Parte II


Encostou-se na lateral do carro e congelou o sorriso na direção da lente. Batom e vestido vermelhos. Minha pentax prateada fez um clique. Ouvimos o negativo girando.

Fomos embora de nosso recanto secreto, seguindo pela estrada poeirenta na direção da cidade fria, deixando o calor do nosso mundo particular para trás.

Hoje, finalmente, coloquei o óleo nessas malditas molas enferrujadas. Fico procrastinando para abandonar essa casa vazia. Essa foto, já tão amarelada, de você encostada no meu velho sedan vermelho, me transporta de volta àquelas tardes de sol, às vezes chuvosas.

- Vem logo, pai! Preciso trabalhar! Todo mês é a mesma coisa...

Nossa filha virou uma grande pessoa. Impaciente, mas boa pessoa. Ela me faz lembrar de você, o que dói e conforta, ao mesmo tempo.

- Não acha melhor vender essa casa velha, pai? O que tanto o senhor faz lá dentro toda vez que te trago.

Com essa maldita lata de óleo na mão, penso no quanto queria que você tivesse conhecido nossos netos.

- Vamos, filha. Já acabei. Me leve para casa, pois sua mãe deve estar me esperando para o jantar. Amanhã passe lá também e leve os meninos, pois precisaremos conversar sobre uma coisa importante.

- Credo, pai! Quanto mistério...

Cansei de substituí-la na memória de nossa família. Eu não soube lidar com a perda sozinho. Sinto-me idiota...Sou um velho idiota com um segredo, desde o dia que nossa filha veio ao mundo e você se foi. Precisei de alguém para ocupar esse lugar e ser a mãe que você não teve a chance de ser.

Talvez eu tenha escolhido a forma errada de proteger nossa filha. Ela também é mãe... Aprendi com ela a ver as coisas de outra forma. Amanhã ela saberá quem é essa linda jovem na antiga foto amarelada.

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