Definitivamente eu detesto primeiros dias de aula. Na maioria das vezes o conteúdo é pouco e inútil, as pessoas se lambendo só porquê ficaram alguns meses sem se ver. E também o próprio número de gente, são muitos.

Infelizmente hoje fui praticamente obrigado ir para a escola. Meu pai ligou dizendo que é muito desgosto ele ter comprado os materiais e eu não usar. Ele também fez um discurso falando sobre eu estar no ensino médio.

Não gosto da hipocrisia dele. Praticamente me abandonou quando eu ainda era criança. Meus pais se separaram quando eu tinha quatro anos, fiquei morando com minha mãe e com minha avó materna. Meu pai me visitava de vez em nunca. Hoje em dia quando ele vem só quer saber de me dar presentes. O que não vale nada, pois o que eu mais preciso é de amor.

***
A aula até que não foi tão ruim. Não me entrosei com quase ninguém. Afinal, quem iria querer conviver com um menino gordo e feio como eu? Que tem como nome Gilson. Eu disse Gilson.

Conversei com três meninas hoje, elas são da minha turma. Até que são legais. Bem diferentes na aparência, mas parecem se dar super bem.

Conheci elas de uma maneira um pouco inusitada. Eu estava sentado sozinho na sala de aula, olhando para o nada. Pensando em vários nada.

De repente uma menina morena de cabelos cacheados começa me cutucar. No começo fingi não perceber, até que ela começou a me chamar.

- Ei, menino. Me alcança meu estojo que caiu nos seus pés?

Essas três meninas estavam sentadas atrás de mim. Duas sentavam juntas, que era a morena de cabelos cacheados e uma branca que também tem cabelos cacheados. Atrás delas tinha uma outra menina.

Ignorei o fato da menina me chamando e peguei o estojo dela. Alcancei em sua mesa e voltei para o meu lugar.

Logo ela começou me cutucar novamente, hoje realmente não é o meu dia.

- Olá. Primeiramente, obrigada por pegar meu estojo. - Diz a morena com um belo sorriso no rosto. - E caso você não percebeu, meu nome é Lou.

- Eu sou Gilson, mas pode me chamar de Gil. - É a única coisa que consigo responder. E logo ouço risadas vindo da parte das meninas.

- A gente já sabe, a Lou só falou o nome dela porque a gente percebeu que tu estava viajando na hora da chamada. - Disse a outra menina de cabelos cacheados, e bem intrometida eu diria. - Inclusive, sou Bia. -Agora a intrometida tem nome.

- Aquela ali atrás é a Hellen, prima da Bia. - Apresenta Lou.

Hellen ainda estava copiando a matéria do quadro, então só acena para mim.

- Muito prazer! - É o que consigo responder, novamente.

- Gil, quer ficar com a gente no recreio? - Convida Bia.

- Eu tinha planos de comer e escutar músicas. Tem merenda nessa escola, né? - Respondo junto com uma pergunta.

- Você também estava em outra escola, que legal. - Comenta Lou.

- Fazer o que? Uma cidade pequena com poucas escolas com ensino completo. - Digo e logo estava rindo junto com as meninas.

É muito doido como a gente se julga e julga as outras pessoas também. Estava a pouco criticando as meninas que nem conheço e agora quero ser amigo delas.
***

Nosso recreio foi bem legal juntos, conversamos sobre várias coisas. Bia me recomendou algumas músicas da Melanie Martinez e eu fiz um mine discurso dizendo os motivos para amar Momoland, meu grupo de k-pop favorito.

Depois quando estávamos voltando para a sala vi um menino no corredor. Na verdade eu vi vários, mas um deles me chamou atenção. Além de lindo, ele tinha um olhar puro e um sorriso encantador.

Fiquei por um tempo apenas encarando de longe. Espero que ele não tenha notado. A Bia notou os meus olhares na direção do menino e até me chamou atenção.

- Gil, para onde você tá olhando?

- Eu? Para nada, estava aqui pensando só.

- Ei, Lou, aquele não é o Dani? - Questiona Bia apontando um tanto nada discreta para o menino em que eu estava olhando.

- É sim! - Afirma Lou, dando para o menino um nome em minha mente. - Oi Dani. - Grita Lou enquanto acena para o menino.

Dou um leve sorriso quando ele olha em nossa direção. E continuo meu caminho para a sala de aula.

Na escola nova tem ensino médio e o ensino fundamental. Porém são divididos em corredores. Uma pena, o menino Dani não está no meu corredor, provavelmente ele é do ensino fundamental.

***

As últimas aulas depois do recreio passaram voando. Eu fiquei junto com a Hellen e conversamos muito, talvez seja por isso que eu não tenha sentido o tempo passar.

Depois que a aula acabou me despedi das meninas, infelizmente não moramos na mesma direção. Mas eu vi um menino que é da minha turma indo para o mesmo lado que eu vou em direção de casa.

Caminhei um pouco mais rápido e alcancei o menino, André o nome dele. Ele estava empurrando sua bicicleta, por pouco não o alcanço.

- Posso te acompanhar? - Pergunto assim que o alcanço.

- Claro, vamos lá.

Não posso dizer que o André virou meu melhor amigo pois literalmente não trocamos muitas palavras. Mas eu gostei dele, achei bastante simpático.

Logo que cheguei em casa encontro minha mãe colocando os pratos na mesa para o almoço.

- Olá filho querido, como foi o primeiro dia?

Dou um beijo na sua testa e me sento para contar tudo para ela.

- Eu gostei, acredita? Conhecer gente nova nem sempre é ruim. Fiz amizades novas.

- Que bom filho, fico feliz por você. Tem uma coisa para te contar. Seu pai ligou hoje de novo. Quer falar com você.

Minha mãe tem esperanças que um dia eu e meu pai iremos conviver perfeitamente como pai e filho, mas eu acho muito difícil. Para prevenir discussões apenas acenei com a cabeça e fui para o meu quarto fazer a ligação para o meu pai.

Liguei uma, duas vezes e ele não atendeu. Quando ia ligar pela terceira vez recebi uma mensagem vindo do número do meu pai.
"Seu pai não pode atender agora, vai achar o que fazer. Ele tem coisas mais importantes com o que se preocupar."

Aquela mensagem quem escreveu foi minha madrasta, Bárbara, tenho certeza.

Essa mensagem me deixou triste e com raiva. Não sinto raiva apenas da Bárbara, mas do meu pai também.

E isso não é certo, sentir raiva de uma das pessoas que mais deveria amar. Mas é o que sinto agora, raiva e tristeza.