Conto 4 - Por Amor ou Por Força
Autora: Daniela Arezzo
Sinopse:
No início da década, um conflito ideológico mancha com brutalidade toda uma nação. Com a segregação étnica, a vida nos campos de concentração se tornara uma realidade cruel para centenas de pessoas consideradas pelo governo Hitler, como impuras.
Condenados à incerteza de um futuro por causa do nazismo, Mia e Ansel viverão momentos tortuosos e terão de enfrentar a irracionalidade, a crueldade e intolerância humana para poderem viver um amor pleno.
Mas conseguirão eles driblarem os conflitos de sua época e sobreviver às sentenças impostas a cada um deles?
Classificação: +16
Música Tema: Murder Song - Aurora
***
PARTE I - Por Amor
É madrugada quando as sirenes tocam fazendo ecoar um som ensurdecedor dentro do alojamento. Imediatamente, o amontoado de mulheres se aglomera em frente à saída do local enquanto um grupo de soldados grita enlouquecidamente.
Faz pouco mais de duas semanas que estou vivendo no que chamam de campo de concentração. Um lugar horrivelmente mal cheiroso e infestado de insetos, cujos habitantes são forçados a uma rotina diária pesada. As condições de higiene são extremamente precárias, bem como a estrutura dos alojamentos que abrigam uma legião de mulheres famintas, doentes, semi-nuas e algumas, até a beira da morte.
Olho para minha esquerda e encontro duas garotas que aparentam ter quase a mesma idade que eu, acho que uma delas se chama Raysla. As duas choram muito enquanto se dirigem à fila de mulheres, talvez porque estão passando pelo momento mais terrível de suas vidas, o mesmo momento pelo qual estou passando. Mas, talvez estejam chorando porque, de alguma forma, desconfiam do final trágico que nos aguarda, a mim por ser polonesa e judia e a elas, por serem, de certa forma, diferentes da maioria das mulheres de nossa época.
Estou chegando perto da porta quando Raysla, a garota morena de olhos grandes, sopra para sua colega uma frase que consigo compreender pela leitura labial.
Eu te amo, em seguida, escondidas atrás de uma mulher gorda, elas trocam um beijo rápido e silencioso para logo depois serem separadas pela multidão afoita que começa a se debater quando as sirenes tornam-se ainda mais altas.
Eu te amo.
As palavras da garota de olhos grandes permanecem em meus pensamentos porque a frase me faz pensar em uma pessoa,e, por mais que nossas relações sejam diferentes, eu entendo a dor daquelas duas meninas, pois vivi a mesma sensação de perda quando Ansel foi afastado de mim.
Lembro-me de sua voz soprando as mesmas três palavras em meu ouvido antes de partir com o exército. Ainda posso ouvi-lo dizendo a mim que nada faria com que nosso amor morresse, nem mesmo a guerra. Ainda consigo sentir o toque quente de seus lábios contra os meus, da mesma forma que ainda sinto seu amor tão vivo em mim.
Relembro nossas promessas de uma vida plena e feliz longe de todo o terror da guerra. Sonhávamos com um casamento e com filhos, com uma casa no lago e com ensolaradas tardes de domingo.
Sinto como se eu pudesse viajar novamente a uma ocasião há algum tempo, quando vivíamos o auge de nossa juventude desprovida de medos. Reporto-me àquela noite no chalé de pescaria quando contrariamos todos os dogmas de nossa época nos entregando a um sentimento feroz e efervescente, capaz de suprir qualquer maldade do mundo. Porque, naquela noite, éramos somente eu e ele, envolvidos pelo amor e pelos sonhos de viver uma vida eternamente juntos.
Mas então, os tigres vieram à noite e adiaram esses sonhos quando o convocaram para um exército que mata em nome de uma ideologia distorcida e que tem como mentor a criatura mais louca e injusta do mundo. Um homem que captura ciganos, negros, pessoas que se relacionam com o mesmo sexo, doentes, judeus e todos que se opõem à eugenia, e os jogam em lugares como este, simplesmente para dar fim a um povo subjugado como impuro, não digno de compartilhar o mesmo solo com os nascidos alemães. É amargo pensar que entregaram uma nação às mãos de um lunático que, dia após dia, transforma toda a honra em vergonha.
Contudo, mesmo que Ansel esteja sendo forçado a compactuar com toda essa maldade e ignorância, ainda mantenho a esperança de que pelo menos seus pensamentos estejam livres do terror impresso por Adolf Hitler. Mantenho viva minha esperança de reencontrá-lo algum dia, porque, para mim, é como se o tempo tivesse parado no dia em que o vi partir e que esse tempo só voltará a correr quando eu estiver novamente em seus braços.
A fila de mulheres aturdidas segue em direção ao pátio de lama do campo de concentração. A lua cheia no céu é o único resquício de beleza que sobrevive à paisagem sombria e escura do descampado cercado por arame farpado.
O vento que sopra do norte balança meus cabelos de um lado para o outro e faz com que a sensação de frio aumente ainda mais. Estou descalça no chão frio e molhado, pouco agasalhada, tentando manter o máximo de calor possível.
O frio também é igualmente sentido pelas mulheres a minha volta, que se juntam numa espécie de bolo humano para evitar um possível estado de hipotermia.
Por um momento, fecho os olhos e lembro-me de uma ocasião em que o vento soprava forte como agora. Ansel e eu voltávamos a pé da Igreja. Ainda não éramos efetivamente um casal, mas sim um rapaz e uma moça buscando afinidades um no outro.
Na rua, andando calmamente, observávamos as nuvens de chuva encobrirem o sol. Lembro-me de estar usando um vestido leve, mas, com a proximidade de um tempo chuvoso, o vento logo veio trazendo a mesma sensação de frio que sinto agora.
− Está com frio? − Ansel dirigiu a palavra a mim.
− Um pouco − respondi com um leve sorriso. − Eu deveria ter ouvido minha mãe e trazido um casaco.
− Eu não tenho um casaco. − Ansel voltou-se para mim. − Mas tenho meus braços para protegê-la dos ventos. Se a senhorita permitir...
Eu não deveria aceitar. Não deveria permitir que um rapaz me tocasse, afinal, onde caberia ali a moral e os bons costumes? Eu poderia ficar mal falada e até mesmo ser castigada por meus pais, mas o olhar doce e convidativo de Ansel insistia para que eu aceitasse a gentileza.
Foi o primeiro toque. O primeiro contato que tive com um homem que não fosse da minha família. Lembro-me da sensação boa de sentir seus braços me envolvendo ainda que superficialmente. De repente, não havia mais frio ou vento, porque o calor que emanava do corpo dele era transmitido ao meu. Fora apenas um abraço simples que durou um curto período de tempo, mas que significou o início de um sentimento maior que a amizade entre dois jovens.
É como se eu pudesse sentir meu coração acelerado novamente. Somente a lembrança daquele momento faz com que eu me perca em pensamentos. Queria poder estar longe desse lugar. Queria estar novamente envolvida nos braços de Ansel, onde é caloroso e aconchegante. Onde me sinto protegida.
É a voz grave de um soldado que me traz novamente para a realidade. Os gritos ecoam agora que as sirenes pararam de soar.
− Formem seis filas! − grita um soldado. Imediatamente, somos forçadas a entrar em uma das seis enormes fileiras. Sou empurrada de um lado para o outro enquanto somos organizadas.
− Judias na primeira fila! − um soldado ordena. − Ciganas na segunda fila, não alemãs na terceira, doentes na quarta, negras na quinta e, por fim, as profanas na sexta fila.
Demora um pouco para que eu entenda o significado de "profanas", mas, quando vejo Raysla e sua amiga sendo arrastadas para sexta fila, entendo o que a palavra quer dizer.
Minha situação é um pouco confusa, já que, além de não alemã, sou também judia. Mas a balburdia e gritaria do pátio não me dá muito tempo para pensar, de modo que acabo entrando na fila destinada às mulheres judias. Depois de agrupadas, recebemos um uniforme cinza que contem uma Estrela de Davi— símbolo do judaísmo - bordada no lado esquerdo. Em seguida, somos levadas até um enorme salão, semelhante a uma barbearia, onde temos nossas cabeças raspadas. Acompanho meus cabelos sendo, pouco a pouco, retirados de mim. Não há espelhos, mas posso sentir as mechas louras e pesadas caindo no chão.
Enquanto cortam meus cabelos, mais uma vez, me lembro de Ansel. Lembro da comparação que ele fazia entre meus cabelos e o cetim. Dizia que os fios eram macios como o a o algodão, cheirosos como jasmim, brilhantes como o sol e soltos como o vento. Era bom sentir suas mãos em meus cabelos durante nossos beijos. Hoje, porém, não tenho nenhum dos dois, nem Ansel, tampouco seus beijos e, agora, também não tenho mais cabelos.
Após a raspagem dos cabelos, somos enviadas novamente ao alojamento, onde, mais uma vez, nos amontoamos para tentar uma noite de sono. Mas ninguém consegue dormir de fato.
Fico olhando para o teto por algum tempo. Pela primeira vez, me permito refletir sobre os acontecimentos dos últimos dias. Penso em tudo, desde a despedida de Ansel até a minha captura, ocorrida dias depois de sua partida. Quase um mês se passou desde que o vi pela última vez. Não tenho nenhuma notícia de seu paradeiro, nem mesmo sei se ele ainda está vivo. Somente a ideia de imaginá-lo morto me causa arrepios, porque eu não sobreviveria sem seu amor e, mesmo que estejamos separados, ainda pertencemos um ao outro.
Meus pensamentos silenciosos são interrompidos quando uma mulher de pele clara e excessivamente magra me dirige a palavra:
− Porque será que rasparam nossas cabaças?
Me demoro na resposta.
− Não sei.
A mulher vira-se para mim e se apresenta como Olga Merchel, austríaca e judia. Capturada dentro da própria casa pelas tropas do exército Nazi.
− Talvez seja para evitar piolhos e outras doenças − suponho. Olga considera a ideia e acrescenta:
− Fizeram um favor a mim. A nova moda é a praticidade.
Eu rio da situação porque Olga tem o tipo de humor ácido e auto depreciativo.
− Mas, falando francamente, − ela reinicia em um tom sério − o que será que vão fazer conosco?
Não quero pensar nessa questão simplesmente porque todas nós sabemos o que vem depois do campo de concentração. Contudo, forço-me a ser otimista e entrego a Olga uma resposta positiva, dizendo que os soldados não poderiam nos matar tão logo, porque precisam de nosso trabalho escravo ou, senão, quem limparia os cubículos dos soldados? Olga dá uma risada pomposa e eu também rio um pouco da minha própria falta de sorte. Depois disso, ficamos em silêncio por um longo período, até que ela finalmente voltar a falar:
− Eu queria morrer de uma forma rápida. Se o mundo virou esse caos, não quero viver e correr o risco de colocar mais uma criança nesse cenário deprimente. Faz sentido, não faz?
É claro que faz. Olga está coberta de razão, e eu também gostaria de uma morte rápida, mas há algo que me faz querer viver. Um fio de esperança que me força a acreditar que tudo vai ficar bem.
− Acho que sim − respondo, em seguida acrescento: − Mas eu ainda quero viver mais um pouco. Mesmo que o mundo tenha se tornado um grande caldeirão fervente, ainda assim, acredito que valha a pena viver. Acredito nisso por amor.
− Você fala como quem está perdida de amor. Quem é ele? Imagino que esteja sofrendo também em algum campo de concentração...
− Ele é um soldado do exército Nazi. − O olhar de Olga se fecha em mim. Sua expressão passa de tranquila para algo espantado, como se o que eu tivesse acabado de falar fosse uma blasfêmia. − Ele foi convocado para lutar porque é um genuíno alemão.
− E você quer continuar viva para quê? Para ser morta por seu amante? − Olga ironiza e eu respondo dizendo:
− Não. Quero estar viva para ver o fim dessa guerra maldita. O dia em que poderei tê-lo novamente comigo, porque nos amamos. Na verdade, em nosso último momento juntos, juramos um ao outro que nada nos separaria, nem mesmo a guerra. Juramos um ao outro que nosso amor nunca morreria.
Olga mantém seu olhar em mim. Eu sei que parece loucura, afinal, estou dizendo que amo um soldado do exército de Hitler. E há um fundo de verdade quando ela diz que Ansel poderia me matar. Talvez não por vontade própria, mas sim por ter de obedecer a ordens. Pergunto-me agora se ele seria capaz disso, mas imediatamente repreendo meus pensamentos, porque sei que Ansel me ama! Se não fosse assim, não teríamos nos tornado amantes. Entre o amor e o patriotismo a primeira opção sempre vencerá. Porque o mundo gira por amor, e não por força.
− Você deve amá-lo muito para se apegar a uma promessa de amor eterno − Olga fala, agora em um tom mais sereno, o que me deixa à vontade para contar os detalhes de minha história de amor com Ansel Mueller.
Nas horas que se seguem, conto a Olga como o conheci, como nos tornamos amigos, como chegamos a um namoro. Falo de nossos planos e promessas, de nosso juramento... E, finalmente, revelo detalhes de nossa noite de amor, o que deixa Olga surpresa e empolgada ao mesmo tempo.
− Entende o porquê de eu querer viver? − pergunto a ela, que assente com a cabeça e responde:
− Entendo. Bem, só posso lhe desejar boa sorte, senhorita...
− Kravitz – respondo. − Mia Kravitz.
O silêncio impera depois que um soldado nos manda dormir. Deito em meu pequeno espaço e envolvo-me em meus próprios braços, tentando trazer, de alguma forma, forças para suportar a saudade, o medo e a incerteza, apego-me à lembrança de meu último momento com Ansel e sopro para ele a frase:
Eu te amo. Então, finalmente caio no sono.
Amanhece um dia frio e, antes mesmo que o sol acorde, as sirenes tocam.
Não há nenhuma refeição para o desjejum. Rapidamente, todas as mulheres do alojamento onde passei a noite são direcionadas a caminho de um trem. Somos colocadas com brutalidade dentro dos vagões e, em menos de meia hora, as portas são fechadas para que o trem se coloque em movimento. Ninguém informa o nosso destino. Ficamos sabendo apenas que não se trata de um passeio. O som dos tiros nos dá a certeza de nossa localização: muros altos e um cheiro insuportável de queimado. Trata-se de algo sombrio, notamos, assim que a placa da entrada anuncia, que não estamos mais nos domínios do campo de concentração. Pelos tiros vindos de dentro dos enormes muros é que entendo onde estou: num campo de extermínio.
***
Os gritos apavorados das mulheres começam assim que o trem para. A maioria se recusa a descer dos vagões, mas são arrastadas para fora. Algumas até tentam implorar por clemência, mas nada faz com que os soldados mudem de ideia.
Estou apavorada também, mas o medo e o horror fazem com que eu fique paralisada, de modo que Olga me arrasta junto a ela para dentro dos muros.
O campo de extermínio é um lugar grande e malcheiroso. Ao longe, é possível ver a fumaça escura proveniente das chaminés. É nesse momento que sou impactada pela realidade. Volto a minha consciência e, finalmente, sinto o desespero me tomar.
Eu quero fugir, quero correr, quero escapar, todavia, a corrente presa aos meus pés me impede. Minhas tentativas desesperadas são facilmente contornadas por um soldado que me agride fortemente, acertando-me um golpe no rosto. Sinto o inchaço imediato em meus lábios e o sangue pinga no chão. Não há nenhuma súplica que seja aceita. Nenhuma petição que nos livre do que está por vir.
− Levem-nas para os muros! − um comandante ordena. − De vinte em vinte.
Imediatamente, sou agarrada pelos braços e posta em uma fila que é arrastada campo adentro.
É um momento extremamente doloroso. Estou caminhando para o meu fim. Morrerei sem um último adeus ao meu amado. Meus sonhos foram destruídos. Não há como realizá-los, porque não resta mais nenhuma chance. Rezo apenas para que Ansel não fique sabendo de minha morte.
É inevitável sentir o pânico quando chego até o muro que exibe centenas de buracos de balas. Tento olhar para as outras mulheres que me acompanham no doloroso corredor da morte e vejo, em cada uma delas, o mesmo pânico e desespero. Minha garganta está seca, minhas pernas tremem e minha respiração está acelerada. À medida que somos posicionadas em frente ao muro, sinto meu coração chegar à boca e então, choro compulsivamente enquanto tento me manter ajoelhada.
Não há nenhum pensamento em mim, porque o medo toma conta de cada centímetro de minha mente. Fecho os olhos antes que os soldados se posicionem para o início da execução. É o momento mais terrível de toda a minha vida. Quando ouço a voz do comandante dando ordem para prepararem as armas, abro meus olhos para um último vislumbre do mundo e tenho a maior surpresa de minha vida.
Ali, parado, empunhando uma arma, está ele. Seus olhos azuis que outrora eram doces e gentis agora exibem o terror impresso pela suástica presa em sua farda.
Ansel me vê e sei que ele me reconhece mesmo careca e com os lábios inchados. Apego-me a um último fio de esperança de que ele não me mate, mas quando ouço o som do gatilho de sua arma sendo destravada, eu fecho os olhos.
PARTE II - Por Força
O dia se inicia ainda de madrugada no campo de extermínio. Antes do sol nascer, já é possível ouvir o pelotão de soldados aquecendo as armas para a execução de logo mais.
Olho para o local que abriga quatro enormes câmaras de gás e observo a fumaça preta que sai das chaminés combinada ao cheiro horrível de carne queimada que provém das fornalhas encarregadas de dar fim à montanha de judias mortas que são jogadas no pátio.
Quando as portas das câmaras se abrem, presencio uma das piores cenas de minha vida. Centenas de mulheres mortas. Das mais velhas até adolescentes. Nuas, excessivamente magras, algumas até mesmo com ossos que perfuram a pele seca. Nunca há sobreviventes.
Mas, embora seja algo deplorável e cruel, forço-me a crer que a Alemanha está apenas se defendendo; contudo, é difícil aceitar a condenação de pessoas simplesmente por uma religião ou estilo de vida. Já se passou quase um mês desde a minha chegada ao exército e, mesmo com treinamentos árduos, combates e sessões diárias de execuções, ainda não me acostumei com o genocídio que me é encarregado todos os dias.
Caminho em direção à pilha de corpos que se amontoa na escória e começo a transportar alguns cadáveres. De forma cuidadosa, carrego uma mulher já idosa e a deposito na pilha de corpos, mas então sou repreendido por meu comandante, sua voz é forte e enérgica quando, aos berros, me faz engolir a ideia de que judeus não são pessoas, mas sim animais que não merecem cuidados, de forma que, quando um outro soldado arrasta três corpos de uma só vez, é amplamente aplaudido.
− Não se pode ter pena dessas porcas amaldiçoadas! − grita um comandante. O nome em seu crachá indica que ele é Gerard Groover, um dos líderes do campo de extermínio. − Eram desprezíveis quando vivas e continuam sendo depois de mortas. Não passam de lixo. Nem para adubo de plantas elas servem. Por isso, queimamos tudo!
Os insultos continuam à medida que mais corpos são jogados na pilha. Eu olho para a montanha de carne morta a minha frente e lembro-me de um de meus treinamentos do exército. Lembro-me do juramento que fui obrigado a fazer no dia em que recebi minha farda. Lembro a mim mesmo de que devo ser um soldado frio e sem remorso.
− O mundo não gira por amor, soldados − diz um outro comandante que se encontra em cima de um palanque. − O mundo gira por força. Os mais fortes sempre vencerão os mais fracos. É a lei da natureza.
O mundo não gira por amor, e sim por força. Reflito sobre a frase dita há pouco enquanto minhas mãos agarram dois corpos pela pilha de escória.
A reunião de soldados para o café da manhã é uma verdadeira festa. Não há exatamente um banquete, mas há pão e chá quente, o que já é bem mais do que qualquer um possa querer em meio de uma guerra.
Entre conversas alheias, capto palavras hostis e piadas sobre a guerra, mas, sobretudo, ouço muitas saudações a Hitler. Por todos os lados, é possível ouvir um soldado ou comandante parabenizando-o pela iniciativa de criar uma raça livre de impurezas não alemãs.
Através do rádio, ouvimos os vários pronunciamentos feitos por nosso líder. Mensagens de ódio e indignação direcionadas aos inimigos. Diante disso, tento refletir sobre a situação em que a Alemanha se encontra. Penso nas pessoas e em todo o ódio que é impresso dia após dia. Toda a questão de extermínio dos chamados impuros me faz pensar em uma pessoa: Mia Kravitz, a jovem que deixei quando fui chamado para o exército. De alguma forma, seu rosto doce invade minha mente e me sinto, pela primeira vez, sufocado pela guerra, porque estamos em lados opostos da batalha: eu porque sou um soldado, e ela porque faz parte do "seleto" grupo que, segundo os princípios da eugenia, não merece viver.
Por um instante, fecho meus olhos e sinto, é como se eu pudesse sentir seu cheiro novamente. Apenas a mínima lembrança de seu sorriso me traz novamente uma recordação do dia em que nos despedimos. Relembro que, bem antes dessa guerra começar de fato e bem antes de a Alemanha se tornar esse covil de víboras, eu havia prometido a Mia que nada faria com que nosso amor morresse e que, por mais que a guerra nos levasse para longe um do outro, somente uma coisa poderia nos separar de fato: a morte.
Estou concentrado em meus pensamentos quando um soldado dirige a palavra a mim. O crachá em sua farda diz que seu nome é Scheren.
− Você está pensando em quê, soldado Mueller?
− Em nada especial. – Minto, porque a legitimidade do que Mia representa para mim não pertence a mais ninguém.
O soldado Scheren senta-se ao meu lado e volta a falar:
− Ficou sabendo das boas novas?
− Não − respondo de maneira desinteressada. Mas isso não impede que o soldado continue falando:
− As tropas do exército invadiram Blomberg há mais ou menos três semanas.
− Como? – pergunto, finalmente mostrando algum interesse, porque a cidade em questão é a minha cidade. A cidade onde deixei Mia. − Tomaram Blomberg? Tem certeza?
− Tenho, sim − responde o soldado Odair. − Foi noticiado pelo rádio. Onde você estava para não ter ficado sabendo?
− Eu devia estar ocupado − respondo pensativo.
− De qualquer forma, − Scheren volta a falar, agora ele mantém um sorriso em seu rosto − Blomberg dará muito trabalho. Dizem que a cidade possuía um enorme número de judeus. Talvez você até encontre algum conhecido quando a nova leva de prisioneiros chegar para o extermínio.
O riso frio do soldado Scheren inspira ódio e intolerância. Suas palavras são genuínas de um soldado alemão comprado pelo anti-semitismo e corrompido pela ideia de pureza que a guerra vende. Estou ainda reflexivo quando a última frase de Scheren penetra em meu cérebro.
" Talvez você até encontre algum conhecido quando a nova leva de prisioneiros chegar para o extermínio."
Por um momento, considero a possibilidade de encontrar Mia em condições trágicas. Imagino uma cena em que ela é executada, mas somente o ato de pensar na possibilidade, faz sentir-me como se perdesse o chão.
− Você está bem, soldado? − Odair pergunta ao notar minha reação. − Ficou muito impressionado com o que eu disse. Por acaso está com pena do povo?
− Não. − Minto novamente e, em seguida, profiro a maior traição que eu poderia dizer. − É que fui criado em Blomberg. Sinto pela cerveja que é fabricada lá. Barris e barris que vão estragar sem ninguém para consumi-los. Mas não me importo nem um pouco com o povo.
Minha fala arranca uma risada esfuziante do soldado que me parabeniza pelo senso de humor. Em seguida, ele volta para seu local, ao lado de um grupo de soldados que conversa alegremente algum assunto sobre as pernas da mulher de um pôster. Mas, minutos depois, um alarme alto soa e todos os soldados são chamados para o pátio, então eu deixo a caneca de chá em cima de uma mesa e sigo meu caminho junto com o pelotão.
O vento frio que sopra do lado de fora do refeitório faz com que a bandeira vermelha hasteada há pouco tempo balance de um lado para o outro. Olho para o pedaço de pano vermelho e tento associá-lo a situação de guerra. É incrível a habilidade do ser humano para criar símbolos para tudo e qualquer coisa. Transformam algo que deveria ser símbolo de honra em algo manchado de sangue.
Eu sei que não deveria pensar assim. O juramento que fiz no dia em que entrei para o exército diz que devo ser patriota e que o sangue alemão é o que deve prevalecer dentre outros, mas só agora consigo ter uma real noção sobre esse juramento. Consigo de fato perceber a perversidade embutida.
− Você é repugnante, Hitler − digo a mim mesmo, em seguida me arrependo profundamente, temendo ter dito alto demais porque, no exato momento em que me calo, noto o comandante Groover com os olhos fixos em mim. Me encolho em posição de sentido quando a voz do comandante rasga o ar:
− Soldados! Gostaria de lembrá-los mais uma vez do propósito dessa guerra. Essa guerra, senhores, não é em vão. É uma batalha contra parasitas que, durante anos, encheram nossa amada Alemanha com suas culturas podres e suas atitudes inversas à ordem natural da vida.
Os olhos dos soldados estão dirigidos para o mesmo lugar e recaem sobre o homem que discursa em cima de uma tribuna. O comandante continua seu discurso.
− Essa guerra não é uma ordem impressa de terror, como pregam os países comprados pelas alianças inimigas, oh, não. Nossa guerra segue um principio básico de evolução e melhoria da humanidade. Os mais fortes devem sobreviver, por isso, não devemos sucumbir ao sentimentalismo da natureza humana. Ouçam e tenham gravados em suas mentes que o mundo é mantido pela força. − Existe uma pausa quando o comandante que discursa para para beber um gole d'água e, em seguida, ele retorna e conclui a fala. − Daqui a pouco, receberemos mais um lote de extermínio. Eu espero, mais uma vez, o bom trabalho que vem sendo desenvolvido. Juntos, faremos o Campo de Extermínio de Belzec um dos maiores da Alemanha. Viva Hitler! Viva o sangue puro! Viva a Alemanha!
Imediatamente um coro se levanta para acompanhar as saudações iniciadas pelo comandante. Logo após, cada soldado é redirecionado para seu posto de trabalho.
Eu vou em direção à cabana bélica para iniciar meu turno de contagem das armas, mas sou impedido de seguir caminho quando sinto alguém tocando meu ombro.
− Você, venha comigo, soldado Mueller − diz o comandante Groover. − Tenho uma missão especial para o senhor.
***
A fumaça branca que sai da caneca de chá me deixa ainda mais nervoso. Atrás da mesa repleta de papeis e mapas, um dos comandantes chefes do campo de extermínio me olha atentamente. Estou de pé, em frente à mesa em uma posição de sentido, com o olhar fixo no relógio da parede quando a voz do comandante quebra o silêncio.
− Descansar − ele diz, possibilitando-me a sair da posição de sentido. − Aceita uma xícara de chá, soldado? − o comandante oferece. Pergunto-me o que poderia tê-lo motivado a me chamar em sua sala e ainda ser gentil comigo, já que, dos soldados daqui, eu sou um dos mais jovens e inexperientes.
− Não, senhor, obrigado − respondo. O comandante, então, diz:
− Diga-me, soldado Mueller, o senhor é um genuíno alemão, não é mesmo?
− Sim. Minha família é natural de Blomberg, senhor.
− Blomberg... − ele saboreia a palavra. − Eu já estive lá. A cerveja é ótima.
Me mantenho calado. O comandante continua:
− Posso concluir que, como um legítimo germânico, o senhor compartilhe ardentemente o desejo de ver nossa pátria livre dos impuros e, por consequência, admire plenamente nosso louvável Chanceler, o senhor Adolf Hitler, correto?
Não, eu não compartilho, penso.
− Mais do que tudo, senhor − digo em resposta.
Groover me olha atentamente como se quisesse arrancar de mim algum aspecto negativo, então começo a me perguntar se ele ouvira quando disse que Hitler era repugnante.
− Então, não vai se importar em ser um dos soldados escalados para a execução de hoje, vai?
Ele ouviu. É claro que ouviu minha frase odiosa contra Hitler. Minha resposta demora um pouco e, então, o comandante torna a falar:
− Posso tomar esse silêncio como um sim?
− Sim − digo quase sibilante.
− Sim, o quê? − indaga o comandante.
− Sim, senhor − respondo, dessa vez com uma voz alta e clara.
O comandante dá um sorriso de canto e caminha até mim. Quando chega próximo o bastante, olha dentro dos meus olhos e pergunta:
− O que faz o mundo girar, soldado?
Minha resposta sai cheia de raiva e indignação.
− Força.
− Certa resposta, soldado − Groover diz em um tom sério. − Dispensado.
Não há nenhum pensamento em mim. Nada que justifique o que me espera adiante. Nenhum sentimento que traduza o que sinto neste momento.
O que faz o meu mundo girar? O amor que sinto pela vida ou a força que me é imposta? Essa é uma questão que terei de superar hoje, no momento em que eu estiver apontando a arma para a cabeça de uma pessoa inocente. E, talvez, a resposta para essa pergunta possa custar até mesmo a minha vida.
− Levou uma bronca, Mueller? − A voz de um soldado irrompe atrás de mim. Levo algum tempo para respondê-lo.
− Na verdade, não – digo. − O comandante me escalou para a execução de logo mais, não é fantástico?
− Com certeza! − ele responde com entusiasmo. − Se você fizer um bom trabalho, pode até ser promovido!
− Quem sabe, se eu acertar o alvo em cheio, talvez eu tenha uma chance − digo irritado, deixando o soldado envolto em sua alegria suicida.
O que quer que aconteça, meu caráter será posto a prova daqui a pouco. Na tênue luminosidade da cabana de armas, me encontro sozinho. As prateleiras que guardam vários utensílios estão praticamente prontas para a execução. Guardo o último item: uma corda forte, que coloco em cima de uma das estantes de metal.
Nesse momento, a única coisa que vem à mente é o rosto de Mia. Desejo ardentemente que estivéssemos longe dessa guerra. Queria poder estar em seus braços, onde o mundo parecia ser pacífico e belo, onde nenhum mal poderia me atingir. Gostaria de dizer a ela que me lembro de nossa história, dizer que, a cada dia sem notícias de seu paradeiro, é como se eu morresse pouco a pouco. Sinto uma lágrima correr pelo meu rosto quando lembro do último beijo que trocamos. De como seus lábios eram capazes de me tirar de qualquer onda de terror. Tenho minha memória imersa em nossa única noite de amor. Nas promessas de casamento e filhos que fizemos um ao outro. De como juramos que nosso amor nunca morreria.
Promessas essas que, dia após dia vem sendo demolidas pelos tanques de guerra, pelas armas pesadas, pela suástica impressa em minha farda.
− Como eu queria que isso acabasse, meu amor – digo, pensando nela. − Talvez você já esteja morta nesse momento. Talvez já esteja condenada em algum campo de extermínio. O que me conforta, pelo menos, é não ter de ver sua morte. Porque isso seria demais para mim. Eu não aguentaria, meu amor. Mas, se isso acontecer, pelo menos uma de nossas promessas estará cumprida.
Quando o alarme soa novamente, sei que chegou o momento. Guardo meu amor por Mia no lugar mais profundo de meu coração, porque agora não é hora de incorporar o amante desafortunado movido por amor, mas é de ser um soldado frio e idealista movido pela força.
***
Os gritos das mulheres ecoam pelo pátio do campo de extermínio. Há lamentações, súplicas e pedidos de clemência. Acompanho toda a cena de dentro da sala de armas. Quando finalmente chega o momento da execução, eu e mais outros vinte soldados somos posicionados em frente ao enorme muro de contenção do campo. Um muro que já exibe centenas de buracos de balas. Um local que cheira a sangue, morte e desgraça.
Estou com a cabeça baixa quando as condenadas são inseridas. Estão carecas, magras, pouco agasalhadas, algumas exibem hematomas e ferimentos profundos. São criaturas feias que perderam o direito à vida. Mantenho minha cabeça baixa porque é doloroso demais olhar para as pobres criaturas a minha frente e porque são judias. Uma delas poderia muito bem ser minha Mia.
A ordem para a preparação é dada e levanto meu olhar para mirar a arma na cabeça de minha condenada, mas então uma paralisia me acomete de alto a baixo porque a minha frente encontra-se uma mulher jovem, aproximadamente dezoito anos. Os olhos verdes estão obscurecidos pelo medo. Há um corte em seus lábios e, mesmo sob a neve que cai intensamente, eu posso reconhecer quem é e, pela expressão gélida em seu rosto, sei que ela também me reconhece.
Ali, parada a minha frente, está ninguém menos que ela: Mia.
O abismo se abre sob meus pés no exato momento em que meu olhar encontra o dela e imediatamente a onda de terror que faz com ela trema me acomete também.
O que eu vou fazer? Que cilada mais perversa a vida me armou. As lágrimas correm por meu rosto e sinto o suor em minhas mãos.
Nos minutos que antecedem a execução, minha mente consegue apenas focalizar seu rosto pálido.
− Preparar! − ouço uma ordem.
Com as mãos, ajeito a arma na posição correta. Não há mais volta. Quando destravo o gatilho, dou uma última olhada para Mia e fecho os olhos.
− Fogo! − Quando o comandante libera a ordem, a bala então viaja pelo ar, encontrando, em poucos segundos, o seu destino.
EPÍLOGO
Às 8:18 da manhã de uma sexta feira, ouviu-se um tiro de rifle no Campo de Extermínio e, imediatamente, vinte corpos sem vida caíram no chão.
Os olhos dela ainda estavam fechados quando o disparo fora feito, mas, quando sentiu que ainda estava viva, os abriu rapidamente para ver o que jamais imaginara. Ali, bem a sua frente, Ansel jazia morto.
O sangue que escorria do ferimento em sua cabeça manchava de vermelho o chão de terra batida do local de execução. O silêncio ecoava pelo enorme pátio do campo de extermínio, mas, de repente, um grito estridente surgiu.
Foi involuntário quando Mia Kravirz saiu de seu lugar de condenada para se lançar sobre o corpo de seu amante.
− Não, por favor, não! − ela dizia em choque. − Acorde, por favor!
Mas era tarde. O tiro que seria destinado a ela mudou de direção quando Alnsel, em um movimento único e preciso, mirou o cano de sua arma para sua própria cabeça.
Ninguém entendeu muito bem o porquê daquela ação. Na verdade, todos estavam perplexos demais para poderem refletir sobre o ocorrido. Mas, depois que o choque se dissipou, a pergunta que pairava na mente dos presentes ali era apenas uma: o porquê de Ansel ter cometido suicídio. Mas, para o jovem soldado, a razão era mais do que clara: amor.
Ansel achou em uma bala de rifle a resposta para uma pergunta que cercava sua mente. Afinal, o mundo girava por amor ou por força? Para o rapaz, a resposta era Amor. Porque preferiu morrer ao tirar a vida de quem amava. Essas considerações, porém, iriam para o túmulo juntamente com o nobre apaixonado que, de certa forma, cumpriu o que prometera a sua amada momentos antes de deixá-la.
Ansel ainda chorava muitíssimo quando outros soldados a carregaram para dentro de uma pequena sala.
− Fica aí, judia! − gritou um soldado ao jogar a garota no chão. − Cuidamos de você depois.
A porta imediatamente fora trancada, deixando Mia sozinha na saleta escura e fria.
O desespero começou a tomar conta de sua mente quase instantaneamente após ser tirada de perto de Cato.
A pobre jovem sentia a dor da perda assolar seu coração e era como se parte dela tivesse morrido junto com o rapaz.
− Me tirem daqui! − ela implorava ao se lançar contra a porta na tentativa de arromba-la, porém foi em vão. Ninguém foi ao seu encontro e à medida que o tempo passava, a visão de Cato morto só aumentava sua dor e angustia. Desesperada, se lançava contra as prateleiras que guardavam todo o tipo de coisas e via os objetos caindo por conta do impacto. Nem mesmo o barulho trouxera algum soldado. Parecia que havia sido esquecida.
Isolada e ferida, Mia se encolheu num canto da sala e, depois de horas de lamúrias, o choro finalmente havia cessado. A mente da jovem mulher se perdia em lembranças felizes. Momentos únicos que tivera com Ansel Mueler.
− Nosso amor nunca vai morrer, Ansel − ela dizia. − A guerra não vai nos separar. Mia parou por um momento e começou a observar uma enorme viga de madeira que cruzava o teto da sala em que estava.
A moça então se colocou em pé e, caminhando lentamente, reiniciou:
− Hitler não vai nos separar. − Seus passos eram arrastados e pesarosos. A voz embargada pelos soluços. De repente, desviou o olhar para uma pequena prateleira que se encontrava no lugar onde estivera encolhida há poucos minutos.
As mãos agarraram um dos objetos caídos pelo chão e rapidamente começaram a trabalhar em algo. Uma ação que mudaria uma de suas mais antigas concepções: a questão do que faz realmente o mundo girar. Para Mia, agora o amor já não bastava. O que faria seu mundo girar novamente seria a força.
Quando o plano finalmente estava pronto para ser executado, a jovem seguiu em direção a um pequeno banco de madeira. Subiu em todos os objetos que conseguiu até que pudesse finalmente alcançar o que queria.
− Prometemos que apenas uma coisa iria nos separar... − ela disse a si mesma. Mia ajeitou a gola de sua camisa. Em sua mente havia apenas algumas reflexões sobre o que estava prestes a realizar e, quando decidiu que não havia nenhuma consideração a ser feita, ela finalmente concluiu − a morte.
O único ruído que se ouviu foi o da corda sendo repuxada. Quando dois soldados abriram a porta da pequena sala para averiguarem a origem do som, tiveram uma surpresa.
− Ela fugiu! − um dos soldados exclamou ao não encontrar a prisioneira. Mas a hipótese fora colocada por terra quando um outro soldado apontou para cima.
No teto, pendurado na viga mais alta da sala e suspenso por uma corda, o corpo de Mia pendia levemente de um lado para o outro seguindo o soprar do vento.
A promessa de que apenas a morte os separaria havia caído por terra, porque nem mesmo a morte o faria. Agora, Ansel e Mia estavam livres para o amor. Eternamente.
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