XXXIX_Sem fôlego

Cerca de dois meses se passaram. Miranda começava a estranhar a menstruação atrasada e o mal estar frequente, já temendo o que estava acontecendo. Decidiu então, ir até a cidade fazer exames.

Desceu as escadas em direção à porta principal, mas parou ao ver uma mulher jovem, de roupas simples e um pouco gastas, entrar na sala de estar e ir em direção a Fernando, já o confrontando.

— Você outra vez? Meu filho, já mandei não deixar empregada oportunista pisar nessa casa.— Ele reclamou com o capataz.

— Não estou disposta a aguentar suas grosserias e não vai me expulsar daqui por enquanto, porque não é o conveniente.

— Está me ameaçando com o que garota? Vai me processar por ter te feito tirar o pivete da sua barriga imunda?

— Fique tranquilo que o seu neto tá bem e em segurança.

— Como ousa vir com essa calúnia novamente pra cima de mim?— Ele olhou para o empregado, como se o mandasse sair, e o homem logo obedeceu— Ainda que você tentasse provar que esse fedelho é filho do Felipe o meu dinheiro provaria o contrário.

— Não estou me referindo ao Felipe quando disse que é seu neto.

— Agora você vai vir me dizer que o Miguel anda com porcarias como você? Faça-me rir.

— Amélia Rodrigues.— Ela falou com voz firme.

— O que é que tem? É o seu nome por acaso? Porque pra mim não faz nenhuma diferença.

— Esse é o nome da minha mãe. Te lembra alguma coisa?

— Sinceramente não.

— Você engravidou essa mulher 25 anos atrás.

— Cansou de brincar com o Felipe e agora veio pra cima de mim?

— Pelo contrário, eu ajudei o Felipe a descobrir a verdade sobre um passado que é muito semelhante ao meu. Só que, ao contrário de mim, que tive uma mãe fantástica mas triste por 2 anos antes de ir parar em um orfanato, ele foi tirado de lá com essa idade.

— Maldita infeliz!— Ele pegou a mulher pelo pescoço e a jogou contra a parede— Quem é você e o que quer da minha família?

— Sou Cecilia Rodrigues, sou a filha da mulher que você usou e depois humilhou de todas as formas possíveis. Sou o bebê que estava na barriga dela quando você quase a matou com socos e chutes na frente de todos os empregados da fazenda e depois os calou com dinheiro e ameaças. Mas eu não sou da polícia. Eu sou uma deles. As paredes e os pés de morango têm ouvidos e boca e me contaram não só a história do Felipe, mas, ainda que eu não tivesse a pretensão, me contaram também a minha.

— Você não é ninguém pra provar isso.

— Eu não, mas as freiras do orfanato onde eu fui criada encontraram, perdida nos arquivos, uma carta da minha mãe que comprovava tudo o que aqueles pés de morango me contaram um dia, sobre a garota que tinha saído daqui grávida e espancada, e que a última notícia que tiveram era de que tinha se matado.

— Cala a boca!— Ele a sufocava cada vez mais, mas ainda assim ela não se calava.

— Ela se matou 23 anos atrás. Se enforcou no convento que a acolheu e eu vi tudo. Eu vi a dor que você causou nela. E não falo só dos hematomas, mas também da dor psicológica que perseguiu ela por anos até acabar de corroê-la por dentro. Eu falo de mim. Daquele bebê que sobreviveu, mas sugou da própria mãe todas as forças, porque eu sei que todas as vezes que ela olhava pra mim sentia e relembrava tudo de mal que você tinha feito pra ela.

— Você tá pedindo pra morrer!— Ele a jogou no chão, pegou sua faca e apontou para o pescoço da mulher.

Miranda ouvia tudo, aterrorizada e estática, torcendo pra que aquela mulher fosse embora e ela não tivesse que ver e encobrir um assassinato que era quase certo. Mas, mesmo caída no chão, com a morte olhando para seus olhos e apontando uma faca para seu pescoço, ela se mantinha firme em dizer aquilo que poderia ser seu discurso de despedida dessa vida.

— Curiosamente o destino me colocou no caminho exatamente do seu filho. Porque, com tantas mulheres que dariam a vida por uma noite, ele escolheu a única que não se importava em ir pra cama com o patrão pra confiar e pedir ajuda. Quem diria que homens tão iguais entrariam na minha vida e na da minha mãe de maneiras tão diferentes. E sou grata por ter tido o Felipe e não você na minha.

— O que você quer? Dinheiro? Poder?

— Além do Felipe eu não quero nada que venha de você.— Ela soltou um riso baixo e debochado— Se bem que o Felipe nem veio de você.

— Fala logo maldita. Você não me importunaria se não quisesse nada em troca.

— O único motivo pelo qual eu vim até você é porque a história da minha mãe merece ser contada. Eu imagino quantos assassinatos existem no seu currículo, mas espero que a história da minha mãe faça com que a sua consciência pese, pelo menos um pouco, quando for dormir. O meu único prazer nesse momento é ter a certeza de que te atormentei, pelo menos um pouco, com a ideia de que o bebê que um dia você não conseguiu matar, carregou e hoje é mãe de um bebê do garoto que você escolheu como seu sucessor. Eu espero que você se sinta pelo menos um pouquinho atormentado, pelo menos sinta um pouco do que a minha mãe sentiu por todos esses anos, e assim, só assim, eu vou sentir que, apesar de a minha existência ter feito tanto mal pra ela, serviu pra vingá-la.

— Já chega!— Ele ergueu a faca e a mulher, com um impulso, fechou os olhos, quase se preparando para o fim de sua vida, mas uma voz calma e tremida ecoou na sala e fez com que Fernando soltasse sua mão e fincasse a ponta perto das costelas da suposta filha que ele um dia já havia tentado matar.

— P-papai.— Miranda viu um pouco de sangue manchando rapidamente a roupa da jovem, e os olhos de Fernando borbulhando raiva.

— Se tentar roubar essa casa mais uma vez eu não serei tão compreensível, maldita delinquente.— Ele soltou a mulher e ela se levantou o mais rápido que pôde.

— Nós vamos voltar a nos ver, mas espero que em circunstâncias melhores.— Ela passou cambaleante por Miranda, que manteve o rosto impassível, mesmo ao sentir o forte cheiro de morango que impregnava todo o cômodo. 

Ela se aproximou de Fernando ao ver que os dois já estavam sozinhos no cômodo. A pequena gota de sangue no chão de madeira era a única lembrança da visitante que já batia fortemente a porta principal.

_ Desculpa, eu não quis incomodar pai. Vou até a cidade e volto no fim da tarde, tudo bem?

— Tá certo, precisa de dinheiro? Graças a Deus aquela infeliz não nos roubou então posso te dar quanto dinheiro você me pedir.

— O que?— Miranda logo percebeu que Fernando não fazia ideia de quanto ela havia escutado da conversa.

— Essa maldita morta de fome estava roubando a fazenda e os peões a trouxeram pra cá como sempre fazem com ladrões que ousam entrar por aqui. Mas eles geralmente não têm a sorte que essa infeliz teve.

— Realmente tá cada dia mais perigoso viver no campo.— Ela fingiu acreditar na história do roubo.

— Não conte pro Felipe sobre isso, é capaz dele descobrir onde essa pobre coitada está e ir atrás dela completar o serviço. Não queremos isso, não é?

— Com certeza não, e pode ficar tranquilo que não tenho mais assuntos pra resolver com o Felipe. Já vou, até mais tarde.— Ela o abraçou, tentando disfarçar o pavor que sentia, e saiu seguindo o rastro de gotas de sangue até a porta.

Já na estrada que levava à saída principal das terras dos Fernandes, Miranda se deparou com a mulher, cambaleando e com a mão no lugar do corte.

— Entra no carro.—Falou ao abaixar o vidro da janela.

— Tá achando que eu sou burra, né dondoca?— Ela pegou um facão preso atrás de sua saia.

— Por que não pegou esse facão antes? Se não fosse por mim você já tinha virado picadinho e agora estaria com 7 palmos de terra em cima da sua cabeça. 

— Devo agradecer?

— Não precisa, só guarda essa porcaria e entra aqui pra eu te levar pra sua casa.

— O Fernando mandou você espionar onde eu moro?

—Pelo jeito que ele falou comigo, imagino que ele acredite que eu não escutei nada. E com a velocidade que você tá andando ele pode resolver mandar algum homem pra terminar o serviço.

— Eu vou com o facão.

—Tá, só deixa longe de mim porque senão não consigo dirigir.— A mulher deu a volta e se assentou no banco do carona, fazendo com que Miranda logo sentisse o cheiro de morango impregnar todo o carro— Meu Deus o seu cheiro...

— Desculpa, eu tomei banho antes de vir, mas tô andando no sol.— Ela cheirou as roupas.

— Não tô falando isso. Você com certeza é a empregada que teve um caso com o Felipe. 

— Eu sou, mas não sei o que o meu cheiro, que nem tá tão ruim assim, prova alguma coisa.

— Você parece que tem morango no sangue, por onde passa dá pra sentir.

— Todo mundo me fala isso, mas eu nunca senti.

— O que é muito assustador.

— Mas vem cá, o que o Felipe teve comigo ele chamou de "um caso"?

— O Felipe não é o cara mais cavalheiro do mundo, nunca levou uma mulher a sério, apesar de ter ficado um pouco sentido quando você foi embora. 

— Meu pai adotivo é doente, minha irmã não dá conta de resolver tudo e eu precisei ajudar. Tive que ir rápido porque teve uma crise muito forte e não deu tempo de explicar.

—Não é pra mim que você tem que explicar alguma coisa. Mas, se quiser conversar alguma coisa com o Felipe, tem que ser longe do Fernando. Ele é capaz de te matar e eu não vou poder te ajudar sempre. 

— Pode deixar que eu sei cuidar muito bem de mim e da minha segurança.

— Você que sabe.— Miranda logo saiu pela porteira e entrou na estrada principal.

— Pera, você não perguntou pra onde eu ia.—Cecilia colocou a mão no facão e minha irmã logo pisou no freio.

— Antes de tudo você tem que ir pra um hospital dar ponto nisso, senão vai ter problemas. Mas pra onde queria ir?

— Pra fazenda O Vinhedo.

— A minha fazenda?

— Não sei se ainda é sua depois do que descobriu, mas era pra lá.

— Fazer o quê?

— O Rodolfo, meu melhor amigo, trabalha lá. Ia pedir pra me abrigar na casa dele porque eu, sinceramente, não tenho pra onde ir e nem como voltar pra casa.

— Como você veio com o seu filho sem ter nenhum dinheiro?

— Eu não vim com ele, ele tá com a minha irmã. A intenção era voltar pra trabalhar na plantação, mas hoje não foi um bom dia e eu acabei perdendo o controle.

— O que tem hoje?

— Hoje é o aniversário de morte da minha mãe, e eu senti que devia isso a ela.

— E tá certa. Por muito tempo a minha irmã foi chamada de louca por chamar o Fernando... O meu pai, de assassino. Mas depois do que eu vi hoje, sinceramente não duvido tanto da Maria.

—Eu já falei que os pés de morango têm ouvidos e falam muito, e o que se escuta por lá é que ela nunca mentiu. Com você ele nunca faria nada, mas abra os seus olhos porque ele também não é santo.

— Vou tomar cuidado, pode ter certeza. Mas agora a gente vai pra cidade, porque se essa conversa continuar você morre.

—Realmente isso tá doendo logo. Mas pode me conseguir um emprego na sua fazenda?

— Eu não, mas se a gente for logo eu prometo te ensinar a conseguir.

...


Miranda chegou correndo no hospital e, segurando a mão de Cecilia, correu em direção à sala de Juliano.

— Miranda, que surpresa!— Ele a abraçou e ela chorou— O que houve?

— Primeiro resolve o problema dela e depois a gente conversa.— Ela apontou para Cecilia, que já tinha as mãos completamente manchadas de vermelho.

—Certo, eu vou chamar uma pessoa pra suturar você e vou resolver o problema da Miranda, pode ser?— Ele avaliava o ferimento quando ela assentiu—Não parece ter perfurado nada, então é só limpar e suturar pra não ter problema de infecção.

— Ei, você tá me devendo uma coisa.— Ela segurou a mão de Miranda antes que pudesse sair.

— Primeiramente a gente precisa de uma apresentação decente. Prazer, Miranda Soares.

— Cecilia Rodrigues. Como consigo um emprego na sua fazenda? Juro que não tenho preguiça de trabalhar com qualquer tipo de serviço. Eu só quero ter dinheiro pra trazer meu filho pra cá ou, se não tiver mais nada que me prenda a essas terras, voltar pra perto dele e do meu pai.

— Você vai procurar o Manoel e falar que o Rodolfo falou pra você conversar com ele.

— Não seria mais fácil falar que foi você?

— Se você falar e eles descobrirem onde eu tô, no dia seguinte os capangas do Fernando aparecem na sua porta, e não vai ter sido ele a mandar.

— Ok já entendi, então é só falar com o Manoel e pedir emprego?

— Faz carinha de dó que ele te dá na hora.

— Obrigada por tudo, e boa sorte. Que o resultado do exame seja o melhor pra você.

— Que seja negativo então.— Ela deu um sorriso triste e saiu da sala, se encontrando com Juliano no corredor.

— Então, o que você quer?

— Preciso fazer um teste de gravidez.

— Por quê?— Ele se assustou.

— O maldito Felipe! Colocou alguma coisa na bebida e eu não me lembro de nada. Segundo ele nenhum dos dois tem a menor ideia do que aconteceu, mas minha menstruação tá atrasada, tô vomitando direto... Eu tô desesperada Juliano!

— Se acalma por favor, porque se estiver grávida isso pode prejudicar muito a criança.

— Eu quero mais é que prejudique. Não quero ter um bebê agora, muito menos sendo daquele maldito!

— E se já estiver aí?

— Se já estiver eu vou tirar, simples assim.

— Não é simples assim Miranda, existem regras nesse país que não permitem que você aborte.

— E quais regras são seguidas nesse país quando se tem dinheiro como eu tenho?

— Não fala bobagens princesa, pelo menos não até ter um laudo e pensar bem no que vai fazer. Vem, vamos fazer os exames e tirar essa dúvida, assim você vai ficar mais calma.

— Tem como eu provar que ele me drogou? Assim pode ser considerado um estupro e eu vou poder abortar.

— Talvez tenha como, mas você vai se submeter a um estresse e uma exposição muito grandes e sem ter completa certeza de que vai ser considerado um estupro, até porque ele alega não lembrar de nada. Agora se acalma por favor e vamos fazer os exames.

...

Era dia de levar Luciana ao pediatra e, como ele estava de plantão no dia, fomos até o hospital para a consulta, que correu normalmente: Minha princesa estava forte e saudável, além de cada dia mais linda.

...

Miranda fez os exames e, depois de algum tempo conversando com Juliano em seu escritório, ele foi até o laboratório buscar os resultados. Minha irmã não aguentou a espera e quis ir atrás dele. Sem perceber que estava sendo vigiado ao abrir o exame, fez uma cara de tristeza logo que leu o resultado, e ela logo percebeu o que havia acontecido. Saiu de trás da pilastra onde estava e correu para chorar nos braços do amigo.

 — Você vai ter que ser forte princesa, mas eu vou estar aqui pra ser seu apoio quando você precisar. Eu sempre estive e sempre vou estar, porque sou seu amigo Juliano.

— Você é a melhor pessoa do mundo. Eu só queria ter te escutado e não ter me envolvido com aquele maldito.

— Agora não tem mais jeito, mas pode contar comigo pro que precisar, principalmente se precisar de qualquer ajuda pra tomar sua decisão final. Aliás, onde você tá morando agora que fugiu de casa?

— Na casa do Fernando.

— Por quê?

— Porque...— Ela olhou para o fim do corredor e viu Miguel, Luciana e eu caminhando. Percebeu que eu também a havia visto— Eu preciso ir. Me encontra lá, porque preciso de você.

...

— Miranda!— Gritei logo que a vi.

— Tá doida Maria?— Miguel perguntou— Cadê a Miranda?

— Fica com a Lu, eu já volto.

...

Miranda corria pelo corredor, enquanto eu corria o mais rápido possível atrás dela. Corremos pelo jardim do hospital, até que ela atravessou a rua e acelerou mais. Sem que eu percebesse, o sinal se abriu e os carros aceleraram, enquanto eu atravessava a rua. Apenas escutei o barulho do freio de um carro que me tocou e, mesmo sem tanta velocidade, me derrubou no chão.

— O que aconteceu? Eu nem vi o carro.

— O sinal abriu assim que você atravessou.— Miguel logo me apoiou em seus braços.

— Me desculpa pelo transtorno moço, se tiver amassado ou arranhado alguma coisa me fala por favor, eu pago o mecânico.

— Que nada moça, foi só um susto.— O motorista do carro acelerou um pouco assim que Miguel me tirou do meio da rua e parou ao meu lado— Mas fico feliz que esteja bem.

— Eu tô sim, não precisa se preocupar. Pode ir, não precisa esperar nenhum atendimento porque devem ter sido só arranhões.

— Tá certo então, precisando de alguma coisa pode me chamar. Eu sou novo na cidade e ainda não estou acostumado com ela, mas meu número tá no cartão e é só me chamar.— Ele me entregou o cartão e depois saiu com o carro.

Miguel me levou para dentro e Luiz logo me atendeu.

— Tá tudo bem Maria, nenhuma fratura ou algo mais grave, mas por que você estava correndo no meio da rua?— Ele estava curioso.

— Eu vi a Miranda e ela tava... Cadê o Juliano? Ela tava abraçando ele.

— Não sei, não o vejo já faz algum tempo.

— Preciso encontrar ele e perguntar onde a minha irmã tá se escondendo, porque sei que ele sabe.

...

Juliano chegou à fazenda dos Fernandes com o sol quase se pondo. O mais difícil foi encontrar onde ficava o chalé de Miranda, mas logo viu o lago que ficava na frente e se aproximou.

Chegando mais perto, porém, Juliano viu que o lago não estava sozinho: de frente para ele, Miranda estava parada, com uma pedra relativamente grande, amarrada a uma corda, na mão. Ele fez sinal, mas ela não reparou, porque logo se abaixou.

Logo o carro teve que fazer uma curva, e o lago ficou encoberto por outro chalé. Quando ficou visível outra vez, Miranda já não estava mais parada no lugar de antes. Juliano buzinou, mas ninguém apareceu. Ele parou o carro e, ao olhar para o lago, percebeu bolhas saindo da água. Olhou mais de perto e se apressou para tirar os sapatos antes de pular para salvar Miranda, que havia pulado na parte mais funda com a pedra amarrada e agora soltava os últimos resquícios de ar que haviam em seus pulmões.

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