Acordo com um barulho alto no andar de baixo. Aaargh, quase esqueci que hoje é domingo. Acontece que nos domingos a família inteira da minha mãe vem almoçar na nossa casa e detalhe: eles chegam bem antes da hora do almoço. Não que eu não goste da minha família, eles só são um pouco barulhentos demais.

Confiro a hora no relógio da cabeceira: 8:00 horas. Quase não dormi ontem a noite, ouvi a Elena chorar a noite inteira e para piorar eu não parava de pensar no Lucas e no Miguel, os dois se mesclando na minha mente, quase me enlouquecendo. Me arrumo e desço as escadas, como sempre a Elena ainda não desceu para tomar café, pelo que conheço dela vai evitar até o último minuto antes de ter que enfrentar as milhares de perguntas das nossas tias.

Cumprimento todos os parentes e meia hora depois consigo me desvencilhar deles (sim, minha família é enorme), vou até a cozinha pegar algo para comer e surpreendentemente minha irmã mais velha me encontra lá 5 minutos depois.

- Que milagre aconteceu para você acordar cedo no domingo? -Pergunto, avaliando a aparência dele. Olheiras e olhos inchados não me surpreendem após ela ter passado a noite chorando.

- Milagre nenhum, o nosso adorável irmão achou prudente ir com nossos primos gritar na porta do meu quarto. -Ela diz com irritação, se servindo de uma xícara enorme de café.

- Aí meu Deus. Cadê o Henry? Não me diga que você jogou ele pela janela. - Digo com uma preocupação fingida.

- Pode acreditar que vontade não me faltou.

- Como você conseguiu se livrar das nossas tias tão rápido? Eu passei no mínimo meia hora para conseguir escapar e comer algo.

- Eu não consegui, aproveitei que ninguém estava olhando e fugi aqui para a cozinha o mais rápido possível.

Nesse momento a maré de sorte dela acaba, porque três das nossas tias de segundo grau entram na cozinha.

- Bom dia, querida. Achei que não fosse mais acordar hoje.- Tia Luzia diz enquanto a abraça e enche de beijinhos.

- Bom dia queridas tias! Desculpe privá-las da minha adorável presença.- Elena diz com um entusiasmo exagerado.

- Nossa, Elena! Você está com uma aparência péssima! - Tia Margareth diz.

Eu amo minha família, mas como eu faço para não esquecer disso quando elas são tão inconvenientes?

- Obrigada. - Elly responde com um sorriso que não chega ao olhos.- Agora se me dão licença, vou até a sala falar com o restante da nossa amada família.

Ela sai da cozinha antes mesmo de terminar de comer, vou atrás dela sentindo a irritação sob sua pele.

Depois que ela termina de falar com todos, indico o andar de cima com os olhos e começo a subir as escadas esperando que ela me siga.

Ela chega rapidamente no meu quarto.

- Fala. -Ela diz.

- Você tá bem? - Pergunto quando ela se joga na minha cama.

- Tô ótima irmãzinha, você sabe que os comentários das nossas tias não me abalam.

- Você sabe que não é disso que eu tô falando.

- Não sei onde você quer chegar, Katherine.

- Você passou a noite inteira chorando, El. E você não chora facilmente.

- Não era nada Kate, devem ser só os hormônios.

- Elena, além de sua irmã também sou sua melhor amiga, você pode conversar comigo.

- Ai garota, já falei que não é nada!- Ela diz com irritação, passando as mãos pelo rosto.- E quanto a você, já caiu na real sobre o Miguel?

- Não começa você, Elena! Nem vem com essa história sem cabimento outra vez!- Digo, irritada.

- O pior cego é aquele que não quer ver, não é mesmo?

- Você está errada e eu posso provar, sabia que ele tinha uma namorada?- Ela ergue a sobrancelha.- É isso mesmo, o nome dela é Alejandra e pelo modo como ele falou, ainda gosta dela.

- Bom, você também tinha namorado. Não podia esperar que ele virasse monge enquanto esteve fora.

- Não ligo, a vida amorosa dele não tem nada a ver comigo.- Digo, ignorando a ponta de irritação no meu peito.- Aposto que ele nem lembrava de mim quando estava com ela.

- É impressão minha ou você tá com ciúmes? - Elly pergunta com um sorrisinho.

- Não viaja, Elly! Só estou dizendo que isso comprova que o que vocês dizem sobre ele ser apaixonado por mim não é verdade.

- Ciúmeeeees. - Ela murmura, fazendo com que eu jogue um travesseiro nela.

Então vejo uma foto jogada quase debaixo da cômoda e me abaixo para pegar, é uma foto minha e do Lucas. Provavelmente conseguiu escapar do meu surto de ódio, quando destruí todo o restante.

Olho aquela foto e não consigo evitar que um suspiro escape dos meus lábios.

- Eu não entendo.

- O que você não entende, criatura?- Elly pergunta se virando para olhar para mim, então vê a foto que estou segurando e rapidamente a pega da minha mão e a destrói em pedacinhos.

- Ele parecia me amar sabe? E eu amava ele, ainda amo. Por que ele fez isso?

- O Lucas nem sabe o que é amor, Kate. Ele não é bom o suficiente para entender esse sentimento e nunca mereceu o tempo que você dedicou amando ele. Ele nunca te valorizou, ficava com você porque isso amaciava o ego dele, nunca te tratou como você merece e nunca te deu nem metade do amor que você deu a ele.

- E o que eu faço com o amor que ainda sinto por ele?

- Que tal converter em amor próprio? Você passou a sua vida inteira preocupada se amaria alguém, mas quando foi que você parou para pensar que precisa amar a si mesma em primeiro lugar?

- É, acho que você tem razão.

- Eu sei querida, eu sou um gênio.

- Egocêntrica. - Digo e rimos juntas.

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Depois do almoço estamos todos na sala conversando, então tia Luzia pergunta:

- Por que o Lucas não veio almoçar conosco hoje, Kate?

Ai merda, esqueci de mencionar para minha família o pequeno detalhe de que não tenho mais namorado porque ele decidiu enfeitar minha cabeça com um par de chifres.

- A gente não tá mais junto. - Digo baixinho.

- Como assim, Brasil??!- Evellyn, minha prima, pergunta.

- Como você deixou aquele pedaço de mal caminho escapar? - Minha outra prima, Lara, pergunta.

- O que você fez para deixar aquele príncipe escapar? - Tia Margareth pergunta.

Baixo os olhos para o chão e ouço Elena soltar um suspiro de irritação.

- Por que vocês acham que a culpa é dela? Isso é ridículo! Querem saber porque ELA terminou como ele? Porque o senhor perfeitinho traiu ela!- Minha irmã diz com raiva.

Olho ao redor da sala e todos me observam surpresos, por sorte Lara volta a atenção de todos para ela ao olhar para a janela e falar:

- Quem é aquele colírio para os olhos que está atravessando o jardim para bater na porta?

- Ah, é o Miguel.- Elena diz após espiar por cima do ombro da garota.

- Miguel Castellan? Não acredito que aquele deus grego do lado de fora é aquele garotinho!- Evellyn diz.

Corro para abrir a porta na tentativa de esconder minha irritação, por que diabos elas resolveram babar pelo Miguel agora? Ele nem tá tããããooo bonito assim, está? Abro a porta e ai. Meu. Deus! Com certeza está.

Ele está ali parado, vestido com uma camisa e uma calça pretas, aquele cabelo levemente bagunçado e um sorrisinho capaz de abalar as estruturas. Puta merda.