VI_Apenas amigos?
Na plantação, Karla e eu passeávamos com nossos cavalos.
- Sabe que a Miranda uma hora vai descobrir que foi você, não sabe?
- Eu não fiz nada Karla, só falei a verdade. Poxa, dá pra ver pela cara do Miguel que ele não é feliz com a Miranda. Pode até ser feliz, mas não gosta dela.
- Mas ela é apaixonada por ele.
- E que graça ela vê em namorar um cara que tem pena dela? Poxa, não é possível que o amor próprio dela seja tão pequeno.
- Posso te falar uma coisa?
- Quê?
- Cuida das suas coisas. Vai por mim. Se ela quer assim, deixa ela, você não tem nada com a vida da Miranda. E eu sei que não fez nada por ela, mas pela sua vingança.
- Nisso você se engana porque, dessa vez, a vingança não está no meio. Pensa comigo: se o problema for a minha família, o Fernando vai me chutar de perto do filho dele do mesmo jeito que fez com a Miranda. Então é muito melhor que sejamos só bons amigos.
- Então separou a Miranda do Miguel atoa?
- Atoa não. Dei um excelente conselho ao Miguel e ele vai perceber que sou uma aliada. Assim, vou conseguir me aproximar cada vez mais dele e do pai. E se alguém como a Miranda ou o Fernando disser que eu possa ter interesses obscuros nisso tudo, Miguel não vai acreditar.
- Sendo assim, você separou a Miranda do Miguel pra satisfazer a vingança.
- Não exatamente. Na verdade, não tanto para que minha consciência não fique pesada.
- Eu acho que ela vai pesar se a sua irmã fizer algum mal pra ela mesma por causa disso. Sabe que ela já atentou contra a própria vida várias vezes e tem um histórico depressivo.
- A psicóloga aqui é você, e eu não tenho paciência nenhuma pra aguentar o drama infernal da minha irmã. Mas agora não vou me preocupar com Miranda e nem com os chiliques que ela adora dar, vou focar na parte dois do plano: chegar, como boa amiga, até a casa de Fernando Fernandes.- Meus olhos brilhavam com uma intensa uma mistura de prazer, dor, ódio e sucesso. Mas o sucesso deveria vir em breve.
- Você é quem sabe. Vamos voltar?
- Sim, acho que o barraco já passou.
- Tomara que esteja certa.
Cavalgamos até a casa principal e subimos as escadas. Miranda estava na sala de estar, abraçada a Manoel e com os olhos inchados.
- Bom dia.- Falei ao entrar.
- Bom dia? Acha que esse dia está bom?- Miranda reclamou.
- Se está ruim, melhor ainda porque eu estou desejando que melhore, não é?
- Não seja irônica Maria.
- Não seja dramática Miranda.
- Então já sabe que Miguel e eu terminamos?
- Sim, ele mesmo me contou. Disse que não era feliz com você.
- Cínica... Quis tirar o MEU Miguel de mim! Só porque sabe que eu sou e sempre fui apaixonada por ele! Qual o seu problema comigo?
- Por que eu teria um problema com você? Acha que o mundo gira em torno de você? Miranda, você é um ser insignificante dentro de um país insignificante que fica dentro de um mundo insignificante em uma galáxia insignificante no cosmo e no universo. E tô pra te falar que o universo não gira nem em torno do sol! Muito menos de você!
- Ele me trocou por VOCÊ!
- Assim como você, eu também sou um ser insignificante dentro de um país insignificante...
- Já chega!- Ela me interrompeu.
- O que eu quero dizer é que o mundo não gira em torno nem de mim e nem de você. Ou seja: o mundo não conspira contra você e nem a culpa é sempre minha! Não tenho nenhum interesse no Miguel que não seja a amizade dele.
- Falsa dos infernos!- Ela me deu um tapa na cara e eu retribui o gesto, mas com mais força.
- Ouse fazer isso mais uma vez e vai ver o que te acontece! Você vai chorar, porque eu vou arrancar essas lentes dos deus dentes na base do soco.
- Quero ver se é mulher pra isso!
Eu ameacei ir, mas meu irmão me segurou. Já Karla segurou Miranda.
- Parem agora vocês duas!- Ele brigou- Parecem duas crianças!
Olhamos para ele como quem diz "você é a criança dessa casa. Você tem 30 anos e uma coleção gigante de bichinhos de pelúcia que que você trata como filhos". Ele retribuiu nossos olhares como quem diz " eu não estou falando disso".
- Façam as pazes!- Ele ordenou.
- Não!- Miranda faz bico- Ela fez o meu namorado terminar comigo pra ficar com ele e ainda se faz de santa!
- Façam o seguinte:- Karla sugeriu- Vamos até a cidade fazer umas compras. Assim ficaremos juntas e tentaremos viver em harmonia. O que acham?
- Só gostei da parte das compras.- Miranda cruzou os braços.
- E eu nem disso.- Olhei com cara de brava para Karla.
- Mas vocês vão.- Manoel nos empurrou até a porta e Karla foi logo atras.
- E para evitar a discórdia- Karla continuou- eu vou dirigir.
- Você o quê?- Perguntamos assustadas.
- Sim. Vamos, entrem aqui.
Entramos com medo e nos sentamos no banco de trás. Karla se assentou e, cantando pneus, acelerou pela estrada de terra. Miranda e eu colocamos os cintos mas, mesmo assim, seguramos firme no carro. Realmente ninguém nunca descobriu por que Karla havia conseguido tirar a carteira de motorista. Ela era péssima.
Na estrada a situação piorou.
- Ai Karla!- Miranda reclamou quando o carro passou em algum lugar e nos fez pular, batendo com a cabeça no teto.
- Desculpa, mas essas estradas da região são horríveis. Tá tudo cheio de buracos!
- Essa estrada é a melhor da região.- Olhei para fora do carro- Você tá é no acostamento entrando com o carro nas valetas. Chega pro meio!- Ela chegou para a esquerda de uma só vez e, novamente, Miranda bateu com a cabeça no teto- Não chega o suficiente pra passar pra outra pista.
- Vocês estão me estressando. Assim eu não consigo!
- Você é uma péssima motorista!- Miranda disparou enquanto passava a mão na cabeça dolorida.
- Vem fazer melhor!- Karla retrucou.
- Faço!
- Não vai fazer nada!- Gritei-Eu dirijo, vocês são duas desmioladas.
Karla parou no acostamento e eu peguei o volante. Em pouco tempo já estávamos na cidade. Parei no estacionamento do shopping e entramos.
Era um mar de lojas, de ruídos, de cheiros. A praça de alimentação estava lotada, como na época em que Miranda e eu éramos apenas duas garotinhas e íamos até lá com nosso pai quando o shopping não era mais do que um amontoado de pequenas lojas com uma lanchonete no centro.
Por incrível que pareça, não nos separamos. A tentativa de Karla de aproximar Miranda e eu deu certo quando ela sugeriu que fôssemos a uma loja que nós duas gostávamos. Escolhemos uma com moda country, que era o que costumávamos usar na fazenda e nos eventos que poderíamos ter nas próximas semanas. Depois, fomos a uma cara e famosa loja de roupas refinadas.
Experimentamos roupas por horas até que cada uma das duas escolheu o que achou melhor — com o apoio de Karla, como sempre. Miranda havia escolhido o que mais se parecia com ela: o mais sexy. Um vestido curto — bem no estilo Miranda — vermelho, com um super decote no peito e uma abertura gigante nas costas. Eu realmente não conseguia entender como ela conseguia respirar com aquilo, ainda que fosse a maior adepta do século aos espartilhos.
Eu já fui mais discreta, mas arrisquei ousar um pouco mais do que o normal: um croped não muito curto azul escuro com uma manga só, manga essa em renda da mesma cor da roupa. Uma saia longa da mesma cor completou o conjunto.
Depois disso, estávamos famintas e fomos até a praça de alimentação. Karla e eu comemos um hambúrguer e Miranda se deliciou com uma salada.
- Karla, vai comigo ao banheiro?- Perguntei assim que acabamos de comer.
- Vou sim Maria. Miranda, nos espera aqui?
- Espero sim.- Ela ainda não havia acabado a salada.
Fomos até o banheiro.
Miranda aproveitou o momento em que saímos e reparou que havíamos deixado algumas batatas fritas sobrarem no prato. "Depois eu me viro e coloco isso pra fora. Mas agora eu vou comer só uma... Preciso disso...", pensou. Comeu uma e abriu um sorriso. Já fazia um ano desde a última batata frita que havia entrado na boca de Miranda.
- Só mais uma... Não vai fazer mal...- Falou baixo.
Quando ela esticou o braço para pegar uma batata, um homem chegou por trás, andando rápido e a segurou pelo braço.
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