si. Eu deixei que ele conduzisse nosso beijo e ele enfiava sua língua na minha boca, brincando com o meu desejo e com a minha necessidade de tê-lo naquele momento. Depois de alguns minutos de beijo ele sentiu seu celular vibrar e o pegou rapidamente, enquanto eu ficava avaliando comigo mesmo o que tinha acabado de acontecer.

– Alô? – ele fala atendendo. – Oi, pai... – revira os olhos. – Não, eu tô em uma festa. É, umas líderes de torcida queriam fazer uma daquelas festas e eu tô aqui agora. Eu tô com o Mitchell... Não, vou pra casa ainda hoje. Sim, pai, eu sei dessa coletiva, eu vou pra casa daqui a pouco. Não, não tô bebendo. Tá, tá... Pode ir... Até amanhã. Tchau pai, boa noite. – ele desliga o celular e me olha.

– Coletiva? Que rapaz importante é esse que eu acabei de beijar? – pergunto e começo a rir.

– Engraçadinho... – Aaron fala, me dando um empurrão leve. – É que meu pai chega amanhã aqui em Denver de uma das reuniões dele e vai ter uma entrevista comigo e com ele sobre ser pai e ser político, essa coisa chata que eu não queria me importar, mas sou obrigado. – ele explica. Os lábios de Aaron estavam vermelhos pelo beijo e ele sorria entre algumas palavras, talvez pela vergonha de perceber que eu encarava sua boca.

– Então, quer ir pra casa agora? – pergunto, desviando meu olhar de sua boca e olhando em seus olhos. Ele nega com a cabeça, olhando para a frente.

– Você pode, por favor, parar de encarar a minha boca? – ele pede, assim que percebe que meu olhar desceu de seus olhos mais uma vez, mas aquilo parece impossível.

– Não consigo, eu quero muito beijar ela mais um pouco. – respondo e ele me olha, sorrindo totalmente envergonhado.

Ficamos sentados lado a lado por mais algum tempo e calados dessa vez. Aaron tinha braços fortes como os meus, mas os dele com certeza eram por causa do futebol americano. Ele vestia uma blusa de manga normal cinza e calças pretas, rasgadas no joelho.

– Você acha que o Mitchell ainda tá lá? – ele me pergunta, me olhando em seguida e fazendo com que eu desviasse meu olhar para o carro.

– Esse horário os rachas já pararam por causa da última corrida... Se ele estiver em algum lugar,  deve estar no Eddie. Quer que a gente vá buscar ele?

– Sim, por favor. Amanhã a gente tem aula. – Aaron responde e eu concordo com a cabeça.

– O Mitchell não precisa de você cuidando dele o tempo inteiro, viu? Meio que você não precisa se esforçar tanto sempre.

– Não precisava, agora ele tá se afundando. – Aaron fala e eu procuro uma forma de entender a expressão. Não acho que ele tenha falado como se o Mitchell estivesse se afogando em uma piscina nesse momento.

– Você precisa falar com o pai dele... – ele bufa, sorrindo em seguida e fazendo sinal de "não" com a cabeça, enquanto apoia seus braços em suas pernas encolhidas.

– O pai dele é um babaca que só sabe falar merda. Não tem diálogo... Você conhece nosso prefeito? 

– Pessoalmente não, como a maioria da população. – mas vários projetos dele me foderam nos últimos anos, então consigo ter uma ideia de como ele é.

– Não estão perdendo nada em não conhecê-lo pessoalmente. 

– E de conhecer o governador, estamos? – pergunto e ele me olha.

– Cuidado... – ele adverte.

– Foi só uma pergunta, não precisa ficar bravo. 

– É? Foi só uma pergunta? Mas eu não gostei do seu tom de voz. – ele fala procurando meus olhos, mas eu sempre desvio o olhar.

– Não?

– Não. – ele responde, quase emburrado.

– Você sabe que eu só falo quando você não está me beijando, então pra tudo tem solução. – rebato e ele me olha nos olhos, segurando meu queixo e encostando nossas testas por alguns segundos. 

– Desde que eu te vi pela primeira vez, eu sabia que ia ser problema. – ele reclama e eu sorrio. Aaron, então, me puxa mais uma vez e encosta nossas bocas novamente.

Eu ainda mantenho minhas mãos paradas, do mesmo jeito que sempre estive desde o começo, porque eu sabia que se as colocasse nele, não conseguiria tirar mais. Se já era difícil controlar meus instintos sem me entregar totalmente para seus beijos, quem dirá se eu realmente me deixasse levar pelas minhas vontades.

Que o beijo de Aaron é gostoso, eu não posso negar. Eu mal tinha parado de beijar ele para voltarmos ao carro e já estava querendo mais – e por mais que eu tivesse noção do quão perigoso esse vício poderia se tornar pra mim, não me importava. Eu gostava muito. Com isso, assim que entrei no carro eu o puxei para mais um – dessa vez tocando-o de verdade pela primeira vez.

Todas as vezes ele me segurava contra seu rosto e brincava com meus lábios, como se quisesse me mostrar que eu mal tinha o conhecido e já queria ele ainda mais por perto, me fazia esquecer do mundo e eu sabia que se não cuidasse, esse seria meu novo vício. Após pararmos de nos beijar eu comecei a dirigir, mas na metade do caminho mais ou menos senti a mão de Aaron escorregando pela minha coxa e deslizando sobre ela.

O toque dele me deixava ainda mais apreensivo então evitei olhá-lo ainda mais, para me manter concentrado na direção. Quando chegamos ao prédio de Eddie, toquei a campainha 10 vezes até ele aparecer na porta, cambaleando, como sempre.

– O que cê quer? – Eddie pergunta, se mostrando chapado como sempre.

– Está com o Mitchell? – questiono.

– Mitchell? Quem é Mitchell? 

– Da licença. – falo impaciente, passando por ele.

– Uai, você se duplicou? Quem é essa outra muralha ai? – ele pergunta, ao ver Aaron entrando atrás de mim.

– Procura ele por ali. – falo para Aaron, que confirma com a cabeça. Começamos a vasculhar o apartamento de Eddie e embaixo de algumas roupas sujas no puff fofão, Mitchell estava dormindo. – Achei. – aviso e Aaron vem até mim, me ajudando a levantar seu amigo e arrastá-lo.

– Vai vir aqui amanhã? – Eddie pergunta, impedindo minha passagem com Mitchell e Aaron.

– Sexta, sexta eu venho. – falo e ele dá de ombros, deixando que eu saia em seguida.

Colocamos Mitchell, que ainda estava desmaiado, no carro e saímos dali em seguida. Quando chegamos à casa de Aaron, ele me convidou para entrar, mas como Mitchell já estava acordando e conseguindo andar sozinho, eu neguei. Apenas acenei para ele e fui embora, estava exausto e precisava dormir.

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