Capítulo Quatro
Estava no meu quarto, deitada confortavelmente na cama, quando a Marcela entrou, acabando com a minha paz.
-Lydia, arrume suas coisas. Daqui a três dias você vai para o colégio interno- diz autoritária.
-Você ainda não tirou essa ideia da cabeça?- pergunto irritada.
-Não, porque eu estou fazendo a coisa certa. Você precisa aprender a ter respeitos e bons modos.
-Respeito? Bons modos? Você acha que me mandando para um lugar onde eu não conheço ninguém, onde eu ficarei afastada das pessoas que eu amo, fará com que eu mude? Isso só vai fazer com que eu fique mais revoltada, você não percebe que...
-Lydia, já chega!- diz nervosa, logo se retirando do quarto.
Contrariada, vou até o meu guarda-roupa procurar minha mala, e quando a acho, jogo algumas roupas dentro.
Ouço meu celular tocar e corro para pegá-lo.
***
-Oi ridícula. O que você ta fazendo?- diz Miguel, alegre.
-Arrumando a porcaria da minha mala!
-Eu não disse que iríamos dar um jeito de você não ir? Não confia em mim?
-Não banque o dramático, por favor. Esse é o meu papel! E é claro que eu confio em você, mas não vejo alternativas, Miguel.
-Ainda sabe a senha do cofre da sua mãe?
-Sei. Ela sempre muda, mas eu sempre dou um jeito de descobrir.
-Ok. Te encontro em uma hora.
-Por que uma hora? O que tem de importante para fazer em uma hora?
-Vai se ferrar, Lyn. Tchau- diz rindo e desliga o telefone.
***
Jogo-me na cama e encaro fixamente o teto.
O que o Miguel iria fazer?
Esse menino e suas ideias brilhantes!
Mas estou disposta a fazer de tudo, para não ter que ir embora.
Depois de esperar, pelo que pareceram séculos, finalmente ouço a campainha tocar.
Saio do quarto e vou atender a porta, onde do lado de fora se encontra um Miguel todo suado.
Deveria estar treinando.
-Quer um abraço?- pergunta provocando, pois sabe que odeio gente suada.
-Não toca em mim! Por que não tomou um banho antes de vir aqui?
-Porque eu não quis- diz simplesmente, entrando na minha casa e fechando a porta.
E só por precaução, dei cinco passos para trás.
-Vamos para o escritório da megera. Eu devo encontrar algo que sirva para chantageá-la, lá.
Entramos no pequeno, mas aconchegante, escritório e começamos a vasculhar algumas gavetas.
Quando fui abrir uma gaveta, percebi que estava trancada, mas a Marcela é tão ruim com esconderijos, que escondeu a chave na tabua da mesa. Estava colado com fita isolante.
Tão amador!- pensei irônica.
Quando fui abrir a gaveta, escuto passos, que estão bem pertos.
-Miguel, deve ser a Marcela. Temos que nos esconder!- murmuro, e ele concorda.
Entramos em um armário que ficava no canto da sala e pela pequena fresta que apareceu na porta, vejo minha mãe entrar.
Ela está falando com alguém no celular, e parece estar um pouco nervosa.
-Como assim? Mas é claro que ninguém sabe! Sempre fui discreta.
A pessoa do outro lado fala alguma coisa, e ela logo responde.
-Eu espero! Quero que ele continue tendo uma vida boa e nunca saiba da verdade... Claro que não. O Eric nunca vai saber que o Junior não é seu pai... Ok. Tchau- diz e finalmente vai embora.
-O quê? A Marcela traiu o meu pai? O Eric então é o meu meio irmão?- murmuro chocada.
Essa era uma noticia e tanto.
Mas como diz o ditado que eu acabei de inventar: Em meio à maré, agarre-se ao farol ou vá com as ondas.
A Marcela é a maré, então se eu for com as ondas, terei que ir para o internato, mas se eu me agarrar ao farol, que é essa descoberta impressionante, poderei usar isso como chantagem.
Como que lendo meus pensamentos, Miguel diz:
-Lydia, não! Você não pode fazer isso!- diz autoritário, e é estranho ouvi-lo me chamar de Lydia e não de Lyn. Ele só me chama pelo meu nome quando está bravo comigo.
-Isso é perfeito Miguel. Esse é o meu farol.
-O quê? Ah, não interessa! Isso que acabamos de ouvir é sério demais Lyn, você pode se arrepender.
-É tão sério, que se torna a chantagem perfeita! Eu não quero ir embora e estou disposta a fazer de tudo para não ir.
-Não faz isso Lyn, por favor, você vai se arrepender! Converse com ela, eu sei que a ama, tente.
-Ok. Eu irei tentar.
-Promete?
-Uhum.
-Mas se você pensar em chantageá-la, nem que seja por um segundo, fale comigo, entendeu?
-Miguel, essa é uma decisão minha. Posso até te contar, mas quem decide sou eu.
-Mas caso você se arrependa e se machuque, serei eu a catar seus pedacinhos no chão.
-Odeio quando você da uma de vidente, e acha que sabe de tudo que vai acontecer.
-Eu não sei de tudo. Só estou constatando o obvio. Mas você não me escuta.
-Já chega desse assunto. Vamos sair daqui antes que a Marcela volte.
Quando já estamos na segurança do meu quarto, vou até a janela que dá vista para a rua e me sento no batente de madeira, observando as pessoas lá embaixo.
-Hoje foi um dia e tanto- Miguel comenta, sentando-se na cama.
-Uhum.
-Mesmo que a chantagem seja uma opção, que para você parece ser muito boa, promete mesmo que vai conversar com a sua mãe?
-Prometo.
-Tudo bem. Tenho que ir. Tchau pequena- diz e vem até mim, dá um beijo na minha testa e vai embora.
Mas antes que ele passe pela porta, pergunto:
-Por que me chama de pequena?
-Porque alta você não é- diz rindo.
-Mas somos quase da mesma altura!
-Eu gosto de te atormentar, pequena. Essa é uma das razões para eu viver- fala e então sai.
Levanto-me do batente da janela e vou me deitar na cama.
Encarando fixamente o teto, novamente, pergunto a mim mesma se terei coragem de ameaçá-la.
Ela é a minha mãe e eu a amo, mas ela errou, errou feio.
Além do mais, eu não quero ir embora.
Se esse é o preço da liberdade, acho que estou disposta a me arriscar.
Revisado✔✔✔
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