XVII_Um novo amigo
— O que está acontecendo aqui?— Juliano entrou perguntando e se assustou ao ver Miranda de pé.
Ela, por sua vez, tentou andar um pouco mais em nossa direção, mas começou a se desequilibrar. Juliano percebeu e correu para segurá -la quando ela caiu.
— Pessoal, deixa que eu fico aqui com ela.— Juliano falou enquanto Miranda gritava, e Miguel e eu saímos.
— Eu odeio aqueles dois!— Miranda gritou, enquanto Juliano a pegava no colo e levava para a cama.
— Se acalma por favor.
— Eu não posso me acalmar, eles estavam se beijando na minha frente! Pensaram que a ceguinha não ia ver, mas tenho uma notícia: a cega não tá mais cega!
— Então está realmente está curada?
— Hoje mais cedo ainda estava muito embaçado, mas agora estou vendo com muito mais nitidez, e foi com essa nitidez que vi a falta de vergonha e noção daqueles dois.
— Só estavam se beijando...
— E fala que isso é SÓ? O Miguel é...
— Ele ERA seu namorado.
— De que lado está?
— Pode ter certeza que do seu, e por isso não quero que sofra por alguém que não gosta de você.
— Tô sofrendo muito mais com o abandono dele.
— Quer parar de ficar se humilhando tanto? Pra que ficar se arrastando atrás de alguém enquanto tem tantos outros homens que querem te fazer feliz?
— Não tem, pode acreditar nisso. Todos só querem experimentar um pedacinho e depois jogar fora.
— Porque você quis que fosse assim.
— Eu nunca quis isso!
— Sem querer você quis.
— Você é estranho...— Ela sorriu— E a única pessoa capaz de me fazer rir agora.
— Estou às suas ordens, senhorita.— Ele sorriu e fez uma reverência de brincadeira.
— Sabe quem você me lembra?
— Brad Pitt?— Ele deu um sorrisinho malicioso.
— Claro que não! Não fique se achando tanto, assim eu vou parar de te elogiar.— Ela continuou sorrindo— Me lembra um amigo que eu tive quando era pequena. Ele também se chamava Juliano.
— E por que eu te lembro ele? Só pelo nome?
— Porque me apoia, me dá força, mas, ao mesmo tempo, vive me dando lições de moral.— Riu — Acho que vocês são as únicas pessoas que já fizeram isso por mim.
— Quer saber de uma coisa?
— O quê?
— Eu não posso ser aquele seu amiguinho Juliano, até porque já somos adultos. Mas estou disposto a, quando você sair daqui, ser seu novo amigo Juliano.
Miranda olhou para ele com uma cara de pensativa e ele olhou apreensivo, mas ela logo o abraçou. Um abraço apertado. Um abraço de amigo que Miranda não sentia desde quando havia se afastado de seu primeiro Juliano.
— Eu acho uma excelente ideia.— Ela disse enquanto os dois continuavam se abraçando— Mas, ao contrário dele, não quero que se afaste de mim nunca.
— Isso depende de que você não se afaste de mim.
...
Naquela noite, consegui convencer Manoel a ir comigo dormir em casa, pois ele não havia saído do hospital desde o acidente e estava visivelmente abatido.
— Quer que eu te faça companhia?— Falei enquanto ele abria a porta de seu quarto.
— Quer conversar?
— Não é isso, é que... é que somos só nós dois nessa casa gigante e...— Gaguejei mais ainda quando Manoel me olhou, fazendo uma cara que só ele sabia fazer e que, por incrível que pareça, fazia com que Miranda e eu falássemos sempre a verdade— Eu quero conversar.
— E eu sabia disso.— Ele sorriu— Já estou até imaginando o motivo da conversa.
— Não sei se estou fazendo certo ou errado.
— O que o seu coração te diz?
— Ele me diz que eu sou instável e autodestrutiva, mas agora parece me dizer que eu também tô destruindo tudo ao meu redor.
— O amor não deve machucar.
— Às vezes eu penso e chego à conclusão de que não o amo tanto quanto a Miranda e que deveria deixar eles serem felizes em paz. Mas aí vem o outro lado do meu coração me dizendo que a nossa irmã é só uma mimada e que precisa aprender a lidar com frustrações como uma adulta.
— Eu não sei o que você quer que eu te diga.
— Só me diga que ela vai ficar bem.
— Ela vai. A Miranda é mimada, em partes, por minha culpa. Mas eu a conheço e sei como controlar.
— Você não tem culpa de ter tentado fazer da vida da Miranda um pouco menos triste. Não teve culpa de ter dado amor e carinho pra uma garota que, com certeza, não teria o da mãe. Vamos combinar que a Mamãe nunca deu atenção pra Miranda.
— Eu sei, mas não deveria ter mimado tanto ela.
— Fez o que achou que era certo, porque era um menino que tava cuidando da irmã. Um menino que, ao invés de ficar chorando pela morte do pai, resolveu ser um pai para a irmã mais nova. Isso foi nobre da sua parte. Realmente, eu não sei se seria capaz disso porque, sendo o favorito da Mamãe como você é, poderia ter ido correndo para os braços dela, que te acolheria e te mimaria.
— É verdade. Você não estava aqui, não via a carinha triste da Miranda, e sabe que eu sempre fui apegado com ela.
— Eu sei disso.
— Não fique brava com isso, viu? Eu amo as duas igualmente e...
— Ei Manoel, acho que você tá me confundindo com a Miranda porque eu não ligo pra isso. Sei que você sempre foi mais apegado com ela do que comigo, mas também sei que isso é, em partes, por minha culpa. Eu sempre fui independente e solitária, esse é o meu jeito... Se você ficasse me bajulando, aí sim teríamos problemas.— Sorri.
— Às vezes eu esqueço sua maneira de ser.
— Talvez seja porque ninguém sabe exatamente como é minha verdadeira maneira de ser.— Sorri— Talvez eu mesma ainda não tenha descoberto.
— Você é o mistério personificado.— Ele riu— Eu lembro de uma Maria cruel e vingativa, disposta a tudo pra descobrir a verdade sobre a morte do papai.
— Sobre o ASSASSINATO do papai.
— E o que aconteceu com seus planos? Porque estando com o Miguel, eu imagino que não pense mais em destruir o pai dele.
— Sabe por que eu sempre fui uma mulher tão fria? Porque sabia que, no momento em que eu precisasse de juntar as pistas pra colocar Fernando Fernandes na cadeia, os meus sentimentos teriam que estar muito controlados. Talvez seja por isso que eu me culpe tanto por ser eu e não a Miranda a estar com o Miguel: porque eu não me importaria em destruir o coração dele colocando o pai na cadeia.
— Como tem tanta certeza de que ele matou o Papai?
— Simplesmente porque eu vi. Mas a Mamãe parecia estar protegendo aquele homem e me fez passar por louca por todo esse tempo.
— Mas encontraram o homem que matou o Papai.
— Um homem que se matou e deixou uma carta se confessando o assassino de Sérgio Soares. O motivo? Dívidas trabalhistas. Por favor Manoel, você é inteligente demais pra continuar acreditando nisso. Isso em irrita! Essa sua mania de ficar se enganando.
— Posso estar me enganando, mas acreditando nisso eu estou em paz, e isso é o único que eu quero: paz. Paz para a nossa família, paz para a alma do Papai.
— E eu quero justiça.
— O que você quer é vingança. E vingança e justiça são coisas muito diferentes. Enquanto a justiça te liberta a vingança te prende a ela.
— Se é assim, eu prefiro continuar presa.— Fui para o meu quarto.
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