Conto 2 - Doces ou Travessuras
Autora: Adriana Vaitsman
Sinopse:
Lisa Jones é uma mulher forte e decidida. Capitão-piloto da USAF (United States Air Force), a força aérea americana, pilota aeronaves com precisão e já esteve em missões por todo o planeta, inclusive no Afeganistão em 2008. Seu cargo exige uma postura firme e ela não abre mão de manter o controle de todas as situações, inclusive na vida amorosa e no sexo. Aos trinta e oito anos nunca conseguiu se apaixonar e se entregar a uma relação por inteiro. Após várias missões, é convidada a trabalhar internamente, ministrando treinamentos a novos pilotos e resolve fixar residência em Panamá City, Condado de Bay, na Flórida. É lá que fica a base de Tyndall. Tudo parecia perfeito, até que o primeiro-tenente, Ethan Collins, relembrando uma brincadeira de infância em uma festa de Halloween, traz à tona velhos sentimentos, e a apresenta ao seu mundo de dominação e submissão, onde ele gosta de estar no comando, virando sua vida e seus conceitos perfeitamente organizados de cabeça para baixo.
Música Tema: Take My Breath Away - Berlin
Classificação: +18
***
Memphis - Outubro de 1994.
O dia tão esperado havia chegado. Lisa estava em frente ao espelho e acabava de dar o último retoque na maquiagem. Estava uma perfeita bruxinha. Nunca havia se fantasiado para a festa de Halloween antes. Podia sentir as borboletas em seu estômago, estava uma pilha de nervos. A ideia de Donna Johnson, sua melhor amiga do colegial, de ir àquela festa, agora parecia assustá-la mais do que a própria temática de terror. Mas ali estava ela, pronta para sair. Agora não podia mais voltar atrás. Desceu as escadas. Os pais da sua amiga já estavam parados à sua porta, esperando para conduzi-las ao local da festa. Despediu-se da mãe e do avô, e fez um carinho em Bingo, seu cãozinho.
Às vezes ter dezesseis anos pesava em seus ombros... Não era menina, nem mulher... Desde cedo já sabia que queria uma vida diferente e estudaria para conquistar sua independência, diferente de sua mãe, que engravidou dela quando ainda tinha a sua idade e a criou sem pai, apenas com a ajuda do avô de Lisa. Ana Jones tinha abdicado de tudo para dar a ela a melhor educação que pôde, trabalhando dia e noite em um supermercado de bairro. O avô, militar da reserva, veterano do Vietnã, despertara em Lisa a paixão pela vida militar.
Fechou a porta, entrou no carro e cumprimentou os pais de Donna, que a elogiaram. Eles a conheciam desde que ela nasceu e a adoravam. A família da amiga meio que a adotara, pois conheciam sua história e as dificuldades pelas quais ela e sua mãe já haviam passado na vida. A Sra. Johnson conhecia Ana Jones desde criança e foi a única na cidade a manter a amizade com ela depois que se tornou mãe solteira. As pessoas podem ser cruéis quando lhes convém, mas não a mãe de Donna. Ela era uma pessoa encantadora.
- Lisa, você está demais, sua bruxinha! - Exclamou Donna, quando ela entrou no carro.
- Obrigada, você também não está nada mal! Adorei esta fantasia de Morticia Adamms! - Disse Lisa, sorrindo.
O carro dos Johnson se aproximava do ginásio onde a festa estava acontecendo. O coração de Lisa batia acelerado.
- E aí, prontas meninas?
- Prontíssimas, mãe! - Respondeu Donna. - Deixem-nos aqui, por favor, pai! - Suplicou a jovem, temendo serem vistas chegando com os pais de carona.
- Nada disso, mocinhas. Se quiserem ir a esta festa, terá que ser do meu jeito.
- Retrucou o Sr. Johnson. - Aqui ainda está longe, além do mais é escuro e deserto. Eu as deixo na porta. É pegar ou largar!
- Pegar! - Exclamaram as duas, aos risos.
***
A festa estava o máximo. Desfilaram por elas um bando de mascarados, um Freddy Krueger, e vários fantasmas e monstros. Havia também as múmias e os zumbis. Afinal de contas, Halloween era assim mesmo. Coisas assustadoras poderiam acontecer a qualquer momento. As músicas agitadas haviam cedido lugar à melodia lenta e
sensual Don't Cry, do Guns N' Roses. Os pares iam se formando naturalmente. Donna foi dançar com um zumbi que a estava paquerando desde o início da festa. Lisa estava próxima à porta, observando os casais na pista de dança. Uma mão em seu ombro a despertou de seu quase transe, e ela virou-se para ver quem a estava abordando daquela forma. Encarou dois magníficos olhos verdes, por trás de uma máscara veneziana, um verdadeiro cavaleiro das sombras. Alto, atlético, todo vestido de negro, e mascarado, seu pretenso par, sem dizer nada, apenas a enlaçou pela cintura, a puxou para si, e já a conduziu ao centro da pista, falando ao seu ouvido:
- Dança comigo?
Lisa estava petrificada, muda com aquela abordagem, pouco comum aos moleques da sua idade. Apesar de parecer jovem, ele tinha atitude. Ela não pôde deixar de perceber a firmeza com que aquele desconhecido lhe tocava e lhe causava arrepios e sensações que nunca havia sentido antes. Tentou retomar o autocontrole e respondeu à altura:
- E não é o que estamos fazendo?
Ele deu uma sonora gargalhada, jogando a cabeça para trás. Aquela garota sabia mesmo ser petulante.
- Sim, costumo tomar o que desejo para mim.
- Não sou um objeto para ser tomado. - Retrucou à altura.
- Não quis dizer isso, apenas venho te observando, e não é de hoje. Eu quero ficar com você... - Dispara.
- Mas eu nem sei quem você é... Não costumo sair por aí dançando com desconhecidos mascarados. Não é como se eu estivesse disponível... E...
O mascarado a tomou para si, e a beijou. No começo ela tentou se livrar, mas, aos poucos, foi cedendo, diante da determinação dele. Não foi o seu primeiro beijo. Ela já havia beijado Jimmy Taylor antes, mas nem de longe poderia haver comparação entre os dois. Ele a deixava desconcertada e ela estava com as pernas bambas. O mascarado a puxou pelas mãos e a levou dali, mesmo sob os seus fracos protestos. No jardim, do lado de fora do ginásio, ele tirou a máscara. Era lindo... Ele era simplesmente o cara mais bonito da escola. Estava se formando e fazia parte do time de Hóquei. Lisa só sabia que o seu primeiro nome era Ethan, mais nada. Inacreditável. Ela tinha beijado o cara mais desejado do colégio. Estava quase se beliscando, porque aquilo era um sonho...
Os dois passaram a festa juntos, e não se desgrudaram. Lisa não deixou que a coisa passasse dos beijos, e depois de algum tempo, pediu que voltassem ao salão, pois Donna ficaria preocupada.
No final, alguns simpáticos fantasminhas brincavam com os convidados, e quando chegaram até o casal, os abordaram com a conhecida frase de Halloween:
- Doces ou travessuras?
Os dois riram, e como não tinham doces para dar a eles, foram vítimas das travessuras dos fantasmas, que os rodearam e tiraram a máscara de Ethan. Todas as meninas da festa ficaram enlouquecidas de inveja, querendo saber quem era a bruxinha que tinha fisgado o cara mais cobiçado da escola, mas ele não se intimidou e levou a
situação com bom humor. Depois que os fantasminhas foram embora, se recompôs e disse baixinho ao ouvido de Lisa:
- Eu prefiro sempre as travessuras... - Provocou. E a beijou novamente...
Depois daquela noite, nunca mais vira a bruxinha que o havia encantado naquela festa de Halloween. O jovem estava de mudança com sua família. Na véspera de sua partida, conseguiu o endereço da casa de Lisa, e foi até lá, mas não havia ninguém. Partiu. Não conseguiu dizer adeus. Ele nunca mais a esquecera.
***
Flórida - Abril de 2015.
A base de Tyndall era imponente. De lá, saiam caças em missões por todo o planeta. Ali também aconteciam treinamentos e instruções. O lugar era impressionante. Fazia calor. Muito calor... As aeronaves repousavam no pátio, como se estivessem ali recarregando as forças, antes de partirem em outras missões arriscadas, conduzidas por homens e mulheres arrojados e determinados, dispostos a matar ou morrer pelos Estados Unidos da América.
Ethan se dirigiu ao edifício que abrigava o centro de treinamento. Estava quinze minutos adiantado, por isso se permitiu observar tudo com a máxima atenção. Afinal, iria passar os próximos anos sendo instrutor naquele lugar. Deveria se apresentar em poucos minutos à capitã Jones. Ela seria sua superior imediata, e a responsável por todo o treinamento teórico, cabendo a ele a parte prática. Iriam reunir-se para que ela deliberasse sobre a sua participação na formação dos novos pilotos.
Não sabia nada sobre a mulher à qual seria subordinado. Apenas sabia que ela havia sido piloto e que tinha participado de diversas missões, sendo uma das primeiras mulheres a pilotar um F-15D Eagle no Afeganistão, há alguns anos, tendo obtido êxito em alvos difíceis, o que lhe rendeu uma promoção, e também a opção de assumir o comando do treinamento na base de Tyndall. No mais, não sabia nada. Nunca tinham se visto pessoalmente. Pelo menos isso era o que o primeiro-tenente imaginava...
A porta do gabinete estava fechada e não havia ninguém do lado de fora. Ethan deteve-se, esperando para bater à porta exatamente no horário marcado. Era detalhista...
Adorava disciplina... Parou na antessala e sentou-se em uma das poltronas de couro, que havia ali. Ergueu o olhar e deparou-se com um quadro onde havia uma gravura retratando uma imagem noturna de uma rua badalada de Memphis, fazendo menção ao blues e ao rock'n roll. Aquilo lhe chamou a atenção. Lembrou-se do lugar onde havia nascido e sentiu saudades. Nunca mais havia voltado à sua terra natal.
- Tenente Collins? - Disse uma voz feminina firme, que vinha do final do corredor.
- Sim. Capitã Jones? - Indagou, já se erguendo e girando o corpo para prestar-lhe continência.
Os dois emudeceram diante do inesperado. Conheciam-se de longa data. Em uma fração de segundos, aquela festa de Halloween, que acontecera há mais de vinte anos, voltava à memória de ambos.
Então era ela? Lisa Jones? Ela havia se tornado piloto militar da USAF? Inacreditável... Ela parecia tão frágil, tão indefesa, tão delicada... Que grande peça o
destino estava lhe pregando... Aquela bruxinha... Sua bruxinha... Inacreditável... Era a única palavra que vinha à mente de Ethan naquele instante.
Nenhum dos dois conseguia dizer nada. Ethan resolveu esperar que a capitã se manifestasse, pois embora tivesse notado que ela também ficara abalada com o encontro inesperado, esperou para ver qual seria a atitude daquela linda mulher que estava ali, bem na sua frente. Sim, ela havia se tornado uma mulher deslumbrante. Alta, loira, e com um corpo fantástico, que não passava despercebido, mesmo debaixo do uniforme militar. Ah, o que ele não daria para sentir novamente os lábios daquela bruxinha nos seus...
- Tenente Collins... - Disse a capitã, despertando Ethan dos seus pensamentos.
- Sim, capitã...
- Poderia me acompanhar ao meu gabinete?
- Pois não. Vamos.
Ela o conduziu à sua sala, onde havia outras fotos de Memphis em uma parede, paralela à mesa de reuniões, onde se sentaram. Ele gostaria de fazer-lhe mil perguntas, mas guardou todas para si. Haveria um momento oportuno... Ali não era a hora nem o local mais adequado, pois ela estava agindo como se nunca o tivesse visto antes, embora seus olhos dissessem exatamente o contrário, deixando transparecer o quanto estava abalada com a sua presença.
Ele resolveu fazer o jogo de Lisa, e durante toda a tarde na reunião que tiveram, ele a deixou conduzir os assuntos sem opinar muito. Sem dúvida nenhuma, aquela mulher era osso duro de roer, pensou Ethan. Era mesmo autoritária, e na base, era ela quem dava as ordens aos seus subordinados, e, por muitas vezes, conseguia impor seu ponto de vista até mesmo aos seus superiores.
Foi uma prova de fogo para o autocontrole do tenente, um dominador por natureza, acostumado a jogos de dominação e submissão, acatar tudo sem questionar. Ah, se ele a levasse para a cama, a coisa seria bem diferente... Distraiu-se o tenente, imaginando-a algemada e vendada na cruz de Santo André, à sua mercê. Só com este pensamento, seu amigo debaixo se remexia dentro da cueca boxer...
- E então, diante do exposto, iniciaremos o treinamento teórico em... Tenente?
- Perdão capitã Jones, estou ouvindo. Pode continuar...
- Como eu ia dizendo...
Na verdade, ele estava viajando nos pensamentos. Imaginava-a nua em sua cama, algemada, com a bunda vermelha com as palmadas que ele iria lhe dar, e gritando de prazer quando ele a comesse e se enterrasse fundo nela...
- Tenente, não sei por que, mas tenho a nítida impressão de que estou falando para as paredes... - Disse Lisa.
- Perdoe-me. Estou ouvindo tudo o que a senhora está dizendo, capitã Jones. Pode acreditar. - Mentiu.
- Senhorita. Não sou casada.
O que foi isso? Uma informação bônus? Ele gostou de saber. Também não era casado. Ou melhor, não mais, desde que sua esposa o havia deixado para viver com
outra mulher, há cinco anos. Felizmente já havia superado o acontecido, só que nunca mais se envolvera com ninguém.
- Tudo bem, capitã Jones. Obrigado por informar. Senhorita. Não me esquecerei disso. - Disse Ethan, com um leve sorriso nos lábios.
No final da tarde, a capitã deu a reunião por encerrada e ficou de apresentá-lo à turma de formação de pilotos na semana seguinte. Antes, ele deveria apresentar a ela um relatório com tudo o que havia sido dito naquela reunião, além de um levantamento sobre os rumos da aviação de caça nos últimos dez anos. Ela só podia estar de brincadeira. Estava irremediavelmente ferrado... Não havia prestado atenção em quase nada... E olha que era um militar cuidadoso e sistemático... Mas aquela mulher o desconcertava... Definitivamente, aquilo ia dar problema...
***
Naquela noite, Lisa não conseguira dormir. Metódica e disciplinada, ela dormia cedo quando tinha trabalho no dia seguinte. Mas naquele dia não, tinha se revirado entre as cobertas, tomado um banho frio, lido, ouvido música, visto televisão, e nada... O sono não vinha... Aquele maldito tenente roubara definitivamente a sua paz. Então ele estava ali, o seu mascarado, Ethan Collins, bem na sua frente...
E ele tinha se tornado homem... E que homem. Um morenaço, alto, forte, e com aqueles irresistíveis olhos verdes, que a tinham tirado dos eixos, há vinte anos. O que seria dela agora? Iriam trabalhar juntos por muito tempo.
Durante anos lembrou-se daquela festa de Halloween, do beijo que ele lhe roubara e de como ele tinha sumido, sem que ela nunca mais tivesse conseguido colocar os olhos no mascarado. Quando conversava com Donna, nas poucas ocasiões em que conseguiam se ver, elas sempre se recordavam daquela festa e daquele acontecimento impressionante. Sentia muita falta de ter a amiga por perto, pois ela ainda morava em Memphis. Tinha se tornado uma advogada de sucesso, era casada e tinha três filhos pequenos.
Mas Lisa Jones não era mulher de se deixar impressionar facilmente. Nunca caía na conversa fiada dos homens, e desde muito cedo aprendeu a se proteger deles. Por isso, nunca tivera um único relacionamento sério e nunca tinha se casado, tampouco se apaixonado por ninguém. Tinha se dedicado exclusivamente à formação militar e à sua carreira. É claro que não havia se tornado celibatária, e gostava muito de sexo. Tinha alguns parceiros com quem saía com certa regularidade, em sua maioria, militares como ela, mas nada que valesse a pena. Era uma mulher experiente, que sabia o que exigir dos homens com quem ficava.
Eram quase onze da noite, quando ela resolveu ir ao Country's bar, encontrar a amiga Betty, que ela sabia que estaria lá, com a sua banda de blues, se apresentando. Precisava contar isso para alguém ou enlouqueceria.
Estacionou seu Toyota Rav 4 no pátio e entrou. Como ela previra, Betty estava se apresentando. Lisa sentou-se em uma banqueta próxima ao balcão, e pediu uma cerveja. Não demorou muito para a amiga avistá-la e dar uma piscadinha cúmplice. Ela esperaria o intervalo e despejaria tudo em cima da pobre Betty, que, certamente, iria surtar quando soubesse. Quinze minutos se passarame, ao ouvir os acordes de Take my breath away, de Berlin, tema do filme Top Gun , Ases indomáveis, com Tom Cruise e
Kelly McGillis como protagonistas, ela sorriu. Aquele filme fora sua inspiração desde muito pequena. Ela amava essa música e sua amiga sempre terminava suas apresentações com ela, principalmente, quando Lisa estava por perto.
Estava vidrada em Betty e em como ela interpretava a canção com sensualidade. Ela colocava a alma ali, toda vez que cantava essa música.
- Também adoro essa canção, capitã...
Lisa estremeceu ao ouvir a voz do tenente. Aquilo só podia ser um pesadelo... O que é que Ethan estava fazendo ali, no mesmo bar que ela? Ficou muda... Não sabia o que dizer... Ela virou-se para encará-lo.
- Tenente? O que faz aqui?
- Um homem pode se divertir, senhorita Jones. Ou devo chamá-la de capitã? Não estamos na base...
A verdade é que ele estava ali, bem na sua frente, lindo, moreno, de jeans, camiseta de malha e casaco de couro, e tinha nas mãos um capacete. Um pecado ambulante, e ela estava com o coração aos saltos, mas não queria dar o braço a torcer.
- Fique à vontade. O bar é bem grande e o senhor pode se divertir como desejar.
- É bom saber disso, capitã. - Disse, malicioso.
- Não estamos na base, não precisa me chamar pela patente. - Acrescentou. A situação não poderia ficar mais embaraçosa. Ela, uma mulher segura e
experiente, não estava sabendo como se portar na frente daquele homem arrogante e
intimidador...
- Tudo bem. - E a puxou pela cintura e lascou-lhe um beijo de tirar o fôlego, possessivo, mordendo de leve o seu lábio inferior.
Lisa ficou fora de órbita. Não queria corresponder, mas era mais forte que ela. Mesmo assim, reuniu suas forças e o afastou.
- Como se atreve? Nunca mais toque em mim, ouviu?
- Você disse que eu poderia me divertir como desejasse. E o que eu desejo é você, capitã.
- Mas eu não desejo você, tenente. - Mentiu.
- Não é isso que seu corpo me diz. Está mentindo.
- Você é um babaca arrogante. Quem você pensa que é, pra me beijar sem o meu consentimento?
- Sou um babaca arrogante, que não consegue tirar você da cabeça, porra. Vamos parar com essa encenação. É claro que você não pode ter se esquecido daquela noite de Halloween, no ginásio da escola, onde vivemos momentos intensos, apesar da nossa pouca idade.
- Eu não me esqueci, mas gostaria de ter me esquecido, ok? Você sumiu e nunca mais voltou. Eu era só uma adolescente sonhadora... E isso já faz mais de vinte anos. Só que agora eu sou uma mulher. E não vou dormir com você!
- Olha só quem é arrogante aqui... Eu não estou te propondo dormirmos juntos, capitã. Só estou querendo conversar com você...
- Começa todas as conversas com beijos de tirar o fôlego, tenente?
- Não, só as conversas com bruxinhas lindas, que me tiram do sério. - E a beijou novamente.
Lisa sabia que aquilo não poderia estar acontecendo e, assustava-se com a fraqueza que demonstrava diante daquele moreno tentador, que lhe roubava a autoconfiança e a paz de espírito. Não conseguia parar de beijá-lo, enquanto deveria o estar esbofeteando pela ousadia.
Para sua salvação, Betty, sua amiga, tinha terminado a apresentação e veio até onde eles estavam.
- Lisa! - Se abraçaram. - Não vai me apresentar ao seu amigo?
- Ele não é meu amigo.
Ele olhou para Betty e encolheu os ombros. Fazer o quê?
- Entendo... Então, vai ou não me apresentar ao seu namorado?
Ela ia matá-la. Até sua amiga Betty tinha sucumbido ao charme daquele sem-vergonha? Jesus!
- Ele também não é meu namorado.
- Ok. Deixe que eu me apresento. - Disse o tenente. - Sou Ethan Collins. É um prazer conhecê-la...
- Betty.
- O prazer é meu, Ethan.
- E então, Lis (era como ela chamava Lisa), vai ou não me dizer que assunto é esse que tirou você da cama em pleno dia de semana, e que está tirando a sua paz?
Definitivamente, aquilo só poderia ser um complô.
- Não é nada demais. A gente se fala... A noite já deu.
E Lisa virou-se e foi para fora do bar. Mas Ethan era insistente e não desistiria da loira assim tão facilmente.
- Ei, moça... Já vai? - Disse, segurando a porta do carro, impedindo-a de dar a partida.
- Não enche... Vou para a minha casa. Não sei quanto a você, mas amanhã acordo cedo, tenente. Quer fazer o favor de sair daqui? Vou dar a partida.
Ele recua e se afasta. Coloca o capacete, sobe em sua Harley Davidson Fat Boy e dá a partida, seguindo o carro de Lisa. Definitivamente precisavam conversar, ou a convivência ficaria insuportável. Havia algo do passado entre eles que tinha ficado mal resolvido.
Lisa não podia acreditar no que os seus olhos estavam vendo. O abusado a estava seguindo. Resolveu aumentar a velocidade propositalmente, mas ele a acompanhou. Antes que ficasse perigoso, se arrependeu e reduziu. Quando por fim parou em frente à sua casa, saiu furiosa do veículo, gritando para ele, que tinha estacionado a moto.
- Ou você para de me seguir, ou vai se arrepender, tenente! É uma ordem. Mantenha-se longe de mim. Estamos começando mal, muito mal!
Ele veio em sua direção e, sem titubear, a puxou para si mais uma vez e a beijou. Ela tentou empurrá-lo, mas ele a trouxe novamente para si, sua língua voraz tentando invadir a boca da loira, que espumava de raiva e... Desejo. O tenente colocou nesse
beijo toda a sua posse e toda a sua espera. Ela estava ofegante, mas acabou cedendo. Ethan a afastou e a encarou.
-Se você disser que é indiferente a mim, não vou mais insistir! Eu juro! Vamos, diga que você não sente nada quando me beija. Olha nos meus olhos, Lisa. E me diga...
- Eu sinto. Mas é só desejo... Eu sou crescidinha e sei lidar com isso. Poderia arrastar você para a minha cama, mas não quero. Isso não está certo. Não podemos, você não vê? Você é meu subordinado e vamos trabalhar juntos. Isso seria desastroso...
Além do mais não sabemos nada um sobre o outro e estivemos juntos há mais de vinte anos. Então, isso não vai funcionar. Definitivamente, não vou para a cama com você!
- Olha pra mim, Lisa...
E os dois olharam-se... A atração foi magnética. Espontânea. O beijo, agora consentido, foi de tirar o fôlego... Ele sugava seus lábios, com voracidade. Tinha uma autoridade implícita naquele beijo. Uma posse, algo que a fazia sucumbir aos seus desejos, logo ela, que nunca foi de se intimidar... Entraram em casa. Imediatamente, ele a pegou no colo e a imprensou contra a parede, erguendo suas mãos no alto da cabeça. Começou a depositar mordidinhas no pescoço, descendo para os seios. Arrancou a camiseta que Lisa estava usando e abriu seu sutiã, em uma fração de segundos. Seu ritmo era frenético e ele mal podia esperar para possuí-la do seu jeito. Não se importava se naquele momento fizessem sexo baunilha, ele teria tempo para apresentá-la ao seu mundo BDSM, mas naquele instante, ali, só queria que ela fosse dele. Foram vinte anos de espera. Ele sugou seus seios, mordeu seus mamilos e tirou o resto da roupa de Lisa. Deitou-a no tapete da salae tirou a própria roupa, sem deixar de tocá-la e acariciá-la. Ela estava em êxtase. Aquele homem era uma tempestade tropical e ela estava sem fôlego. Nunca havia desejado ninguém tanto assim.
Lisa arfava sob o corpo escultural daquele homem, que mais parecia o Davi de Michelangelo.
- Porra, mulher, eu preciso estar dentro de você...
Ela só gemia e se contorcia embaixo dele. Estava completamente molhada. Ele deslizou dois dedos para dentro dela, comprovando o quanto ela estava pronta pra ele. Ela ofegava, e queria mais...
- Diga que me quer dentro de você... Peça...
- Ah, Ethan, por favor...
- Isso, boa menina... Peça...
- Por favor... Oh Deus... Eu preciso... Eu preciso...
- Vamos lá, capitã-delícia, peça...
- Oh, Ethan... Eu preciso... - Pedia, arfando, o corpo molhado de suor...
Ele tirou um preservativo no bolso e colocou sobre o seu membro, que já estava pulsando de desejo àquelas alturas e debruçando-se mais sobre ela, penetrou-a, mantendo seus braços presos, acima da cabeça.
- Vou fazer você gritar, porra... Grite o meu nome...
- Oh, Ethan... Oh... - Gemia e gritava, à medida que ele aumentava as investidas.
Ele não sabia ser de outro jeito. Era possessivo, urgente, e, com aquela mulher, o desejo de dominar era quase incontrolável. Ele a possuiu com paixão. Ela correspondeu. Ele a beijava e dizia coisas safadas ao seu ouvido. Lisa apenas gemia, e se deixava levar...
Aproveitando-se de um momento de distração do tenente, Lisa girou o corpo e ficou na posição onde se sentia mais confortável. Por cima. Ele estava louco de paixão e desejo e deixou que ela brincasse de conduzir. Quando ambos estavam quase atingindo o êxtase, o tenente saiu de dentro dela e levantou-se, trazendo-a consigo e girando seu corpo de modo que ela ficasse com as mãos espalmadas sobre o sofá da sala, e que ele a pudesse penetrar por trás, enquanto acariciava seu centro de prazer. Lisa estava em êxtase, e podia sentir o quanto aquele homem poderia ser possessivo e exigente na cama.
- Vamos, goza pra mim, capitã-delícia... Agora... Quero sentir...
Sua voz de comando, autoritária, despertava em Lisa um lado submisso, que ela não fazia questão de visitar, e que a assustava. Preferia a segurança do seu mundo perfeitamente organizado, mas estava gostando de todo aquele ímpeto do tenente, não tinha como negar, e então, abandonou-se ao orgasmo mais intenso que já tinha experimentado na vida.
- Boa menina... - Disse Ethan, antes de se deixar levar pelo seu próprio
prazer.
Ficaram deitados no sofá da sala, nus e abraçados, por alguns minutos. Ninguém tinha coragem de dizer nada. Sabiam que qualquer coisa que fosse dita quebraria a magia do momento. O encaixe entre os dois foi perfeito, e a conexão, mágica. Ambos sabiam que tinha sido mais do que sexo e que estavam abalados com este reencontro, mais do que estavam dispostos a admitir.
Lisa foi a primeira a quebrar o silêncio:
- Ethan... eu...
- Shh... Não diga nada Lisa. Não precisa se justificar. Eu quis isso, insisti, e você também quis, do contrário não teria permitido.
- Você não me deixou escolha. -Retrucou Lisa.
- Pode ser que você tenha razão, capitã-delícia, mas a verdade é que eu esperei por isso durante vinte anos. Nunca consegui esquecer aquela festa de Halloween, e olha que nem passamos dos beijos. - E continua. - Dois dias depois da festa, eu me mudei de Memphis com a minha família. Consegui seu endereço com Mark Gary, seu amigo, que jogava hóquei no meu time. Através dele eu sabia tudo sobre você, acredite.
- Mas... Logo eu? Por que você me escolheu? As garotas se atiravam aos seus pés, se bem me lembro...
- Há mais de um ano eu vinha procurando saber tudo sobre você, mas eu era extremamente tímido e inseguro... E quando resolvi conquistar você, meus pais vieram com a notícia-bomba da transferência dele para ser treinador de baseball em um time de Miami. Acabamos nos mudando, antes que as coisas pudessem acontecer de fato entre nós...
- Você não me pareceu nem um pouco tímido, se quer saber.
- Mas eu era... A máscara me deu coragem...
- Não podia imaginar... Você parecia tão seguro naquela noite...
- É porque eu sabia que seria a última. Foi tudo ou nada... - E acrescenta. - Se me der uma chance, prometo recuperar os vinte anos em que estivemos longe um do outro... Mas, antes, preciso te dizer o quanto essa noite significou para mim. Você não faz ideia de como me foi bom entrar de novo no seu mundo...
- No meu mundo? Como assim, Ethan, no meu mundo? Não entendi...
- Vou explicar, capitã-delícia, não curto baunilha, se é que você me entende...
- Baunilha? É isso mesmo que eu estou pensando? - Disse Lisa, assustada.
- Não sei o que você está pensando...
- Olha aqui, eu li Cinquenta tons de cinza, entendeu? "Anastácia, meus gostos são muito singulares..." - Cita um trecho do livro. - Vou logo avisando, não curto BDSM, viu? Christian Grey de Panamá City... Estou fora. - Declarou com todas as letras. - Só falta me dizer que você tem um quarto vermelho da dor na sua casa.
- Era do prazer. - Acrescentou.
- Que seja! Estou fora! Não curto ser submissa, receber ordens e tudo mais, como você já deve ter notado... Não curto palmadas, cruz de Santo André, spanking, chicotes, e essas parafernalhas todas.
- Falando assim, parece que você tem alguma experiência no meu mundo...
- Conheço, mas não curto. Não gosto de sadomasoquismo.
- Não sou sádico. Sou um dominador. E tudo é consensual.
- Olha aqui Christian Grey, você pode ir tirando essas ideias da sua cabeça, viu? Estou fora. Não vai rolar...
- Deixa eu te apresentar ao meu mundo... Você não sabe, mas eu sei que você vai gostar... - Disse Ethan, sussurrando ao ouvido de Lisa, e enviando uma mensagem direta para o seu sexo.
Aquele homem era um perigo, pensou Lisa. Ela tinha que mantê-lo a distância, e estava disposta a evitá-lo. Ele despertava nela sentimentos e desejos que ela desconhecia, e que não queria ter...
E foi com o coração apertado que ela o mandou embora. Ele insistiu, mas a respeitou. Duro iria ser encarar a capitã-delícia dali a algumas horas, na manhã seguinte. Lisa, por sua vez, tinha medo do que iriam enfrentar dali para diante. Aquele homem tinha mexido com ela...
***
No dia seguinte, Lisa chegou cedo à base, e quando estacionou seu carro, viu a moto do tenente parada no pátio. Sorriu. Ele já tinha chegado. Entrou em sua sala, e avistou uma caixa com um bilhete em cima da sua mesa. Não havia ninguém por perto. Procurou pelo corredor, e nada. Trancou a porta e deixou a curiosidade falar mais alto. Abriu o embrulho. Na caixa, tinha uma máscara veneziana, semelhante àquela que ele usava no dia em que se conheceram. Havia também um bilhete, ela o abriu e o leu:
Capitã-delícia,
Aguardo pela "senhorita" no campo de instruções. Conforme suas próprias "ordens", vamos fazer um voo de reconhecimento. Cada um em um F-15 Eagle. Quem fizer mais manobras e conseguir abater mais alvos no simulador, vence.
O vencedor escolhe: doces ou travessuras. Seu Christian Grey ,
(De Panamá City)
Jesus! Era muita petulância! Ela tinha esquecido que ontem tinha combinado de voar com ele, antes que o tenente iniciasse o treinamento dos novos pilotos. E havia deixado a cargo dele providenciar as condições para o voo. Puta merda! E o pior é que o bilhete do homem havia derretido a sua calcinha. Estava mais do que encrencada, mas agora não poderia recuar... E ela, que adorava um desafio, mandou uma mensagem para o celular do tenente:
Tenente, isso é uma aposta? Porque se for, prepare-se. Vou ganhar. Chego aí em cinco minutos. Aguarde.
Confia tanto assim no seu taco, capitã-delícia?
Pode apostar que sim.
Estou pagando pra ver...
Filho da mãe, presunçoso. Ele iria ver só... Ela trocou seu uniforme, colocou o macacão, e foi para a pista de decolagem. Lá estavam os dois caças que iriam pilotar. Ele já estava à sua espera. Lindo de morrer, de macacão e óculos aviador, e a aguardava com um sorriso cínico no canto dos lábios...
Decolaram. Cada um no seu avião, e, por mais de uma hora, fizeram voos de reconhecimento e manobras de simulação. Ele tinha que admitir: aquela mulher era boa... Boa em todos os sentidos... Não era à toa que estava ocupando aquela posição. Ela era uma deusa da aviação, e ele pôde comprovar isso.
Entretanto, ele não poderia deixar que ela ganhasse a aposta, e, no finalzinho, fez uma manobra radical que quase os colocou em risco, mas que o fez vencer, e abater o último alvo simulado, para desespero de Lisa. Ela ficou furiosa... Iria ter que ceder. Na
verdade, ela não era boa perdedora... O que será que ele iria querer? Só de imaginar a excitação dela já estava a mil...
Quando se encontraram na pista de pouso, a capitã veio dar-lhe os parabéns. Afinal, havia mais gente assistindo e ela não poderia fazer com ele o barraco que desejava na frente dos outros. Ele veio até a capitã e a cumprimentou com um aperto de mãos. Ela estava suada e esbaforida, levemente despenteada, linda pra cacete... Apesar de toda a adrenalina despejada na corrente sanguínea de ambos, o tenente já estava duro, e antevendo o que pediria a ela naquela noite...
Retornaram para a base, e cada um foi trocar de roupa. Estavam dispensados depois das manobras. Ela voltou à sua sala para pegar a bolsa, e viu que no seu celular havia outra mensagem. Era do tenente. Leu.
Me espere no quarto de jogos logo mais,
Anastácia...
E respondeu:
Vai sonhando, Christian Grey.
Aposta é aposta... E você perdeu... Tenho
o direito de escolha...
Não sou boa perdedora. Espero que tenha escolhido os doces.
Errou... Prefiro sempre as travessuras...
Estava irremediavelmente perdida... Naquela noite, comeram doces, e fizeram muitas e muitas travessuras. E você, o que prefere? Doces ou travessuras?
Fim
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