CAPÍTULO 3 | DESILUSÃO

Isabela

Hoje está sendo um dia longo e muito cansativo, muitos problemas em uma única tarde e eu não consigo me concentrar direito no trabalho que tenho na minha frente. Eu menti hoje pela manhã para os meus amigos, disse que estava tudo bem comigo sem realmente estar. Sei que eles me conhecem bem o suficiente para saber disso, mas não me pressionaram para falar, quando eu estiver pronta eu falo.

– Bela, já acabou o que eu lhe pedi? – Minha mãe diz assim que se aproxima da minha mesa. Faço uma cara de que não e ela me olha brava.

– O que aconteceu? Já percebi que hoje você está no mundo da lua.

– Mãe, realmente não quero falar disso agora, pode ser?

– Tudo bem, mas eu preciso que você deixe de lado o que está te atrapalhando neste momento e foque no trabalho querida, precisamos disso para hoje, como eu havia lhe dito pela manhã, caso não consiga eu peço para outra pessoa. Sabe que conversar com alguém talvez seja bom.

– Eu sei mãe, o Be e a Alana também tentaram conversar comigo pela manhã, mas ainda não estou pronta para falar disso. Está tudo bem agora, não se preocupe comigo, eu realmente vou focar para terminar de analisar esse projeto e daqui uma hora estará em sua mesa.

– Tudo bem querida, se precisar de mim, seja para conversar ou para qualquer outra coisa sabe onde me procurar, não sabe?

– Sei sim mãe – Digo e ela dá um beijo na minha testa na frente de todos os outros funcionários me deixando vermelha de tanta vergonha. Ela tem esses costumes de dar carinho para os filhos sem se importar com quem está vendo.

– Eu e seu pai estamos com saudades de vocês, venham jantar um dia conosco.

– Está bem mãe.

Assim que ela saiu eu olhei para frente e vi o Bernardo me encarando, pelo visto ele escutou a minha conversa com minha mãe. Ele ficou olhando a minha mãe sair e quando ela entrou e fechou à porta de sua sala, ele se levantou e veio até minha mesa, puxou uma cadeira e sentou-se ao meu lado.

– Vamos lá, o que você não está conseguindo fazer para finalizar essa análise?

– Achei que iria perguntar o que eu tinha e porque não contei a verdade a vocês nesta manhã.

– Eu sei que você vai falar assim que se sentir pronta e eu não vou forçar a barra.

– Obrigada por isso.

– De nada, mas agora é sério, sai dos meus afazeres para te ajudar a terminar essa análise e só saio daqui quando terminarmos – Sorrio para ele e puxo os papeis para rever os detalhes.

***

Quando enfim consegui sair da empresa, o Be já estava escorado em seu carro conversando com o Eduardo e a Alana.

– Oi gente, desculpa a demora. Oi Edu, você por aqui?

– Oi Bela, sim, meu carro está na oficina e pedi uma carona para o Bernardo, tem problema para vocês meninas? – Ele diz mais olhando para a Alana do que para mim, e quando vejo que ela fica encarando ele mais tempo do que o necessário, dando na cara que está tarando ele, eu respondo:

– Claro, sem problemas.

– Então vamos gente, tenho que pegar a Gabi também – Bernardo diz e eu, Alana e Eduardo nos entre olhamos sem acreditar e eu como não penso muito antes de falar, digo:

– Isso é sério Be?

– Sim, algum problema? – Antes de eu responder a Alana diz:

– Todos. Enfim, não temos tempo, vamos logo.

Eu e a Alana vamos no banco de trás enquanto o Edu e o Be vão na frente conversando sobre o próximo jogo e estão tão entretidos no assunto que decido conversar com a Alana sobre outras coisas:

– E aquela olhada para ele hoje hein? Mais um pouco e ele iria perceber.

– Fica quieta guria, se ele escuta alguma coisa eu pulo desse carro em movimento no mesmo instante. Mas e você, está muito estranha hoje, quando vai nos contar? – Eu olho para frente e vejo o Be me olhando pelo retrovisor, sei que ele está prestando atenção na conversa e então eu digo a todos:

– Gente, hoje lá no nosso apartamento, nós quatro, quero dividir uma coisa com vocês, pode ser? – Eu confio cegamente no Eduardo também, claro que eu, a Alana e o Be somos o trio desde o início e confiamos um no outro sempre, mas o Edu já está a um bom tempo andando com a gente e sei que ele é uma pessoa que eu posso confiar qualquer segredo.

Todos concordam antes de o Be estacionar para pegar a baranga, ops, a Gabriela, enquanto isso o Edu desce do carro para dar lugar a ela no banco da frente e senta atrás com a gente, ficando do lado da Alana, que a essa altura já está com as bochechas rosadas só em estar perto do rapaz que ela gosta.

Eles trocam algumas palavras um com o outro enquanto eu tenho que ver sem vomitar a cena do Be beijando a Gabriela bem na minha frente. Eu não sei como ele a suporta, ela é exibida, nojenta, grossa, antipática, patricinha, e pisa em cima de todos a sua volta, resumindo, insuportável, ninguém gosta dela, por isso eu acho que o Be deve ser um anjo, para aturar uma pessoa desse tipo. Ela vira para trás e nos vê ali, ela abre um sorriso e diz:

– Oi Edu, quanto tempo?

– Oi – Ele se limita a cumprimentá-la.

Enquanto isso eu e a Alana somos ignoradas por ela. Não faço questão mesmo que ela fale comigo, porque minha mãe me deu educação e eu teria que respondê-la e assim eu não preciso fazer isso.

***

No final da aula recebo uma mensagem da Alana dizendo:

Encontrei o Edu assim que saímos das nossas aulas que acabaram mais cedo. Estamos indo para o AP, esperamos vocês lá. Beijos.

Sorri ao ler suas palavras, ela e o Eu, sozinhos, me deu até vontade de convidar o Bernardo e irmos para longe e deixarmos os dois aproveitarem mais, quem sabe assim não rola o que há tanto tempo estamos esperando não é mesmo? Mas eu preciso tirar esse peso das minhas costas, preciso contar para eles o que aconteceu ontem, eles são meus amigos e vão me entender.

Algum tempo depois o professor libera a nossa turma também e o Be vem falar comigo antes mesmo de sairmos da aula:

– Bela, sei que combinamos hoje no AP, mas vou ter que faltar, a Gabi me chamou para um churrasco e não posso faltar. Deixar minha gata sozinha em um churrasco cheio de homens dando em cima dela não dá né, você me entende, não é? – Eu não sabia se eu estava mais chateada por ele preferir aquela baranga do que os amigos que sempre estiveram com ele, ou por ele ser tão iludido ao ponto de chamar ela de minha gata.

Minha vontade era de brigar com ele naquele mesmo instante, e até passou algumas palavras pela minha cabeça, mas ele era meu amigo, e tínhamos um acordo de não opinar no relacionamento um do outro, e ele e a Alana sempre respeitaram meu rolo com o Pedro mesmo eles não concordando, então eu não poderia ser injusta com ele e dizer para ele que eu ficaria chateada se ele me trocasse por ela, por isso botei a minha melhor cara e disse:

– Sem problemas Be, outro dia eu te conto, não é nada de mais – Ao finalizar a frase eu dei um sorriso para ele, e enquanto íamos em direção à saída ele passou os braços pelo meu pescoço e me puxou para ele dando um beijo na minha bochecha e disse:

– Eu já disse que te amo hoje? – Eu sorri abertamente com o que ele havia dito e dessa vez foi um sorriso sincero e não um sorriso forçado como antes.

– Eu também te amo Be – Disse retribuindo o beijo no rosto que ele me deu. Mas como tudo que é bom dura pouco, escutamos alguém pigarrear atrás de nós e paramos para ver quem era, adivinha? Ela mesma, a querida Gabriela estava atrás de nós, com cara de poucos amigos e braços cruzados. O Be tratou logo de tirar o braço do meu pescoço e correr para falar com ela. Ele sussurrava algumas coisas para ela que parecia estar brava por algum motivo. Depois do que pareceu uma eternidade ele finalmente virou-se para mim e disse:

– Precisa de carona para casa Bela? – Pensei que ele não fosse me oferecer, odeio ter que ficar esperando táxi, e como sei que ele vai passar em casa antes de ir para esse churrasco, eu posso sim pegar uma carona, porque não? É só aturar a Gabriela por alguns minutos. Quando eu abro a boca para dizer que sim, ela fala antes de mim:

– Por favor Bernardo, ela não é mais uma criança, sabe se virar muito bem sozinha, fora que segurar vela é chato né flor? – Ela diz me olhando com desdém.

– Ah não, sem problemas, como a Gabriela disse, sei me virar sozinha, boa festa para vocês – Não espero o Bernardo responder e já me viro e vou andando, não consigo suportar aquela garota.

***

Quando enfim consigo chegar ao nosso apartamento, entro devagar, está muito silencioso para o meu gosto. Chegando à sala eu percebo o porquê está esse silencio todo, a Alana e o Eduardo estão deitados no sofá dormindo, abraçados, como um casal de namorados. Eu que não vou acordar eles, deixa eles aproveitarem o máximo que puderem.

Enquanto isso eu vou ao meu quarto e troco de roupa, calço um tênis e desço novamente para as ruas do Rio de Janeiro, vou correr e tentar esquecer as coisas ruins que acontecem comigo o tempo todo. Coloco meu fone de ouvido e começo a minha corrida, por mais que já seja tarde da noite, é minha única opção de malhar. Quando passo por um restaurante lindo, vejo um casal apaixonados na frente que me faz diminuir a corrida para ver melhor.

Eu o conheceria em qualquer lugar, mesmo de costas, beijando outra mulher, eu o conheço perfeitamente para reconhecê-lo. Lá está ele, o cara que eu guardei meu coração por anos, o cara que ontem disse que me amava e que estava pronto para ficar só comigo, era o Pedro, bem ali beijando outra mulher, na minha frente. Fiz questão de mudar o trajeto que eu sempre fazia quando corria a noite e corri para o lado oposto, com lágrimas nos olhos.

***

Não sei como eu vim parar na praia, já que é bem longe do nosso apartamento, mas já que estou aqui, resolvi sentar um pouco e refletir, que droga eu fiz na minha vida durante os últimos anos. Meu celular vibrou avisando que eu havia recebido uma mensagem e só aí que percebi que já era uma hora da manhã e eu ainda estava na rua, suada, e voltar a pé para casa iria levar mais uma meia hora ainda, olhei a mensagem da Alana:

Amiga, por onde você anda? Vi as roupas que usou hoje no seu quarto, saiu com alguém? Beijos.

Em vez de responder sua mensagem, fiz o que era certo no momento e disquei o número de celular, aguardei um pouco enquanto chamava e logo ela atendeu:

– Amiga, está tudo bem?

– Oi, o Edu ainda está aí com você?

– Sim, por quê?

– Nada, só não queria que você ficasse sozinha – Fiz uma pausa e continuei – Agora que percebi que era tão tarde, eu vou pegar um táxi e irei para casa, você desce para pagar a corrida para mim? Estou sem minha bolsa, sai para correr e acabei ficando mais tempo do que deveria na rua.

– Claro, mas venha de táxi, não fica andando pelas ruas há essa hora, sabe o quanto é perigoso né?

– Sei sim, logo estarei aí amiga, beijos.

– Tudo bem amiga, beijos e se cuida.

Após desligar e ir para a estrada, um táxi que passava pelo local parou assim que acenei, passei meu endereço a ele e seguimos rumo a minha casa. Sei que quando chegar serei bombardeada de perguntas das quais não vou querer responder, mas eu preciso, a Alana e o Edu são meus amigos e sei que posso confiar neles de olhos fechados.

***

Ah gente, porque a Bela tinha que gostar de alguém que nem merece ela? 

Agora o que nos resta é torcer para ela terminar qualquer tipo de relação com o Pedro,porque ele é um babaca, se quer ficar solteiro, não fica enrolando a Isabela né?

Até os próximos capítulos.

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