7. OLHOS FAMINTOS
A minha rotina com Aphonso havia se estabilizado. Fazíamos praticamente tudo juntos. Mas muitas coisas haviam mudado, eu não me sentava, mas com Key, as raras vezes que conversamos eram sobre o assunto de alguma atividade. Felipe rondava o colégio com freqüência, ele parecia preocupado. Todas as vezes que um chegava ao colégio com Aphonso La estava ele, conversando com Day e Liame pelos menos uma vez a cada mês Aphonso fazia uma viagem de dois a três dias. Eu ficava chateada porque ele nunca me levou. Eu desconfiava que pudesse haver algo, mas Rose me garantia que ele seria incapaz de mentir para mim. Na verdade, ele era muito bom em outra coisa, omitir.
Lauren se tornou uma garota bem visível, freqüentava com a mesma obsessão o meu colégio, diferente de Felipe ela desejava quem eu amava, de alguma forma ela nunca se aproximou de mim, nem quando Rose, Aphonso e Liam estavam por perto, mas houve duas vezes que ela quase me disse algo, mas Rose chegou e ela rapidamente se afastou de mim.
Os olhos dela ainda desejavam minha morte, agora mais evidentes, mas hoje é um dia muito importante para mim, é o dia em que vou apresentar a Ângela e a Mauro, Aphonso.
Quem deveria estar nervoso seria ele, mas mesmos assim meus batimentos cardíacos aumentaram. Eu estava uma pilha de nervos. Preocupando-me se eles iriam ou não gostar dele. Não haveria um jantar ou uma recepção, recusei qualquer tipo de formalidade. Isso seria bem mais difícil para mim do que para ele. Aphonso ria enquanto tentava me acalmar.
– Não precisa ficar tão nervosa
– Eu não estou nervosa
– Não? – ele me olhou confuso
– Claro que não, eu nem roí nenhuma unha.
Ele olhou pra as minhas unhas roídas.
– E agora já está nervosa?
– Aphonso – retruquei.
– Desculpa. Às vezes eu sou um idiota – ele segurou minha mão e olhou nos meus olhos – Me perdoa?
– Como se eu conseguisse ficar zangada com você.
– Fica calma, vai dar tudo certo.
– Assim espero.
As aulas se passaram. O último tempo se encerrou. Aphonso me levou para casa. Não houve os tradicionais momentos de "tchau, até logo". Entrei o mais rápido que pude. Tomei um longo banho e me arrumei, vesti um vestido preto de alças cruzadas, arrumei o cabelo em um rabo de cavalo e calcei uma melissa da mesma cor do vestido.
Ouvi Mauro e minha mãe chegarem a casa. Minha barriga embrulhada. Não sai do meu quarto até ouvir a campainha tocar. Era ele. Sai rapidamente do meu quarto, passei por meus pais e abri a porta. Ele estava com uma calça jeans, uma camisa branca e o tênis. Ele me fitava com um sorriso, retribui e o beijei. Segurei em sua mão e o trouxe para a sala. Ângela e Mauro estavam de pé. Minha mãe vestia um vestido branco com uma melissa – da mesma cor enquanto os seus cabelos estavam soltos. Mauro estava mais formal com uma calça preta, uma camisa de mangas compridas, branca, dobradas, até o meio do braço e o sapato social preto.
– Boa noite – ele sorriu.
– Você é o Aphonso. Ângela havia me falado de você.
– Esse é Mauro – apontei, enquanto Aphonso cumprimentava-o. – E, essa é minha mãe, Ângela.
– É um prazer revê-la – ele sorriu.
– Igualmente – ela assentiu.
– Sente-se – indicou Mauro, enquanto sentava com minha mãe. Ele nos olhou e indagou.
– O que você quer com Eduarda?
– Eu quero namorá–la, Senhor – ele ficou sério.
– Ele é filho dos Huberman – informou minha mãe.
– Então os seus pais são os donos do hospital Emília Santiago.
– Sim, Senhor.
– Eles são ótimos médicos. E você ajudou Eduarda quando passou mal no passeio.
– Só fiz minha obrigação. Na verdade eu quero pedir a permissão de vocês para namorá-la.
Mesmo naquele pequeno diálogo eu já estava nervosa eu queria saber se eles deixariam ficar com ele. Mauro olhou para minha mãe e com um bairro ele nos olha.
– Você tem nossa autorização.
– O senhor e a senhora não vão se arrepender.
Eu estava super feliz. Mas para manter a aparência de satisfação sorri e o abracei. Ambos se levantaram e foram em direção a cozinha com um sorriso no rosto.
– Eu não disse que não havia com o que se preocupar – ele riu.
– É. Você disse – o beijei e logo depois o abraça.
Tudo estava correndo bem, algo estranho, até para mim já que os meus momentos de felicidade eram reduzidos. Mal eu pensara a campainha tocou me levantei e ao abrir a porta para a minha infelicidade era Felipe.
– Oi, Eduarda – ele riu – O Sr. Mauro ta aí?
– Esta, eu vou.
– Com licença – ele me interrompeu e entrou porta adentro.
Aphonso vinha em minha direção. Ao vê-lo Felipe me indaga com repugnância.
– O que ele faz aqui?
– Ele é o meu namorado – retrucou.
– O que você faz aqui? – Aphonso o encara.
– Vim pegar um livro que deixei aqui quando ainda namorava a Eduarda.
– Fica aqui, eu vou pegar – entrei rapidamente peguei o livro de capa preta com uma insígnia, não cheguei a lê-lo, eu estava com toda a minha atenção direcionada o Aphonso. Voltei o mais rapidamente possível com o livro e o entreguei, ele sorriu e saiu. Segurei a mão dele enquanto Filipe atravessava a porta.
– Me desculpa.
– Do que eu deveria te desculpar? – ele me olhou curioso.
– Por Felipe ter aparecido desse jeito.
– Eu não me preocupo com ele. Eu me preocupo com você – ele acariciou o meu rosto.
– Do que você tem tanto medo?
– Tenho medo de te perder – ele olhou nos meus olhos.
– Você nunca irá me perder.
Ele ficou em silêncio enquanto acariciava o meu rosto. Ele tinha essa preocupação em seus olhos desde a primeira vez. A minha vida é mais importante do que a sua própria existência e para fazê-lo mesmo não estando perto, pedi a Liam ou a Rose que cuide de mim. O que ele talvez não saiba é que a sua existência é mais importante para mim do que a minha vida. Oficialmente estávamos juntos, mas ainda havia muitos acontecimentos que me testariam. Eu não sei como tais exames vão acontecer ou quando eu só espero estar preparada para tudo. Aphonso aproximou o seu rosto do meu e sussurrou:
– Eu te amo – e me beijou.
– Também – a filei.
– Bem – Eu preciso ir agora.
– Mas já? – relutei.
– Eu passo para ti pegar amanhã.
– Fica só mais um pouquinho.
– Eu preciso ir. Você sabe que eu te amo.
– Se você me amasse você ficaria.
– Comigo essa tática não cola – ele riu
– Não custa nada tentar – o fitei com um sorriso.
– Até amanhã.
– Até.
Ele saiu em direção ao Logan, eu fechei a porta e entrei; fui direto para o meu quarto. Deite–me, eu estava feliz por apesar de tudo o que aconteceu ocorreu como esperado a apresentação de Aphonso aos meus pais. Tirei as melissas e me cobri com meu cobertor, fechei os meus olhos e dormi.
Acordei cedo, minha mãe estava colocando a mesa para o café. Surpresa ela me pergunta:
– O que faz acordada há essa hora?
– Não to com sono.
– Então estava ansiosa por hoje?
– Ele é um bom garoto – ela trouxe e os três xícaras brancas de porcelana para mesa e colocou cada um em seu respectivo pires.
– Maravilhoso – sussurrei
– O que disse? – ela me olhou curiosa.
– Só pensei alto – ri
– Bem, o café está pronto. Agora eu vou tomar um banho e me trocar – ela beijou a minha testa e saiu para a sala em direção ao seu quarto. Voltei para o meu quarto, liguei o computador e entrei em um chat de mensagens instantâneas.
– Bom dia – cobriu uma janela de diálogo, com essa frase escrita em itálico vermelho. A foto ao lado era dele.
– Bom dia – retribuiu
– O que faz acordada?
– É o mesmo que eu te pergunto.
– Eu sempre acordo nesse horário, já você...
– O que você quer dizer com isso, Aphonso?
– Eu, nada. Só estranhei você está acordada tão cedo.
–... – fiquei sem palavras.
– O que houve?
– Nada.
– Bem, eu já vou vindo te pego mais tarde.
– Vou ficar esperando.
A janela de diálogo se escureceu e a mensagem que veio em seguida era: "O usuário está off–line". Aparentemente eu não estava cansada ou sonolenta, abaixei a minha cabeça e fechei os olhos e sim perceber eu dormi.
"Aphonso vinha em minha direção. Os olhos estranhos, famintos e familiares espreitavam atrás dele esperando o melhor momento para atacar. Tentei apitar, mas eu estava sem voz. Ele se aproximou de mim, olhou nos meus olhos com diziam adeus. Ele pegou uma mecha que salientava o meu rosto e o colocou atrás da minha orelha. Seu rosto se aproximou do meu, então os olhos enfurecidos correram até nós. Ele derrubou Aphonso e o estava estraçalhando, membro por membro."
Gritei. Comecei a chorar. Quando dei por mim Aphonso estava ao meu lado, me envolvendo em seus braços.
– Calma. Foi só um sonho – ele tentava me acalmar
– Não, não, não... – eu esperneava, havia sido real demais.
– Eu to aqui, do seu lado – ele me apertou.
– Aphonso – eu o apertei
– Calma. Calma. Já passou – ele acariciava meus cabelos.
Minhas lágrimas se dissiparam aos poucos. Ele ainda estava ali do meu lado. Eu não percebi, mas estava no chão do quarto, deitada no colo dele. Olhei para a tela do computador. Havia uma foto minha com o Felipe. Fiquei com medo. Os olhos famintos pertenciam a ele, ao Felipe.
– Você está melhor? – a voz dele soou como doce melodia.
– Um pouco.
– Quer vir para o colégio?
– Não. – falei amedrontada.
Meu maior medo era de encontrá–lo. Eu não saberia qual seria a minha reação, eu era imprevisível até para mim mesma. À tarde sombria que passei em Aphonso não se aproximava em nada em um momento romântico.
O céu ficou nublado e nuvens escuras traziam em suas costas, raios, grandes e luminosos. Aos poucos o sereno se tornou chuva impetuosa. Ele continuava ali, ao meu lado, me protegendo.
O monitor do computador estava desligado. Meus medos tomaram conta do meu corpo e da minha mente.
– Como você está? – sua voz curiosa ecoou em minha mente.
– Bem – fechei os meus olhos.
– Quer me dizer o que houve?
– Não foi nada.
– Você não ficaria assim por nada.
– Eu só não tive um sonho agradável.
– E... – ele insistiu.
– Sonhei com você.
– Eu sou motivo disso tudo? – ele riu
– Não. Não você.
– Quem então?
– O lobo, com seus olhos castanhos, famintos por sede, sede do meu sangue.
Ele ficou pensativo. Agora mais calma eu poderia analisar o meu sonho. Eu não tinha certeza alguma de que os olhos pertenciam a Felipe, e se Aphonso seria realmente morto, ou se estava em perigo. Eu teria ligado aqueles olhos aos primeiros castanhos que eu vi faltava três semanas para o término do semestre e talvez com as férias de julho eu esqueceria aquele sonho, mas ainda faltavam dias, e uma hora ou outra eu iria vê-lo por bem ou por mal.
– Esqueça – a voz dele me encorajou.
– O que?
– O sonho. Não há nada com o que se preocupar.
– Então, eu devo me preocupar – minha voz foi fria e áspera.
– Por que diz isso? – ele me fitou.
– Você está imaginando coisas.
– Você é que deveria pensar isso, se acha que eu não percebo quando há algo de errado.
– Então, eu não vou conseguir tirar essa idéia da sua cabeça.
– Pelo menos, agora não.
– E o que quer que eu faça?
– Eu... – olhei nos seus olhos, eu não tinha um bom argumento.
– Se você temer algo nunca vai viver o momento, o agora. Você vai estar preocupada demais comigo e se esquecendo que agindo dessa forma você será o elo fraco. Onde qualquer um vai querer atingir para me machucar. Você não precisa se preocupar comigo, preocupe-se consigo mesma – ele deu um leve sorriso.
As palavras dele me fizeram pensar. Ele estava certo. Por mais que eu tentasse me enganar, ele sempre estaria certo. Aos poucos o sol voltou ao seu lugar de costume, a chuva cessara e eu já estava tranqüila olhando a face de Aphonso. Ele estava pensando. Seus olhos fitavam o monitor, seu corpo inerte não demonstrava incomodo algum com o chão frio com o meu corpo praticamente colocado em cima do seu. Ele é o tipo de garoto com quem eu passaria toda a minha vida. Até que a morte nos separasse.
Ele agora me fitava, enquanto o doce cheiro do seu corpo penetrava em minhas narinas e o leve sorriso iluminava a sua face.
– Quer dar uma volta?
– E aonde iríamos?
– O por do sol no lago é magnífico.
– Magnífico? – o indaguei ao usar um termo tão formal e antigo.
– É... Quer ir?
– Porque me pergunta se já sabe a minha resposta. – ri.
– Eu gosto de ouvir a resposta dos seus lábios. – ele riu maliciosamente.
– Com você eu vou a qualquer lugar.
Ele me colocou no colo e levantou–se, fitei seu rosto, ele me olhou e riu. Devagar ele me colocou em pé no chão. Preso no dedo indicador estava à chave do Logan, segurei sua mão e saímos em direção ao Logan.
O leve sorriso perseverava, dando um ar de tristeza, mas para mim parecia uma agonia. Ele abriu a porta do carro, eu entrei e em seguida ele havia fechado e estava ao meu lado engatando a primeira marcha.
– Algo te incomoda? – ele me perguntou preocupado.
– Não sei o que esta acontecendo, mas o período de tranqüilidade pelo menos essa superficial não vai durar muito.
– Às vezes eu não os entendo. – ele riu e fitou a rua.
– Como? – indaguei curiosa.
– Quando tudo esta bem, pensamos que isso vai durar pouco, mas se formos analisar com cuidado os momentos ruins existem para nos fortalecer. Para tornar o nosso amor mais forte.
Agora o carro estava na entrada de terra que dava acesso ao lago. Fiquei inerte ao ver aquele animal com metade da altura de Aphonso, peludo com os dentes afiados atravessando a estrada. Gritei. Ele freou o carro.
Os olhos daquele lobo me encaravam, eram os mesmos olhos famintos, sedentos por sangue. Era ele. Era o destruidor dos meus sonhos, o aniquilador e sugador da minha vida. O lobo de pelo branco rajado de cinza dono daqueles olhos entrou mata adentro. Aphonso me fitava.
– É ele. – sussurrei.
– Ele quem? – ele me indagou, mas como ele ouvia o meu sussurro?
– O lobo do meu sonho. – falei assustada.
Ele me olhou e fitou a estrada. Seu rosto inerte temia. Pude ver o medo em seus olhos. Pude ver em meus pensamentos eu mergulhando naquele lago de águas escuras e me perdendo nas águas profundas. Ele sussurrou algo que eu não pude entender, então o vi colocando a mão na marcha ré.
– Não. – segurei a sua mão.
– Mas não é seguro. – ele tentou me persuadir.
– Eu vou ver o por do sol com você, você querendo ou não.
Ele me olhou incrédulo, suspirou e desceu do carro, fiz o mesmo. Dei a volta e segurei sua mão, caminhamos em silencio ate o lago, eu não disse uma única palavra e ele muito menos. O sol começara a se por, ele ficou atrás de mim, enquanto os seus braços uma espécie de gaiola protetora. – ele estaria pronto se algo acontecesse – olhei o céu durante todo o seu espetáculo ate que ele finalmente chegasse ao seu fim.
Encostei–me no ombro de Aphonso e voltamos ao Logan. Seus braços me protegiam, enquanto o seu olhar atento se direcionava a um determinado lugar no menor ruído possível. Entramos no carro, ele engatou a ré e em seguida a primeira marcha.
Saímos em disparada daquele lugar calmo e tranqüilo. Aphonso agora se mostrava preocupado com minha integridade física e provavelmente mental. Não cheguei a perceber quando paramos em frente a minha casa. Ele me fitou com cuidado enquanto procurava com seus olhos a expressão inerte e tranqüila da minha face.
– Eu não deveria estar preocupado. – a voz áspera e temerosa ecoou.
– E você esta? – o encarei.
– Absolutamente.
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