XI_Pesadelo real


— Esse grito é da Miranda!— Manoel se assustou.

— Então, era sobre isso que eu ia falar. A pancada que ela levou foi muito forte e ainda não sabemos se deixará sequelas.

— Esse grito parece que foi um sim.— Falei preocupada.

...

— O que tá acontecendo com a minha perna?— Miranda estava atordoada na cama do CTI.

— Se acalma por favor.— Juliano a segurava pelo braço— Tem gente que precisa de silêncio aqui.

— O que aconteceu?

— Você caiu do cavalo e bateu com a cabeça.

— O que tá acontecendo com a minha perna?

— Como assim?

— Eu não tô sentindo ela.

— Não?

— Não.— Ela fez uma cara de assustada enquanto tocava a perna— Nada. O que é isso? Por que não estou sentindo? E também não consigo abrir os olhos.

— Deve... Deve ser por culpa de uma anestesia que tivemos que te dar. O efeito às vezes não passou. O olho também não deve estar abrindo por culpa da pancada. Você ficou desacordada por dias e ainda está fraca. Olha que eu posso fazer: vou te dar um remédio e você vai dormir. Aí quando acordar a sua perna já vai estar melhor. O que acha?

— Acho ótimo. Ai...— Ela colocou a mão na cabeça— Tá doendo.

— Foi forte a sua pancada, é normal que se sinta mal por alguns dias. Agora dorme, está tudo bem. Assim que eu tiver certeza de que o seu quadro melhorou, te levo pro quarto.

— Por favor. Esse lugar aqui tem uma energia ruim. Parece que eu estou tão mal...

— Te garanto que, hoje, tem muita gente pior do que você aqui.

— Eu sei.

— Agora dorme. Foi um milagre você ter se salvado, mas não precisa abusar. Descansa e a sua perna vai ficar ótima.

— Obrigada.— Sorriu— Mas é horrível a sensação de não sentir a perna.

— Mas é uma só ou as duas?

— As duas.

— Vou ver se realmente foi isso e depois volto pra te ver. Beleza?

— Beleza.— Ela sorriu.

Juliano saiu do CTI e, rapidamente, ligou para Luiz.

— O que houve meu amigo?— Luiz perguntou— Notícias da Miranda?

— Felizmente acordou, mas não está sentindo as pernas.

— Acha que isso pode ser um mau sinal?

— Não sei. Vou consultar o traumatologista e o ortopedista e ver o que acham.

— Acha que ela pode ter perdido o movimento das pernas com a pancada?

— Não sei o que dizer. Tenho medo que sim, mas não vamos nos desesperar.

— Não vão se desesperar por quê?— Perguntei.

— O que tá fazendo aqui Maria?— ele se assustou e, ainda com o celular no ouvido, perguntou.

— Vim te procurar pra saber da Miranda e acabei escutando um pouco da conversa. Ela tá bem? Que gritos foram aqueles?

— Eu te ligo mais tarde com as atualizações, amigo. — Juliano falou ao telefone e desligou, se virando para mim.

— Então?— Perguntei— Algum problema com a Miranda?

— É um assunto delicado...

— Por isso mesmo que o que eu possa fazer que deve falar comigo. O que houve?

— A Miranda acordou.

— Disso eu sei. Continua. Escutei um grito e sei que foi dela.

— Ainda não sei o que houve, mas a Miranda acordou sem sentir as pernas.

— Acha que foi por culpa da pancada na cabeça?

— Pode ser. Pode ter atingido algum lugar que impossibilita que ela sinta e isso pode melhorar rapidamente, mas ela pode ter batido a coluna e é isso o que me preocupa.

— Ela pode perder os movimentos?

— Ainda não sei ao certo. Vou monitorar o quadro dela e colocá-la para dormir até que possamos levá-la para o quarto. Lá vamos ver exatamente o que aconteceu.

— Tomara que seja temporário.

— Estou torcendo. Mas não comente com o pessoal.

— Pode ficar tranquilo. Só me informe se souber de mais alguma coisa.

— Pode deixar. Vou te manter informada.

Sorri e fui até a sala de espera onde todos me esperavam.

— Podem ficar tranquilos.— Comecei— Graças a Deus a Miranda acordou. O grito que escutamos realmente foi dela. A coitadinha acordou desnorteada e se assustou. Mas o Dr. Juliano já deu remédios e ela está dormindo agora. Vão monitorar o quadro e levá-la para o quarto quando estabilizar o quadro completamente.

— Graças a Deus está bem!— Manoel olhou para cima e sorriu.

— Mas pelo menos que isso sirva de lição pra ela parar de ser tão mimada.— Mamãe se manifestou pela primeira vez e todos olhamos com espanto para ela_ O que foi? É a verdade. O Rodolfo a aconselhou a não subir, mas acha que pode ser igual à Maria... Viu no que deu.

— Não seja tão injusta com a garota, Lúcia.— Um homem relativamente alto, forte e que não parecia muito mais velho que minha mãe, se aproximou. Vestia um terno azul escuro por cima de uma camisa branca.

— Olá Papai!— Miguel foi abraçá-lo.

— Olá a todos.— O homem nos saudou.

Era ele. Depois de 20 anos, Fernando Fernandes finalmente estava à minha frente. Aquele mesmo olhar escondido por baixo daqueles olhos cor de folha seca: olhar dissimulado, falso, que parecia bondoso e atencioso, mas que pertencia a um homem com uma mente cruel.

Eu o fiquei encarando por alguns instantes. Encarando aqueles olhos que assombraram meus sonhos por tantas noites e durante tantos anos. Foi então que ele se virou para mim e nossos olhos se encontraram.

— E você, quem é?— Ele perguntou para mim.

— Maria. Maria Soares.

"Saída de seus piores pesadelos para ser realidade em sua vida, maldito.", pensei, mas continuei em silêncio enquanto nossos olhares se cruzavam.

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