Conto 1 - The Doctor and War

Autora: Lisa Costa

Sinopse:

Quando Alex Cooper aceita ir para guerra junto com os médicos sem fronteiras, jamais poderia imaginar que isso mudaria sua vida por completo. Alex, além de presenciar todo tipo de miséria e horror, se vê preso com seus pacientes em um velho hospital que está prestes a ser bombardeado.

Alex tem a difícil decisão de escolher entres seus pacientes moribundos, ou fugir para tentar salvar sua vida.

Naquele momento de desespero, a única coisa que vem a sua cabeça é sua mulher, Selena.

Será que Alex conseguirá se salvar? Será que mesmo salvando-se sua vida continuará sendo a mesma?

Descubra o que a guerra pode fazer com um homem.

Música Tema: Photopraph - Ed Sheeran

Classificação: Livre

***


Alex

Tudo começou em junho de 2011, quando uma carta mudaria completamente a minha vida, e consequentemente a vida de toda a minha família.

Fui convidado a fazer parte de uma missão de solidariedade, "Os Médicos sem Fronteiras".

Eu aceitei sem pensar direito. A ânsia em ajudar quem precisa gritou bem mais alto do que a razão. Eu só não sabia que encontraria na Síria o caos e o horror.

O que encontrei naquele lugar foi um inferno. A mídia nunca mostrou realmente o que acontecia ali. Eram pessoas mortas e mutiladas para todos os lados. Eu estava literalmente em meio ao fogo cruzado sem saber para onde ir, e tão pouco o que fazer. Os recursos eram precários, e as condições de trabalho limitadas.

A Síria era o pior pesadelo de alguém.

E em meio a tudo que vivi ali, eu estava convencido que nunca mais veria Selena novamente.

Já havia cinco anos que eu estava na Síria. Cinco anos longe da minha família. Eu sentia falta de Selena. Minha mulher era a pessoa mais amável do mundo. Oh Deus! Como eu sentia falta de tê-la em meus braços.

Perdido em meio aos meus pensamentos e saudade, não percebi que aviões sobrevoavam o lugar. Foi tudo muito de repente. Eu queria ajudar os meus pacientes. Não houve tempo!

O bombardeio foi intenso, derrubando as moradias em volta, e por último atingindo o hospital o qual eu trabalhava. Eu não senti dor. Eu não conseguia sentir nada. Só medo. Medo de nunca mais ver Selena. Medo de morrer em meio aos escombros, completamente mutilado pelas bombas.

Era maio de 2016, ataques aéreos destruíram o hospital Al Salamah. Foram mais de cem mortos. Entre os mortos alguns colegas de equipe.

Naquele dia. eu achei que morreria.

Eu estava certo. Naquele dia, o doutor Alex Cooper morreu.

04 de junho de 2011

— Amor, eu não acho uma boa idéia você ir para a guerra — Selena estava alinhada ao meu peito, e eu acariciava seus longos cabelos negros.

— Essa é a minha profissão Selena — suspiro — eu fiz um juramento. Jurei ajudar as pessoas.

— Você pode continuar ajudando as pessoas aqui.

— E qual a graça nisso? — olho para ela, e toco a ponta de seu nariz com o indicador — lá as pessoas precisam muito mais de mim do que aqui.

— Eu preciso de você. — choramingou.

— Você não está morrendo meu amor. — beijo seus lábios trêmulos. — eu sempre serei seu. Será apenas um ano.

— Mas você pode morrer...

— Juro que não vou morrer. — beijei seus lábios com todo o amor que havia dentro de mim. — juro que vou voltar pra você.

****

Tivemos essa conversa na noite anterior ao meu embarque.

Era como se eu a estivesse escutando agora mesmo.

O carro do resgate balançava loucamente pelas ruas esburacadas da cidade que foi minha moradia por cinco anos. Eu estava imóvel em uma maca improvisada, feita com uma porta encontrada pelos escombros durante o caminho. A todo o momento as imagens ficavam distorcidas, e a lembrança de cada rosto sem vida invadia a minha mente. Porque essa guerra é tão cruel? Eu me perguntava sem obter respostas.

A poeira dava um ar de abandono às ruas daquela cidade. Morte era o que imanava daquele lugar medonho.

16 de outubro de 1999

A igreja estava toda decorada com flores brancas e lilases. Minha mulher usava um vestido com uma calda enorme, e uma tiara de pedra em sua cabeça completava a imagem mais linda que guardo em minhas lembranças. O dia do meu casamento com Selena.

O caminhar lento e firme da noiva me deixou em transe. Selena era a mulher que eu queria por toda a minha vida. Eu a amava, e tinha certeza que a amaria pelo resto da minha vida.

Nossos votos emocionaram a todos. Minha família agora era Selena, a mulher a qual eu queria como mãe dos meus filhos.

A cerimônia simples deu lugar a uma festa modesta, onde apenas amigos mais íntimos participaram. Eu estava feliz. Selena estava feliz, e era assim que eu pretendia viver com ela. Feliz.

****

Uma barricada fez com que o caminhão parasse bruscamente. Era dezembro de 2015, cinco meses antes do pior dia da minha vida.

Uma criança agonizava nos braços de um pai que vinha correndo em nossa direção.

'anqadh abni, 'anqadh abni, 'anqadh abni, 'anqadh abni.

Gritava o homem sem parar. "Salve meu filho".

Não houve tempo para o pequeno Ahmad. Ele e seu pai estavam em um mercado quando um carro bomba explodiu do outro lado da rua. Hashum, o pai, não conseguiu tirar o filho. A criança estava morta, e eu sabia que aquela não era a primeira vez e que um pai ficava órfão de um filho. Ali, isso era normal, era o dia a dia de aquelas pessoas perderem quem amavam.

Eu estava farto disso. Era hora de voltar para casa. Era hora de voltar para minha família antes que eu os deixasse órfãos.

24 de abril de 2016

— Eu não acredito! — gritava Selena do outro lado da linha.

Mesmo com escassez local, o telefone via satélite funcionava bem.

— Pode acreditar meu amor. Eu estou voltando para casa!

— Você não faz idéia de como sonhei com isso, Alex — minha mulher chorava, e eu não contive as minhas lágrimas.

— Sinto tanto a sua falta!

— Também sinto sua falta!

****

Mas um solavanco tirou-me dos meus pensamentos. O caminhão estava estacionando. Tentei levantar a cabeça, mas eu não conseguia, eu estava amarrado.

Dois homens puxaram a porta a qual eu estava em cima. A luz do sol me cegou por alguns momentos, mas logo eu vi o símbolo que eu tanto conhecia. A cruz vermelha.

Fui levado até a base hospitalar daquele lugar. Eu estava fraco. Minha visão estava turva, calafrios percorriam meu corpo, mesmo com o suor pegajoso descendo por minhas têmporas. Eu estava morrendo.

20 de outubro de 1999

As praias da Grécia eram coisa de outro mundo. Nunca vi um lugar tão lindo assim. Minha mulher escolheu esse lindo paraíso para que desfrutássemos da nossa lua de mel. Eu estava feliz, completamente realizado. Era um sonho ter conquistado a garota mais linda da faculdade. Era uma realidade ter me casado com ela.

Selena cursava literatura. No primeiro dia em que eu a vi, me apaixonei completamente. Sua beleza delicada chamava atenção de todos os homens do campus. Selena era meiga, tranqüila e cativante.

A primeira vez em que tive coragem para puxar assunto com ela, fiquei encantado com a sua educação. Selena me conquistou ainda mais com isso. Nessa época, eu já estava completamente louco por ela.

Conquistar aquela mulher foi algo difícil. Ela não dava abertura para ninguém. Selena era reservada, mas, aos poucos, consegui alcançar seu coração.

Nosso primeiro beijo foi mágico, e, quando nos amamos a primeira vez eu tive certeza de que amaria aquela mulher por toda a minha vida. Nunca mais desejei outra pessoa em minha cama. Era ela. Somente ela.

— O que você tanto pensa, amor? — ela apóia os braços em meus ombros, olhando na mesma direção que eu. O imenso mar azul que se apresentava através de nossa janela.

— O quanto eu tenho sorte de ter conhecido você.

— Acho que essa sorte é minha — o beijo em meu ombro aqueceu meu coração, e despertou o desejo em meu corpo.

Nós nos amamos como nunca naquele dia. Eram imagens que estavam tatuadas em minha memória.

****

Escuto vozes que acho serem conhecidas, só não consigo identificar de quem são.

— Alex! — a voz me chamava, mas meus olhos não obedeciam para abrir — você está me escutando?

Minha boca estava fechada, por mais que eu quisesse, não conseguia pronunciar palavra alguma. Um peso em meu peito estava me incomodando, e a dificuldade de respirar me deixava aflito.

— O que temos aqui? —outra voz se faz ouvir. Essa eu não conheço.

— Bombardeio em um hospital a cinco quilômetros daqui — disse a primeira voz — ele é um de nossos colegas que sobreviveram.

— Se não agirmos logo, ele será mais um que perderemos.

30 de setembro de 2004

— Nathália! — chamo minha cunhada assim que entro na recepção do hospital — onde ela está?

— A levaram para alguns exames — disse enquanto me abraçava.

— E o bebê? — minha mulher estava no terceiro mês de gestação.

— Acho que não devemos criar muitas expectativas em relação a isso — minha cunhada afagava meus ombros, e as lágrimas já acumulavam em meus olhos.

Selena sempre teve o sonho de ser mãe, e essa era terceira gravidez que estava dando errado.

— Mas vamos esperar os exames — Nathy estava roendo as unhas, deixando claro o seu estado de desespero.

Minha mulher foi para o quarto duas horas depois. Mais um aborto espontâneo. Mais um filho que não conheceríamos. Mais um bebê que não chegaria a nascer.

— Me perdoe — ela chorava enquanto se agarrava a mim.

— Você não tem motivos para pedir perdão — sorrio mesmo entre lágrimas. — quando for a hora certa esse filho virá.

— Não me deixa por isso Alex — ela chorava incontrolavelmente, e não imaginava que eu me sentia tão impotente quanto ela naquele momento, mas eu jamais a deixaria.

— Só a morte é capaz de separar a gente.

Naquele dia, eu estava enganado.

A guerra também seria capaz disso.

****

— Ele precisa ser transferido — a voz conhecida falava mais alto do que as outras. — ele vai morrer de hemorragia!

Eu sabia que estava indo embora. Eu sabia que a morte era questão de tempo.

Meus pensamentos estavam somente direcionados à Selena. Eu prometi que voltaria, mas acho que essa seria uma promessa que eu não conseguiria cumprir. Minha morte estava chegando.

05 de agosto de 2006

— Força, amor! — eu falava enquanto minha mulher estava colocando meu filho no mundo.

— Eu não consigo mais! — ela apertava minha mão com tamanha força, que parecia que quebraria meus ossos.

— Você consegue! — eu sabia que ela estava no limite, mas faltava pouco para que nosso pequeno viesse ao mundo.

Às 18:50 horas, meu pequeno Joseph nasceu. Um lindo garoto, fruto do amor mais lindo que alguém possa ter vivido no mundo.

— Nosso filho! — minha Selena chorava ao pegar nosso filho no colo.

Joseph ainda estava sujo, mas a emoção do momento foi registrada na minha memória pra sempre. Naquele momento eu era um homem completamente feliz.

****

A discussão entra as duas vozes, continuava, mas há muito tempo eu não prestava atenção no que eles falavam. Eu não queria ouvir nada daquilo. Eu queria esquecer de tudo, e me concentrar na tranqüilidade que começava a se apoderar de mim. Eu sabia que aquele era o meu fim.

— Precisamos amputar essa perna — a segunda voz disse me fazendo voltar a consciência —ou ele morrerá com a hemorragia.

— Vamos tentar salvar — a voz conhecida dizia nervosa.

— Se tentarmos salvar a perna, vamos perder a vida!

— Ele é meu amigo,Steve — disse a voz, mas eu não conseguia saber quem era. Eu estava fraco demais para pensar.

— Eu sei, Phil, mas você sabe que é preciso.

Phil... Meu amigo Phil.

15 de dezembro de 1990

— Estamos de férias, Phil — meu amigo estava entrando no meu quarto.

Eu e Phil éramos amigos desde sempre.

— Eu já não agüentava mais ir para a escola.

— Assim como eu.

Os jogos de vide-game nos acompanharam por todas as férias.

Phil sempre foi meu melhor amigo.

Anos depois, estávamos nos formando em medicina. Após um tempo estávamos nos casando com duas irmãs, fazendo com que nos tornássemos da mesma família. Phil, o melhor padrinho que eu poderia ter dado ao meu filho.

— Agradeço a confiança, Alex — disse no dia em que meu Joseph foi batizado.

— Eu sei que meu filho pode contar com você se eu partir antes.

— Espero que esse dia nunca chegue – ele segura meus ombros — não quero que você morra.

— Eu sei, meu amigo. Também não está em meus planos morrer.

****

— Alex, você consegue me ouvir? — a voz do meu amigo chegou como um sussurro aos meus ouvidos, porém eu não tinha forças para responder.

— Ele não pode te escutar Phil — uma voz um pouco mais grave se misturava à voz do meu amigo — o estado dele é muito grave, provavelmente já não escuta há muito tempo. Ele está completamente inconsciente.

Eu queria muito gritar e dizer que eu estava ouvindo cada uma das palavras que eles diziam, mas infelizmente eu não podia.

— Onde está o resto da equipe do doutor Alex? — meus amigos? Onde eles estariam?

— Não resistiram — um triste silêncio pairou no ambiente. A única coisa que se fazia ouvir era o bip do monitor cardíaco que provavelmente estava ligado em mim — morreram antes do socorro chegar.

Quatro horas antes...

— Dr. Cooper – entrava em uma das enfermarias, a doce senhora Hanna.

— O que foi, Hanna? — aquela senhora de meia idade estava sendo uma mãe para mim em todo esse tempo que estava aqui.

— Trouxe sua marmita — corri para abraçá-la.

— O que seria de mim sem você? — digo enquanto distribuo beijos em sua face levemente enrugada.

— Você sabe que faço isso de coração.

— Eu sei.

Hanna era uma das inúmeras enfermeiras voluntárias que haviam deixado suas famílias para abraçar essa causa. Assim como eu, ela havia deixado os filhos e netos para trás, trazendo consigo apenas as lembranças de momentos felizes.

****

Eu não queria acreditar que a doce Hanna estivesse morta e que provavelmente eu estaria me juntando a ela em pouco tempo.

Senti meu corpo ser transferido para uma outra superfície, e essa era tão desconfortável quanto a outra. O lugar estava gelado, e logo percebi que toda a minha roupa estava sendo arrancada do meu corpo.

O bip inconfundível do monitor cardíaco começou a soar em minha cabeça como uma monstruosa trilha sonora fúnebre, fazendo com que eu reunisse todas as minhas forças para obrigar que minha consciência permanecesse ali. Mas isso foi inútil. Logo a inconsciência me levou para longe, para um lugar onde eu não gostaria de está. Aos poucos minha lucidez se foi, e deu lugar ao vazio. Eu já não sentia dor, não conseguia ouvir absolutamente nada. Naquele momento era apenas o silêncio e minha consciência vazia.

Selena

Savannah, 15 de julho de 2016.

Os meses passaram rápido desde recebi o telefonema do meu cunhado dizendo o que havia acontecido com meu marido. Uma dor dilacerante tomou conta da minha alma naquele momento.

O campo da escola secundária da nossa cidade estava totalmente diferente naquela manhã. Cadeiras estavam enfileiradas, o palco montado, formando um grande auditório ao ar livre. O clima estava bom e a temperatura, ao contrário do começo da semana, estava amena, uma agradável brisa pairava naquele lugar.

Nossos amigos e familiares começavam a chegar. Toda a vizinhança estava ansiosa para presenciar a homenagem que o exército faria ao meu marido. Alex havia nascido e crescido naquele bairro e conhecia praticamente todos os moradores locais, afinal ele mantinha um consultório solidário para atender a população mais carente. Meu marido era amado por todos.

As cadeiras da primeira fileira estavam ocupadas pela nossa família. De um lado, estavam os meus pais, minha irmã e o meu cunhado. Do outro lado estavam os meus sogros e meu filho. Imaginar o motivo de estar aqui era como uma facada em meu coração.

Todas as noites desde que marido foi para aquela maldita guerra, eu sonhava com sua chegada. Sonhava que ele me abraçaria e me giraria no ar, como já havia feito inúmeras vezes. Mas agora isso nunca mais voltaria a acontecer. Isso agora era um sonho impossível.

Não percebi quando o general Augustos subiu ao palco e começou o seu discurso.

— É com muita honra que venho falar do doutor Alex Cooper — começou sua narrativa.

O doutor serviu esse país com honra e dedicação, da mesma forma que cuidava de seus pacientes no hospital local. Alex Cooper não mediu esforços para levar sua ajuda a qualquer sírio que precisasse de cuidados. Alex lutou corajosamente contra as dificuldades impostas por uma guerra devastadora e cruel.

Mesmo com todos os seus esforços, ele não conseguiu salvar a todos. As lágrimas que ele derramou naquele lugar eram de dor, de impotência, de querer fazer mais e não poder. Mas ele salvou muitos. Sim, o doutor Alex Cooper conseguiu tirar muita gente do vale da morte, inclusive diversos soldados do meu batalhão. Por isso, sempre seremos gratos por sua capacidade de lutar.

Aplausos tomaram conta do lugar, e as lágrimas já não conseguiram se manter dentro dos meus olhos.

— Quero chamar aqui à frente a senhora Selena Cooper — não sei como encontrei força para me erguer daquela cadeira. Eu sabia que subiria ao palco, mas a emoção estava tomando conta dos meus movimentos.

Caminhei com passos vacilantes e com a visão turva pelas lágrimas. Fiz pose de firme. Mas só Deus sabe o turbilhão de emoções que dominava meu corpo. Um soldado estendeu a mão para me ajudar a subir.

— Obrigada! — agradeci ao jovem que provavelmente estava começando sua carreira militar.

— Gostaria de dizer algumas palavras, senhora Cooper? — perguntou o general Augustos.

— Gostaria sim, Obrigada! — caminhei em direção ao microfone, e olhei para a multidão que estava silenciosa, esperando para ouvir o que eu tinha a dizer — Agradeço a presença de cada um de vocês aqui hoje.

Minha voz estava trêmula, mas engoli em seco antes de continuar.

— Alex, sempre foi um homem exemplar. Um pai maravilhoso, um filho dedicado, um amigo presente. Ele nunca mediu esforços para ajudar qualquer pessoa, mesmo que isso pudesse prejudicá-lo.

Ele sempre amou sua profissão. Sempre se dedicou a cuidar. Desde que começamos a namorar, ele sempre dizia que queria fazer algo grande, algo por aqueles que estivessem sofrendo. Ele queria levar um pouco de paz às pessoas menos favorecidas. E foi isso que ele fez.

Hoje estamos aqui para homenageá-lo. A pátria agradece por tudo que ele fez na Síria, por tudo que deixou de viver nos cinco anos que esteve lá. Nós sofremos sua ausência como ninguém, mas sabemos que ele estava onde deveria estar. Ajudando, pois isso era o que seu coração desejava.

Não pude controlar minhas lágrimas.

— Está tudo bem? — a mão firme do general segurou firmemente meu ombro.

— Está — sorri para ele.

— Tudo bem em continuar? — balancei a cabeça em concordância e voltei a encarar as pessoas.

— Alex venceu a guerra — olhei para o lado, e vi os olhos do meu marido vermelhos pelo choro — a guerra não conseguiu tirá-lo de mim.

Alex aproximou sua cadeira de rodas, e eu me curvei para abraçá-lo.

Alex

A vida é engraçada. Quando tudo parece querer entrar nos eixos algo vem e destrói completamente nossos planos. Uma bomba destruiu tudo aquilo que eu havia programado há meses.

Eu sonhava todas as noites com a surpresa que eu estava preparando para minha família. A felicidade que eu daria ao meu filho, e a alegria que eu veria estampada nos olhos da minha mulher. Sei que minha mãe choraria com a minha volta, e meu pai me abraçaria apertado mais uma vez. Como eu queria sentir o seu abraço apertado!

Agora, o que restaria para a minha família seria, talvez, uma medalha e uma placa de honra ao mérito. E o que isso valeria? O que uma placa e uma medalha poderiam fazer para tirar a tristeza e a angústia do coração daqueles que me amam. Nada! Absolutamente nada!

Certa vez, meu pai me disse que o homem nunca deve se ausentar de casa e hoje eu sei que ele estava certo. O meu pior erro foi sair em missão para uma terra distante, na qual a única certeza que eu tinha era a morte.

Consegui salvar muitas vidas, mas a única que tinha verdadeiramente importância era a minha, e essa escorria por meus dedos, sem a menor chance de segurá-la.

Eu queria voltar a ver os que eu amo, mas sei que um dia nos veremos de novo, e sei que nesse dia a festa será grande, pois a guerra jamais poderá matar o amor.

27 de maio de 2016

A claridade doía os meus olhos. Eu não sabia onde eu estava. Minha cabeça girava o tempo todo. Olhei para o lado e não consegui reconhecer o local. Tudo estava claro demais, limpo demais. Uma enfermeira com um uniforme impecavelmente branco entrou no quarto, e não reconheço minha voz ao falar com ela.

— Que dia é hoje? — perguntei com o fio de voz que saiu da minha boca.

— Vinte e sete de maio, senhor Cooper — me surpreendi ao saber que já havia se passado quinze dias desde o bombardeio.

O sono voltou com força total e novamente a minha consciência foi tirada de mim.

Depois de vários dias indo e vindo do mundo dos sonhos, finalmente estava totalmente lúcido.

Eu estava novamente em Savannah. Eu estava em casa!

A guerra me levou uma perna, mas ela não me levou a vida.

Fim.

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