" Capítulo 22"

- Se você não fechar a boca vai acabar babando. - A voz do Miguel me tira dos devaneios e me sobressalto quase caindo para trás, então as mãos dele me amparam e acabo indo ao encontro daqueles músculos, preciso fazer um esforço para me afastar dele porque meu corpo parece estar ensandecido.

- Desculpa Miguel, é que acabei viajando nos pensamentos.-Espero que eu não tenha deixado transparecer o que eu realmente estava pensando.

- Seeei, fala a verdade, você estava admirando meu corpinho.- Ele diz com um sorrisinho.

- Não seja tão egocêntrico garoto.- Digo com as bochechas queimando de vergonha e baixo os olhos para o chão.

- Eu só estou tirando onda com a sua cara, vem cá.- Ele se aproxima de mim e tira a compressa das minhas mãos.- Senta aqui que agora é a vez de eu cuidar da sua mão.

- Tá bem, mas agora me fala um pouco sobre tudo que aconteceu com você enquanto esteve longe.

- Não sei se você está preparada para isso, minha vida é muito empolgante.

Dou um empurrãozinho nele e sorrio, ele retribui e começa a falar.
Conta sobre todos os países que visitou, Espanha, Estados Unidos, Canadá, Itália, Argentina e Holanda e sobre todas as pessoas que conheceu.

Faz quase 15 minutos que eu estou rindo do fato de ele ter contado que foi espancado por um senhor com uma bengala enquanto estava em Amsterdã.

- Eu não acredito que ele fez isso, Miguel.- Digo ainda rindo.

- É sério! Eu tinha saído do nosso apartamento e caminhado até uma praça onde a galera costuma tocar, cantar e dançar na rua, eu sentei no banco e comecei a tocar meu violão, mal reparando no senhor que estava sentado alguns bancos distantes do meu, querendo apenas ler seu jornal. Então, no refrão da música eu senti aquela coisa atingindo a minha cabeça e não para por aí não, ele continuou me batendo com aquela bengala e dizendo que os jovens de hoje em dia não tinham mais respeito por nada, só ficavam por ali com aquela porcaria que eles chamavam de música perturbando a todos. Quase não consigo me desvencilhar daquelas bengaladas. Tenho certeza que aquele velho era algum nazista.- Ele ri ao terminar de contar.

Ergo os olhos e encontro seu olhar intenso sobre mim. Ficamos em silêncio por alguns segundos e então digo:

- Mas você não me falou nada sobre as garotas que conheceu, não vai achando que vai escapar do meu interrogatório.

Ele expira fortemente e passa a mão pelos cabelos, coloca a compressa no chão e se deita na cama, me acomodo ao lado dele.

- Você é tão chata.- Ele diz e se aproxima de mim.

- Por isso sou sua melhor amiga. Agora desembucha.

- Bom, eu só fiquei com algumas garotas nos outros países, nada sério. Mas enquanto eu estava na Argentina, o último país em que estive antes de voltar para o Brasil, namorei com uma garota por uns dois meses.

- Hum, me conta sobre ela.- Apoio a cabeça na mão para poder olhar para ele.

- O nome dela é Alejandra, a gente estudava na mesma turma e ela era muito gentil com todo mundo. Um dia nós estávamos fazendo um trabalho juntos e ela me convidou para sair, eu aceitei e a gente foi se conhecendo melhor, ela era bem legal então algumas semanas depois começamos a namorar.

- E por que vocês teminaram?

- Ãn?

- Você falou que tinha namorado uma garota e não que namora com ela.

- Ah, alguns meses depois ela terminou comigo. Falou algo sobre não estarmos na mesma sintonia.

Miguel me observa e então percebo, ele gostava realmente da garota, uma pontada de ciúme queima meu peito e tento afastá-la para longe.

- Bom, ela quem perdeu então, porque meu amigo é um cara incrível.

Ele sorri e diz que vai descer para beber um pouco de água.

Levanto da cama e começo a percorrer o quarto, espiando dentro das caixas espalhadas pelo quarto, ele ainda não pendurou todas as roupas no closet, então um monte de malas está espalhado por aqui. Em uma delas vejo uma pilha de papéis e me abaixo para pegá-las, são várias letras de músicas, mas antes que eu tenha tempo de ler Miguel volta para o quarto e vê o que estou segurando.

- Nem a pau que você vai ler isso aí.- E pega as folhas da minha mão.

*Miguel narrando:*

Meu coração está acelerado enquanto observo a Kate avaliar meu peito nu, como se mil pensamentos estivessem passando por sua mente. Decido tirá-la dos devaneios antes que eu comece a alimentar falsas esperanças em mim mesmo e que ela perceba que meu coração está prestes a sair pela boca. Ela se assusta e a amparo antes que ela caia, deixando-a colada no meu peito e naquele momento é como se ela me completasse e aquele fosse o lugar que ela deveria ficar, mas ela se afasta rapidamente.

Então ela começa a fazer perguntas mostrando que ainda é a mesma menina curiosa de sempre. Respondo todas e me delicio ao ouvir a risada alta dela. Então ela começa a me perguntar sobre as meninas que conheci. Como eu posso explicar para ela que não conseguia ter nada sério com ninguém sem que ela perceba que o motivo para isso é que a amo desde sempre? Então falo sobre Alejandra, a única garota com quem consegui ter um relacionamento mais sério e por mais que eu me odeie por isso, preciso admitir que o fato de ela ser muito parecida com a Katherine me fez namorá-la.

Então a Kate pergunta o porquê de termos terminado.

- Ah, alguns meses depois ela terminou comigo. Falou algo sobre não estarmos na mesma sintonia.

Acho melhor omitir o fato de que eu é que não estava na mesma sintonia. E que Alejandra terminou comigo porque deixei escapar o nome da Kate enquanto a beijava.

Decido sair do quarto para escapar um pouco do meu constrangimento, quando retorno fico na porta observando ela percorrer o quarto analisando tudo, como eu senti falta dessa curiosidade toda. Então ela se abaixa e pega um maço de papéis de dentro de uma mala. De jeito nenhum ela pode ler aquilo, são as músicas que compus e absolutamente todas falam sobre ela. Alcanço-a rapidamente e digo:

- Nem a pau que você vai ler isso aí.- Pego as folhas da mão dela e ergo acima da cabeça para que ela não as alcance.

- Deixa eu ler o que tem escrito aí.- Ela pede tentando alcançar as folhas, sem sucesso.

- Só se você conseguir pegar, querido gnomo.- Dou um sorrisinho e ela cruza os braços com raiva.

- Você que compôs essas músicas?- Ela pergunta.

- Não.

- Mentira! Sei que foi você, porque não me deixa ler?

- Hoje não, quem sabe um dia. - O dia de São Nunca, penso enquanto vou até o closet e coloco as folhas na prateleira mais alta.

Volto para o quarto e encontro uma Kate muito emburrada me esperando, mas mesmo assim conversamos até tarde. Então ela olha para o relógio e diz:

- Caramba, já tá muito tarde, preciso ir para casa.

- Eu te levo até lá.

- Não precisa se preocupar Miguel, posso ir sozinha, nem é tão longe assim.

- Sem chance de eu te deixar andar na rua sozinha à noite.

Descemos as escadas e encontro meus pais na sala, com a Maria Clara dormindo no colo do meu pai. Kate se despede deles e eu a acompanho até em casa com um sorriso bobo no rosto, queria que ela percebesse o quanto eu a amo, mas só de tê-la como amiga já me faz incrivelmente feliz.

Bạn đang đọc truyện trên: AzTruyen.Top