O sábado havia chegado em um tom fúnebre, o sol estava escondido entre as nuvens negras daquele dia, o vento balançava a copa das arvores com força e a sensação que o frio poderia matar um desavisado.

Eu estava no meu quarto em frente ao computador, eu ouvia Wind de Akeboshi e lia alguns livros virtuais, era uma tentativa de esquecer que Aphonso não estava na cidade naquele final de semana – era um costume de todos saírem pelo menos uma vez por mês para uma cidade pequena acampar – o que me chateava é que eu não podia ir, eu bem que queria assim eu esqueceria os discursos sobre antigos namoros da vovó, era simplesmente deprimente para a minha idade.

Então chegou um novo email para mim, – o que pra mim era algo para ler já que passei a manhã toda lendo e ouvindo devaneios – não havia um remetente conhecido, mas um pouco estranho mesmo sem saber de quem era então decidi ler qualquer coisa era melhor do que imaginar os devaneios amorosos de dona Amber que inundavam a minha mente.

Para:

Cc:

Assunto: Aphonso Huberman

Sei que você imagina o que Aphonso faz quando viaja.

Eu tenho as respostas para esse enigma, mas prefiro que você o veja. E que o sinta em cada centímetro do seu ser.

Ele esta na floresta nas redondezas da cabana, fora dos limites da cidade muito bem acompanhada digo-me de passagem.

Espero que encontre as respostas que tanto procura.

Eu me perguntava ate onde tudo aquilo seria verdade, eu queria saber se Aphonso mentia, ele dissera que iria pra outra cidade, uma ao sul do estado e se lá estivesse eu saberia se ele estaria acompanhado. O que eu iria fazer agora era o mais importante. Eu iria ao encontro dele.

Dona Amber preparava o lanche quando peguei a chave da lambreta em um canto da garagem como ela não alcança alta velocidade só me era necessário um capacete para dirigi-la, já que ainda não tinha dezoito anos e ainda estava na auto-escola, dona Amber veio ate o meu encontro e indagou preocupada.

– Aonde você vai?

– Vou me encontrar com Aphonso na cabana da família dele.

– E porque ele não veio te pegar?

– Torceu o tornozelo.

Ela me olhou fixamente por um momento, cheguei a pensar que ela não acreditara, mas relaxei ao ouvir a sua voz novamente e com um sorriso ela me disse:

– Volte antes das nove.

Eu já estava montada na lambreta grafite e com o capacete na cabeça, ela abriu o portão da garagem – que é o mesmo do terraço – e sai.

Quando cheguei a cabana o Logan estava estacionada do lado a cabana de madeira, estacionei a minha lambreta ao lado co carro dele. Subi os degraus de madeira e fui ate a porta, bati, mas não havia sinal de ninguém. E por ali só havia duas trilhas uma que levava a cachoeira e a outra para o interior da mata virgem fui à cachoeira e ele não estava lá, provavelmente ele estaria no meio da floresta, mas o que ele fazia lá era um mistério pra mim.

Havia boatos que naquela floresta haviam sido abandonados casais de onças, leões, ursos entre outros por circos que visitavam a região. Podia-se dizer que aquela floresta era um deposito de animais convalescentes, de qualquer forma naquela área havia uma população daqueles animais.

Caminhei mata adentro o silencio era terrível e a sensação de que alguém me observava me incomodava. Houve um estalo. Virei-me para ver de onde vinha tal som, mas só havia um galho partido ao meio. Quando me voltei para a trilha algo vinha correndo em minha direção, mas estava rápido de mais para ver o rosto. Senti o pulso suave quando segurei o punho daquele ser, foi automático como se eu estivesse me protegendo e tentando evitar o pior – e eu sabia exatamente o que aconteceria. Minhas costas sentiram uma dor ao tocar o tronco largo de uma arvore antiga.

Fiquei tonta por alguns instantes e quando me recompus pude ver. Fiquei aterrorizada. O rosto alvo com os olhos vermelhos e os caninos reluziam com a luz do sol, sua face estava faminta, faminta por meu sangue. Pude ver em seus olhos a minha morte. Então era disso que ele tanto falava, no final das contas eu havia descoberto o segredo dele.

Aphonso era um vampiro.