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CAPÍTULO 12
Apenas Nós | Livro Um
A segunda-feira é sempre a mais cansativa, tive dificuldade em levantar e confesso, que não estava nenhum pouco a fim de assistir as aulas do dia, mas havia um trabalho para ser entregue e somente eu poderia fazer isso. Anne já estava na universidade, sua primeira aula começaria mais cedo, fazendo até com que a loira ficasse em casa no domingo, e não em uma festa qualquer ou na casa do seu... namorado. Eu também não tenho saído desde a sexta-feira, assim como frustrantemente não encontrei Adam, e muito menos o tive batendo na minha porta.
Sentada em uma das mesas da padaria, esperava pelo meu café fresco quando o burburinho do sino na porta ganhou minha atenção fazendo-me encontrar os cabelos ondulados de Marcos, acenei para ele, duas vezes, até que me encontrou e sorriu pegando seu café no balcão, vindo até mim — Bom dia pequena — o apelido carinho sempre me faz sorrir, assim como me faz constatar que meus 1,65 de altura não é nada comparado aos quase 1,87 do meu amigo.
— Bom dia..., e então você sumiu com a morena na sexta — comentei, estreitando os olhos para ele com divertimento.
Marcos sentou-se de frente para mim, com um sorriso torto nos lábios mencionou — E você sumiu com o Miller — meu sorriso se desfez no mesmo instante, me remexi um tanto desconfortável na cadeira — Tá rolando alguma coisa?
Hesito, por breves segundos, pensando em como seria bom dividir com alguém o que em pouco tempo aconteceu, mas desisto da ideia, e apenas murmuro — Não, ele me ajudou com um cara que estava tentando me agarrar e...
Marcos interrompe — Merda, aconteceu quando eu te deixei sozinha não foi?
— Não foi culpa sua Marcos, é sério, tá tudo bem — afirmei, tentando tirar a expressão preocupada do seu rosto, mas ele ainda está tenso, e até acho bonito a sua preocupação, mas não quero que fique se culpando de alguma forma, e balanço a cabeça confirmando mais uma vez o que falei.
Marcos assente, e logo inicia um assunto qualquer conseguindo me distrair, mas então a tentativa de não pensar em Adam se desfaz no segundo em que reparo na entrada da padaria, e congelo quando ele passa pela porta. Adam tem o cabelo úmido indicando que há pouco tempo saiu do banho, calça escura assim como a jaqueta, que está por cima da camisa cinza, seus passos são firmes, mas devagar enquanto entra. Ele parece estar esperando alguém, e vejo que minha ideia está completamente certa quando desvio o olhar encontrando a garota de cabelos loiros e grandes, que interrompeu nossa conversa na biblioteca, e que trocou farpas com Rafael na manhã em que conversamos aleatoriamente. O pensamento surge involuntariamente em minha mente, e fugazmente questiono-me.
Será que passaram a noite juntos? ou pior ela é a sua namorada?
Ambos se sentam em uma mesa mais à frente da minha com Marcos, até tento desviar minha atenção e focar no que meu amigo fala, mas não consigo. Adam não me vê, mas confesso, eu queria que ele me notasse...
— Se não tá rolando nada entre vocês dois, porque eu tenho a impressão de que você está se corroendo de ciúmes — a voz grave de Marcos consegue me tirar do devaneio, ele também estava olhando para a mesa de Adam e da loira, mas foram breves segundos.
— É só impressão sua — rolei os olhos, e quis que Marcos acreditasse nas minhas palavras, mas como eu poderia exigir isso, se nem mesmo eu acreditava.
— Zoe — ele diz, e sem entender franzi o cenho — É o nome da garota que está com o Miller.
Encarei novamente os dois, no exato momento em que a mão dela desliza no braço de Adam, odeio admitir, mas esse pequeno gesto pateticamente me incomoda, e antes que eu possa engolir as palavras, pergunto — Eles são namorados?
Meu amigo soltou uma gargalhada, mas eu estava tensa esperando sua resposta e já me condenando por ter beijado Adam — Não, acho que já tiveram alguma coisa, mas nada sério — suspirei em alívio, mesmo com uma sensação estranha no peito.
— Como você sabe disso? — quis saber, dando o último gole no meu café.
— Ela tem alguma história com o Rafael, o dono da festa de sexta — assenti, e fleches de quando os conheci em uma discussão estranha me vem à mente, e a história de Marcos chega a fazer sentido. Ah, então aquela casa é do Rafael?!
Guardo o livro que estava lendo antes de Marcos chegar, e noto que ele também terminou o seu café chamando-me para irmos. Involuntariamente, o simples fato de saber que iríamos passar ao lado da mesa de Adam fez meu coração pular. Marcos sai na minha frente em direção a porta, e em passos longos que mais parecem durar uma eternidade eu tento acompanhá-lo, meu coração palpita cada vez mais quando vejo estar aproximando-me da mesa dele, tento focar em qualquer coisa, mas assim como é todas as vezes em que sei que ele está perto, seus olhos me atraem, e eu vi, na verdade eu senti que por uma fração de segundo o avelã dos seus olhos encontraram a imensidão escura dos meus, e a faísca que isso causou, me fez parar de respirar, mesmo que por um mero segundo.
♥︎
Eu havia aproveitado a falta do último professor da manhã, juntando com o tempo que tenho até iniciar as aulas da tarde para encontrar a minha mãe, estava com tantas saudades que não me importei em pegar o metrô para vê-la, longos minutos depois eu encontrei a casa que um dia pertenceu aos meus avós, que agora moram longe da cidade grande. A porta estava fechada, mas bastaram apenas duas batidas para que eu enxergasse a silhueta dela caminhando em minha direção, os cabelos castanho-escuro assim como o meu, caindo sutilmente sobre os ombros, o rosto arredondado lembrando-me perfeitamente o da minha avó, da mesma forma que a pele bronzeada destacando seus olhos verdes.
No exato instante em que a porta se abre, sinto seus braços me envolverem em um abraço apertado, mas confortante — Que bom que veio, querida — sua voz doce sopra em meu ouvido, e me afasto o suficiente para enxergá-la — Estava com saudade.
— Eu também senti — falei, ainda sentindo suas mãos deslizarem em meus cabelos, ela sorri e logo estamos entrando indo diretamente para a cozinha.
— Vamos, me conte tudo — animada, ela pede, enquanto sento em volta da mesa redonda — Estou ouvindo — só então notei que ela está usando um avental lilás, preparando alguma coisa que só pelo aroma me ganhou.
— Bom... — e pelos próximos quinze minutos minha mãe ouve atentamente cada detalhe de como está sendo os meus dias na USP, incluindo o meu amor ou o meu ódio pelos professores e pelas matérias, as amizades que fiz e como tenho me dado bem com Marcos, e com a loira que divide o apartamento comigo.
— Anne não tem jeito — é o que minha mãe menciona, quando comento as loucuras previsíveis da minha amiga. E o assunto se estende para como anda o seu trabalho, e tudo que perdi enquanto estava me afogando em leituras. — Você tem falado com o seu pai? — pergunta, depois de colocar o prato incrivelmente cheio na minha frente.
— Sim, às vezes consigo encontrar ele online — comento, o que de fato é verdade, ele sempre está à procura de saber como estou ou se preciso de algo.
— Ele comentou comigo que logo virá para São Paulo — minha mãe disse, e foi impagável a careta que ela fez ao mencionar a possível aparição do meu pai. Não tínhamos uma relação ruim, longe disso, eles apenas trocavam farpas vez ou outra, quer dizer, quase sempre e normalmente isso vem da minha mãe, mas em hipótese alguma deixam que suas indiferenças me atinjam.
Eu havia encontrado ele nas férias, passei uma semana com ele e Sara em sua casa no Rio de Janeiro, eles estavam temporariamente por lá o meu pai tinha um processo em mãos para resolver, acredito que deve ter concluído e por isso está voltando para São Paulo. A visita que fiz a eles foi muito boa, embora não negue que um certo incômodo ainda persiste, não por mim, mas pela minha mãe, que mesmo negando sei que ainda sente algo, mesmo que somente rancor, por algo que eu com o tempo descobri, meu pai a traiu. Eu lembro que o casamento deles não estava em seu melhor momento, não depois de tudo que aconteceu e de como eles não souberam lidar com a realidade, o meu pai estivera ausente e minha mãe tão perdida que sequer percebeu a falta do marido, e quando o fez era tarde demais e as brigas começaram, ele sempre ameaçando sair de casa, e então um belo dia ele tinha outra pessoa e deixou isso claro antes de deixá-la. Por um tempo, após ter descoberto eu quis ignorá-lo, não foi certo, tampouco humano deixar a minha mãe sozinha para lidar com a perda, mas entendi que pessoas cometem erros e que os deles não deveriam ser colocados no meio da nossa relação de pai e filha. Com o tempo minha mãe voltou a vida, e eu também. Por ela.
— Ele não me falou sobre isso — comentei, voltando a me concentrar em matar a fome que sentia. Ela somente deu de ombros, e assim começou a devorar o almoço.
— E então, algum namoradinho? — sua menção quase me fez engasgar, e depois gargalhar repassando a palavra ''namoradinho'', mas por pouco tempo, porque a minha mente vinculou essa mera e boba palavra a Adam, mesmo que não sejamos absolutamente nada, mas o meu subconsciente insisti em me trair — Hum, temos alguém — ela disse, notando que as engrenagens do meu cérebro estavam trabalhando.
— Não tem namorado nenhum, mãe — o sabor do suco de maracujá invadiu meu paladar, céus, como eu amo — Tem alguém, ele é... intenso — essa pequena palavra com certeza define Adam, e tudo que me fez sentir em tão pouco tempo.
— Por que esse receio em falar sobre vocês? — ela quis saber, e eu soltei uma risada involuntariamente.
— Por que não existe um ''vocês'', foi só um beijo — ou dois, acrescentou uma voz na minha mente.
Minha mãe já estava de pé colocando a louça na pia, quando por cima do ombro disse — É, mas foi nele que você pensou quando eu perguntei se havia alguém.
Estreitei os olhos em sua direção, podendo ver claramente o lampejo de divertimento estampado em seu rosto, ela sabia que há um bom tempo eu não permiti um ''alguém'', e talvez tenha criado uma expectativa, por isso me adiante em falar — Não, não coloque coisas na minha cabeça, Dona Cris, não tem nada acontecendo.
Suas mãos se ergueram ao alto como sinal de redenção, arrancando de mim um riso nasalado — Eu tenho que pegar o metrô de volta — avisei, me certificando da hora no relógio.
— Não antes de comer a sobremesa — e um belo mousse de maracujá foi colocado na minha frente.
— Eu amo você, mãe — sua risada preencheu o espaço entre nós, e não demorou para que colheradas e mais colheradas do doce estivessem me satisfazendo.
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