XXXIV - Entre Irmãs
Durante uma semana Miguel e eu vivemos felizes, era como se a vida tivesse reiniciado e estivéssemos começando do zero: eu não me lembrava da Miranda, da vingança ou de qualquer outro problema. A única coisa da qual Miguel e eu falávamos, além de nós, era a busca por uma forma de unir a Karla e o Manoel. Mas infelizmente, um dia tivemos que dar adeus ao paraíso e voltar para o lugar ao qual pertencíamos.
— Vai ser uma pena largar esse mar lindo e votar pra realidade._ Falei, sentada na areia de uma praia quase deserta, enquanto Miguel fazia massagem no meu ombro_ Ou melhor, pros problemas.
— Nem me lembre, não tô engolindo o fato de a Miranda não ter invadido o casamento pra atrapalhar.
— A gente não avisou pra ela.
— Mas ela não é burra e é claro que sabia de tudo.
— Faz sentido. Ela tá armando alguma coisa e é isso que me preocupa. Minha irmã sempre mostra o que tá sentindo, o que tá planejando, mas dessa vez não tá demonstrando nada.
— Nós temos que ficar atentos.
— Principalmente porque vamos ter que ficar morando lá em casa por enquanto.
— É verdade, espero que tudo esteja pronto em breve.
— Esperamos.
— E por falar em "em breve", acho que já devemos voltar pro hotel, tomar banho e ir pro aeroporto.
— Não podemos ficar aqui?— Falei com cara de tristeza, me esticando na areia.
— Eu queria que pudéssemos, mas vamos fazer o seguinte: uma vez por ano nós vamos voltar pra cá. O que acha?
— Acho uma ideia maravilhosa!— Eu o beijei.
— Então tá prometido! Vamos fazer isso todos os anos no nosso aniversário de casamento.
— Agora vamos entrar pela última vez... Esse ano... Nesse mar?
— Mas é claro que sim!
Ele me pegou no colo e fomos até o mar, onde ficamos por algum tempo antes de voltarmos para o hotel e acabarmos de arrumar tudo. Corremos para o aeroporto e pegamos o voo que nos levou novamente para a nossa cidade de sempre.
...
Chegando em casa, fomos bem recebidos por minha mãe e Manoel, já Karla chegou junto conosco. Ela parecia ter passado mais tempo na nossa casa do que na dos tios, e aquilo me parecia um bom sinal.
...
— Senhor Fernando, fico feliz que tenha me recebido.— A voz de mulher ecoou pela grande biblioteca da fazenda dos Fernandes.
— Diga logo o que quer,não tenho tempo pra falar com uma empregada, ainda mais fora da época de colheita e no estado que você está.
— Não queria falar com o senhor, mas com o seu filho. Acho que os empregados se confundiram, eu posso voltar outra hora.
— Quem pensa que é pra entrar na minha casa procurando o meu filho? Ainda mais com um bebê na barriga. O que é? Veio falar que é dele e dar o golpe da barriga?
— Não me insulte, eu sou pobre mas honrada, nunca me prestaria a vir aqui dar um golpe em alguém como seu filho.
— Não pense em insistir falando que esse bebê é dele. O Felipe é meu filho, é como eu, e acho que já percebeu que, mesmo com muitos boatos, nenhuma mulher conseguiu me fazer assumir nenhum filho além dos que eu tive com a minha esposa.
— Me desculpa mas isso não se trata do senhor.
— Sim, isso se trata de mim, e isso se trata do meu filho. Quer uma clínica clandestina pra tirar essa porcaria daí? Eu ajudo. Ele apontou com a cabeça para a barriga, já levemente crescida, e a mulher logo a envolveu com seus braços em sinal de proteção— Mas não vou te ajudar a prejudicar o meu filho pelas suas vagabundagens, me entendeu?
— Eu quero o seu filho.
— Pois não vai ter. Agora saia daqui gata borralheira, você não é ninguém pra exigir nada de homens que estão muito acima do que uma pobretona como você sequer pode sonhar em chegar.
...
Enquanto conversávamos sobre a viagem, Miguel recebeu uma ligação e foi para um lugar mais reservado falar. Voltou alguns minutos depois.
— Algum problema?— Perguntei.
— Não exatamente. Meu pai me ligou, ele tem que resolver uma questão de negócios, mas tá indisposto, parece que problemas com algum empregado.
— Deve ter parado pra pensar na burrada que fez deixando o filhinho dele casar com a Maria.— Miranda apareceu na porta— Eu estava com saudade de vocês, mas fico feliz que voltaram e não me abandonaram.
— Pode ter certeza de que nós não.— Respondi com deboche no olhar.
— Sei que sentiu minha falta, não precisa negar irmãzinha. Pelo menos o Miguel sentiu, disso eu tenho certeza.
— Eu fiquei triste quando lembrei que quando voltássemos você estaria aqui.— Miguel respondeu.
— Pode mentir, eu não ligo. Vou pro meu quarto, não quero ouvir as historinhas ridículas sobre a viagem, porque todo mundo aqui sabe que a coisa em que vocês menos pensaram em uma viagem de lua de mel foi na paisagem. Reflitam.— Ela se virou e foi para o quarto.
— Um comentário desses é melhor ignorar.— Karla falou.
— Eu vou ignorar porque não entendi.— Manoel falou e todos olhamos para ele— Ah, agora entendi!— Ele falou alguns segundos depois.
— Mas voltando a um assunto que realmente importa...— Falei olhando para o Miguel— Você realmente tem que ir?
— Sim. O Felipe não quis ir, ele falou que tem coisas pra fazer aqui.
— Isso não tá cheirando bem. O Felipe tá perdendo uma oportunidade de representar o seu pai?
— Ele tá passando pra mim uma oportunidade de trabalhar. O Felipe não quer substituir o meu pai, ele só quer a parte dele na herança e os lucros no final do mês. As ações vão ser divididas igualmente pra nós dois e um vai ter que trabalhar.
— No caso, você.— Sorri.
— Sim, principalmente porque o meu pai confia mais em mim pra cuidar da empresa.
— Já que é assim... Quer ajuda pra arrumar a mala meu amor?
— Não precisa, rapidinho ela tá pronta. Vou passar em casa e vou direto pra capital. Deve ser rápido e depois de amanhã já deve estar tudo resolvido.
— Me liga quando chegar.
— Pode deixar.— Ele me beijou— Tchau pessoal!— Acenou e saiu.
...
Depois do banho fiquei um pouco no meu quarto, pensando se deveria destruir o caderno da vingança e começar uma vida nova, mas depois de horas, não cheguei a nenhuma conclusão.
Foi quando alguém bateu na porta.
— Posso entrar?— Era Miranda.
— O que você quer?
— Vim em missão de paz ok?
— Por que será que eu não acredito?
— É sério. Eu não tenho mais o que fazer, já esgotei todas as minhas opções. Você e o Miguel estão casados e eu não tenho mais o que inventar, por isso vim em paz.
— E o que quer?
— Eu vou pra piscina, se quiser ir comigo...
— Vai me afogar?
— Mas é claro que não! Sou doida, mas não sou burra. Se te matasse, eu ia pegar uns bons anos de cadeia e não poderia ter o Miguel pra mim.
— Faz sentido, então vou te dar uma chance e acreditar em você.
Miranda sorriu e eu retribuí o sorriso, depois descemos para a piscina.
— Vai querer beber alguma coisa?— Miranda perguntou enquanto preparava um drink pra ela.
— Tô bem, não quero beber hoje.
— Bebe só um pouquinho.— Ela tomou um gole— Experimenta um pouco do meu, se gostar eu faço outro.
— Tá bem.— Tomei um gole— Ok, é gostoso.
— Pode ficar com esse, eu faço outro pra mim.— Ela voltou poucos minutos depois e ergueu o copo— À família que você e o Miguel acabam de formar! Que sejam felizes e que eu consiga encontrar a felicidade algum dia!— Brindamos.
...
Não sei dizer o que bebi ou quanto, só sei que acordei no dia seguinte na minha cama, com a mesma roupa da noite anterior e com um mal estar insuportável. Fui direto para o banheiro tomar um banho, mas logo que tirei a blusa, percebi que a chave do meu cofre, que costumava ficar na alça do sutiã, não estava mais lá.
O que havia acontecido? Será que a Miranda havia me dopado pra pegar essa chave e mostrar o caderno pro Miguel? Mas como ela sabia do cofre? Ela ia me ouvir e me entregaria a chave, por bem ou por mal.
...
— Miranda!— Cheguei ao quarto da minha irmã.
— Que foi?
— Por acaso você viu uma chave pequena que tava presa na alça do meu sutiã?
— Não. Vê com o Manoel, ele que te ajudou a subir, então às vezes ele guardou.
— Vou ver com ele sim. Me responde uma coisa? Como eu cheguei no meu quarto?
— O Manoel te levou porque você apagou lá em baixo. Custava ter me avisado que não sabe beber?
— Como assim?
— Você bebeu menos que eu e apagou. Quase me matou do coração, daí eu gritei o Manoel pra ele ir te buscar.
— Não sei como isso aconteceu, eu não costumo ficar bêbada demais. Foi mal pelo susto. Eu vou falar com o Manoel, porque preciso da chave.
— É de quê? Se quiser eu posso chamar o chaveiro.
— Não precisa, é uma coisa pessoal. Mas deve estar com ele. TEM que estar com ele.
— Qualquer coisa dá uma olhada na piscina, porque a gente mergulhou, então pode ter caído.
— Pode ser, obrigada por me lembrar. A argola que prendia a chave devia estar fraca, porque já tá velha. Obrigada e até daqui a pouco.
— Até!— Eu saí e Miranda foi até a porta do quarto, trancando -na. Depois, pegou uma pequena chave que estava em um fundo falso de uma caixa de jóias em cima de um móvel— Acho que você não vai encontrar essa chave— Sussurrou—, pelo menos não antes de o Miguel ler o seu diário.— Deu um sorriso malicioso enquanto balançava a chave entre os dedos.
...
Depois do almoço, Miranda recebeu uma ligação de um número privado. Era a voz de um homem que falava do outro lado da linha.
— Quem tá falando?— Ela perguntou.
— Não é importante quem sou, só escute o que eu tenho para te dizer. O homem que você acredita ser o seu pai, não é. E você teve uma parte da culpa da morte do seu falso pai.
— Quem tá falando? Por que tá falando essas coisas? É claro que eu sou filha do Sergio!
— Não, você não é. E é por isso que nem o seu pai e nem a sua mãe aceitaram o seu namoro com o Miguel.
— Que trote babaca, viu? Quer saber de uma coisa? Eu não ligo pra nada que você diz! E quer saber de outra coisa? Vai pro inferno com seus trotes, imbecil!— Ela desligou o celular e o jogou no chão.
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