3. OS HUBERMAN

Eu já estava acordada antes mesmo que o sol chegasse ate a minha cama naquela manhã de domingo. O incrível é que eu não me lembrava de ter ido ate o meu quarto e de ter me despedido de Aphonso - com certeza ele deve ter me carregado ate o quarto - Me levantei e eu esperava que ele estive-se por ali dormindo no sofá da sala, mas para minha decepção ao chegar lá ele não estava.

Peguei um copo e o coloquei na mesa em seguida a jarra com leite que ha na geladeira e algumas bolachas que estavam no armário. Tomei meu café da manhã rapidamente e este desceu garganta abaixo, troquei meu vestido branco por uma calça Jeans desbotada e uma blusa cinza. Calcei o meu tênis e sai de casa - sem me preocupar em trancar a porta, isto estava virando um habito perigoso para os meus pertences - com o celular ao meu ouvido, eu esperava pacientemente que Rose pudesse dar um recado a Aphonso, mas não precisei esperar que ela atendesse Aphonso se aproximava de mim no Logan, seu sorriso me deixou tonta por alguns instantes enquanto ele parava do meu lado.

- Tem algum plano para hoje? - ele m indagou enquanto os seus olhos procuravam os meus.

- Tenho. - respondi firmemente, em tom de decepção.
- O que vai fazer então? - ele me perguntou enquanto a tristeza nascia em seus olhos.
- Bem... Pensei em passar o dia com você

Falei com suspense, mas acabei dando um leve sorriso o que me entregara depois de eu ter pronunciado "Bem (...)", eu vi a tristeza se dissipar em seus olhos e um largo sorriso nascer em sua feição perfeita, ele abriu a porta do Logan, entrei e me aproximei do seu rosto ele me beijou com ternura, mas logo depois que eu o puxei para mim e ele se afastou. Pude ver tudo novamente, ele ficou ofegante sua pupila havia se dilatado e novamente vi em seus olhos o ódio, ele abaixou a cabeça e disfarçou à raiva com um sorriso.

Fiquei em silencio, eu não poderia perguntar nada, meu amor por ele era mais forte do que qualquer duvida - isso mesmo, eu tinha certeza de que o amava mais do que a minha própria vida - então ouvi a sua voz singela em meus ouvidos.

- Me desculpe, eu não queria que isso acontecesse, mas eu não posso evitar - ele me explicava - ainda não consegui me acostumar com os seus lábios nos meus. - Ele olhou para a rua clara onde pessoas viam e iam de todas as direções possíveis.

- Não me importo - olhei para os seus olhos profundos e escuros, eu já havia ficado pressa involuntariamente no antro que ele me mostrava, mas agora tudo era diferente eu estava pressa naquele antro por pura vontade própria.

Eu só preciso esta ao seu lado. - minha face lhe mostrou um sorriso doce e aconchegante, pude ver uma alegria invadir os seus olhos, uma das poucas coisas que eu podia lê.

Ele segurou a minha mão e falou e a apertou como se me protege-se.
- Pode-se dizer que somos... Namorados, não é? - ele riu maliciosamente, havia algum tempo que eu não via aquele sorriso.

- Não. - o respondi com o cenho franzido. Vi a decepção em seu rosto - eu tinha que para de fazer brincadeiras sem graça - o olhei, ele estava triste. - Você não pode dizer algo que já somos. - ri com malicia. Eu esperava que ele brigasse comigo ou algo do tipo, mas em vez disso ganhei um beijo, ele olhou-me nos olhos e disse:

- Aperte o cinto. - foi a ultima coisa que ele falou depois que engatou a primeira marcha e acelerou o Logan.

Atravessamos toda a cidade e seguimos por uma BR ate nos aproximar de uma trilha de areia que se entranhava na mata virgem, em questão de quatro minutos estávamos em frente a uma cabana de madeira, à esquerda talvez a uns cento e cinqüenta metros eu podia ouvir a água de uma cachoeira caindo em cima das pedras. A BMW estava à direita então deduzi que Liam e Rose também estivessem por lá também. Aphonso desceu e abriu a porta para min. Fiquei parada e estática com a beleza daquele lugar, enquanto ele seguia para a cabana, mas minha surpresa foi bem maior aos velos.

Aphonso os acompanhava ate min. Ele usava uma calça de linho cinza e uma camiseta de mangas compridas brancas dobradas delicadamente ate o meio do seu braço, os sapatos pretos reluziam na luz do sol e ela vestia um lindo vestido preto com rendas cinza de alças delicadas e em seus pés uma rasteira branca, seus olhos eram amendoados, ambos eram loiros e possuíam uma elegância invejável. Fiquei constrangida por estar tão básica.

- Eduarda - ele se aproximou de mim enquanto colocava o seu braço ao redor do meu ombro - Esses são os meus pais, Hans e Liesel Huberman. - sua voz áspera e doce chegou aos meus ouvidos.

- Muito prazer Eduarda. - disse-me Liesel com sua voz angelical. - Aphonso fala bastante em você. - a voz áspera e suave de Hans de uma forma estranha me confortava.

- O prazer é meu. - sorri.

Vindo da direção da cachoeira que eu escutara, Liam mostrava um sorriso, seus cabelos molhados e de bermuda, mostrava todo o seu tórax e o abdômen definido. Rose estava bem mais casual, ela usava um short roxo com uma blusa branca que realçava os seus olhos, ambos estavam descalços. Rose correu ate mim com tanta elegância que daria inveja a qualquer bailarina, ela colocou meu braço entrelaçado ao seu e me guiou ate a cachoeira.

- Você vai adorar a cachoeira daqui... - ela estava animada com a minha presença.

Liam e Aphonso ficaram para traz. O lugar era lindo arvores por todos os lados, campina de grama verde e macia, árvores frutíferas e a cachoeira com um escorrega natural.

- Vocês moram aqui? - perguntei deslumbrada com o lugar.

- Não. É só para os finais de semana. - ela me explicou. - Na verdade moramos bem perto do centro da cidade, em uma casa charmosinha... - ela riu despreocupadamente.

Agora eu havia entendido porque naquele dia Liam disse para mim não me preocupar em como ele chegaria iria para casa. Sentamos debaixo de uma arvore lá estava estendida uma toalha xadrez e uma cesta de piquenique, típico de filme americano dos anos oitenta.

- Esta com fome? - indagou-me Rose.

- Ainda não. - respondi com um sorriso.

- Bem... Quando estiver pode se servir, sinta-se em casa. - ela riu.

Assenti com um sorriso. Aphonso e Liam se aproximavam, o sol estava no alto em todo o seu esplendor não havia uma nuvem sequer no céu. Liam puxou Rose para uma trilha ao norte de onde estávamos. Aphonso se sentou ao meu lado e me abraçou. Pude sentir sua respiração, olhei para o seu rosto e o beijei, eu não o coloquei contra o meu corpo, eu queria ao evitar ao máximo qualquer deslize com ele. Ouvi passos. Aphonso de imediato olhou para trilha.

Era Lauren.

O jeans rasgado e desbotado com uma blusa de alças largas preta. Fazia jus à beleza que ela possuía. O sorriso dela sumiu a me ver nos braços de Aphonso, por alguma razão ela não gostava de min. Toda vez que ela me encarava com ódio - como sempre fazia na verdade - eu tinha a sensação de que algo iria acontecer mais cedo ou mais tarde.

Um calor frio atravessava o meu corpo com lentidão, ela parecia ter o desejo de me ver longe deles, seus olhos desejavam a minha MORTE. Meu corpo começou a tremer involuntariamente, Aphonso me abraçou com força, eu sentia o seu cheiro estonteante em minhas narinas e o meu corpo tocando o dele, sua atenção volto-se para min. Então ouvi pela primeira vez a voz doce e áspera sumir deixando somente a agressividade, a vontade de me proteger de qualquer coisa naquele momento.

- Vá embora Lauren. Eu não quero que se aproxime dela, entendeu? - sua voz ecoou.

Liam e Rose apareceram, eu não os vi chegar. Ela ainda me fitava com ódio, raiva, desprezo. Abaixei a minha cabeça e ouvi Aphonso indagá-la mais uma vez.

- Entendeu Lauren? - ele falou mais alto e em tom de ameaça. Por alguns instantes tudo ficou em silencio e pude ouvi-lo novamente.

- Esta tudo bem? - sua voz doce tocou suavemente os meus ouvidos, levantei o rosto e assenti colocando o cabelo que caia em meu rosto atrás da orelha.

Aphonso olhou-me com ternura e beijou-me a cabeça. Vi Liam pular na água, molhando Rose que enquanto ria tentava brigar com ele.

- Liam, por favor...

- Quer comer algo? - Aphonso me indagou - Você tem que se alimentar. - ele acariciava os meus cabelos.

- Não. Obrigada. - fitei a cachoeira. - Você não quer entrar na água? - o perguntei com um leve sorriso.

- Prefiro ficar aqui com você. - ele riu.

Rose colocara os óculos escuros enquanto tomava banho de sol, Liam preferiu deitar-se embaixo de uma pequena arvore de copa rala, mas majestosa. Aphonso me deitou em seu colo enquanto eu o olhava, nossas mãos se entrelaçaram e eu adormeci admirando à perfeição dele.

Aphonso me chamava docemente, abri os olhos com certa dificuldade - eu queria dormir mais - eu ainda estava sonolenta, em sua mão uma maçã e o seu rosto diziam o que ele pretendia.

- Agora você tem que comer algo...

Peguei a maçã rapidamente de suas mãos e a mordi. Aphonso olhou rapidamente para a trilha, Rose e Liam fizeram o mesmo. O rosto de Aphonso tornou-se ameaçador. Ele se levantou enquanto Rose se aproximava de mim. Fiquei de pé, eu não conseguia entender nada do que estava acontecendo.

- Leva ela daqui Rose. - a voz de Aphonso era agressiva

- Eles logo vão chegar logo. - Liam mantinha o timbre calmo.

- O que esta esperando Rose? - Aphonso quase gritou.

Com o braço direito entrelaçado ao meu caminhamos em direção à cabana.

- O que esta acontecendo? - a indaguei.

- Problemas.

- Que tipo? - tentei consegui mais informações.

- Hans. Liesel. - Rose os chamava.

- O que houve Rose? - perguntou Hans ao sair da cabana.

- Halfwolfs.

- Halfwolfs? - o indaguei.

- O que eles fazem aqui? - Liesel me olhou.

Ninguém parecia querer responder uma pergunta que eu fazia, todos evitavam explicar o que não fosse necessário. A pergunta que eu me fazia agora era:

"- Qual o segredo dos Huberman?"

- Entre querida. - disse Liesel. - Nos faça companhia enquanto Aphonso e Liam não voltam.

- O senhor não vai ate lá? Se eu entendi bem, eles não parecem gostar de visitas por aqui. - relutei.

- Não se preocupe. - ele riu. - Deve ter havido algum inconveniente, para eles estarem por essas bandas. - ele estendeu sua mão para a porta. - Nos acompanha?

Assenti. Subi os degraus de madeira e ao me virar em direção à trilha vi Rose correndo para a cachoeira. Liesel segurou a minha mão e eu entrei. Internamente a cabana era bem arejada, quase não havia paredes, havia grandes portas que corriam de vidro. No meio do espaço interno um grande sofá branco, uma poltrona na mesma cor, a mesa de vidro fosco azulado com um cinzeiro branco ao lado de um jarro que ao me parecia era porcelana e uma escada que levava ao andar superior.

Hans lia um livro grosso e de aparência bem pesada já Liesel estava com um romance cujo titulo eu não conseguia ler.

Sentei-me no sofá e fiquei lá, inquieta, angustiada. Não havia sequer um relógio naquele amplo espaço. Esperei. Olhei todo o ambiente vendo figuras nas paredes de madeira, como se eu olha-se para nuvens em uma tarde de sol, a sombra de uma grande arvore.

Fiquei meia hora - pelo menos imaginei que fosse havia se passado esse tempo - pensando em Aphonso e por que ele estava demorando tanto. A porta se abriu, ele estava sorrindo enquanto eu corria em sua direção.

- O que houve? - perguntei preocupada.

- Nada de mais. - ele riu enquanto me fitava.

Aquela altura eu já sabia quando ele mentia, e ele o estava fazendo, ele havia trocado a camisa - fato que por alguma razão ele achou que eu não perceberia - eu começava a esquecer de alguns detalhes, e quanto mais tempo eu estava com ele mais difícil seria percebê-los, os detalhes se tornariam imperceptíveis. Eu o beijei enquanto o levava levemente ao meu corpo. Não o forcei, o deixando livre. Ele me fitou e sorriu.

- É melhor levá-la para casa Aphonso. - Liesel aconselhou Aphonso.

- Vamos Duda? - ele me indagou com um meio sorriso em seu rosto magnífico.

- Com você vou ate a lua. - seus olhos brilharam.

Ele segurou a minha mão, abriu a porta, descemos as escadas e nos direcionamos ao Logan. Ele fez tudo como de costume, abriu a porta pra mim, eu entrei. E logo ele engatou a primeira. O caminho foi silencioso. A velocidade do carro passando por toda a cidade me deixava enjoada com aquele vulto e o ar verde que me sufocava mais do que o normal, quando dei por mim já estava em frente a minha casa. Ele desceu e abriu a porta do Logan, eu desci, fechei a porta e o fitei.

O seu olhar era profundo e apesar de ter os olhos bem claros naquela noite estavam escuros. Definitivamente ele era o meu antro, o meu lugar de perdição. Naquele momento foi necessário que eu trouxesse a tona a pergunta que eu não queria fazer, - por ele - mas que ele não gostaria de ouvi-la e talvez não me respondesse.

- O que você esconde de mim?

- É melhor que continue assim. - ele virou-se, seu rosto estava triste, mas por algum motivo que eu não entendia.

- Você nunca vai me contar? - o indaguei.

- Não sei se você vai gostar de saber. - ele fitou a rua.

- E porque não tenta?

- Só vou contar a você em caso de VIDA ou MORTE. - ele olhou profundamente em meus olhos, seu cenho estava inerte, suas mãos estavam dentro do bolso da bermuda. - Não quero que insista esta bem? Será a ultima coisa que irei lhe dizer. - ele se virou, abriu a porta do Logan, sentou-se, fechou a porta e saio com a arrancada que o carro dera.

Abri o portão - sem perceber - meus pensamentos estavam naquela tarde, no que eu havia visto e no que eu não havia presenciado.

Eu não poderia ter essa desconfiança - não dele - poderia ser qualquer outra pessoa na face da terra menos ele. Agora eu revia em minha mente a feição dele ao pronunciar aquelas palavras:

"Só vou lhe contar em caso de VIDA ou MORTE."

"Não quero que insista esta bem? Será a ultima coisa que irei lhe dizer."

Eu nunca poderia esta em perigo a ponto de morrer, talvez tudo acabasse e eu nunca saberia, mas porque a sensação de que eu nunca sairia de perto dele, que eu nunca sairia de seu antro, que eu eternamente estaria ao seu lado, que eu seria eternamente dele.

Caminhei pela sala, atravessei a cozinha, abri a porta do quarto e me deitei. Eu estava cansada e o melhor que eu poderia fazer naquele momento era dormir. Fechei os meus olhos e mergulhei em sua escuridão.

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