XVIII_De volta ao lar
Nos próximos dias, diversos exames foram feitos para garantir que Miranda estaria realmente bem. As pernas já respondiam bem melhor e a visão estava perfeita.
— Finalmente vou te ver pela última vez nessa cama de hospital.— Juliano brincou, quando entrou no quarto de Miranda e a viu sentada na cama, já com a roupa para sair.
— Só estou esperando a alta. E você, é claro.
— Agora só falta a alta então, porque o seu amigo Juliano está aqui!— Ele sorriu e Miranda sorriu junto— Trouxe essas flores para você— Ele lhe entregou um buquê de rosas amarelas que estava escondendo atrás de seu corpo.
— Você é um anjo que apareceu na minha vida.— Sorriu enquanto pegava o buquê e cheirava as flores— Tô querendo até cortar as suas asas, pra você não voar pra longe de mim nunca mais.
— Vou estar aqui sempre. Não precisa cortar as minhas asas porque elas não conseguem voar pra longe de você. Sou seu amigo Juliano.
Miranda sorriu e o abraçou.
Quando o médico deu a alta, Miranda quis que o próprio Juliano a levasse até nossa casa. Ele a acompanhou, sempre segurando firme, até o quarto, ajudando a deitar na cama.
— Mais uma vez, muito obrigada por tudo o que fez por mim durante o tempo que eu tive que ficar naquele hospital.
— Eu que te agradeço por ter tornado os meus dias lá mais felizes.— Sorriu— Olha, eu acabei de receber um convite pra um congresso e vou ficar fora por um mês. Tô te avisando pra você não achar que eu te abandonei.— Ele ficou um pouco sem jeito.
— Mas quem vai cuidar de mim?
— Ué, tem o Manoel, tem o Luiz que vai ficar te monitorando pra ver se você vai ficar bem, tem a sua mãe, a Maria, a Karla, o Miguel... Todo mundo que se preocupa com você.
— Eles não se preocupam comigo.
— Não? Então porque acha que eles ficaram o tempo todo com você no hospital?
— Consciência pesada.
— Deixa de ser assim e vai ser feliz. Para de ficar pensando que ninguém gosta de você. Todo mundo te ama, não tem como não te amar.
— Só você gosta de mim. O Manoel me aguenta porque teve dó de mim quando eu era uma menina órfã e me criou.
— Exatamente por isso ele demostra que te ama muito.
— OK, o Manoel me ama, mas os outros não.
— E a sua mãe? Acha que não te ama?
— Já te contei o que acontece com nós duas. Ela não gosta, nunca gostou e nem nunca vai gostar.
— É uma pena que você pense assim... Olha, eu tenho que ir arrumar minhas coisas para a viagem.
— Quando vai ser?
— Em três dias.
— E te convidaram assim, de uma hora pra outra?
— Pois é, foi uma vaga que apareceu. Mas eu só vou assistir ao congresso, não vou apresentar nada. Vai ficar bem sem mim?
— Farei o possível.— Sorriu.
— Faça mais.— Ele também sorriu e os dois se abraçaram— Se cuida— Ele deu um beijo na testa da minha irmã— Até mais!
— Até.— Ela sorriu e ele fechou a porta.
...
— E como ela tá?— Perguntei, assim que Juliano passou pela sala, onde estávamos Miguel e eu.
— Bem, só evitem serem vistos juntos por ela.
— A Miranda vai ter que aceitar que estamos juntos.— Falei— Ela tem que parar de ser mimada desse jeito.
— Vai se responsabilizar se a Miranda fizer alguma merda por causa disso?
— Se ela não aprender a aceitar que o universo não gira em torno dela, nunca vai crescer!— Miguel retrucou.
— Você não consegue entender tudo o que a Miranda fez, faz e é capaz de fazer por você?
— Não quero que ela faça nada por mim, só quero que me deixe ser feliz com a mulher que eu amo!
— Então se responsabilizem pelo que ela for fazer. Podem ter certeza que se alguma coisa acontecer com ela, eu vou responsabilizar os dois e essa falta de senso que vocês têm.
— Responsabilize a loucura e a criancice da sua amiguinha.— Retruquei.
Juliano olhou para nós com raiva e desceu as escadas rapidamente.
— Não vamos deixar aquela mimada atrapalhar o que nós temos.— Abracei Miguel.
— Do jeito que você fala parece até que não gosta da Miranda.
— Eu gosto. Tento ser o mais amigável possível com ela, mas não consigo. O jeito da Miranda me irrita. Ela passou um tempo na capital comigo e, no final, eu não aguentava mais escutar aquela voz irritante dela. Dava raiva só de ela começar a falar.
— A gente precisa ter paciência com a Miranda, porque ela realmente tem problemas.
— O problema dela se chama "achar que é o centro do universo e ficar frustrada quando descobre que não é assim".
— Aí já é você quem tá falando.
— Mas não vamos ficar discutindo por isso, vamos pensar em coisas mais importantes.— Cheguei mais perto e o beijei.
— Adorei a ideia.— Sorriu e continuou a me beijar.
...
Karla bateu na porta do quarto de Miranda e entrou. Ela estava deitada na cama mexendo no celular (novo, já que o outro tinha quebrado com a queda).
— O que quer?— Minha irmã perguntou
— Vim ver se quer alguém para conversar.
— Pra quê? Pra você correr pra sua amiguinha e contar pra ela como eu estou me sentindo?
— Sabe que eu nunca faria isso, me conhece desde pequena.
— Pequena você continua...— Sorriu.
— Não sou tão baixa assim.
— Porque fez tratamento pra crescer.— Gargalhou.
— Se não precisa de mim, eu já vou. Meus tios logo vão chegar na cidade e eu preciso acabar de arrumar a casa pra recebê-los
— Eles não te deixam em paz, né?
— Os meus tios vivem por mim. Eles não têm filhos, eu não tenho pais... Não vejo problema na companhia dos dois.
— E você não se sente tipo... Sufocada?
— Não. É legal ter companhia.
— Mas é muito ruim ser uma mulher adulta que não tem privacidade de sei lá, levar um homem pra casa.
— Mas você e seu irmão moram com a sua mãe.
— E por isso continuamos virgens e infelizes. Mentira, o Manoel de vez em quando chega tarde em casa e eu sempre evito perguntar sobre as noites selvagens que ele provavelmente tem com alguma namoradinha desconhecida.
— Ok eu não tô interessada em saber sobre a vida amorosa do Manoel. — Ela estava corada — Vejo que a sua língua continua afiada, então você deve estar ótima. Se não precisa mais de mim, eu já vou.
— Ai credo, você ficou tão nervosa com a brincadeirinha que eu fiz com o Manu. Mas sério, muito obrigada por ter vindo aqui, se eu precisar de alguma coisa, espero poder te ligar.
— É claro que pode. — Elas sorriram uma para a outra.
Karla saiu e fechou a porta. Depois se virou para o corredor e caminhou em direção à cozinha. Quando entrou, topou de cara com Manoel.
— Eita!— Manoel falou— Desculpa.
— Não, não tem problema, eu tava distraída.
— Eu também. Nesse instante tô preparando os meus ouvidos pra escutar os gritos da Miranda.
— Tá indo vê-la?
— Sim, vou ver como minha princesa está.
— Acho que ela tá bem melhor. Fui ver se ela queria conversar e a língua tava afiada como sempre.
— O que ela te disse?
— N... Nada de importante.
— Poxa, me conta. Eu fiquei curioso.
— Melhor continuar assim, eu juro.
— Tudo bem então. Você estava saindo?
— Sim, eu vou pra casa organizar tudo pra receber meus tios. Eles estão vindo de mudança e vão morar comigo.
— Poxa.
— O que foi?
— Agora que você tem companhia, provavelmente vai almoçar com eles e eu vou ficar triste por não ter uma companhia pacífica nas refeições
— Ainda vou vir visitar vocês.— Sorriu.
— Quer ajuda pra arrumar as coisas?
— Não precisa. Muito obrigada!
— Faço questão, tô atoa e a sua presença é boa. E sem falar que as minhas outras opções são segurar vela pra Maria e pro Miguel, escutar a Miranda e ir pra empresa com a minha mãe. Realmente não quero fazer nenhuma das três coisas.— Ele ajoelhou— Por favor, me deixa ir com você!— Karla riu.
— Você é bobo assim todos os dias ou só de vez em quando?
— Só quando eu tô inspirado.
— Hoje você deve estar muito inspirado. Levanta daí!— Manoel se levantou.
— E aí? Posso ir?
— Pode.
— Eba!— Ele a pegou no colo e a rodou.
— Mas se fizer isso mais uma vez, eu vou abrir a porta do quarto da Miranda e te trancar lá dentro com ela, a Maria e o Miguel.
— Não vou fazer nunca mais.— Fez cara de dó — Você consegue ter uma imaginação bastante cruel às vezes.
— Larga de ser bobo em vem.
Os dois foram em direção às escadas. Passaram pela sala, avisaram a mim e ao Miguel que iam sair e foram.
Miranda desceu as escadas. Queria ir até a sala de jogos de Manoel para jogar um pouco de vídeo game, pois estava entediada e nada fazia o tempo passar. Chegou à sala e viu que Miguel e eu estávamos nos beijando.
— Que cena mais linda! Atrapalho?— Ela perguntou.
—Tá atrapalhando muito.— Respondi.
— Que pena, mas podem continuar aí, porque eu vou pro escritório do Manoel jogar. Querem saber, eu já tô farta de ficar me humilhando por quem não vale a pena.— Jogou um sorrisinho debochado para Miguel.
— Eu agradeço muito por isso.— Falei— Já não aguentava mais esse seu choro chato.
— Que bom que eu consegui o que queria: te irritar. É pra isso que eu estou aqui. Agora eu vou jogar e deixar os dois aí, e espero que se afoguem na saliva um do outro.
Ela saiu, ainda mancando um pouco, e foi até a sala de jogos.
— Agora entende por que eu não a suporto?— Perguntei para Miguel.
— É só ignorar.— Ele respondeu.
— Foi assim que conseguiu ficar com ela por tanto tempo?
— Eu não gosto de cuspir no prato que já comi, então você jamais vai me ver humilhando a Miranda.
— Tudo bem, eu vou parar.
Rimos e continuamos a nos beijar.
Na sala de jogos, Miranda pegou um jogo tiro e o colocou no vídeo game.
— Acham que vão me humilhar? Não vão. Ainda reservo surpresas para os dois pombinhos... Tenham certeza de que, dessa vez, os humilhados serão exaltados.— Enquanto dizia isso, deu um tiro na cabeça de dois personagens do jogo, seus olhos queimavam de ódio.
Pegou o celular e ligou para alguém, um homem que, prontamente, atendeu.
— Tô precisando de falar com você— Ela falou— Onde podemos nos encontrar?
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